O Fruto Proibido

Prólogo

♛

Gotas frias e grossas escorriam por seu corpo, mas a garota de feições amargas parecia não se importar. Sua displicência para com a situação era notável, quase assustadora.

Ela não estava verdadeiramente ali.

Apenas os olhos; grandes e verdes, pintalgados de ouro demonstravam o que verdadeiramente sentia. Raiva. Tanta, tanta raiva contida... Os olhos eram frios como gelo, tão maldosos e cheios de veneno quanto o próprio inferno.

Mas, se olhassem bem mais fundo nos olhos dela podia-se ver tanta tristeza que faria o mais bruto dos homens sentir vontade de chorar.

Lilith se abraça numa vã tentativa de não tremer. Mas mesmo suas camadas e camadas de roupas de inverno não haviam impedido que a umidade enregelante a encharcasse até os ossos.

Trincou os dentes e por um ínfimo instante a mascara de inexpressividade fora quebrada, dando lugar a ira. Havia marcas em seu corpo, marcas de mordidas e beijos violentos. E naquele momento ela esperava pelo próprio autor daquele estigma odioso deixado em sua pele. Ah, como adoraria deixar suas próprias marcas nele... As marcas de seus dedos longos que ficariam no pescoço daquele infeliz após ela ter roubado-lhe todo o ar.

E ela esperava como uma cachorrinha. Riu.Como uma boa cachorrinha.

— Moça?

Era uma voz puramente alegre e infantil. Lilith grunhiu, levantando a cabeça e afastando o cabelo loiro completamente ensopado do rosto. Uma silhueta pequenina e delicada a encarava com curiosidade, protegida por um guarda-chuva azul e envolta em um vestido vermelho e rodado, sorrindo inocente.

Devia ser quatro anos mais nova que Lilith, no mínimo.

— Você não ‘tá com frio?

A loira piscou, aturdida, devolvendo o olhar da menina com certa antipatia. Ela parecia tão, tão linda e inocente... Com o cabelo escuro caía-lhe até a cintura em cachos longos e sedosos, e uma franja perfeitamente simétrica que emoldurando os grandes olhos que reluziam como iolitas preciosas. Aquilo apenas adornava seu alvo rostinho de boneca e lhe concedia um aspecto bastante angelical.

Lilith invejou-a com intensidade naquele momento, e desprezou-se duas vezes mais por isso.

— Qual é o seu nome?

Encarou a garotinha com certo deboche e franziu o cenho, enquanto se indagava o porquê de ainda não ter enxotado aquela criaturinha irritante dali.

— Lilith.

— É bonito... — A menina respondeu sincera, sorriu. Um sorriso luminoso, como a lua numa noite sem estrelas e a loira sentiu vontade de rir ao imaginar qual seria a expressão da pequena caso lhe dissessem o significado de seu nome. — Eu sou a Meg!

E então ela sentou-se no banco ao lado de Lilith, espremendo-se para conceder um bom espaço para a loira sob a proteção do guarda-chuva.

Lilith engoliu em seco, num súbito embaraço e finalmente notou a bolsinha marrom e puída que Meg levava no ombro esquerdo. Ela tirou algo de dentro e virou-se para a loira, com um sorriso meigo nos lábios avermelhados.

— Quer maçã, Lili?

♛