Redrum escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 9
Capítulo 08 - Casa de Bonecos




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– Como assim, se comportando? – Perguntou Sarah – Eles são apenas bonecos – Ela não conseguia esconder que estava nervosa.

A senhora ficou parada por um momento, sorrindo.

– Você os viu, não foi?

– Claro que eu os vi.

– Não, você os viu com vida... O que fizeram?

– Eu realmente não sei do que você está falando.

– Eu entendo a sua confusão, também fiquei assim quando falei com eles pela primeira vez.

Sarah estava cada vez mais convencida de que o que vira não foi uma alucinação.

– Pode me contar... Você viu ou não viu?

– Eu vi – Ela revelou, finalmente.

– Não se preocupe, eles são inofensivos, apenas gostam de brincar.

– Eles mataram um garoto!

A mulher tirou o sorriso do rosto.

– Impossível – Falou, aborrecida.

– E estão assustando as crianças, os ameaçando para que não contem o que realmente aconteceu.

– Você só pode estar mentindo, eles nunca fariam mal – Ela voltou a sorrir. Desta vez, um sorriso nervoso, de medo.

– Não estou, uma das crianças me confessou, e eu os vi dançando na sala de brinquedos, havia uma boneca de rosto angelical e cabelos pretos, também havia um de roupas de mecânico e cabelos ruivos.

A mulher imediatamente tirou o sorriso do rosto.

– O que você disse? – Perguntou ela, assustada.

– Como assim?

– Roupas de mecânico e cabelos ruivos? Você disse que havia um boneco assim? – A senhora estava nervosa.

– Sim.

Ela se levantou e andou de um lado para o outro, preocupada. Sarah estava confusa.

– Não pode ser, não pode ser – Repetia a mulher – Eu o queimei, eu queimei aquele maldito.

– Do que está falando?

– Me escute, criança, você precisa destruir aquele boneco, se não conseguir, saia do orfanato com as crianças e todos os que estiverem perto.

– Você está louca?

– Eu não estou, você sabe por que? – Ela abriu uma gaveta e pegou uma fotografia. Em seguida, mostrou a Sarah.

Na foto, Carrietta estava sentada em uma cadeira com vários bonecos ao redor. Um deles, um de cabelos ruivos e roupas de mecânico, estava em seu colo.

– Foi este o boneco que você viu? – Perguntou ela.

– Sim, foi ele.

– Eu o queimei há um ano.

– Por quê?

– Ele é mau, ele é muito mau – Ela estava tremendo.

– O que ele fez?

– Esse maldito foi responsável pela morte do meu marido – Ela sentou novamente. Estava começando a chorar.

– Como você sabe que foi ele?

– Eu o vi! Eu o vi derrubá-lo da escada! – Ela berrou e as lágrimas começaram a descer de seus olhos.

Houve um breve silêncio depois disso. Sarah não sabia o que dizer, mas precisava falar algo, então escolheu o mais óbvio possível.

– Eu sinto muito.

A mulher não agradeceu. Estava com a cabeça abaixada e as mãos sobre o rosto.

O silêncio dominou novamente, exceto pelo choro de Carrietta. Quando finalmente parou, ela levantou a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos.

– Eu preciso ir agora – Disse Sarah.

– Tá, tá bom, desculpa pelo meu exagero, é que eu ainda não superei a morte do Joseph.

Sarah deu um leve sorriso.

– Adeus.

– Srta. Ives – Carrietta disse, segurando o braço de Sarah.

– O que?

– Queime aquele maldito, acabe com ele ou ele acabará com você.

Sarah não disse nada, apenas caminhou até o seu carro e deu partida. Iria voltar ao orfanato e fazer o que ela mandou. Finalmente estava convencida de que aquilo era real.

***

O sol já estava se pondo, irradiando sua luz alaranjada pela cidade. Sarah dirigia até o orfanato.

