Xeque Mate escrita por Utopia49


Capítulo 7
21: Um novo jogador?




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Na manhã seguinte, uma lápide em honra de Simon foi erguida, feita de mármore negro e que era sua forma em pé, segurando uma espada com as duas mãos, com a ponta apontada para o chão, e com chamas altas em volta dele, apesar de seu rosto corajoso e sem medo algum. Todos os detalhes foram cuidadosamente entalhados e feitos da noite para o dia por um escultor hábil e de confiança extrema de Hyden. As outras peças, ele, Hallerie e Zetos estavam presentes. Clark mandou suas condolências por uma mensagem de texto.

Na mesma manhã, toda a equipe branca se reuniu no escritório de seu presidente. Todos se assentaram, e Hyden e Kimberly tomaram suas posições por último, e especialmente e perfeitamente compassados. Os presentes não se espantaram, de fato, já haviam se acostumado ao que acontecia. Todos mantinham em mente que, apesar de que ela tivesse falado apenas uma vez, Kim era aprendiz de Hyden, e fazia por merecer. O Rei Branco começou então:

– Senhores, recomeçaremos o jogo apenas após dois meses. Segundo Clark, daremos essa pausa por conta de uma viagem a negócios que ele fará, e como ao mesmo tempo ele quer conhecer o lugar, não teremos a continuação no mesmo período de tempo que teríamos.

– Compreendido, Presidente. E nesse meio tempo, como saberemos que não seremos atacados por Carta ou por algum dos lacaios de Clark? - Perguntou Johnny.

– Do lado de Clark, sabemos que não seremos atacados porque ele abomina ataques fora do jogo. Ele mesmo eliminou sua própria torre pela desobediência a ele no último mini jogo. Então não temam ataques dele.

– E quanto a Carta? - perguntou Khardin.

– Não sabemos.

– Não sabemos. Simples assim. Podemos estar andando na rua e tomarmos um tiro vindo sei lá de onde. - Disse Jack.

– Basicamente. - Replicou Jackie.

– Se eu, Clark e Hallerie estivermos certos, esse ser obtuso não fará isso. Caso ele quisesse de fato terminar com nós todos de uma vez, poderíamos explodir de uma vez, aqui ou na rua, em qualquer lugar. Esse nefasto não nos atacará fora do jogo.

– Assim esperamos. Algo mais a anunciar neste concílio? - Perguntou a eloquente aprendiz.

– Creio que não. Se lembrar de algo, mando-lhes mensagens. Estão liberados.

Os fatos que tenho a contar-vos agora são parte da história como um todo, porém não têm necessidade de serem lidos. São apenas partes das vidas de nossos personagens. Então se não aguentar ler dramas, avance até a sétima página desse capítulo, onde retornamos com o curso de nossa história. Caso contrário, permaneça nessa página e detenha-se com os momentos de nossos persongens.

Khardin pediu permissão a Hyden para dar a ele e a Kim o dia de folga. Permissão concedida, ele se retirou e deu a mão esquerda a ela. Ela estranhou o ato, pois apesar de estarem juntos há alguns meses, eles ainda não haviam admitido publicamente sua relação.

– Karl, o que foi? Por que pediu que fôssemos liberados hoje? Eu estava tão afim de causar o caos hoje...

– Kim, só venha comigo. Eu queria um dia assim pra nós fazermos algo legal juntos.

– Mas causar o caos entre os funcionários é legal, não é?

– É, mas não é algo que fazemos juntos! Confia em mim, vem cá. - Respondeu ele com um sorriso.

Os dois então foram para a garagem, e entraram no carro dela. Ligaram o rádio e saíram, conversando, e curtindo o ambiente ótimo que haviam criado ali.

– Então, qual o primeiro lugar que quer me levar agora? - Perguntou Kimberly.

– Primeiro nós vamos passar aqui em um lugar que eu conheço.

