Traiçoeiro escrita por Roses


Capítulo 44
Capítulo 44


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores, como estão? Como podem ver vocês ganharam mais um capítulo essa semana e é com muita dor no coração que digo que é o penúltimo.

Sendo assim espero que gostem.

Boa leitura.



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—Robin não quis falar comigo, Regina. – comecei a contar, sentada a beira do lago, com os pés na água. Ali era o único lugar que parecia acalmar a dor de meu peito, que pesava. Que anestesiava toda culpa que repousava sobre meus ombros. – Fui visitá-lo com meus pais, já que eles se recusaram a me deixar ir sozinha. Ele bateu a porta na minha cara, assim que olhou para o meu rosto e percebeu o que havia acontecido. – continuei.

Fazia pouco mais de uma semana que tudo acontecera. Que não consegui salvar Regina e desse modo, condenei nós duas, porque eu também não sobreviveria.

Salvamos o mundo, todavia deixamos dois homens que amamos machucados para trás.

A cada minuto do dia eu sentia a agonia que Killian estava vivendo. O inferno em que se encontrava e não podia fazer nada além de fechar os olhos e sussurrar uma prece para que com o tempo parasse de sofrer. Uma oração na tentativa de estar perto dele, consolando-o e ajudando a se recuperar.

—Branca tentou falar com ele, mas Robin se recusa a ouvir qualquer uma de nós e entendo. Ele tem direito de sentir raiva, afinal, a culpa é minha. Nós fizemos o que fizemos para que pudesse ficar com Robin e eu tirei o amor da vida dele... Contudo escrevi uma carta essa semana e enviei, espero que pelo menos minhas palavras ele esteja disposto a ler. As palavras que são suas também.

Fechei os olhos erguendo o rosto para o céu, querendo absolver o calor do sol, enquanto acariciava minha barriga.

Eu ainda era capaz de sentir o cheiro da sálvia, misturado com lavanda e carne queimada. As labaredas que engoliam o corpo de Regina e a levava para seu eterno descanso, estavam vividas em minha mente com suas cores e estalos.

Henry quis dar a ela um enterro digno de seus antepassados, por mais que eu preferisse que tivéssemos feito do jeito de sempre, como estava acostumada.

—Perdoe-me novamente, Regina. Enquanto eu estiver aqui neste mundo, vou fazer o possível para cuidar deles, mesmo que Robin não me queira por perto. Eu devo isso a você... Ah seu pai e eu estamos nos dando bem, ele é um bom homem. Ele foi embora tem dois dias, mas conversamos nesse tempo e meio que restabelecemos o contato que tínhamos antes. Henry me disse que tentou ao máximo me proteger, por isso que ele insistia tanto na questão do casamento... Apenas fico preocupada com o fato que será sozinho no condado. Isso será triste.

—Emma? – a voz de Graham chegou aos meus ouvidos e virei-me para trás, encontrando-o parado a poucos passos.

Sorri para ele, indicando que se juntasse a mim.

Graham havia descoberto sobre tudo. Henry contara para ele depois da noite que me encontraram e eu fugira com Killian. Passamos um dia inteiro conversando sobre o assunto e ele havia confessado que no começo achava que “meu pai” havia ficado louco, mas que quando chegou a Misthaven e conheceu meus pais verdadeiros, percebeu que não era tanta loucura assim e que finalmente fez sentido para ele, o fato de eu sempre querer aprender a me defender ou ficar emburrada por não poder ajudar.

Humbert inclusive quis saber sobre Killian, não parecendo ressentido de forma alguma quando disse que o amava, e que estava grávida. Ele apenas torceu o nariz, mas não disse nada sobre eu ter me entregado para Jones e agora estar sozinha.

Não havia com o que se ressentir, ele tinha encontrado uma mulher adorável em meu reino que estava fazendo a corte e ao que tudo indicava, logo estariam casados.

Meu amigo havia me perdoado por tudo e me aceitado por ser assim. Isso aliviou um pouco o peso que eu carregava. Saber que eu o tinha de volta para me ajudar a carrega-lo se caso não conseguisse sozinha.

—Como está se sentindo? – quis saber, sentando-se ao meu lado.

—O mesmo de sempre, Graham... Tenho que me controlar para não chorar o tempo todo, fica mais fácil quando estou perto da água.

—Deve ser por causa de sua parte cisne. – brincou. – Escute, precisarei voltar para o condado... Mas retornarei assim que conseguir minha carta de pedido de afastamento da guarda. Seu pai... Henry. – corrigiu-se. –Está cuidando disso, então venho trabalhar para vocês, princesa Swan.

Apertei sua mão.

—Não precisa se preocupar comigo, meu amigo. Eu vou ficar bem, continue com sua vida.

Graham negou com a cabeça, depositando um beijo em minha têmpora.

—Eu sei como funciona. Quero estar aqui com você quando chegar a hora... Não vou deixa-la sozinha, Emma. Você é minha amiga e detestaria não poder me despedir. Sei agora que é uma guerreira, mas sempre vou querer cuidar de você.

Funguei, tentando conter as lágrimas.

—Eu o amo, você sabe disso, não?

—Sei sim. – ele me abraçou com cuidado para não abrir os cortes do meu corpo. – Eu também a amo, senhorita... Acho que já está na hora de voltar para dentro. – falou, soltando-me e ficando de pé. – Como está a mão?

—Estou recuperando os movimentos aos poucos, mas me incomoda muito ainda.

Graham assentiu, ajudando-me a levantar e guiando-me para o castelo.

—Quando vai partir? – instiguei.

—O navio sairá depois do jantar.

Ponderei por um instante.

—Se possível, eu poderia pedir um favor para você, Graham? – perguntei, parando de caminhar.

Ele parou também, observando-me com atenção.

—Se estiver ao meu alcance de realiza-lo, claro que pode.

—Tem essa família... Eu prometi ajuda-los quando o provedor deles morreu. Ele era marujo de Killian e estava nessa vida para sustenta-los. Você os procuraria para mim?

—Eu... Preciso de mais informações... Como ele se chamava?

—Anthony... – comecei tentando recordar o sobrenome. – Micheltosh, mas não tenho certeza. Sei que ele tinha cinco filhos, o pai da esposa é doente, não andava mais.

—Sabe de onde ele era?

Pressionei os lábios, sentindo-me frustrada.

—Sei que era escocês, agora de onde exatamente, ele nunca chegou a mencionar.

Graham anuiu com a cabeça, parecendo desanimado.

—Vou ver o que consigo fazer, Emma.

—Muito obrigada.

