The Smell Of Your Skin Lingers On Me escrita por marcusabreu


Capítulo 2
About The Pain


Notas iniciais do capítulo

Sem mais delongas



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About The Pain:

Sobre A Dor:

Subi correndo pelo elevador, mas quando cheguei ele já havia saído. Sentei-me em minha cadeira com o rosto entre as mãos pensando no que fazer sem enxergar nada que se passava ao meu redor.

Não lembro exatamente o que pensei quando cheguei a casa; sei, apenas, o que não passou por minha cabeça conturbada: não aparecer. Ele não me convidara a me encontrar com ele, ele me intimara. Não parecia o tipo de pessoa que fizesse, ou mesmo que aceitasse, convites. As coisas deveriam ser do jeito dele e somente do jeito dele. Sempre. Gostava de ter o controle, de manipular as pessoas a sua volta – não que fosse mal; era, entretanto, sádica a maneira com que atendia a todos os seus pedidos.

Logo que amanheceu temei o banho mais demorado de que me lembro. Não havia dormido, mas não me importava; sentia, se quer, qualquer sinais de sono. Meus olhos pareciam que nunca mais iriam se fechar. Meu coração batia acelerado e mesmo com o frio que fazia do lado de fora, sentia um calor quase patológico vindo de dentro do meu peito.

Quando cheguei à cafeteria depois de cinco estações de metro o sol invadia a loja projetando a sombra das mesas e pessoas no tom escuro do chão. Uma grande maça de ar quente se abatera sobre a cidade durante a noite e um clima ameno de dez graus me permitiram caminhar mais tranqüilo pelas ruas já movimentadas.

Pedi um café pequeno para enquanto esperava e sentei-me em uma das mesas do lado de fora ajeitando o gorro preto que usava e acendi um cigarro. Cada volta do ponteiro do relógio dos segundos, em meu relógio, foi-me torturante como a Dama de Ferro, inspiradora de uma de minhas bandas favoritas – sentia como se estivesse sendo espremido entre suas lanças que impediam minha respiração.

Assim que notei que sua face alva, sempre com a barba por fazer, se projetou virando a esquina, minha respiração se fez acelerar como o batimento já em minha garganta. Respirei fundo enquanto se aproximava. Tomei mais um gole de meu café e joguei o resto de cigarro ao chão, em seguida, apagando-o.

- Achei que não viesse mais. – o pensamento me saiu alto entre os lábios e me arrependi assim que as palavras soaram mais acusadoras de minha boca do que pude prever.

- Nem, se quer, achei que fosse aparecer. - tal pensamento, como já disse, não havia se passado em minha mente.

Tomamos o café e passamos a caminhar pelas ruas sem rumo parando em uma ou outra vitrine para observarmos as tendências. O café se arrastou para um almoço; o almoço, para uma tarde no shopping; a tarde, em um jantar; e enquanto voltávamos a casa entre as tragadas displicentes do cigarro, foi ele quem fez o convite.

O apartamento era grande; dois quartos, uma cozinha, sala e bem localizado nos subúrbios próximos ao Central Park. Dissera ter sido um presente de seu pai pela faculdade e pelo emprego – não que fosse muito, eu trabalhava lá também, principalmente comparado com o que o pai lhe ofereceria em uma de suas empresas; era, contudo, mais que o pai esperava que conseguisse sozinho.

Serviu-me de uma grande dose de Absolut com gelo e uma rodela de limão. E antes mesmo que me desse conta rolávamos pelo chão da sala, completamente embriagados, aos beijos e quase sem roupas que pudessem atrapalhar-nos.

Ele segurava meus pulsos contra o chão frio de madeira limpa e encerada, entrelaçou suas pernas contra as minhas arfando com o peito colado ao meu. Penetrou-me pouco tempo depois fazendo-me gemer em uma mistura de prazer e dor que se entranhava em mim de uma maneira que jamais seria capaz de descrever em palavras. Sua voz sussurrava baixo, ao pé de meu ouvido, meu nome entre gritos abafados e suor.

Chegamos ao êxtase e mais duas vezes naquela mesma noite. E em algum momento devo ter-me percebido completamente apaixonado, ainda mais que anteriormente, pois enquanto tentávamos dormir - ainda abraçados com ele enrolando os dedos em meus cabelos tentando formar cachos que não existiam, senti-me, pela primeira vez desde criança, verdadeiramente feliz.

Penso que o amor nos faz sentir estranhos. Era como a sensação de estar sob um edredom grosso em um dia frio de inverno, é um calor dentro do peito não importa onde se vá, é um colo de mãe que nunca se acaba. Era perturbador notar um estranho sorriso em meus lábios onde quer que estivesse e por mais que tentasse me livrar dele, apenas continuava lá, estampado abaixo do nariz. E era ainda mais estranha a maneira com que parei de me importar com isso apenas algum tempo depois.

