— Quer morar comigo em Paris, Cass? — meu ex-ex-namorado propôs, esperançoso.

— O que foi que você disse, Richard? — perguntou a Ann, aparentemente indignada. Ela estava com os olhos arregalados, e totalmente paralisada. Mas ainda assim, ela surpreendentemente falava num tom baixo, como se não quisesse chamar muita atenção para aquele pequeno conflito.

Ele a olhou e sorriu um sorriso meio sem-graça. Mas, com toda a certeza, muito charmoso.

— Ann — ele tentou. — Era só que...

— “Só que”, nada! Nem pense em levar minha amiga embora. Entendo mais ou menos que vocês tenham voltado, mas isso eu não posso aceitar. Ninguém te ensinou que não pode sair por aí pedindo para as amigas das pessoas para morarem longe? — ela aumentou um pouquinho mais o tom da voz, o que me fez encolher os ombros. — ISSO NÃO SE FAZ, ENTENDEU BEM?

— Hãn... olha, é que eu e a Cass... — ele tentou se justificar. Mas, com ela, qualquer tentativa seria em vão.

— Para já com essa história, idiota! Eu apoio muito mais a Cass com o Jayden, sabia disso? Você não vê que está estragando tudo? Esses dois tem tudo para serem felizes!

— Ann! — eu me meti no meio rapidamente, quando vi que a coisa ficou feia. Onde ela estava com a cabeça? — Já chega desses absurdos, né? Eu já te disse isso!

— Jayden, é? — Richard se direcionou a mim. — Vocês estavam juntos, Cass?

— Não — eu falei, desesperada — Mas...

— Mas deveriam estar! — minha amiga exclamou, abrindo os braços.

Percebi que algumas pessoas observavam de longe. E eu já estava ficando constrangida com isso. O casamento era de Anna Elizabeth! Não meu. Por que diabos eu estou aqui chamando atenção?

— Ann. A gente resolve depois — sibilei entre os dentes. — vá curtir seu casamento.

— Não posso curtir meu casamento sabendo que minha amiga quer vir morar em Paris com esse cara!

— Eu nunca disse que queria — respondi, já ficando vermelha com tudo isso.

— Você não quer? — perguntou Richard, meio abalado. Senti que pisei na bola.

— Mas também não disse que não queria — consertei, rapidamente. Os dois esperavam que eu concluísse. Que respondesse de uma vez. Mas eu simplesmente não podia! Como poderia?

— A questão, Rick — a Ann retomou o assunto, respirando fundo. — É que Cass estava feliz sem você! Ela e o Jay iriam finalmente dar certo, mas aí...

— Anna Elizabeth! A gente não estava “dando certo”, de onde você tirou isso?

— Quer que eu te responda mesmo? — ela perguntou, sorrindo maliciosamente.

Corei e engoli em seco. Ela, felizmente, entendeu isso como um “não” em código de melhores amigas.

— Cassy. Eu sempre achei que ele meio que gostava de você, mas... Quando ele começou a namorar com aquela Emily, eu relaxei.

— Não deveria — a noiva revirou os olhos, cruzando os braços.

— Deveria sim — falei para Rick, lançando um olhar assassino para Anna — Deveria ter relaxado desde o início. Ele não gosta de mim, nunca gostou. E você não tinha razões para suspeitar alguma coisa de mim.

— Ele não gostava de você? — ela riu sarcasticamente. Suspirei. Pelo amor de deus, Ann, para de complicar mais as coisas!

— Não.

— Isso é seu palpite, querida. Não foi para seu irmão mais novo que ele doou todos os livros antigos do colégio, que por sinal, tinham vários corações com seu nome.

— Como é?

— Isso mesmo. Seu Jay te ama desde o colegial, sua anta!

— O quê? — eu acho que até o Richard parecia menos incrédulo que eu — E você nunca me contou, por quê, exatamente?

— Porque quando eu falei para ele dos “corações” ele me pediu para não contar — ela deu de ombros.

— Você? Guardou segredo? De mim? Essa é novidade.

— Cassy — Richard disse, interrompendo nossa discussão — Você gosta dele?

O encarei mais do que indignada. O que ele achava? Que eu simplesmente iria voltar com ele se eu gostasse de outro? Ele realmente acreditava no que a Ann dizia? Eu parecia algum tipo de boba apaixonada? Suspirei. Mas eu tinha que admitir: nesse momento, nem eu sabia ao certo as respostas para todas essas perguntas.