—Filha! – David exclamou vindo em minha direção. Era estranho o quanto eu podia amá-lo tanto, sendo que havia começado a conviver com ele de verdade há pouco tempo. Eu ficava feliz de o quanto ele se esforçava na tentativa de recuperar o tempo perdido, porém às vezes eu me sentia sufocada.

—Pai. Como vai? – o cumprimentei, aceitando seu braço.

—Estava no lago novamente?

—Sinto-me mais forte lá.

David aquiesceu.

—Estava pensando que poderíamos fazer um piquenique amanhã. Você, sua mãe e eu?

Eu não estava com vontade de sair. Parecia errado querer fazer algo para se divertir com tantas pessoas sofrendo ao redor.

Mas eu não iria negar nada a eles. Enquanto eu pudesse trazer um pouco de felicidade para os meus pais, eu o faria.

—Acho uma ótima ideia. Eu irei adorar.

—Bom, bom. – ele pareceu ficar feliz. – Vou deixar os dois conversando e nos vemos no jantar?

—É claro senhor. – Graham respondeu, com um sorriso, observando-o se afastar. – Seu pai sente ciúmes de você, Emma. Tenho percebido isso. Sempre que ele nos vê juntos, dá um jeito de se aproximar.

—Ele quer aproveitar cada minuto antes de... – forcei-me a ficar quieta. Eu ainda tinha uns dois meses pela frente, ficar pensando na morte antes do tempo não faria bem. – Eu irei para o meu quarto descansar um pouco antes do jantar... Gostaria de ir? – questionei, indicando as escadas.

Vi seu rosto erubescer.

—Melhor não, Emma. Não é por que você está acostumada, que eu também estou. Apesar de grávida, você ainda é uma senhorita. Não é bem visto um homem em seu quarto. E eu estou prestando a corte a uma dama, se chega aos ouvidos dela que estava enfiado no quarto de outra, as probabilidades são grandes de eu nem ter chance.

—Por favor, você é meu amigo e todos no castelo sabem disso, não só no castelo, mas como no reino! – argumentei, mas Graham negou firmemente.

—Agradeço, mas a resposta ainda é não. Vemo-nos mais tarde. – ele fez uma reverência e se retirou com rapidez.

Balancei a cabeça, erguendo o vestido para subir sem tropeçar, irritada com a lerdeza de meu corpo maltratado em se movimentar com mais agilidade.

Assim que entrei em meu quarto, chutei os sapatos em qualquer lugar, indo para a escrivaninha perto da janela que entrava o sol do fim da tarde. Peguei um pratinho branco que continha um algodão, com um único grão de feijão.

—Veja só, bebê... O brotinho está crescendo! – exclamei, admirando a partezinha branca retorcida. – Eu imagino isso acontecendo com você, sabia? Você é o meu brotinho, pequeno... Está crescendo igual esse. Tinha um filósofo que acreditava que a vida começava assim, e vendo, acho que ele está certo. Contei essa história uma vez para o seu papai, muito tempo atrás, logo que nos tornamos amigos... Vamos cuidar desse brotinho, desse modo acompanhando seu crescimento. Se tivermos sorte, mamãe será forte o suficiente para que consiga nascer. – falei, devolvendo o prato em seu lugar e indo para a cama. – Eu espero que seja igual seu pai, independente se você é uma moça ou um rapazinho. Quero aqueles olhos azuis e os cabelos negros... Eu espero que ele esteja bem, brotinho e que você não sinta toda a dor que mamãe está sentindo.

Ajeitei-me nos travesseiros, ainda tocando a barriga. Era como se minhas mãos se recusassem a se afastar, e apesar da dor, uma parte minha estava tão feliz, uma antítese de sentimentos que nem sabia ser possível de sentir.

—Cada dia, contarei, um pouquinho sobre seu pai, você merece conhece-lo e saber o homem incrível que ele é, mesmo que Killian não concorde. Ele tem um nome lindo, não? Killian... Nunca disse para, mas o significado do nome dele é lutador. E acredite brotinho, faz jus a ele. Seu papai é um lutador desde novinho... Eu sinto falta dele, mas você já sabe disso, não?

—Dizem que ajuda a conversar mesmo. – minha mãe falou parada a porta junto, os braços cruzados apertando algo contra o peito. – Posso entrar?

—Claro, mãe. Por favor. – bati no colchão para que ela se deitasse comigo.

Branca entrou e percebi que segurava um livro marrom nas mãos com firmeza. Ela se ajeitou do meu lado, fazendo com que me aninhasse em seu peito.

—O que é isso? – instiguei.

—Isto é para você. – disse suavemente, abrindo e revelando páginas em branco. – Achei que daria uma bela história, se caso decida conta-la. Para que não se esqueça de nenhum detalhe... E para que eu tenha uma parte sua. – sua voz ficou embargada e olhei para seu rosto. – Escreva todas as suas aventuras, suas lembranças. Não é todo dia que temos uma história de amor entre uma princesa e um pirata, como você e Killian tiveram.

Abracei-a com força, sentindo seus dedos acariciando meus cabelos.

—Isso irá mesmo acontecer? –perguntei e eu não precisava explicar, ela sabia ao que eu estava me referindo.

—Sim, filha. Infelizmente irá.

—Meu bebê não vai ter a chance de nascer, então?

Ela hesitou.

—Dificilmente, nunca ouvi falar de uma Donzela-cisne que passou dos três meses. Mas talvez se você fizer bastante repouso, poupe suas energias para que aguente.

Soltei uma risada.

—Vou ficar bem paradinha, neste caso... Está sabendo do piquenique?

Branca assentiu, beijando minha cabeça.

—Está sendo difícil para David, Emma. Ele se faz de forte e positivo, mas sempre chora nos momentos que não consegue ocupar a cabeça. Seu pai sabe que às vezes a sufoca, porém não há nada que possa fazer. Ele a ama.

—Eu sei, e eu também o amo. Começarei a acompanha-lo nas tarefas dentro do castelo para poder ficar mais tempo com ele.

Minha mãe apertou minha bochecha.

—Isto o deixará feliz. E te garanto que ele irá adorar explicar tudo para você sobre como cuidar de um reino.

[...]

Noventa dias, duas mil, cento e sessenta horas e contando.

Três meses completo no dia de hoje desde que o juramento havia sido quebrado.

Três meses sem Killian Jones.

Três longos meses morrendo sem de fato morrer.

Toquei a barriga que já estava apontando e dura, mostrando que o bebê estava se desenvolvendo saudável, e isso era uma das poucas coisas que me deixava feliz.

Eu havia perdido as forças, o apetite e qualquer vivacidade que um dia tinha possuído. Tentava acompanhar meu pai em suas tarefas internas no castelo e no começo foi ótimo, contudo nos últimos dias, não conseguia ir além do meu quarto e ele começara a levar seus trabalhos para lá, para fazermos juntos, todavia sempre os abandonava, puxando-me para um abraço, como se tentasse passar um pouco de sua vitalidade para mim.