Dirigindo cuidadosamente, porém rapidamente por ruas e vielas estreitas, ele dirigiu ambos a um lugar na periferia, que apesar de serem nove horas da manhã, ele sabia que a boate ainda estaria a todo vapor. Entraram, e foi a primeira vez que Khardin e Kimberly foram à balada juntos. Os conhecidos dele os cumprimentaram, e ele anunciou que as próximas três rodadas eram por conta dele.

O casal deixou o ambiente apenas às onze e meia da manhã, horário em que o lugar fechava. E então foram almoçar em uma churrascaria. Kim ainda não entendia o porquê de tanta comemoração e coisas caras, no entanto, o dia estava sendo proveitoso e interessante. Almoçaram e então deixaram o restaurante.

– Qual a próxima atração de hoje? - Ela perguntou, curiosa e sorrindo.

– Sabe atirar sem mirar? - Perguntou Karl, rindo.

– Sei, por quê?

– Você não queria causar o caos? Hora de atirar em umas pessoas.

– Paintball?

– Você deduziu bem. - Respondeu ele com um sorriso.

– É o único lugar onde poderíamos atirar em pessoas. - Ela retrucou.

– Na verdade também teria o Laser Tag né? Só que não tem graça. Não causa dor alheia.

– Sádico.

– Sou mesmo, algum problema? - Ele questionou rindo.

– De forma alguma. Também sou. - Respondeu ela com um sorriso e virando o rosto para olhar pela janela do carro.

Chegaram, e foram o terror do lugar. Pelo menos Kim foi. Ela era imperdoável com a arma, e em um dado momento chegou a atingir quase todos os membros do outro time sozinha, sendo apenas pega em uma emboscada quando já restavam somente dois. Khardin por sua vez era mais como um guardião dela – enquanto andaram juntos, ela não foi alvejada uma única vez. Ele tomou diversos tiros nas partidas. Contudo, ao fim foi divertido para ambos.

No fim do dia, ele a levou de volta para seu apartamento, e entrou. Uma vez lá dentro, Kim o empurrou contra a parede e o beijou. E então sussurou ao seu ouvido:

– O dia foi ótimo Karl. Obrigado... Entretanto, por que tudo isso hoje?

– Já vou te contar. - E silenciou ambos a beijando.

Ela saiu e foi andando para o quarto, e ele a seguiu. Ela chegou ao quarto, sentou-se na cama e tirou as botas e o casaco negro. E Khardin subitamente ficou de joelhos como um cavaleiro, com um joelho no chão e outro dobrado colocando uma perna à frente. Então ele puxou uma pequena caixinha azul-marinho do bolso esquerdo de sua jaqueta, e começou a falar:

– Eu não faço ideia do que vai sair nisso, mas vou falar o que sair porque eu sou assim mesmo, meio previsível e imprevisível ao mesmo tempo. Ou seja, planejei esse momento e tentei planejar o dia, só que não faço ideia do que posso acabar falando agora.

– Enfim, sem delongas, vá direto ao ponto, amor. - Disse Kim rindo.

– Ok. Você sabe que eu tinha gostado muito de você, e foi tudo meio rápido. Pedi ajuda pra o Hyden pra tentar sair com você, deu certo, começamos a ficar juntos, você fez aquele lance com a ajuda dele pra juntar mais nós dois e eu percebi que a gente tem que ficar junto. E no último jogo, hora que o Simon explodiu, eu pensei que a qualquer momento eu posso te perder, não necessariamente você morrer, mas você não querer mais nada, entende? Então eu precisava saber se você realmente quer algo sério. Pra mim isso é loucura, nunca tive nada sério porque achava que isso ia me deixar preso, porém agora eu me sinto preso e sem opção quando estou sem você... então, você meio que já entendeu tudo mesmo antes de eu falar esse tanto de coisas.... Kimberly, quer namorar comigo?