Passou quase duas horas dirigindo até lá e quando chegou já era noite. Ao sair da ponte, o orfanato ficou visível. Alto e com muros de pedra, muros esses que refletiam uma luz vermelha que piscava freneticamente.

Ela acelerou mais e entrou no local, cujo portão já estava aberto.

Ficou assustada ao encontrar uma viatura e uma ambulância estacionadas perto do jardim. Havia crianças do lado de fora, chorando junto com as mulheres que ali trabalhavam.

Sarah correu até uma mulher que abraçava duas crianças, estava aos prantos.

– O que houve, onde está Lana? – Perguntou ela, assustada.

A mulher não respondeu, apenas fez um sinal com a cabeça, direcionando para uma maca que os paramédicos levavam até a ambulância. Era um corpo, e estava coberto com um plástico preto. Era Lana.

– Oh meu deus – Disse Sarah, incrédula.

Não podia ser. Lana estava morta. Era culpa dos bonecos, tinha certeza.

Ela correu entre as crianças e mulheres e entrou no orfanato. Correu até a sala de brinquedos e entrou, determinada a encontrar o boneco de cabelos ruivos.

Caminhou até a pilha de bonecos e constatou que ele não estava lá.

Estava indo embora, procurar aquele pequeno demônio pelo grande orfanato. Precisava destruí-lo.

Quando chegou próximo a porta – já segurava o trinco, inclusive – Sarah ouviu risadinhas infantis que a fizeram gelar a espinha. Virou-se lentamente e não encontrou nenhuma crianças, apenas os bonecos. Estavam em uma posição diferente de segundos antes. Agora, todos eles apontavam para frente com seus dedinhos pequenos. Eles apontavam para uma porta a alguns metros dali.

Ela ficou parada por instante, mesmo sabendo que aqueles bonecos tinham vida, ela ainda ficava apavorada.

Sarah se aproximou um pouco dos bonecos e se assustou quando todos eles começaram a virar seus olhos para o lado lentamente, encarando-a.

Seu coração acelerou.

Os bonecos não disseram nada, apenas continuaram apontando para a porta e a observando.

Ela começou a caminhar em direção à pequena porta de madeira, provavelmente um armário onde eram guardados outros brinquedos. Tinha medo do que poderia encontrar ali, mas não deveria ser difícil pegar um pequeno boneco.

A cada passo que ela dava, seu coração batia mais e mais forte e o suor descia pela sua testa. Tocou o trinco gelado e se preparou para abri-lo, mas parou quando ouviu novamente as risadinhas.

Olhou para trás e viu que os bonecos continuavam apontando, só que desta vez, apontavam para a outra porta, a da entrada da sala de brinquedos. Parecia que estavam brincando com ela.

Seguiu o rastro dos pequenos dedos e percebeu que eles apontavam para um objeto pequeno que estava do outro lado da porta entreaberta. Sarah podia vê-lo pelas brechas. Era pequeno, usava roupas de mecânico e tinha cabelos ruivos. A observava com uma expressão de maldade no rosto.

Quando percebeu que ela já havia descoberto sua brincadeira, ele correu.

Sarah correu atrás do pequeno boneco, mas ele havia sumido no corredor. Neste momento, ela ouviu uma porta batendo no fim do corredor ao lado direito. Ela correu até lá, era a última porta depois da cozinha.

Entrou e acendeu a luz, percebendo que era a dispensa do orfanato. Extensa e cheia de prateleiras com alimentos.

Sarah procurou o pequeno boneco pela sala mas não o encontrou. Foi quando viu uma lâmpada fluorescente ser despedaçada por algum objeto que, provavelmente, havia sido jogado pelo brinquedo. Sobravam apenas duas lâmpadas.

A segunda foi quebrada segundos depois, por uma lata de ervilha que rolou por alguns centímetros ao cair no chão junto aos estilhaços da lâmpada.

Só havia uma área iluminada pela última lâmpada que sobrara, e Sarah estava nela. O resto da dispensa estava escuro. O boneco estava ali.

