Contos Fragmentados escrita por Maria Antônia Freitas


Capítulo 11
Mente Perturbada - Skates


Notas iniciais do capítulo

“Após aquele dia, jurei que voltaria para a Rua 23. Voltaria pelo Papai. Voltaria por mim.
Foram 10 anos difíceis naquele lugar estranho, com pessoas estranhas. Mas, quando completei meus 16 anos, conheci meu primeiro amor, e por um momento, após me perder em seus olhos cor-de-mel, esqueci-me da Rua 23. E seu doce nome era Karen.”



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Enquanto o senhor Figueiredo mantinha seus olhos fixados na morte de Lyubs, sai do pequeno quarto para atender o telefone. Garanti que o velho não iria escapar, tranquei a última porta, e caminhei calmamente até a sala.

O barulho ecoava pela casa, me apressei para atender, porém ao pisar na sala de estar, consegui sentir um cheiro forte de perfume feminino que se misturava com um suave perfume masculino.

Meus passos ficaram lentos, minha respiração começou a ofegar.

Não podia ser a hora. Não agora.

Vi 2 figuras femininas na porta, uma delas tinha belas curvas, cabelos encaracolados, e pele parda. No seu crachá estava escrito: Sarah Queiroz. Já a outra mulher era um pouco menor que a outra, seus cabelos eram finos e escuros. Suas mãos estavam escondidas nos bolsos de sua calça jeans preta. Em seu crachá podia se ler “Anna Englert”, e um cigarro Eight pendia em seus lábios carnudos.

–Bom dia...-consegui dizer entrando na sala.

Do outro lado consegui ver a criatura que exalava o suave perfume masculino. Um garoto não muito alto, de pele clara, cabelo comprido e liso jogado para o lado. Usava uma jaqueta preta, o que era muito estranho, pois estava um dia quente.

–Ahn... Moça –começou a dizer o garoto –Acho que eu errei a casa...

–Qual o problema? –perguntei.

–O senhor poderia devolver o skate do garoto? –disse Anna.

–Skate? Senhora, você está falando com a pessoa errada. Eu nem conheço esse garoto.- respondi, rindo.

–Garoto, você tem certeza de que é este homem que roubou seu skate? –agora, quem falava era Sarah, com uma voz nem um pouco simpática.

–Não, mas eu vi o cara entrando aqui na semana passada...

Ouvi passos vindos da escada, e consegui ver um homem careca, moreno e alto.

–Garotas, eu não encontrei nenhum skate, mas achei isso. –disse o homem levantando o cilindro de vidro que continha a língua da menina ruiva.

–É só uma língua de vaca... –comecei a dizer.

–Não fale nada, cara. Anna, acho melhor você subir para ver o resto. –em seu crachá estava escrito D. Leonardo.

Ótimo, o garoto tinha chamado duas policiais e um delegado por conta de um skate. Brilhante!

–Garoto, é melhor você ir para sua casa. –disse Sarah.

–Mas e meu ska...

–Vai logo, Luke. –disse Anna.

O garoto saiu bufando algumas palavras, e ao alcançar o portão da frente gritou:

–EU NÃO PRECISO DISSO, SEUS MERDAS. –pela janela, consegui avistar suas duas mãos levantando os dois dedos médios.

–Pirralho estressado. Eu ein. –disse Sarah.

–Sarah, olhe a cozinha, e os fundos, o senhor pode me acompanhar? –começou Leonardo.

–Vocês são engraçados. –disse. –Não podem invadir minha casa sem um mandato. E o que vocês tinham era sobre um skate. Como podem ver, não tenho nenhum skate.

–Fique bem quietinho aí, meu amigo. Temos um mandato para revistar a casa inteira, e faremos isso. –disse Anna, tragando o seu segundo cigarro. –Nos mostre o cômodo de cima.

–Como quiser, madame!

–Brinque mais uma vez, e eu enfio esses cigarros no seu pulmão. –Disse ela mostrando seu maço de Eight.

Meu coração pulsava em um ritmo indescritível. Consegui sentir o suor escorrendo pela minha nuca. Minhas mãos tremiam dentro do meu bolso.

Então uma pedra atravessou a janela de vidro, era o mesmo garoto.

–ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM. EU EXIJO OS MEUS DIREITOS! –ele gritava.

–Vou ligar para sua mãe, menino. –gritou o delegado. –Vamos logo. –disse ele esticando seu braço para mim.

Subi as escadas lentamente para não demonstrar que minhas pernas tremiam.

Anna agarrou meus braços para trás, e me empurrou para que eu continuasse andando.

–Gosto assim. –murmurei lançando um sorriso malicioso.

[...]

Nunca tinha visto tanta gente na rua 23. E minha amiga do abrigo Karen estava lá.

Ela foi adota pela irmã do Senhor Thalles, Malu Mões, logo após completarmos 17 anos. A mulher teve um tumor no útero, e assim teve que retirá-lo. Após isso a adotou, pois sua irmã Fabricia, de 3 anos, não queria ir embora sem sua irmã.

Ela me jurou que voltaria algum dia para me ver, mas até mesmo grandes amores não cumprem seus juramentos.

Meu coração já estava saindo pela boca. Tentei dizer “desculpa”, mas ela fechou os olhos, permitindo que as lágrimas escorressem pelo seu rosto branco.

Uma multidão tinha se reunido ali. Pessoas que eu não via havia anos ali estavam, para assistir o fim do espetáculo.

Eles ainda não tinham encontrado o Senhor Thalles, provavelmente a policial Sarah tenha ficado horrorizada ao encontrar o corpo de seu primo Filipe enterrado no meu quintal.

–Delegado... –chamou Anna, o qual parou ainda segurando meus braços algemados.

–Sim? –respondeu.

–Precisamos de uma equipe de resgate. Tem alguém trancado no porão.

Olhei para Karen novamente e disse:

–É melhor você chamar sua mãe. O cara que está lá embaixo é o seu tio.


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Notas finais do capítulo

Luke, parabéns, você estragou e salvou tudo ao mesmo tempo.



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