– Sua tentativa chega a ser fofa, Karl. Principalmente você se perder todo enquanto tenta escolher as palavras. - Respondeu ela rindo, e olhando nos olhos dele. Então subitamente ela se levantou e foi até a janela do quarto, abriu e ficou lá, sem dar resposta alguma a ele.

– Espera, é isso? Vai me falar só isso e não vai responder, só vai sair do nada e ficar na janela? O que você tá fazendo aí afinal? Eu te fiz uma proposta, o mínimo que você deveria fazer é responder sim ou não!

– Quem disse? - Retrucou ela rindo.

– Entendi. Boa noite Kim. - E ele se levantou e saiu do quarto irritado, sem dizer mais nada.

Estava para colocar a mão na maçaneta quando, sem que ele percebesse, ela saltou sobre ele e acabou o empurrando na parede, de mau jeito, fazendo com que ambos caíssem no chão.

– Qual o seu problema, Kim?

– Não me deixes...

– Não? Vamos repassar o que aconteceu aqui: eu fiz de tudo pra te dar um ótimo dia, e você nem ao menos disse um não se não quer algo sério. Ao invés disso, fez um deboche e um descaso de tudo o que eu tentei fazer. Como eu tenho que reagir?

– Esperar. Só esperar eu responder. É claro que eu vou responder, é que eu tenho que manter um pouco da minha natureza má e cruel de vez em quando, né?

– Na hora certa, Kim. Aquilo não foi hora. - E se levantou irritado.

– Foi a melhor hora pra brincar assim! Por favor, me escuta. - Ela replicou se interpondo entre ele e a porta.

– Então fala. O que foi?

– Eu quis parar e relembrar um pouco tudo. E olhei pela janela pra ver seu apartamento e decidir se nós vamos ficar com o meu ou com o seu. E eu sei bem o que quero responder, só queria brincar um pouco com você. O desespero e decepção são legais de serem notados nas pessoas. Já vi que você não gosta de brincar com coisas sérias, contudo eu curto, ok?

– Tá bem. E então qual sua resposta?

Ela deu um beijo suavemente e respondeu:

– Não. - E então rindo, ela continuou. - Brincadeira. Desculpa, não posso perder oportunidades como essas. Você sabe que é sim. Você sabe que eu te amo.

– É tão difícil você só responder assim, Kim? - E então ele a beijou de volta, tomando-a em seus braços e colocando ambos contra a porta. Ela interrompeu o beijo e retrucou:

– Sim, especialmente quando há uma oportunidade como essa pedido para ser utilizada. E então Khardin a mordeu no pescoço. Uma mordida engraçada, com vários significados, indo desde um simples gesto de apreciação, desejo e carinho até uma forma graciosa de causar dor e deixar ir sua irritação. Ela arrepiou e riu ao mesmo tempo. A seguir, todas as luzes do apartamento dela foram apagadas, e aquela noite terminou da mesma forma da noite do primeiro encontro deles: dormiram juntos, com a diferença de que dessa vez, as consequências seriam diferentes, ainda que não sejam contadas ainda.

Mudando agora nossos protagonistas, no mesmo mês, Jack, Jackie e Hyden saíram juntos. Era o aniversário de Jack, e ele havia requisitado que apenas Jackie e Hyden saíssem com ele. O trio saiu para uma festa em uma boate em Nova York, usando o jato particular de Jack para se deslocar até perto de lá. O jato só fora utilizado porque ele queria ter um tempo para conversar e já beber um pouco antes de chegarem à cidade. A área Vip foi dominada pelo trio, que influenciou o rumo de tudo o que aconteceu por lá e atraiu todas as atenções. Jack e Jackie, solteiros, aproveitaram-se das outras pessoas que haviam por lá. Hyden podia ver, porém não podia tocar. Pelo menos esse era o lema dele, que não excluía ele ser tocado. Na maior parte do tempo, ele era fiel a Hallerie. Contudo, na maior parte do tempo, Hyden estava sóbrio, e sozinho trabalhando em seu escritório. Não com todas aquelas moças mais jovens, ruivas, morenas, loiras... e em dado momento, Milena passou em sua cabeça, como uma lembrança distante.

