...(Nathanael POV)...

Eu ainda não entendo muito bem como me meti nessa confusão. Eu estava apenas passando pela rua quando por boa vontade e caridade e com a inocência de um menino de bom coração qualquer...

“Ok, estou exagerando nos elogios, eu sei”.

...Decidi levar para minha casa um gatinho que mais parecia ser frágil do que um guia-guardião-conselheiro-arrogante-metido. E depois de uma série de explicações bizarras sobre tribos, auras e cartas, lá estava eu correndo atrás de um homem encapuzado de olhos coloridos com uma taça dourada na mão que atirava fogo. Bem, tirando isso minha vida é de um garoto normal de catorze anos que vê desenho e come besteiras de frente pra TV.

— Eu não acredito que vocês deixaram o mago fugir. — O gato preto, vulgo, meu guia diz enquanto caminha de um lado para o outro na mesinha do meu quarto. Meio surreal isso né? Um gato falante. Mais surreal ainda é ele te dar uma lição de moral. — Você jogou sua auréola como se fosse uma flecha qualquer. — Ele reclama enquanto eu observo o outro filhote de gatinho branco brincando com o fiapo solto do casaco que minha avó tricotou.

— Eu não tive culpa. Pensava que a auréola ia voltar. — Digo na defensiva. — Além do mais você não me treinou pra uma batalha.

— Ele tem razão, mano. — O filhote retira a atenção do casaco para entrar na conversa. — O anteposto ainda não está pronto pra uma batalha.

— Viu?! — Digo fazendo Lucas grunhir.

— Não é questão de estar pronto ou não, e sim saber lidar com maturidade em certas ocasiões.

— Está me chamando de criança?

— Gritar e berrar durante uma batalha não te faz um adulto. — Ele responde de imediato.

— Se o guardião tivesse cumprido seu papel e tivesse me protegido, talvez eu não precisasse gritar e nem jogar a auréola.

— Está dizendo que a culpa é minha? — Ele grita.

— Não. — Respondo aos berros. — Só estou tentando dizer que...

Denner abre a porta e entra no quarto.

Lupin e Lucas, por sorte na forma de gato, reparam a sua presença e logo começam a lamber o pelo com naturalidade, enquanto eu ainda grito desesperadamente.

— ...Se você não estivesse caído no chão na hora que....

— Ah... Nathan?! — O maior diz um pouco preocupado. — Você está... discutindo... com um gato?

— Miau. — Lucas responde sorrindo.

— Éeeer... Bem... É que.... — Começo a suar frio ao gaguejar. — ... O gato.... Ele, ele.... Ele trouxe um outro gatinho. — Digo apontando para Lupin que logo para de se lamber e olha para Denner assustado. — E... e .... como a mamãe disse que não poderíamos ficar com esse, comecei a gritar ao ver... o outro gatinho.

— Ah... — Ele diz sorrindo. — Mãe pediu pra eu ver se estava tudo bem, até as vizinhas se assustaram com os gritos.

— Não, não! Diga que está tudo bem e que amanhã de manhã irei arrumar um lugar para os gatos ficarem. — Respondo forçando um sorriso.

— Ok. — Meu irmão mais velho responde. — Agora vê se vai dormir, pois amanhã você tem um campeonato ir.

— Ta. — Respondo.

Denner fecha e porta e quase no mesmo instante jogo meu corpo sobre a cama.

— Essa foi por pouco. — Digo finalmente aliviado.

— Que campeonato é esse que ele tava falando? — Lupin pergunta pulando na cama e sentando ao meu lado.

— Aé, quase me esqueci. — Falo, e me levanto em um impulso. — Amanhã o Denner vai competir contra os alunos do Hexágono. O meu irmão, Denner, pratica natação desde os sete anos de idade. No seu quarto e no armário da sala há várias medalhas e troféus que ele ganhou das competições em que participou. Em todas, ou a maioria delas, eu e a mamãe sempre estávamos lá torcendo por ele e por isso é quase como um rito nós passarmos os campeonato assistindo os alunos da escola de Denner ganhar a competição.

— O que é o Hexágono? — Lupin pergunta em tom de curiosidade.

— Ah... É uma escola que fica aqui perto.

— Entendi. — O filhote diz pulando no chão novamente. — Metamorphose! — Ele grita se transformando em menino com o rabo de gato. Desta vez, ele está vestido com uma cueca bem apertada e com uma toca de mergulhador cobrindo seu cabelo. No seu pescoço há um óculos que parece ser de nadador profissional. — Eu também quero ir pra competição! — O menino diz eufórico.

— Não vai não. — Respondo de imediato.

— Vou sim. — Ele diz aumentando a voz.

Que garotinho mais mimado!

— Eu já disse que não é não. — Digo em tom autoritário. — Você e o Lucas irão ficar e esperar o próximo passo do mago. Não posso levar dois garotos com rabo e orelhas de gato atrás de mim, ainda mais em um evento tão importante assim. Se as pessoas vir gatos falantes, ou eu conversar com vocês, simplesmente vão se assustar ou me achar louco.

— Mas...

— Sem mais. Você e o Lucas irão ficar aqui quietinhos até eu chegar em casa, estamos entendidos?

— Sim. — Lupin responde se transformando novamente em um gato.

— Que bom. — Suspiro aliviado. — Prometo que fico devendo essa pra vocês.

— Com essa são duas. — Lucas responde me fazendo revirar os olhos.

Dormi na cama junto ao pequeno Lupin. Lucas dormiu no tapete ainda em forma de gato.

Há duas cores que se misturam no céu, o azul e o vermelho.

O dia está nascendo.

Denner, mamãe e eu estamos seguindo para o ginásio. Minha mãe dirige atentamente enquanto ouve meu irmão tagarelar algo qualquer sobre o Hexágono.

— ... Eles são os melhores, porém tenho certeza que iremos para as finais.

— Não seja tão confiante assim. — Digo fazendo o maior dar um leve tapa na minha testa.

— Nunca subestime o “Grande Denner”.

— Ok, Grande Denner que não lava as próprias cuecas e não consegue levar uma toalha para o banheiro antes do banho, não irei subestimar mais suas grandes proezas.

A minha mãe sorri com o comentário.

— Ora seu... — Ele diz pulando pra parte de trás do carro, saindo do banco do carona para o do passageiro. O garoto começa a desferir socos em mim, obviamente leves pra ele, mas pra mim são quase como se ele estivesse me socando forte de verdade.

— Denner e Nathanael não me façam parar o carro! — Minha mãe verbaliza em tom ameaçador fazendo o maior se sossegar do meu lado.

E foi a viagem toda assim... Mamãe dirigindo e Denner falando do colégio Hexágono.

Ao chegarmos, esperamos a competição na arquibancada e ao vermos ambos os times entrando começamos a gritar em euforia.

Abro minha mochila para pegar a câmera e me assusto ao ver o cálice do mago no meio das minhas coisas. Uma sensação estranha percorre pelo meu corpo e ao ouvir o disparo de largada para que os nadadores pudessem nadar e começar a nadar, meu coração quase parou.

Denner. — Penso em desespero.

Em um ligeiro instante um redemoinho forma-se dentro da grande piscina fazendo os competidores girar rapidamente em sua volta. Alguns conseguem segurar-se na borda enquanto outros se afogavam na perigosa água.

— O que está acontecendo? — Minha mãe grita em desespero.

— Só pode ser... o mago. — Sussurro estático.