Minha mãe tentava agir como se tudo ainda estivesse normal, ela se sentava e passávamos longas horas conversando. Branca ajudava-me a comer, mesmo que poucas colheradas. Contudo eu não engolia pensando em mim e sim na criança que eu carregava.

Granny assumira seu posto de babá novamente. Auxiliava-me nos banhos e fazia-me companhia quando meus pais tinham que sair para resolver algo fora do castelo. Ela contava-me histórias e tentava aplacar as dores que eu sentia e que por vezes me faziam gritar.

E tinha Killian e todo seu sofrimento que não passava nunca. Eu sentia sua luta de permanecer são, de não se deixar ser envolvido pela escuridão que um dia estivera. Sentia sua culpa, já que acreditava que ele causara tudo isso. Era capaz de perceber o grande vazio que o consumia cada dia mais e isso piorava minha situação, já que aumentava a minha dor por não poder mudar nada.

Naquele fim de tarde eu estava sentada perto do lago. As visitas ali eram diárias já que a água parecia ter um efeito calmante sobre mim. Era um momento que eu sentia tudo e ao mesmo tempo nada. Como se eu estivesse suspensa entre a calmaria e a tormenta, sem de fato tocar nem um e nem outro.

Um cisne surgiu, batendo as asas e tentando diminuir o ritmo enquanto pousava vindo em minha direção. Ele deslizou pela água sem pressa, saindo e chacoalhando as patas como se tentasse se secar.

Percebi algo preso a sua perna e quando parou ao meu lado, desamarrei uma garrafa branca que continha folhas dentro, respingadas com a água que conseguira entrar.

Abri a boca surpresa ao desenrolar os papeis e encontrar uma carta.

Uma carta com a caligrafia de Killian.

Olhei para o cisne que havia se ajeitado ao meu lado e tinha os olhos fechados, como se descansasse da longa viagem.

Meu coração bateu rápido, mostrando-me que estava vivo e ansioso para receber algumas palavras de Jones para mantê-lo dessa forma.

Hesitei em começar a ler, com medo do que encontraria e com as mãos tremendo.

—É uma carta de seu papai, brotinho. Não sei como ele conseguiu, mas é. – sussurrei, as lagrimas queimando meus olhos. – Irei lê-la em voz alta para que escute, afinal você tem direito de saber também.

Respirei fundo, criando coragem.

“Minha Swan...

Sinto-me tão patético ao fazer isso, sendo que nem tenho certeza se irá funcionar, porém estou desesperado e tentando tudo o que está ao meu alcance de contatá-la. Alguém me disse que isso funcionaria, espero que seja verdade.

Tenho a procurado incessantemente fada, desde aquela noite em que a mandei embora e disse-lhe palavras tão grosseiras. Eu preciso que me escute uma última vez, e se essa for à única maneira ficarei satisfeito e desde já peço desculpas pelos erros, rabiscos e por essa carta ser tão longa. Não sou tão bom com palavras como você, diferente do que acredita. Eu necessito me explicar e espero que ao ler essas palavras carregadas de arrependimento e saudades, dê-me mais uma chance, pois acredito que pode…

Meu Deus Emma, eu não posso tê-la perdido!

Como comentei tenho a procurado desde que lhe disse aquelas coisas. Assim que voltei a mim, a realidade do que eu havia feito e dito me atingiu de forma que me tirou o ar e até hoje estou em busca de recuperá-lo… Às vezes fica mais fácil de respirar quando pego suas cartas para ler. Encontrei sua caixinha e não resisti Emma. Não quando seu cheiro começou a se dissipar e tenho medo de acordar e, tê-la esquecido, por mais que a dor latente em meu peito seja uma recordação de que algo está faltando, quando leio seus escritos, é como se ainda estivesse aqui, comigo até o momento em que vou procurá-la e não a encontro.

E são nesses momentos em que quebro novamente.

Devo começar pelo o que você presenciou. Perdoe-me amor, eu queria ter palavras para me explicar, mas não as tenho. Porque eu mesmo não entendo o que aconteceu comigo. Talvez fora minha estupidez e fraqueza, misturado com o orgulho ferido por você demorar tanto para me dar uma resposta, mas apesar de estar irritado com seu pedido para que eu pensasse melhor, não estava a ponto de resolver os problemas como eu sempre fazia, colocando uma mulher em minha cama.

Mesmo porque você nunca chegou perto de ser um problema.

Saiba que a forma que você entrou e como seu sorriso, o qual tanto amo, desapareceu de seu rosto, ainda estão nítidos em minha mente. Assim como sua voz, quebrada e machucada, pedindo desculpas. São esses detalhes que me assombram todas as noites quando tento fechar os olhos.

A forma que eu apaguei seu brilho com a minha traição.

Encontro-me pensando em quais teriam sido suas palavras para aceitar meu pedido, pois sei que foi para me aceitar que invadiu nossa cabine daquela maneira.

“Vim lhe dizer que sim? Eu o amo? Quero me casar com você? Aceito ser sua?”

Eu nunca saberei quais palavras você teria usado para completar, porque nunca chegaram a sair de seus lábios.

Aquelas palavras que eu vinha sonhando em ouvir. Que me fariam seu e você minha, um só, para a vida toda.

E como poderiam?

Você estava tão feliz, contente em ir-me dizer que queria ser minha. Talvez fizéssemos amor novamente após me aceitar e terminaríamos um nos braços do outro como na noite anterior. Continuaríamos a tentar nosso bebê. O filho que nós dois queríamos. Talvez, talvez, talvez... Mas ao invés disso eu a quebrei.

E me quebrei, porque descobri que já éramos um só.

A expressão em seu rosto, Swan, olhos baixos, a face plácida e serena, aguentando todas as palavras que joguei em você sem rebater, era uma expressão que nunca esperei presenciar. Nunca quis ser o tipo de homem que a fizesse abaixar a cabeça e apenas ouvir, como se estivesse errada. Nunca quis abafar sua voz.

“Você mesmo me aconselhou a arrumar uma prostituta se eu quisesse sexo e aqui está me atrapalhando… Como sempre.”

Mas eu não queria sexo, Emma. Eu queria e ainda quero fazer amor com você, à noite toda. Senti-la e tocá-la. Perder-me em seu calor e ser abraçado por inteiro. Quero ser seu e no processo fazê-la minha, como naquela noite em que faço questão de recordar cada detalhe, a forma que nos amamos e eu fui tão feliz por você confiar em mim. Quero ser seu hoje, amanhã e para sempre.

