Redrum escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 6
Capítulo 05 - Hematomas




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À sexta-feira, quando Sarah chegou ao orfanato Overlook para mais uma sessão com as crianças, estacionou seu carro embaixo da mesma árvore de sempre. Depois saiu do veículo e caminhou até o jardim de entrada, onde as crianças brincavam de futebol americano.

Lana estava sentada em bancos de pedra abaixo de outra grande árvore de folhas amareladas. Lia um livro tranquilamente, mas parou ao ver a psicóloga. Largou o livro no banco e foi cumprimentá-la.

– Você chegou cedo hoje – Disse ela.

– Pois é, eu estava pensando em passar um pouco mais de tempo com as crianças, já que é nossa última sessão.

– Oh, sim, nós vamos terminar em alguns minutos.

– Sem problemas, é maravilhoso vê-los brincando, é um sinal de que está superando.

– É mesmo, não é?

– É... – Sarah olhou para as crianças, correndo e sorrindo, mas não viu o pequeno Noah, um de seus pacientes preferidos, por sua inocência e timidez – Mas onde está Noah?

– Está lá dentro, não quis brincar hoje, o que é estranho, já que ele é um dos mais travessos – Lana disse, sorrindo.

– Eu vou vê-lo, ver se precisa de algo, ok?

– Sim.

Sarah entrou no orfanato e se perguntou onde o garoto estaria. A resposta que sua mente deu foi imediata. Sala de brinquedos. Era onde eles sempre estavam.

Caminhou pelo amplo corredor de paredes e piso amadeirados até entrar em outro, onde ficava a porta para a sala de brinquedos. Tal porta estava aberta, deixando uma brecha por onde passava o som de uma voz. Era a de Noah, ela reconheceu.

– Me desculpa, por favor, eu juro, não contei nada, não me machuque – Dizia o garoto, desesperado. Sarah ficou assustada e recuou, ouvindo o resto da conversa. Não conseguia vê-lo, apenas ouvi-lo.

– Não, pequeno Noah, você contou, eu sei que você contou, aquela vadia já sabe de tudo, você pediu por isso – Retrucou outra voz masculina, uma voz fina e sinistra.

– Não, por favor, não me machuque, não fui eu!

Sarah, extremamente assustada, empurrou a porta e entrou na sala. Estava vazia, exceto pelo garoto sentado em uma pequena cadeira de madeira, perto da janela. Seus olhos estavam vermelhos, pois ele chorava.

– Noah, você está bem? – Ela perguntou, assustada, olhando para os lados e procurando o dono daquela voz. Não havia ninguém, era só o garoto.

– Estou, não foi nada – Respondeu Noah, enxugando as lágrimas.

Sarah se aproximou e viu que ele estava perto da pilha de bonecos. Um deles estava afastado dos outros, perto do garoto. Jazia jogado no chão, com seu sorriso doce e cabelos ruivos. Um anjinho de plástico.

– Quem queria te machucar? – Ela perguntou, olhando pela janela, para ver se havia alguém. Não tinha, e se houvesse, não havia possibilidade de sair. A janela estava trancada.

– Ninguém.

– Com quem estava falando?

– Com ninguém – Ele forçou um sorriso, olhando para baixo, com um visível nervosismo.

– Por favor, eu preciso de que diga, Noah, eu posso te ajudar – Disse ela.

– Eu não tava falando com ninguém! – Ele exclamou e, em seguida, saiu correndo da sala.

Sarah ficou parada onde estava, preocupada com o garoto. Pensou por um momento que ele podia estar criando um amigo imaginário, ela ouviu. Ouviu o tal amigo falando. Como poderia? Ele estava fazendo as duas vozes? Alguém saiu rapidamente pela janela quando ela entrou?

Tinha que haver uma explicação para aquilo. Ela ouvira as duas vozes, podia jurar.

***

Minutos depois, ela estava sentada no grande banco de pedra embaixo da árvore de folhas amareladas, junto de Lana. Alguns adolescentes estavam afastados dali. Uns deles sentados na grama, conversando, outros lendo livros ou ouvindo música.

– Você tem conhecimento de alguém que possa estar praticando atos violentos contra os garotos? – Perguntou Sarah, tirando o sorriso de Lana do rosto imediatamente.

– Não, é claro que não, por que acha isso? – Ela perguntou, sentindo-se insultada com aquela insinuação.

– É o Noah, eu o ouvi falando com uma pessoa hoje na sala de brinquedos, parecia que ele tinha medo dela, pedia para não ser machucado.

– Você não viu quem era?

– Não, a pessoa saiu quando eu entrei na sala.

– Mas como? Só há uma porta.