Ah, Milena. Aquela loira que assombrava seus pensamentos dia e noite como uma possibilidade que teoricamente ficara no passado. No entanto, repentinamente ela surge, abalando seu mundo como da primeira vez que a conhecera. Atordoado por lembranças ininterruptas, ele deixou o recinto, em busca de ar fresco e sem ter toda aquela pressão e calor humano. Foi para a cobertura do lugar, andou até a ponta do lugar e se sentou, com as pernas para fora da murada, de forma que um simples impulso poderia levá-lo dali de cima ao chão antes que se tivesse tempo de entender o que houve.

E foi nessa posição e dessa forma que, inesperadamente, ele se sentiu ser empurrado e numa fração de segundo puxado de volta, o que o fez cair no chão da cobertura e bater a cabeça. O susto de Hyden foi tão grande e seus sentidos estavam de tal forma afetados que ele fechou os olhos quando sentiu o impulso e permaneceu de olhos fechados até o impacto final, acreditando que havia caído do topo da boate. Continuou com os olhos cerrados. Uma brisa suave passou por seu rosto. Ele continuou de olhos fechados, e ouviu uma doce voz que cantava, em ritmo impecável:

– Olhe as estrelas... olhe como brilham para você...

– Eu adoro essa música.

– Eu sei... Que tal abrir os olhos, Hyden?

Hyden calmamente abriu os olhos e viu aquele céu estrelado, lindo. Porém ainda não havia discernido que voz lhe falara. Ele então se levantou lentamente, e se apercebeu que permanecia no telhado da boate. Ele então virou-se para trás e a viu. Uma brisa suave que havia ido parecia voltar, e deixou seus cabelos levemente esvoaçantes. Sempre atordoante, ali estava Milena.

– Como sabia que eu estaria aqui? - Perguntou confuso, envergonhado por seu estado ébrio.

– Eu sou uma stalker... e se seu estado não lhe permite raciocinar, eu persigo, vou atrás, pesquiso... sou praticamente uma predadora.

– Ah... veio me devorar?

– Haha... de forma alguma. Apesar de que você é, de fato, delicioso.

– Isso não foi muito bem compreendido.

– Não era pra ser.

– Sinto-me comestível.

– Desconfortável?

– Basicamente.

– Interessante.

– De forma alguma.

– Você é sempre divertido quando ébrio.

– Sou?

– Eu acho.

– Você sempre me acha divertido. Não tem graça.

– Ah, quem sabe. Você poderia tentar um stand-up.

– Minhas piadas são horríveis.

– Eu sei. Contudo, bêbado você tem uma chance.

– Eu vomitaria no palco... não seria legal de ver.

– Há sádicos em todo lugar.

– É pra isso que você tá aqui?

– Talvez. Ou pra te levar pra casa depois.

– Tenho os gêmeos para isso.

– Eles acabaram de ir embora.

– Deixaram-me aqui?

– Eu disse que tomava conta de você.

– Confiam em você?

– Querido, eu sou a Milena. Quem não confia em mim?

– Eu.

– Sei.

– É sério. Tenho certeza que você vai me abandonar na sarjeta.

– Por que eu faria isso?

– Porque eu te deixei no passado.

– Não vou fazer isso. E você tentou.

– Eu consegui.

– Eu sei que não. - Disse ela com um sorriso.

– Como sabe?

– Por isso. - E a loira deitou no chão ao lado dele e o beijou suavemente. Ela retirou os lábios, e então ele a segurou e a puxou para outro beijo. Ela então tirou seu paletó e levantou ambos.

– Viu? Você não resiste a mim.

– Jamais.

– Eu sei.

– Como você me aguenta?

– Sei lá, gosto de ti.

– Por quê?

– Não preciso ter um motivo. Simplesmente te amo.

– Do nada assim?