Quero ser amado por você e amá-la.

E lá estava eu, dizendo coisas na intenção de machucá-la, por estar com raiva do que eu havia feito. Querendo culpá-la por uma escolha minha.

Eu queria que você tivesse gritado comigo, xingado- me, feito algo. Tido uma reação para que eu não me sentisse tão desprezível.

Mas não. Você permaneceu como uma perfeita dama, aguentando tudo sem dizer nada. Sem retrucar.

Apenas sendo uma boa mulher, ouvindo tudo calada.

E me deixando agir como um perfeito imbecil.

Mostrando-me o que eu já sabia… Que eu não a merecia.

Não nessa vida e nem nas outras.

“Não vejo a hora que vá embora, Swan, você vem se mostrando um verdadeiro fardo em minha vida”

Sabia que havia ido longe demais com essa frase, mas eu queria machucá-la por fazer eu me sentir daquele jeito. Sabia que tinha sido exagerado, quando a vi se encolher, mesmo que minimamente e piscando sem parar, os longos cílios que sempre prenderam minha atenção, pousando em suas maçãs do rosto. Não tinha necessidade de eu ter dito aquilo, quando já havia prometido que iria me deixar em paz. Que não me perturbaria nunca mais, com um leve sorriso no rosto, como se estivesse tudo bem.

Como se já esperasse aquilo de mim.

A serenidade em sua voz me respondendo “Não o perturbarei nunca mais”, soou como uma ameaça aos meus ouvidos que eu deveria ter dado atenção. Tenho certeza que nunca irei me livrar daquele tom e o peso de suas palavras enquanto não me perdoar. Eu deveria ter me jogado aos seus pés, no momento que elas saíram de sua boca, pedindo seu perdão e não ter dito "Acho bom mesmo". Eu não achava e ainda não acho nada bom, nem um pouco bom não a ter mais para me “perturbar”. Nada bom não ter você em minha vida.

Fico imaginando se pensou no pedido de casamento que eu havia feito naquele momento em que gritava com você. Se, passou pela sua cabeça que eu havia pedido para que fosse minha, algumas horas atrás, sendo assim o que eu dizia naquele instante não podia ser verdade. Se você se lembrou do filho que eu havia pedido e na casa que disse que compraria para nós dois. Fico pensando se achou que eu me arrependi de ter pedido sua mão. Ou pior: se pensou que eu só queria usá-la e a estava descartando depois da nossa noite juntos.

Por favor, nem por um único instante pense que eu a estava usando. Eu a amo Emma. Sei que pode ser difícil para você acreditar, mas é verdade. Eu estou enlouquecendo só de pensar que você imagina que estava a jogando fora. Eu sei que foi isso que deu a entender com aquelas palavras, mas elas nunca chegaram perto de ser verdadeiras. Perdoe-me por tê-la chamado daquela coisa tão grosseira que nem consigo escrever de tanta vergonha que sinto por ter usado aquele termo. Você é a coisa mais importante que tenho nesta vida, e se as pessoas com que conversei estiverem certas, eu honestamente, não quero mais viver.

Todo seu, fada. Eu sou todo seu e de mais ninguém. Eu lhe disse isso e fui sincero. Esse coração, corpo e alma pertencem somente a você.

Ah, Emma, eu deveria tê-la abraçado e pedido perdão, como meu coração estava mandando que eu fizesse naquele momento. Abraçado- a tão forte que não teria outra escolha a não ser ficar.

“Imaginei que estaria com fome capitão e trouxe para o senhor. Considere como um pedido de desculpas por tê-lo interrompido. Eu que fiz.”

Você ainda murmurou mesmo depois de tudo aquilo, estendendo o embrulho em minha direção timidamente. Mesmo naquele instante você se preocupava comigo. Perdoe-me por ter feito desfeita e jogado no chão. Por não ter agradecido e ainda falar que devia estar uma porcaria.  Eu teria juntado migalha por migalha se a chuva que caiu aquela noite não tivesse levado tudo embora. Perdoe-me por ter dito que você não prestava para fazer nada. Por tê-la chamado de inútil.

Tudo o que você faz é perfeito amor. Você é perfeita em tudo que faz. Você é perfeita por apenas respirar.

Eu me arrependo tanto de não ter provado seu bolo que você devia estar tão orgulhosa de ter feito sozinha. De não tê-la elogiado. Quero tanto poder provar algo que você cozinhou. Quero vê-la cozinhando, pois imagino como você deve ficar feliz ao estar conseguindo fazer sua própria comida. Quero ajudá-la a preparar nossa refeição.

Quero você, Emma. Eu necessito de você. Por favor, volte para mim que eu não aguento mais. Ficar sozinho com as lembranças dos dias que fui tão amado por você é o pior castigo que alguém poderia me submeter. Peço aos céus todos os dias para que a traga de volta para os braços de onde não a deixarei sair.

Por favor, não me dê o prazer de me sentir amado, para então tirar de mim dessa forma.

Robin me contou que você e Roland fizeram o bolo. Deve ter sido uma cena adorável de ver. Não vejo a hora de presenciar isso em nossa casa com nossos filhos. Rir com vocês e saber que tenho a família mais maravilhosa que nunca esperei possuir.

“Emma... Volte para onde os marujos estão. Conversaremos mais tarde.”

Ordenei, na esperança que aquilo consertasse tudo o que havia dito. Que deixasse claro que apesar de ter falado para ir embora e me deixar em paz, eu não queria que fizesse nada daquilo.

Tolo, deveria ter ouvido meu coração.

Você me deu uma última visão de seus olhos verdes ao encarar os meus, então assentiu, saindo cuidadosamente, como se tivesse medo de fazer algum movimento brusco e eu voltasse a gritar.

Afinal sempre odiou que gritassem com você.

Perdoe-me por ter aumentado a voz quando você merece apenas ouvir as palavras mais doces.

A última lembrança que eu tenho de seus olhos era de estarem desbotados, quando sempre costumavam estar queimando com alguma emoção ali.

Mata-me um pouco mais por dentro ao saber que eu apaguei a cor deles.

Espero que não para sempre.

Eu saí do navio para procurá-la na cidade, imaginando que a encontraria na companhia dos homens, quando Landon me disse que você havia saído para dar uma caminhada já tinha um tempo. Fui atrás de você, na esperança de encontrá-la pelo caminho, ansioso e cada parte de meu corpo se contorcendo com a expectativa do momento em que colocaria os olhos em você e saberia que ainda estava ali. Louco para ver seu sorriso, Swan. Contando os minutos para ouvir sua voz e quase chorando com as lembranças do que eu fizera. Comprei suas flores preferidas, tulipas não? Já que mencionei, você sabia que as tulipas vermelhas significam amor eterno? Comprei um buquê bem grande dessas para lhe dar como pedido de desculpas.

