– Vocês curtem lutas? – Perguntei apoiando-me mais na mesa, eu estava excitada com a menção do meu “esporte” predileto.

Eles pareceram se surpreender, encarando-me. Eu já notara que era raro uma garota se interessar por lutas e artes marciais, por envolver violência, eu era assim também... Até quatro meses atrás.

Ethan encarou-me por alguns segundos, logo franzindo as sobrancelhas.

– Sim – Ele acenou, seu olhar estava sobre mim, curioso – Você parece gostar também, estou enganado?

Dei-lhe um sorriso devasso como resposta.

– Ah, você nem imagina – Bufou Jonathan, se metendo na conversa. Eu ainda estava com aquele sorriso maldoso no rosto, e todos encaravam de mim para Jonathan.

– Uma garota? – Perguntou Ryan atônito, encarando-me – Uma garota gostando de lutas violentas?

– Ela briga bem – Falou Ethan, sua mão estava em seu queixo, ele parecia pensativo – Eu a vi brigar ontem... No refeitório.

Soltei um risinho doce, olhando-o. Ele parecia cada vez mais espantado comigo.

– Você me surpreende, borboleta – Ele sorriu ao falar a ultima palavra, fiz uma breve careta.

– Já te disse o quanto odeio que me chame assim? – Retruquei, meu humor voltara a ficar ruim, e eu precisei me controlar. Sentia uma enorme vontade de socar a linda cara de Ethan, quebrar seus dentes, seu delicado nariz, arrancar seus belos cabelos negros... Socar seus hipnotizantes olhos tempestuosos... Que parecem ler minha alma... Inchar sua boca... Ah, que boca... AH!... Não, não... Isso não esta acontecendo!

Desviei meu olhar irritada, mais por cauda de meus pensamentos do que pelo fato do apelido.

Percebendo meu mau humor, ele levantou as mãos em forma de desistência. Mal sabia o real motivo da minha irritação...

– Por que você não gosta de ser chamada de borboleta? – Ethan perguntou, seus olhos estavam presos aos meus, pareciam querer ler-me.

Eu nada disse, não iria, não poderia responder sua pergunta.

Não é algo fácil de se dizer, não quero que tudo volte... Que meu passado se revele. O simples fato dele me chamar de “borboleta” me lembra ao codinome “dark butterfly”. Algo que me traz lembranças de malditos dias de dor da minha existência... Meus erros.

Eu queria poder esquecê-los, ou então mudar o passado... Mas sabia que era inútil, eu os gravei em meu corpo. E o relógio só gira para frente.

– Borboooleeetaaa – Cantarolou Ryan, melodiosamente – Burtterfly.

Paralisei por alguns segundos e percebi pelo canto do olho que Jonathan segurara a respiração, ele encarava Ryan.

O garoto de cabelos azuis espetados levantou as sobrancelhas.

– Acho que não estou me sentindo nos meus melhores dias – Inventei uma explicação, eles estavam me encarando, eu já podia imaginar o quão pálida estava parecendo – To saindo.

– Já? – Perguntou Ethan, ele parecia intrigado. E tinha razão, se eu estivesse no lugar dele, o mínimo que eu ficaria seria intrigada e o mínimo que faria era descobrir o mistério. Só esperava que ele não seja como eu, para seu próprio bem.

– Já – Assenti positivamente e me levantei da cadeira – Joh, não quero ir nas aulas da tarde, é só matemática, ok? Não to afim de morrer de tédio hoje. Quem sabe um outro dia.

– E quando você esta afim de morrer de tédio? – Jonathan perguntou igualmente sarcástico.

– Nunca – Simplesmente respondi – Se for para morrer, que seja por algo que vala a pena.

Os meninos de entreolharam. Pareciam paralisados e sérios do nada.

– Concordo – Falou Bryan, ele mau falava, mas sua voz era bela, rouca e profunda. Emanava mistério.

– Então – Disse já me levantando – Devo ir.

– Mas... Realmente já borboleta? – Perguntou Ethan zombador. Senti uma onde de fúria subir pela coluna e caminhei até ele.

– Não. Me. Chame. De. Borboleta – Quase gritei em seu ouvido, e por um milagre causado pelo barulho do refeitório, apenas os meninos da mesa me ouviram. Não queria causar escândalo, bem, talvez queria, mas não seria sábio.

– Por que não? – Ryan se meteu na discussão – Borboleta...

Fechei os punhos numa tentativa quase frustrada de autocontrole, mas que efetivou. Minhas unhas compridas cortaram minha pele, e senti um molhado e quente liquido escorrendo em minhas mãos.

– Você sabe que quanto mais reclamar, mais eles vão insistir – O loiro gato, Renan, piscou para mim, compreensivo – E borboleta combina com você.

Cerrei os dentes, e senti-me apertar a mandíbula, eu sabia que o apelido não era por mau, mas eu tenho o péssimo costume de descontar minha dor na raiva.

– Já pegou – Ethan sorriu maroto – Agora não adianta mais reclamar – Ele riu vitorioso. Suspirei.

– Devo ir... – Virei-me para Jonathan – Você vai participar amanhã?

– Ta brincando? – Meu irmão desbancou um sorriso malicioso – Não perderia isso por nada!

– Nem eu – Ethan sorriu também malicioso, mas era diferente... Eu sei que o sorriso de cada pessoa é diferente do de outra... Mas... O sorriso de Ethan, curto, sexy, maligno, depravado... E misterioso... Com seus olhos que pareciam esconder segredos, dor... Ele me atraia.

Dizem que os opostos se atraem... Ele seria realmente oposto a mim? Não parecia.

Isso me deixou meio fora de órbita, Ethan tinha uma escuridão em seus olhos que me parecia familiar... Por que me sinto atraída por ele?

Desviei o olhar rapidamente, desviando minha atenção, eu odeio canalhas. Não cometerei o mesmo erro novamente, o erro que continuo cometendo...

– Até meninos – Tentei sorrir, nem que seja minimamente e sai, indo em direção ao dormitório.

Sentia minha cabeça pesada, e havia raiva, duvida e dor. Precisaria descontar em algo... Não seria legal explodir por ai, do nada...