Tinha medo, medo demais que isso fosse, algum dia, embora; que acabasse e fosse forçado a nunca mais ver seu sorriso. Apaixonara-me por ele... por seus olhos, sempre me perdia naqueles olhos, aqueles que só ele tinha. E a cada olhada, eu, com os meus, lhe respondia: toma-me, faze de mim teu escravo. Usa-me e deixa-me se quiseres. Mas toma-me, sou coisa tua. Nasci para ti. Para nada mais que ser teu escravo.

Ainda assim era estranha a maneira com que me tratava. Acariciava meu cabelo, sempre, antes de dormirmos. Abraçava-me por trás enquanto observava o movimento da cidade mais abaixo pela bonita vista de seu apartamento e ao mesmo tempo fazia questão de me demonstrar o quanto era insignificante. E o quanto me machucava a maneira com que olhava para outros na rua e se certificava que eu notasse para em seguida beijar-me como ninguém antes; fosse onde fosse, sem se importar.

Mas era uma sensação tão boa, tão magnífica que apenas não conseguia mais ficar sem. Desfizera-me de qualquer resquício de orgulho que restasse em mim e a partir daquela mesma noite me entreguei a paixão que seria minha ruína. Ele realmente era minha droga e conforme as semanas se passavam a intensidade de meu amor apenas aumentava.

Foi ele também que primeiro me apresentou à cocaína. Era uma noite morna de outono, o ar úmido, como a fumaça do ambiente ao redor, penetrava por minhas narinas enquanto secava o suor que escorria de minha testa já oleosa demais. O álcool já havia subido à minha mente e o cansaço da noite me deixava tonto.

- Prova, é bom. – ele me estendia um pedaço de espelho quebrado decorado com uma fileira bem feita de um pó branco e fino. – Aqui, tenta. – me estendeu um canudo mal feito, enrolado de uma nota baixa de dólar. Coloquei-o no nariz e respirei o mais fundo que pude.

Quando ia dizer que não sentia nada minha garganta adormeceu e foi como se uma bola imensa de pano tivesse se depositado ali, uma forte onda de prazer percorreu meu corpo como se cada sentido se aguçasse de uma maneira que não pensava possível. Uma excitação tomara conta de mim me lançando novamente à pista e aos seus beijos. Sentia-me invencível, seguro, feliz. E enquanto dançava com os olhos fechados na pista você fugiu de mim se escondendo em um quarto escuro, mas entre todos os sons te ouvi. Seu gemido causado por alguém que não era eu. Sua boca beijada por uma que não era a minha.

Corri através da pista empurrando pessoas que não conhecia e agindo como nunca havia e durante todo o percurso o gemido vindo dele não me fugiu, por todo tempo esteve comigo.

De alguma maneira me fez perdoar, esquecer a traição. E como sempre eu concordei... e foram tantas vezes! E eu sempre tão complacente. Tão tolo. Na mesma noite me deitei com ele mais uma vez e o senti em mim como um espinho cravado fundo demais para ser retirado sem danos. Estes eram o que mais causava em mim. E ainda assim, era-me impossível ficar longe dele.

Paciência, aprendi com ela durante o quase um ano do sofrimento mais prazeroso que já tive. Penso que também aprendeu comigo. E conforme tempo se passava suas escapadas se tornavam mais escassas; seus olhares, mais raros e sua mania de me provar inferior, mais inexistente. Ligava-me frequentemente à noite, pedia-me pra abraçá-lo até que seus olhos não pudessem se manter abertos. Nessas noites ficava acordado sentindo seu cheiro, apenas para te ouvir respirar enquanto sonhava.

Aquela era uma dessas noites. Disse-me que iria a uma festa com alguns amigos, que isso não me incluía; sabia, é claro, o que significava: traição. Andava com a cabeça baixa pelas ruas chuvosas, as roupas encharcadas já me fazendo tremer e tenho a certeza que a única razão pela qual não me jogava em frente a um ônibus qualquer era a chance de pousar meus olhos, mais uma vez, em você.

Em algum momento o telefone tocou em meu bolso. Não teria ânimo de atendê-lo se não tivesse esperança de que fosse ele e é claro que um sorriso bobo se estampou em meu rosto pela oportunidade de ouvir sua voz – era tão decidida.

Foram poucas palavras, carregadas de um pedido disfarçado em ordem. Não esperava nada diferente. E enquanto desligava o celular minhas pernas já me levavam à estação mais próxima.


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Notas finais do capítulo

Acho que agora eu consegui fazer um post decente...