Sempre tenho um buquê desses por perto para se caso encontrá-la.

Voltei para o navio, pensando que havia regressado. Corri para nossa cabine, imaginando-a já vestida para dormir, seu rosto fechado em uma expressão de desdém, decidida a me ignorar. Eu quis beijá-la, Emma. Sempre quero, mas você é tão adorável quando está brava. Eu queria dizer: “Tenho certeza que quero lhe dar meu nome, chamá-la de senhora Jones, ter nossa família. Perdoe-me pelo o que aconteceu. Eu sei que agi como um asno, eu sei que... Não a mereço, mas eu a amo, Emma. Sei também que não deve estar sendo fácil olhar para minha cara, e que não vai acreditar no que eu sinto por você, contudo peço que me perdoe pelo que disse mais cedo. Nada daquilo era verdade. Perdoe-me pelo o que você viu. Foi um momento de estupidez e fraqueza, misturado com orgulho ferido e escolhas erradas. Eu a amo, Emma Swan, e estou sendo verdadeiro em cada palavra. Não espero que me diga "sim" ou "aceito" neste momento, mas que considere quando puder me perdoar e veja que serei bom para você, como você é boa para mim. Considere o fato que apesar do que eu fiz hoje, eu não consigo e não quero viver sem você. Sim, eu estou fazendo o pedido de casamento novamente, mas para que perceba que realmente quero isso. Quero apenas você pelo resto da vida e lhe prometo que o que aconteceu hoje nunca mais irá se repetir. Nenhuma outra mulher irá deitar em nossa cama e nem pisar em nossa cabine. Sim, Emma, nossa. É como eu quero que as coisas sejam daqui para frente. Aceite ficar um tempo mais comigo para que veja que isso é possível. Eu quero ser seu, Emma, e estou disposto a esperar o tempo que for preciso para ter o seu perdão. Quero filhos com você, uma casa cheia deles. Talvez eu já tenha sido agraciado e um bebê esteja protegido em você. Quero que sejamos uma família. Apenas não se afaste de mim. Não me deixe sozinho de novo, não quando eu a amo e me dói imaginar ficar sem você”

 Esta era a desculpa que ensaiei para lhe dizer aquela noite.

A desculpa que nunca tive a chance de pedir.

Mas não a encontrei, e ninguém tinha visto-a. Comecei a me sentir apavorado e fui até a estalagem onde ficamos hospedados. Grace também não sabia de você. Retornei ao Jolly Roger e foi quando eu vi caído. Seu colar vermelho, aquele que me fez saber que era você.

Foi neste momento em que comecei a morrer, Swan.

Andei até seu bote e não o encontrei, tudo o que tinha era a pulseira que eu havia lhe dado dias antes. Aquela que mandei fazer para que sempre estivéssemos juntos.

Neste instante, eu soube. Soube que não tinha mais seu coração, que não me queria mais junto a você e senti pânico. Assim como eu soube que havia perdido seu coração, eu sabia que queria recuperá-lo porque eu preciso de você. Eu a amo.

Aquela noite foi a mais longa e a mais rápida da minha vida. Desde que havia saído do navio, até eu procurando-a na cidade, nas estalagens, hospitais, posto dos oficiais e até mesmo nos registros do posto de viagem, gritando seu nome pelas ruas, até um oficial vir e ameaçar me prender. Tentei explicar para ele que estava procurando minha mulher, minha noiva, mas o homem apenas riu, repetindo para que eu calasse a boca e que eu cuidasse melhor de minha senhora. As lembranças vinham uma atrás da outra, por mais que horas discorreram até quase perto do amanhecer.

Lembro-me de alugar um cavalo e ir até a casa de Robin, socado sua porta, quase a colocando para baixo. Desesperado, rezando para que tivesse ido para lá e não para o mar, afinal eu ainda não sabia que Landon havia devolvido sua capa, e quando não encontrei seu bote, deduzi que havia fugido de mim pelo mar.

E pensar nessa possibilidade foi assustador, Emma, por isso esperava que tivesse recorrido a Regina e rezei.

Que estivesse em segurança. Que estivesse ali para eu me perdoar.

E tudo o que eu tinha em mente era que eu queria senti-la perto de mim. Sentir o seu toque, seu calor, seu cheiro e sua respiração em minha pele. Tocar seus cabelos, seu rosto, seus lábios e permanecer vivo ao saber que estava bem e comigo.

Eu queria tomá-la nos braços, Swan, e mostrar com esse gesto o quanto estava arrependido e desesperado pelo seu perdão.

Desesperado por você.

Queria carregá-la até uma igreja para que eu fosse feito seu, perante aos olhos divinos, da forma correta. Queria chorar de alívio se caso a encontrasse, enquanto beijava seu rosto repetidamente.

Queria tantas coisas…

E não tive nada.

Não tive você.

Que decepção foi saber que não estava e pior, que havia quebrado o juramento que nos ligava e que ao fazer isso você partiu para sempre.

Era para estarmos felizes, Emma, se eu não tivesse sido um desgraçado sem motivos.

Penso que se eu tivesse dito antes que a amava, desde quando descobrira você não teria hesitado em me dizer sim, e dito para eu pensar melhor.

Talvez eu não devesse ter dito “eu a amo” quando fizemos amor, porque você pode ter pensado que só o fiz, pois havia passado a noite comigo e estava falando da boca para fora.

E com o tempo que pediu para que eu pensasse, provei para você que estava certa.

Bem, não está. Eu a amo e ainda quero me casar com você. Fazê-la minha e começar nossa família.

Por sinal, pergunto-me todos os dias se você está grávida (acredito que esteja afinal naquela noite eu a amei com meu coração e minha alma, algo bom deve ter sido gerado). Se sim, deve estar com uns… Três meses? Sua barriga deve estar começando a crescer. Perdoe-me, fada, por não estar com você. Eu não queria ser igual meu pai. Não queria tê-los abandonados.

Sei que vou encontrá-los. E vou cumprir minha promessa de ser um bom pai. Eu já amo nosso bebê, Swan e não vejo a hora de estar junto a vocês dois.