O que eu poderia responder?

— Hm... O que você acha?

— Ao que me parece, talvez sim. Eu quero saber de você.

— Você gosta mais do seu trabalho do que de mim? — perguntei, mais para contra-atacar do que mudar de assunto.

— O que isso tem a ver, Cass? — ele balançou a cabeça, sem acreditar no que eu havia indagado.

— Eu quero saber de você — repeti o que Rick havia dito. Se ele pode usar esse argumento, eu também posso.

— Bom, eu te fiz uma pergunta primeiro.

— Mas a minha é mais importante.

— Por quê? — ele cruzou os braços.

— Porque talvez a minha resposta para sua proposta dependa disso — cruzei os braços também. Eu não sabia se queria ouvir a mais sincera resposta daquilo, mas eu também estava morrendo de curiosidade para ouvir o que ele tinha a dizer. Eu sempre me senti meio trocada.

A Ann me lançou um olhar orgulhoso, como se esperasse por isso há muito tempo. Depois ela foi saltitando até seu marido, como se sua função estivesse completa depois disso. Observei o casal se beijar, e Carter provavelmente perguntar o que estava acontecendo aqui. Será que algum dia seria minha vez? De casar, formar uma família e ser feliz para sempre?

— Ora, claro que não — Richard interrompeu meus planos para o futuro, me forçando a voltar para a discussão — porque eu preferiria o meu trabalho?

— Porque você não veio para Paris por mim. Você veio pela promoção.

— Não, Cassy, foi por você também.

— Não foi! Você nem sabia que eu estava em Paris até a noite da despedida de solteira da Ann. Quando viu que, por coincidência, estávamos no mesmo lugar, foi correndo me procurar. Mas, por favor, só não me diga que foi pelo sexo.

— Como é? Cass! — ele exclamou, meio irritado — Certo, talvez eu não soubesse que você estava aqui, mas...

— Quantas você pegou? Sabe, depois que terminamos?

— Nenhuma, eu juro! — ele levantou ambas as mãos, em um sinal desnecessário de rendição.

— Exatamente. Você estava carente de relações sexuais, ou não, Richard?

— CASSIE!

— É verdade, não é? — eu senti a raiva subindo pela cabeça e se transformando em angústia. Logo, todo aquele sentimento molhavam levemente meus olhos, em forma de lágrimas. Como eu pude ser tão burra? O Jay estava certo o tempo todo! Eu deveria ter escutado ele, e a Ann e a Wendy! Meu Deus, eu estava tão cega.

— Talvez um pouco, mas eu ainda te amo...

— Você nunca desliga o celular e nem deixa no silencioso. Eu sei disso! Você não estava atendendo o celular antes porque estava muito “ocupado”! — fiz as aspas com os dedos, sarcasticamente. Depois os levando para o rosto, para enxugar os olhos e desembaçar a visão — Óbvio que você ama mais o seu trabalho, Rick. Se quiser mesmo arranjar uma namorada, aprenda a viver antes.

Ele balançou a cabeça diversas vezes, parecia que ele esperava que aquilo tudo fosse um pesadelo. Me senti um pouco mal por ele, mas lembrei que era eu que estava chorando aqui.

— Você não vai se arrepender depois? Sabe, de não vir morar comigo?

Parei por um ou dois segundos. Eu preferia morar em Paris com alguém que não me ama ou na cidade de sempre, com pessoas que realmente me querem por perto o tempo todo? Qualquer um saberia responder essa.

— Acho que não — falei, recusando sua proposta. E lembrei de Jayden. “Só lembre disso: aceite”, foi o que ele havia dito, balancei a cabeça para mim mesma. É óbvio que eu não ia aceitar, Jay, eu não posso ficar longe de você.

Richard assentiu. Deu meia volta e foi embora. É isso? Não existe mais eu e Rick? Acho que não, e eu derrubei mais uma ou duas lágrimas. Não por perder o Richard, mas por ter sido tão tola esse tempo todo.

Percebi que eu tinha que achar a Ann, precisava lhe avisar que tínhamos terminado. E também que eu ia sair mais cedo da sua recepção... Eu tinha que achar um certo loiro que estava bem chateado comigo.