– Do nada assim. - E ela sorriu em seguida.

A noite seguiu festiva. Os gêmeos não haviam deixado o ambiente de balada. Nem Milena havia se manifestado a eles. Entretanto a falta de seu tio não havia sido notada. No entendimento de Jack, ele estava em algum lugar ali aproveitando os prazeres que alguma mulher pudesse o proporcionar. Não estava errado inteiramente, só estava enganado quanto ao lugar. Hyden estava naquele momento na suíte de luxo de Milena. E antes que a luz do sol viesse, ela o devolveu à boate, onde ele fingiu que nada havia acontecido para seus sobrinhos. A verdade? Morreria onde morreu sua ebriedade.

Mais algumas cenas se desenrolaram no mesmo mês.

– Quem é?

– Sou eu, Halley. - Zetos respondeu.

– Ah, ok.

E assim Hallerie permitiu que Zetos entrasse em sua residência. Ele a cumprimentou, contudo não adentrou os umbrais do ambiente.

– Você é um vampiro? Eu já te convidei antes, você pode entrar, sabia?

– Eu sei. E não brinque com isso. Meu bisavô caçava vampiros na Romênia.

– Ui, temos um caçador de vampiros aqui?

– Descendente de um. - Respondeu Zetos rindo.

– Tá, mas fala por quê não quer entrar?

– Porque preciso contar uma coisa. E dependendo da sua reação você vai me expulsar, então é mais fácil você só bater a porta na minha cara.

– E o que seria?

– Eu tô apaixonado por você. Simples assim. Pode fechar a porta.

Hallerie arregalou os olhos. Ficou sem reação. Sua falta de reação fez com que ela batesse a porta e se apoiasse nela, segurando a maçaneta como se quisesse que permanecesse fechada. Logo em seguida se apercebeu do que fizera, e abriu a porta.

– Desculpa!

– Tudo bem. - Respondeu Zetos rindo.

– É sério, eu não queria fazer isso!

– Tá tudo bem...

– Zetos, você é muito importante para mim, sério.

– Mas você só me vê como um amigo.

– Não!

– Não?

– Não! Eu...

Hallerie ficou sem reação naquele momento. Todas as vezes em que ela ficava sem reação, ela ficava de olhos arregalados, começava a tremer e fazia algo realmente inesperado. Ela saltou pondo os braços em volta do pescoço e ombros de Zetos e o beijou. Então ela deu dois passos para trás e pôs as duas mãos na boca.

– Desculpa! Ela falou baixinho.

– Eu acho que não tem nada do que se desculpar. - Respondeu o grego, rindo.

– Tenho sim... Olha Zetos, eu sinto algo por você também. Só que eu sou casada com o Hyden. Eu também gosto dele. Eu não sei como deveria me sentir, eu tô amando vocês dois!

– Então vá direto ao ponto.

– Eu gosto de vocês dois. Mas não posso te dar esperanças de que vá te escolher, Zetos. E por isso eu peço desculpa de te machucar assim.

– Tudo bem... era isso que eu precisava te contar. Boa noite.

Zetos se virou de costas e começou a ir em direção ao portão. Hallerie novamente ficou sem reação, quebrantada consigo mesma e quanto a ele. Ela correu a ele, o puxou pelo braço e o beijou novamente.

– Boa noite Zetos. - E então ela correu para dentro, sem olhar para trás, enquanto teimosas lágrimas insistiam em cair. Ela subiu o mais rápido que pôde até sua suíte, e se olhou no espelho. Tentou enxugar com as mãos as lágrimas que desciam pelo contorno de seu rosto, e olhou profundamente nos seus próprios olhos através da imagem refletida. E ela parecia condenar a si mesma com aquele olhar. Deitou-se, e adormeceu rapidamente, como se estivesse perdida em uma realidade dentro de si mesma, sem mais crenças.