Não quero alarmá-la, amor, mas meus pesadelos voltaram. E seu rosto está em todos. Em alguns você é torturada por Cora, em outros, você está comigo e simplesmente desaparece mesmo que eu implore para que não o faça. Mas de todos que já tive, o da noite passada foi o que mais doeu. Nós tínhamos tido nosso bebê, e eu estava tão feliz vendo-o em seus braços, quando você se levantou, se afastando e perguntando por que eu não estava no nascimento do nosso filho. Ele começou a chorar e tentei me aproximar de vocês, porém novamente você se afastou, apertando nosso bebê nos braços, acusando-me “Você me traiu! Por que você me traiu?” e perguntando repetidamente “Por você não me ama?”. Ele se tornou imóvel em seus braços e você se desesperou, Emma, chamando-o e sem ter uma resposta. Eu fiquei apavorado, sem saber como ajudá-lo e você não deixava eu me aproximar. Então nosso pequeno se desintegrou, manchando-a de sangue. Você gritou comigo “Está vendo? Tudo isso é culpa sua, porque você nunca o quis!”.

Acordei procurando vocês dois e encontrando-me sozinho.

Emma, eu quero nosso bebê. Daria minha vida por ele, sim? Nunca pense que não o amo. Amo cada um de nossos filhos que ainda virão e darei o mundo para vocês se necessário.

Não escrevo esta carta como sinal de desistência, Emma. Continuarei procurando. Fui a Gotland, contudo acredito que tenha tido sucesso em proteger o mundo, nunca duvidei disso. Fui até seu condado, onde invadi sua casa, e encontrei um esboço do Jolly Roger da época em que a roubei. Visitei Belle também, que quase me matou quando contei o que eu havia feito. No momento estou à procura de seu reino, porém você e nem Regina chegaram a dizer o nome, o que complica minha busca, mas estou confiante de que se eu achá-lo, também ei de encontrá-la.

Não aceito por um instante que não possa ter uma segunda chance.

Algumas pessoas com dons, com quem conversei, disseram-me que quando há quebra de juramento, a donzela- cisne morre. Eu espero que não seja verdade, Emma, porque eu ainda estou aqui, amando-a. Ainda sou seu guerreiro, amigo, amante. Você ainda é o amor da minha vida.

Você ainda é minha vida, Swan, e se você partir... Serei obrigado a ir atrás.

Naquela noite que consumamos o nosso amor, você me disse que eu sou seu lar… Sendo assim volte para habitar essa casa que está se tornando empoeirada por causa de sua ausência. É sua por direito. E está ansiosa para recebê-la.

Por favor, se estiver lendo isso, dê um sinal. Venha ao meu encontro ou deixe-me ir até você. Só preciso saber que está viva e que a quebra de juramento, não a tirou desse mundo.

Eu só queria protegê-la e fazê-la feliz, Emma. Perdoe-me por ter falhado nesse simples objetivo, quando você o desempenhou tão bem enquanto esteve comigo.

Com amor de para sempre seu,

                                                 Killian.”

Enxuguei as lágrimas, terminando de ler a carta de Killian, querendo ser capaz de acabar com a dor e culpa que ele carregava.

Eu não queria que sofresse. Não queria que se culpasse por algo que ele não teve controle.

Afinal, eu o manipulara para que me traísse. Eu o coloquei sobre o efeito do caos.

Fiz isso para protegê-lo e agora Jones estava sofrendo achando que era o culpado.

—Você ouviu brotinho? - falei para a pequena protuberância em minha barriga. - Seu papai o ama… Se eu conseguir aguentar firme para que tenha tempo de nascer, vou providenciar para que se conheçam. Pedirei para a vovó Branca procurar o papai. E quando você o conhecer, por favor, o ame muito. Nunca o deixe esquecer o quanto é amado. Diga que a mamãe contou tudo sobre ele e que sentia falta…

—Princesa? – Granny me chamou com hesitação. – Graham acabou de retornar da última tarefa que pediu para ele.

Apertei os papéis nas mãos, prendendo a respiração, sem saber se queria ouvir o resto da sentença que sairia de sua boca.

Assim que Graham se mudara para o reino, passando a morar no castelo, pedi mais um favor para ele. Afinal, meu amigo era ótimo em achar pessoas. Conseguira encontrar a família de Anthony.

Certamente encontraria, ele.

—E está acompanhado de Vossa Senhoria, o conde Jones.

Soltei o ar em uma lufada, sorrindo de alívio por o pai de Killian ter sido encontrado e aceitado vir até Mistheaven.

Guardei a carta de Jones na garrafa, levantando-me com dificuldade, sendo auxiliada por Granny.

—Mamãe vai tentar consertar as coisas brotinho. – falei olhando para a minha barriga, voltando para dentro do castelo a passos lentos.

Senhor Jones estava na sala de chá principal, juntamente com meus pais que conversavam em voz baixa.

Parei, observando o quanto era parecido com Killian. Os traços bem feitos do maxilar, o formato dos olhos... E como mesmo relaxado da forma que estava, exalava algo de provocante.

Aquilo deveria ser algo dos Jones.

Um homem e uma mulher estavam de costas para mim e não consegui identifica-los.

—Filha! – David se levantou ao ver-me. Logo os outros convidados fizeram o mesmo com uma reverência, que retribui minimamente. Cravei meus olhos na mulher de cabelos negros e olhos azuis, reconhecendo aquele tom. – Essa é nossa filha, princesa Emma Swan. Ela que os solicitou aqui. – explicou.

—É um prazer conhece-lo, Vossa Senhoria. – cumprimentei. – Fico feliz que tenha tido a possibilidade de vir até aqui. Iria até o senhor, mas estou um pouco adoentada nos últimos tempos, uma viagem está fora de questão.

—Eu entendo Vossa Alteza, e não foi problema nenhum... Contudo devo dizer que fiquei surpreso quando um oficial da coroa bateu em minha porta, com um pedido para que eu viesse até aqui.

—Não se alarme Vossa Senhoria. – indiquei que se sentassem e fiz o mesmo, ficando no meio de meus pais. – Pedi para que viesse até aqui, pois tenho um assunto para tratar com o senhor. – disse sem conseguir desviar os olhos da mulher e do rapaz ao seu lado.

—Estou curioso, princesa.

—O nome Killian o faz lembrar-se de alguém? - instiguei. – Um filho seu talvez? – sugeri, observando sua expressão se contorcer e sua mão procurando a da mulher, que olhou para o rapaz.

—Meu filho. – a mulher de cabelos negros e olhos azuis, falou. – Eu tenho um filho chamado Killian que saiu de casa muito novinho, nunca mais tive notícias de meu menino.

Fixei minha atenção nela.

—E como a senhora se chama?

—Sou Grania Jones, princesa.

Virei à cabeça para o rapaz ao seu lado.

—E o senhor?

—Liam Adiers, senhorita.

—Irmão de Killian. – constatei com um sorriso. – Ele saiu de casa para procurar o pai, no caso o senhor, Vossa Senhoria.

Ele assentiu.

—Lembro-me do garoto miudinho na porta de minha casa, os olhos azuis como os da mãe... Nunca esqueci o rostinho assustado, dizendo que era meu filho.

