Capítulo 13:

                No dia seguinte, Edward despertou com fome. Ele rolou na cama e, por fim, levantou-se sonolento. Foi até a porta que dava na sacada e afastou as venezianas. Nenhuma luz penetrou no quarto, o céu ainda estava escuro e ele apenas via os pequenos pontos de luz das estrelas no céu.

                Frustrado, Edward procurou um relógio e viu que eram quatro horas da manhã e deduziu que todos na casa estariam dormindo àquela hora. Ele colocou um roupão, bebeu a água que estava em um copo no criado-mudo e saiu andando pela casa.

                Não demorou a atravessar a casa e chegar ao corredor que levava a biblioteca e à escada que levava ao estúdio. Edward acendeu as luzes do corredor e ficou andando e observando as fotos, ainda intactas, na parede. Olhou cada momento da vida de Bella junto da família e não entendia o porquê daquilo tudo ser tirado justo dela. Ela sempre fora uma garota tão boa. Não merecia aquilo.

Entrou na biblioteca e acendeu as luzes. As estantes, a escrivaninha e os livros estavam exatamente como da última vez em que estivera ali. Seu olhar voltou-se automaticamente para a estante de livros que Bella estava ou queria ler. Encontrou-a metade vazia. Ele deu um suspiro desolado e escolheu um livro qualquer para ler.

Porém ele não conseguia se concentrar. Sua mente não parava de pensar em Bella e em como ela poderia estar e se ela estaria sofrendo novamente. Frustrado, Edward fechou o livro com um forte baque jogou-o sobre o criado-mudo, próximo ao abajur. Então se levantou e voltou andar a esmo pela casa.

Sem perceber foi parar na escada que levava até o corredor do estúdio. Olhou para cima e pensou que, talvez, se tocasse, ele poderia se acalmar um pouco. No corredor que levava ao estúdio havia mais fotos de Bella com sua família e ele foi andando em direção ao estúdio enquanto observava-as.

Finalmente ele irrompeu pelo aposento que tanto apreciara em sua estadia há um ano e meio atrás. Tudo estava exatamente no mesmo lugar. Os instrumentos de sopro depositados com cuidado nas estantes em um lado do aposento, os suportes de partitura no canto, o violino, a viola e um instrumento antigo de corda, parecido com o violino, provavelmente para enfeite, em suportes em outra estante com algumas poltronas pequenas, porém confortáveis que eram usadas pela família quando tocavam juntos ou assistiam alguma pequena apresentação, que, na maioria das vezes, era alguma peça de piano de Bella.

Ele se dirigiu até o piano de cauda no canto da sala, ao lado da janela. Ao se sentar, o “dèja vu” de quando ele tocou para Bella pela primeira vez o atingiu com força e ele suspirou, desejando que aqueles tempos voltassem. Ele começou a tocar a música que fizera para Bella, as notas ecoando para além daquelas paredes.

De repente, ele foi interrompido com a porta sendo aberta bruscamente e o grito de Ágata interrompeu sua melodia com seu tom desesperado:

-Bella!

-O quê?! O que tem Bella, Ágata? –Edward perguntou assustado, temendo o pior.

Quando viu que era Edward quem tocava, Ágata ficou encabulada:

-Oh! É o senhor quem está tocando! Eu apenas achei que fosse Bella, já que ela sempre tocava essa música...

-Ela tocava a... –Ele disse incrédulo, enquanto sua voz ia morrendo. –O que aconteceu depois que parti Ágata? Eu preciso saber!

-Bem, vamos para a cozinha e enquanto preparo nosso café, eu conto para o senhor.

-Já pedi para me chamar apenas de Edward, Ágata. –Edward repreendeu-a levemente.

Ela apenas deu de ombros e então ambos desceram para a cozinha. Ágata se prostrou em frente ao fogão para preparar o café e Edward se sentou na bancada. Ágata suspirou antes de começar a narrar.

-Bella ficou diferente depois que você foi embora. Ela suspirava à toa vivia olhando para o horizonte, parou de tocar e toda a sua hiperatividade havia sumido... Mas foi por pouco tempo. Logo uma amiga dela, Clarisse, apareceu reclamar da falta de suas visitas. Bella se abriu comigo e com ela e nos contou sobre o que ela sentia sobre você. –Ágata colocou a panela com café na mesa e olhou para Edward. –Ela ama você, Edward. E ficou arrasada quando você disse que a queria apenas a sua amizade. Ela sentiu muito a sua falta. Ela tocava essa musica todo o dia junto com a “slipped away”. Eu não sei Edward, mas o sentimento era tão forte que ela mudou. Se ela já era sonhadora, ela se tornou mais ainda e se esquecia do mundo real... Até o dia em que seus pais se foram. Eu nunca mais a vi, mas eu não esqueço o choque que a morte deles causou para ela. Eu sinto a falta dela, Sr. Edward. Ela era mais do que minha patroa. Ela era minha amiga. Todos nós aqui a prezávamos muito.

Edward ficou sem palavras. O sentimento de culpa o dominara. Se ele não tivesse demorado tanto para voltar, para se decidir, se ele soubesse o que Bella estava passando naquela época, ele poderia ter lutado por ela e eles poderiam estar juntos e ela estaria feliz. Revoltado, ele bebeu rapidamente seu café, mesmo tendo perdido a vontade, e foi para seu quarto.

Ágata apenas suspirou e recolheu o café. Ela sabia que agora era Edward quem precisava de um tempo.

                Ele andava pelo quarto incessantemente. Negar seus sentimentos por tanto tempo apenas trouxeram mais conseqüências desagradáveis para Bella e ele se culpava e se culparia eternamente por aquilo. Edward grunhiu e respirou fundo. Se culpar apenas não ajudaria em nada.

Ele se jogou em sua cama e olhou pela janela o nascer do sol. A subida parecia levar uma eternidade e isso fez com que ele pensasse, amargo: “Qual o tamanho da eternidade que separa eu e Bella do nosso futuro em paz?”

Cansado de esperar, ele se trocou rapidamente, pegou o embrulho em uma das gavetas de seu quarto e desceu as escadas apressado. No caminho encontrou com Ágata que olhou para ele sorrindo, como se soubesse o que ele faria. No jardim encontrou Harreton que acabava de saber da notícia da venda da mansão e voltava para descobrir quem a comprara.

Ao ver Edward sair correndo porta a fora, Harreton se assustou, mas sorriu.

-Senhor Edward! Que prazer revê-lo! Como vai, cara?! –Perguntou o jovem jardineiro.

-Harreton! Bem vindo de volta! Esse jardim precisa mesmo de cuidados, acho que ele sentiu sua falta. –Edward comentou rapidamente. –Desculpe-me, mas eu realmente preciso ir! Vou ver Bella, Harreton!

Dizendo isso entrou no carro e disparou para fora da propriedade, deixando um Harreton confuso, porém feliz, para trás.