A ira da mulher é tão grande que me assusto com a sua agilidade. Fecho meus olhos esperando o impacto e sinto meu corpo ser agarrado no mesmo instante.Ouço um estrondo e ao abrir os olhos vejo que estou no colo de Lucas.

— O que você está fazendo aqui? — digo aliviado e curioso.

— Se lembra sobre o que conversarmos esta tarde sobre atenção dobrada. — Ele diz me colocando no chão. — Pois bem. Onde estão Lupin e Clara?

— Estão escondidos. — respondo rapidamente.

— E quem é essa guria?

— É uma domadora de leões do circo, parece que ela é um amuleto.

— Ela não é. — Lucas responde imediatamente fazendo minha atenção voltar para o mesmo. — A carta possuiu o corpo dela.

— Do que você está falando?

— Existem cartas que não possuem forma própria, então elas possuem o corpo de seres para que assim possam se manifestar.

— Então a domadora na verdade...

— É um humano. — Ele diz me agoniando ainda mais.

Olho para a arquibancada de madeira completamente quebrada pelo ataque brutal que a mulher desferiu ao tentar me atingir. Se Lucas não tivesse me salvado, eu nem sei o que seria de mim agora.

— Que tipo de carta-amuleto nós estamos lidando? — Pergunto.

— Pelos estragos me parece que está é a carta força, conhecida pela sua habilidade de ataque. — Lucas verbaliza observando a mulher se levantar dos entulhos.

Ela começa a fumegar e ranger os dentes correndo em nossa direção.

— Aiin. — Grunhi me escondendo atrás do menino.

— Use o elemento terra pra retirá-la do solo — Lucas ordena em tom autoritário e confiante.

— Ok. — Digo me pondo em sua frente. Lanço a carta “O mago” para cima. — Terra. Use suas habilidades sobre nossa proteção. — Cito.

O chão começa a tremer e na frente da mulher o solo se ergue criando uma grande muralha.

— Uffa. — Digo tranquilo.

Ela desferi um soco sobre o muro que se quebra em pedacinhos.

— O que?! — Grito.

No instante que ela pula para o outro lado da muralha, o chão novamente se revolta erguendo o solo lançando a mulher para o alto.

— Uau. — Digo abismado.

— Precisamos saber a verdadeira forma dela. — Lucas diz me fitando. — Como você suspeitou que ela é uma carta de Shat?

— Eu... eu... bem, acho que foi quando... — Gaguejo tentando me recordar. — AH SIM! Lembrei. Foi quando ela abriu a boca do leão. Eu senti um arrepio e senti a magia que escorria sobre o corpo da domadora.

— Você precisa selar ela junto ao leão então. — Lucas diz como se aquilo fosse a coisa mais fácil de fazer.

— Está doido? — Grito. — Tá querendo que eu fique preso dentro de uma jaula com um leão e uma louca que mata leões?

— Quase isso. — Ele diz correndo na direção da jaula e me puxando junto a ele.

— Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaummmmmmmmm— choramingo.

A mulher atinge o solo, se levanta e novamente corre atrás de nós.

— Nós vamos morrer, nós vamos morrer, nós vamos morrer, nós vamos...

Lucas abre a jaula e sem pensar tranca impedindo a domadora de entrar.

O leão rugi no canto da jaula com os lábios feridos.

A mulher possuída abre a jaula sem fazer esforço algum e se aproxima de nós como se fossemos sua presa.

O leão faz o mesmo e ambos se aproximam dos lados.

— Me abraça. — Lucas sussurra e assim faço. Fecho meus olhos e agarro o ombro do felino.

— Quais são suas últimas palavras? — A mulher pergunta suada e com ódio.

— Hasta la vista. — Lucas responde na mesma fração de segundo que a mulher lança o seu corpo sobre nós.

Lucas dá um salto ligeiro fazendo a mulher cair em cima do leão, que reage tentando ataca-la.

— Agora Nash. — Lucas me alerta no exato momento em que a mulher se protege do leão segurando sua boca para que ele não possa lhe ferir.

— Nãoooooooooooooooo. — Ela berra.

Pego minha auréola e seguro apontando na direção de ambos. — A sete chaves eu selo a sua aura. — Digo sorrindo.

Uma luz ofuscante sai da halo sugando a energia da domadora e do leão. Aos poucos os músculos da pobre mulher vão desaparecendo até ela desmaiar fragilmente no chão. O leão é sugado para junto da carta.

—YES! — Grito assustando Lucas. Olho para a carta e vejo uma bela mulher (nada musculosa) com cabelos negros e longos deitada com suas mãos sobre um leão que está de olhos abertos e parece feliz. Em baixo da imagem há uma fita que está escrito “A força”. Sorri ao ler aquilo. — Com essa, são duas cartas.

Ouço o barulho das sirenes da polícia e corro para fora da tenda junto a Lucas no meu colo na forma de gato.

A noite foi longa. A polícia entrevistou um a um para saber o que havia acontecido. Descobriram sobre os crimes que os circenses cometiam e pelos maus-tratos aos animais que os mesmos cometiam. Denner ficou com raiva por eu ter demorado, a mamãe e tia Ruth ficaram desesperada quando souberam do circo. A notícia ronda pelos jornais da noite o tempo todo.

Clarinha e Lupin estão dormindo no colchão ao lado da minha cama. Tia Ruth disse que ela se apegou a mim, o que era uma coisa boa. Lucas está ao meu lado observando atentamente às duas cartas que ele segura estaticamente.

— Posso te fazer uma pergunta? — Rasgo o silêncio.

— Faz.

— Por que na carta a mulher está alegre com o leão na carta, mas ela o maltratava na realidade?

Lucas suspira. — A força é uma carta de ataque. O leão e a mulher são dois elementos que pertencem a um único amuleto. Sua natureza é o instinto e o impulso. Quando as cartas de Shat se revelam para o anteposto, elas na verdade estão tentando se rebelar com seus poderes para não serem seladas. É questão de sobrevivência. As cartas querem continuar na Terra e por isso fazem de tudo para ficar. Como o leão e a mulher são da mesma carta, ambos não tinham consciência disso, pois o ódio fechava seus olhos. Ambos possuem magia e sentia isso um no outro e por isso viviam se atacando.

— Mas era a mulher que sempre matava o leão.

— A mulher é a força em seu mais puro estado. — Ele diz apontando para a imagem na carta. — E o leão é o símbolo.

— Assim como o mago e o cálice? — Pergunto.

— Isso. — Ele responde.

— Entendi. — Digo por fim.

— Agora com apenas essas duas cartas você tem o domínio da água, fogo, terra, ar e força.

Sorri e desvio o olhar para Lupin que dorme na forma de gato nos braços de Clara que também dorme profundamente.

Fecho meus olhos e espero o sono vim. Passam os minutos e segundos e não consigo dormir, até que sinto os braços de Lucas me envolvendo e puxando o meu corpo para mais perto dele.

— O que ele está fazendo?! — Penso assustado sentindo o calor de seu corpo. Isso me acalma.

Aos poucos sinto o sono me pegar de leve. O que não demorou muito para me fazer dormir.