—E mesmo assim teve coragem de mandá-lo embora e chama-lo de mentiroso? – indaguei com uma pontada de acusação.

—Na época eu era casado com minha primeira mulher, era jovem e nós estávamos tentando um herdeiro... Achei que se ela descobrisse que tinha um filho fora do casamento não seria bom para o nosso relacionamento, por isso o tratei dessa forma. Mas me arrependo, Alteza, queria poder mudar o que fiz. – ele falou olhando para Grania. – Anos depois minha esposa faleceu sem me dar filhos e foi quando procurei Grania, implorando por perdão. Eu a abandonei quando havia prometido tantas coisas, deixei-a para trás pensando que não seria bem visto um conde se casando com uma mulher de classe inferior, expulsei nosso filho de casa... Errei muitas vezes.

—E estão casados agora?

—Sim, princesa. – ela respondeu. – Meu primeiro marido, pai de Liam, havia morrido... Quando Brennan apareceu em casa, não acreditei e senti raiva. Afinal por culpa dele perdi meu menino, mas ele é insistente e percebi que tudo o que fez, foi por mando da sociedade em que vivemos. A senhorita deve saber como ela adora julgar e ter controle sobre tudo. Meu marido se arrepende e vejo isso, eu o perdoei e aceitei casar-me com ele...

—Perdoe-me, princesa. – Liam interrompeu. – Mas como sabe tanto assim sobre meu irmão?

No mesmo momento minha mão foi para minha barriga.

—Eu o conheci. – contei. – Convivi com ele até uns meses atrás.

Um grito de descrença saiu da mãe de Killian que levou a mão a boca. Branca abaixou um pouco a cabeça pressionando os lábios, como se entendesse sua reação.

—Killian está vivo? Meu filho?

Pisquei algumas vezes, tentando não chorar.

—Sim. Ele me ajudou muito em um momento que estava em perigo. Foi um verdadeiro guerreiro quando precisei. Ele usa o sobrenome Jones agora. – informei. – Ele disse que foi um modo que encontrou de desafiá-lo, senhor. Capitão Killian Jones.

—Ele... Ele trabalha para a marinha? Está aqui neste reino? – o conde perguntou se inclinando para frente, os olhos vermelhos.

Neguei com a cabeça.

—Killian não aceita ordens. Ele não trabalha para coroa nenhuma. Jones faz suas próprias regras. – sorri. – Acontece que, Killy tem um sério problema de se fechar e ser engolido pela escuridão. Eu o chamei aqui, porque queria chegar até eles. – apontei para a mãe e o irmão de Killian. – Ele sente falta deles, sempre falava de vocês com muito carinho. Principalmente da senhora... Tentei convencê-lo a procura-la, contudo Jones ficou com receio de que não o aceitasse.

—Ele não pode ter pensado isso! – murmurou horrorizada.

Inclinei-me para frente, segurando sua mão.

—Acredite, Killian é muito inseguro sobre si e tem um medo enorme de ser abandonado, rejeitado ou não ser suficiente... – respirei fundo, sentindo as lágrimas escorrerem sem permissão. – Acredito que devido ao histórico, já que apanhava em casa e quando encontrou o pai foi chamado de mentiroso. – lancei um olhar frio para o conde. – E não ajuda o fato de ter perdido a mão esquerda. Ele achava que a senhora não iria...

—Amá-lo. – completou. – A senhorita tem como entrar em contato com ele?

—Não, infelizmente. - respondi com pesar. – Mas posso pedir para alguém ir atrás dele. Como disse, estou fraca demais para longas viagens e Killian nunca para em um lugar só. Está sempre navegando em busca de aventuras. Apesar de ser um pirata, seu filho tem muito mais honra do que muitos homens que eu conheço... Vocês podem escrever cartas para ele. Certificarei que cheguem... Só não quero mais que Jones fique sozinho. Quero que tenha um lugar para voltar e ser acolhido com amor quando sentir seu mundo ruindo novamente.

Vossa Senhoria apertou minha outra mão.

—Acredite princesa, fui assombrado pelo rostinho dele por muitos anos... Se ele ainda quiser um pai... – o conde precisou parar, engolindo em seco. – Sei que se passaram muitos anos e o que fiz deve estar gravado em sua memória, todavia se Killian ainda me quiser como pai... Eu serei com todo orgulho.

Anuí, satisfeita em ouvir aquilo.

—Ele se parece muito com o senhor, Vossa Senhoria. – comentei. – Contudo amo os olhos azuis dele, que são iguais os da senhora, condessa. – levei minha mão ao seu cabelo. – Até a textura do cabelo é parecida.

—A senhorita está grávida dele. – Liam afirmou, olhando-me fixamente. – Está grávida de meu irmão.

—Sim, senhor Adiers... Eu estou. – sorri, sem graça para os pais de Killian que olharam para minha barriga. – É uma longa história... Gostariam de chá? – ofereci, esparramando-me no sofá, olhando para meus pais, que sorriam orgulhosos para mim.

[...]

Passamos o resto do dia presos naquela sala conversando. Eu havia gostado deles, principalmente de Liam, que queria saber cada detalhe da vida que o irmão levava, e perguntando como eu estava, sempre que o desânimo se apossava.

Respondi cada pergunta feita sobre Jones... Inclusive sobre nosso envolvimento, escondendo algumas partes, como toda a história de Donzelas-cisnes, juramentos quebrados e caos. Branca e David ajudaram-me a bolar uma história no momento, convincente o suficiente para que não questionassem muito.

Recusei o jantar, subindo para o meu quarto, querendo desesperadamente descansar. Minha cabeça doía como se fosse explodir a qualquer instante.

Minha mãe acompanhou-me, mesmo que eu tivesse dito que não havia necessidade.

—Mãe. – a chamei, assim que ela fechou a porta. Branca me olhou com curiosidade.

—Você passou a tarde toda apertando essa garrafa, Emma... É algo importante?

—Recebi hoje à tarde... É de Killian. Um cisne a trouxe. Estava preso na perninha. – expliquei.

Tirei a carta de Jones de dentro da garrafa entregando para Branca, que, sentou-se lendo atentamente.

Vi seus olhos marejados, sempre que ela mudava para a próxima linha, uma das mãos pousadas sobre o coração.

—Gostaria de respondê-la. – anunciei. – Mandá-la junto com as cartas que os pais e o irmão de Killian irão escrever. Preciso tirar um pouco do peso que ele carrega sem necessidade... Estive pensando em deixa-las com Vovó Libélula. Sei que elas chegarão a ele se, deixarmos com ela. Jones sempre vai visita-la. A senhora poderia ir comigo, com suas asas. - sugeri.