– Pois é, eu não sei, acho que saiu pela janela, pode até ser um dos adolescentes.

– Você conversou com ele?

– Sim, mas ele não disse nada, parece que tem muito medo mesmo dessa pessoa.

– Eu vou tomar providências, não se preocupe, até porque não é a primeira coisa deste tipo que vejo.

– Como assim?

– Alguns dias atrás uma garota, Jennifer, surgiu com uma marca arroxeada no ante braço, como se alguém tivesse a agredido... Eu perguntei, mas ela não contou nada.

– Oh, deus.

– Pois é, e agora que você me disse isso sobre Noah, preciso tomar sérias providências... A primeira delas é descobrir quem está por trás disso.

– Faça isso, por favor.

– Eu farei, estou no comando deste orfanato há mais de vinte, não permitirei atos como esse.

***

Era por volta de cinco e meia da tarde. A sessão com as crianças havia começado mais tarde desta vez, pois Sarah havia deixado elas brincarem um pouco, para esquecer os problemas.

Agora, estavam todas sentadas no chão, como sempre, atentas às palavras da psicóloga.

– Eu quero dizer uma coisa, e quero que me contem a verdade, ok?

Elas continuaram em silêncio, a encarando. Ela considerou a ausência de objeções como um “sim”.

– Eu fechei a porta, ninguém está nos ouvindo, então não tenham medo de falar nada...

– O que aconteceu, Srta. Ives? – Perguntou uma garotinha, provavelmente amedrontada com aquelas palavras.

– Eu só quero conversar com vocês.

Elas ainda estavam caladas, estranhando.

– Eu quero saber se tem alguém aqui, neste orfanato, que vocês não gostem muito... Qualquer pessoa.

– O que é um orfanato? – Perguntou a mesma garotinha, levantando a mão. Era uma pergunta engraçado.

– Ah, não, esqueça o que eu disse, eu quis dizer casa. Aqui nesta casa... Tem alguém que vocês não gostem?

Eles ficaram calados, enquanto pensavam.

– Ah, vamos lá, deve ter alguém, eu também, pessoalmente não gosta da Srta. Fowler – Brincou Sarah, levando as crianças a sorrirem. Algumas gargalharam.

Um garoto sentado no meio, com olhos puxados e cabelos negros, levantou sua mão.

– Jayden – Disse Sarah, apontando para o garoto – Pode falar.

– Eu não gosto muito da Srta. Bowl – Falou ele, sorrindo – Ela m faz eu comer vegetais, e eu não gosto.

– Isso, muito bom – Ela elogiou, batendo palmas – Alguém mais?

Pouco a pouco as crianças levantaram suas mãos e falaram o nome de alguma pessoa do orfanato. Os alvos mais falados eram as assistentes que cuidavam deles, tinha sobrado até para Lana. Um dos garotos havia dito que ela era muito “egigente”, fazendo Sarah gargalhar.

– E você, Noah, tem alguém? – Perguntou ela, chegando ao ponto em que queria chegar.

– Não – Ele respondeu com timidez. Os outros garotos olharam para ele – Eu gosto de todo mundo aqui.

– Tem certeza?

– Tenho.

Ela percebeu que não iria tirar nenhuma informação daquele garoto, a não ser que ele estivesse sozinho com apenas pessoas em quem confiava.

***

– Noah, quem fez isso no seu braço? – Perguntava Lana, vendo uma marca de pancada no antebraço direito do garoto, enquanto sentava na grande cadeira de couro em sua sala. Sarah estava sentada em uma ao lado esquerdo, enquanto Noah permanecia quieto, sentado em uma cadeira de frente para a diretora. Estavam separados apenas pela mesa.

– Eu já disse, não foi ninguém.

– Querido – Disse Sarah – Não tenha medo, só estamos nós aqui dentro. Ninguém pode nos ouvir.

Ele ficou em silêncio por um instante, com a cabeça baixa. Em seguida disse:

– Eu não posso contar, eles disseram que vão me matar, como fizeram com o Peter.

Lana e Sarah se entreolharam.

– Quem disso isso, Noah? – Perguntou a psicóloga.

– Eu já disse, eu não posso contar!

– Mas ninguém está nos ouvindo, está seguro aqui.

– Não tô não.

– Como assim?

– Eles estão nos ouvindo agora, por aqueles buracos ali – Ele disse, apontando para um buraco quadrado perto do teto, coberto por uma grade de metal.

– A tubulação de ar? – Perguntou Lana.

– É.

– Quem são eles? – Sarah questionou novamente.

O garoto se aproximou um pouco e disse, em um baixo tom de voz.

– Os bonecos.


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