Zetos por sua vez, sentia-se como que à beira de um precipício, com pedaços de pedras de seu mundo interior caindo ao seu redor, ainda que com um pouco de esperança se segurasse, esperando que a tempestade passasse. Tinha uma esperança de que ela o quisesse, entretanto, tudo parecia favorecer muito mais a Hyden. Ele mesmo acreditava que não poderia competir. Então como havia aquela teimosa esperança?

E uma última cena acontecia naquele mês, antes que tudo voltasse à antiga competição.

– Clark, precisamos conversar.

– Clarisse, não desperdice meu tempo.

– É o que eu me tornei pra você? Desperdício de tempo?

– Não começa com drama.

– Não é drama. Eu vim conversar e você me trata assim.

– Tá, que seja, Clar, o que é?

– Você ainda me quer na sua vida?

– Como assim?

– Você atualmente vem me tratando como uma coisa qualquer, fica com outras mulheres, quero saber se eu ainda tenho alguma importância para você.

– Para quê?

– Se eu não tenho mais, eu vou sair da sua vida. Deixar de ser um incômodo.

– E mover um processo de divórcio contra mim que vai gerar mais burocracia.

– Não. Vou embora sem pedir um centavo seu. É só falar.

– Não, Clarisse, não quero que você vá embora.

– Então por que está me tratando assim?

– Você me conhece, Clari. Eu sou livre, faço o que quero. Eu gosto de variar as coisas, sair da rotina. Ainda assim não é razão pra eu a tratar assim, admito...

– E o que vai acontecer? Você vai continuar assim?

– Eu não sei Clari. Tenho que ser sincero. Mas eu prometo que tento mudar, ok? Ainda vou encontrar com a Millie aqui em casa por conta do desafio, mas tentarei me controlar, certo? E quanto a você, toda vez que eu a tratar mal, me espete com um alfinete.

– Você odeia isso.

– Eu sei, assim eu percebo e peço desculpas.

Clarisse sentou na cama ao lado dele e repousou sua cabeça no ombro dele. “Confiança, ainda que provavelmente inútil.”

O jogo retornou no mês seguinte, como combinado. Pelo protocolo, o jogo que se desenrolaria naquele setembro seria “Flores aos perdidos.” Consistiria de roubar flores, especificamente rosas brancas ou lírios de mesma coloração, e invadir delegacias e prisões e deixá-los em frente às celas ou salas de investigação. Tudo isso sem que nenhuma das peças fosse detida ou presa, provavelmente envolvendo uma desnecessária dose de violência gratuita contra a polícia.

Os times se prepararam, naquela noite de vinte e dois de setembro. Os Cavalos atacaram as floriculturas e lojas de plantas em busca do necessário, e partiram rapidamente em suas motos. Deixaram a encomenda com os bispos, e a partir daqui a forma de operação difere entre as equipes. Os Brancos utilizaram sua Torre, Hurley, munido de tchacos, para desabilitar qualquer reação por parte dos policiais e guardas, e então os Bispos passaram posicionando as flores. Em dado momento, enquanto aguardava andando com seus companheiros, Hurley viu um antigo parceiro preso em uma penitenciária que estava sob a responsabilidade de seu time. Ele retornou à cabine de controle e abriu todas as grades, e então falou no microfone: “Uma cortesia minha para meu velho comparsa KennySys.”

A equipe passou por todos os lugares, e após passarem pela última em seu raio de influência, sofreram forte perseguição, o que os moveu da direção oeste para o centro da cidade.

Os Negros utilizaram Kimberly com uma besta que disparava dardos tranquilizantes, e Khardin com um pé de cabra para os momentos corpo a corpo. Apesar de não terem sido muitos. Ao fim, sofreram também uma pesada perseguição, que os forçou a ir do lado leste para o centro da cidade.