Sarah ouviu uma risadinha de criança antes de ver outra lata de ervilha saindo da escuridão. Acertou em cheio a última lâmpada, fazendo ela se apagar e cair no chão aos pedaços.

O local agora estava mergulhado em uma escuridão total. Era impossível enxergar.

Ela colocou a mão no bolso para pegar o celular e ficou desesperada ao perceber que havia deixado o aparelho na bolsa, que estava no carro.

Ela caminhou lentamente pelo local, com as mãos tateando o ar à sua frente, com o objetivo de não esbarrar em nada.

– Quem é você? – Perguntou ela, tentando fazer algum contato.

Não ouviu nada além das risadinhas.

– Eu sou seu amiguinho – Ele zombou. Sua voz era aguda como a de uma criança – Vamos brincar?

– Filho de uma puta.

– Eu vou te pegar.

Ele gargalhou.

– Você também não pode enxergar, como vai me pegar? – Ela perguntou, fazendo parecer que não estava com medo, quando na verdade estava apavorada.

– Você está enganada, eu tenho olhos de plástico, posso ver tudo.

Ela conseguiu tatear algo. Um balcão. Havia gavetas embaixo. Ela abriu a primeira e colocou a mão. Sentiu uma dor pontiaguda no dedo e percebeu que havia se cortado.

Ignorou o corte e pegou uma faca. Seu objetivo era estraçalhar aquele boneco no momento que ela encontrasse.

– Acho melhor largar essa faca – Disse ele, comprovando que ele estava vendo tudo.

– Apareça, desgraçado!

– E de que adiantaria? Você não pode me ver.

Ela continuou caminhando. Esbarrou uma ou duas vezes em alguns prateleiras, derrubando algumas coisas. Estava ferrada, sabia disso.

– Eu estou te vendo – Disse ele, fazendo-a estremecer de medo.

– Você está mentindo.

– Não estou não – Ele disse, e em seguida abaixou o tom de voz, quase sussurrando – Eu estou bem aqui, perto de você.

Sarah sentiu alguém tocando seu cabelo e percebeu que ele estava muito próximo, então fez um movimento brusco com a faca, cortando o nada. Onde estava aquele maldito?

– Eu vou cortar a sua garganta até sentir os seus ossos no três – Disse ele, com um tom sombrio na voz.

Ela estremeceu novamente, estava tremendo de medo.

– Um... – Disse ele.

O coração de Sarah acelerava. Ela percebeu que o único jeito era sair da dispensa. Não conseguiria pegá-lo de qualquer forma.

– Dois... – Ela sentia que a voz dele se aproximava mais e mais.

Começou a correr de volta pelo mesmo caminho que havia tomado, esbarrando em algumas coisas no caminho.

– Três!

Ela deixou escapar um grito quando se chocou contra uma prateleira e esta caiu no chão com um baque surdo. Sarah caiu também.

Sarah via a luz por baixo da porta da dispensa. Era longe.

Agora estava sentada no chão, com o coração acelerado, esperando o boneco atacar. Não podia ser difícil evitar que alguém daquele tamanho a ferisse.

Seus olhos fitavam a escuridão, sem enxergar nada. Ela sabia que o boneco estava ali, provavelmente à sua frente, a observando. Seu coração bateu mais rápido quando pensou nisso.

Ouviu um ruído quando a porta da dispensa se abriu bruscamente, dando um pouco de luz à dispensa. Ainda assim não era possível enxergar todo o cômodo, mas via o suficiente para saber que o boneco não estava perto.

Quando Harry entrou pela porta, ela se sentiu salva.

– O que faz aqui? – Perguntou ele, correndo para ajudá-la.

Sarah ignorou a pergunta, só pensava no boneco.

– Ele está aqui, ele está aqui! – Disse ela.

– Quem está aqui? O boneco?

– Você sabe sobre eles?

Harry deu um longo suspiro.

– Sarah, todos nós sabemos.


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