O que nenhum time parecia perceber era que o “jogo” havia sido compreendido dessa vez por um investigador chamado para a cidade após os incidentes dos “fogos de artifícios.” Ele fez com que, na tentativa de despistarem a polícia indo pelo centro, todas as motos acabassem sendo coagidas para Delusion Garden. E de fato, em dado momento, pararam três motos frente umas às outras. Ou tentaram, pois acidentalmente Hurley e Johnny atingiram um ao outro em alta velocidade enquanto tentavam frear. Policiais surgiram de todos os lados apontando revólveres na direção das peças, e um Corolla de cor preta chegou ao lugar, e o investigador saiu.

– Olá, olá, perturbadores da paz.

Khardin tomou a dianteira e respondeu, com as mãos para cima, ainda com a máscara que cobria seu rosto.

– Olá quem quer que seja você.

– Investigador Richard Von Dun. É um prazer conhecê-los e acabar com seu joguinho.

Repentinamente os policiais começaram a cair, com diferença de aproximadamente meio segundo cada um, atingidos por dardos tranquilizantes. Rich tomou abrigo abaixando-se em frente ao seu carro, enquanto nenhum de seus policiais conseguiu se proteger a tempo. As peças viram Carta e o hacker vindo em suas direções com suas roupas típicas, e ao chegarem lá, Carta se dirigiu a Von Dun:

– Fique fora disso.

– De maneira alguma.

– Então temos mais um jogador. Pena que você ainda não sabe jogar.

– Olha o que fala, Carta. A estratégia dele foi ótima. Teria sido perfeita, caso não fôssemos nós. - Douglas reprimiu seu aprendiz.

– De fato. Dou meus parabéns e meu até logo. - Dito isso, Carta usou a coronha de sua arma para desacordar o investigador.

– Quanto a vocês, peças, - Douglas se dirigiu a todos – só tenho a dizer que devem se preocupar com um a mais. Esse aqui não desiste de um caso nunca. Tentem tratar as feridas das Torres dentro de seus quartéis-general. E como diz Carta,

– Eu sou apenas a sua sorte. - Carta disse a todos, ao retornar com sua Hayabusa exatamente no tempo cronometrado de completar a frase do hacker.

– Obrigado. - Zetos disse, e subiu em sua moto. As outras peças fizeram o mesmo, e as Torres, que estavam com as pernas machucadas, abandonaram seus transportes e pegaram carona com algum dos bispos.

Mais tarde, ambos os grupos relataram o acontecido a seus líderes, e então, seguindo o conselho do mercenário, as Torres começaram a ser tratados nas mansões. Clark chamou seu médico particular, e no caso de Hyden, o próprio Jack tratou de examinar Johnny. Acontecera que no choque, ambos quebraram a tíbia e lesionaram o joelho. Uma coincidência no mínimo interessante. Poderia-se considerar que, até o fim do jogo, nenhum time teria mais suas Torres. Por outro lado, a contusão significava que as Torres sobreviveriam, não importa o que estivesse por vir.

– Eu sabia que Douglas estava envolvido nisso. - Clark disse, incomodado, para Hyden.

– Havia uma boa probabilidade disso, de fato. E agora temos certeza. Ele dá suporte à participação de seu aprendiz. Creio que nisso ele não mentiu.

– Então quer dizer que ele está colaborando com o desejo do Carta?

– Sim. Só temos que agora pensar como Douglas. E torcer para que ele não comece a mexer nos semáforos durante os desafios.

– Isso é algo... Hyden, temos um problema agora que você pensou nisso.

– De fato. Não possuímos estratégia. Fazemos nossos planos, porém ele pode destruir tudo com um estalar de dedos.

– Boa noite Hyden. Vou tentar digerir isso.

– Se é que você engoliu isso.

Ambos riram e desligaram o telefone, naquela madrugada, vinte e três de setembro.

– Eles não fazem ideia do que estamos guardando para o mês que virá. - Comentou Douglas.

– O Halloween trará algumas surpresas.

E rindo, cada um foi para seu lado. Carta se retirou para seus aposentos, e Douglas para sua oficina para continuar construindo Sarah.


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