Branca se levantou, abraçando-me e balançou a cabeça afirmativamente, fazendo um carinho em minha barriga antes de beijar meu rosto.

—Acho uma ótima ideia. Faça isso querida. Será bom para você e para o seu guerreiro... Irei descer para o jantar, venho depois para ajuda-la a se alimentar, tudo bem?

Aquiesci, recendo um sorriso maternal dela antes que se retirasse.

Peguei a carta e reli suas palavras novamente, prendendo-me a cada vírgula, ponto e espaço, sentindo a dor saltando das folhas.

Fui para a escrivaninha, tirando papeis da gaveta, molhando a ponta da pena na tinta.

Meu amor...

Sei que esse não é o meio mais corajoso de se ter essa conversa, contudo não tem como ser de outro jeito. Recebi sua carta, querido, e as pessoas com que você conversou estão certas, não podemos mais ficar juntos.

Devo dizer que sinto sua falta em cada momento do dia. Fico esperando você surgir e me abraçar, beijando-me da forma que tanto gosto, que me faz sorrir em seus lábios. Assim como eu sei que espera o mesmo, pois eu sinto seu desespero querido. Vivo todo dia na mesma agonia que você e o único motivo pelo qual estou escrevendo esta carta é na tentativa de dar-lhe alguma paz de espirito.

Não sei como irá reagir ao ler isso, mas você não foi o culpado pelo o que aconteceu naquela noite. Eu fui, e não estou dizendo isso para tentar tirar a culpa de seus ombros, digo por que é verdade. Manipulei-o para que quebrasse o juramento. Pedi para Regina ajudar-me com isso, porque eu queria protege-lo, querido. Eu precisava ir até Gotland, contudo eu sabia que não deixaria que eu fosse sozinha e deixa-lo ir até lá estava fora de cogitação.

Misturei uma poção do caos em seu rum, para que sua pior parte tomasse conta. Sabia que o antigo Killian não hesitaria em fazer aquelas coisas e sendo assim eu estaria livre para ir derrotar Cora. Não pensei nas consequências que teriam depois, na sua dor, apenas tinha em mente o fato de que estaria vivo e isso era tudo que importava para mim, Jones.

Então por favor, imploro para que pare de se culpar por aquela noite. Eu esperava aquilo e acredite Killy, sabia que não era você ali. Eu o conheço querido. Conheço você por inteiro para saber que não faria tal coisa. Fique com raiva de mim e me odeie o quanto quiser. Direcione toda essa destruição para mim e viva a vida que abri mão para dá-la a você.

E a resposta também é sim, meu amor. Assim como as pessoas que você conversou estavam certas sobre não pudermos ficar juntos, elas também estão certas sobre meu curto tempo. Eu estou morrendo, Jones e sabia que isso iria acontecer quando decidi dar a chance de você viver. Tenho pouco tempo, talvez quando pegar essa carta eu nem esteja mais aqui.

E nem por um único momento pense em vir atrás de mim.

Eu não quero...”

Toquei minha barriga, admirando o broto de feijão que estava com folhas verdes.

Era melhor que ele não soubesse, caso contrário se sentiria pior.

Quanto a estar grávida, não aconteceu, meu amor. Não estou grávida de você e acredito que seja melhor dessa forma. Vamos nos considerar sortudos por não termos conseguido de primeira... Não seria justo para a criança e nem para você. Eu não conseguiria sobreviver o tempo necessário para que ela nascesse.

Eu o amo Killian e nada me deixaria mais feliz que ser a mãe dos seus filhos.

Eu o amo e sinto sua falta, tanto que me tira o ar.

Neste envelope junto com minha carta há mais três. Uma de seu irmão, e de sua mãe. Eu fui atrás deles, espero que não se importe. Sua mãe é uma mulher adorável e que sente sua falta, Jones. Assim como seu irmão é um bom homem. Seu padrasto morreu, tenho esperança que ao receber essa informação o faça ir atrás deles.

A terceira carta é de um homem que eu procurei determinada a odiar, mas eu precisava ir até ele para chegar a sua mãe e irmão. É de seu pai verdadeiro, o conde Brennan Jones… Killian, eu não tenho palavras para descrever o quanto são parecidos fisicamente (com exceção dos olhos é claro), mas olhá-lo era como se eu estivesse o vendo em minha frente.

Contei à história que você me disse, e sei que é difícil acreditar, mas aquele homem chorou. Ele disse que se lembra de você. Do garotinho miúdo e de olhos azuis. Brennan me contou que o único motivo pelo qual ele o mandou embora daquela forma, foi por causa da esposa. Ele era casado, estava tentando um herdeiro e não queria que a mulher soubesse que havia sido traída. Seu pai e sua mãe estão casados agora, Killian. Como mencionei seu padrasto morreu e a esposa de seu pai também, e ele finalmente teve coragem de fazer o que deveria ter feito tantos anos antes.

Você é o único herdeiro dele, Jones, e ele disse que se você ainda quiser um pai, ele será. Se ainda o quiser, será uma honra para ele.

Brennan estava dizendo a verdade. Vi nos olhos dele.

Não sei o conteúdo de nenhuma das três cartas, apenas espero que sejam melhores que a minha.

Não pense que eu o esqueci com facilidade, meu amor, eu nunca poderei esquecê-lo, pois está marcado em mim como as cicatrizes em nossos corpos que contam nossas histórias.

Você pediu perdão tantas vezes em sua carta, mesmo que não tenha nada para pedir perdão, Jones. Mas se ajudar a lhe dar alguma paz de espirito, se meu perdão o fizer deitar a cabeça no travesseiro e dormir sossegado, então resposta é sim. Eu o perdoo por tudo Killian, por aquela noite que não foi culpa sua, pelos seus atos terríveis do passado, que fez por estar machucado demais, por cada um de seus erros. Eu o perdoo, porque você se mostrou merecedor de recebê-lo, porque em cada ato seu demonstra o seu arrependimento e eu amo o quanto você é humano.

A questão é: você pode me perdoar pelo o que eu fiz?

Sobre seus pesadelos, sempre que os tiver, coloque seus joelhos no chão e reze. Com o tempo irá ajudar, lembra que demorou um tempo para que resolvesse da primeira vez? Apenas seja paciente que eles irão embora.

E eu sei que ama cada um dos filhos que não poderemos ter. Sempre disse que você seria um pai incrível e continuo acreditando piamente nisso.

Eu o amo, eu o amo Killian Jones, nunca se esqueça, não tem um dia que eu não passe desejando estar naquele navio velho ao seu lado, dá para acreditar nisso?

Para terminar, quero lhe agradecer por cada momento e sensação nova que me apresentou no tempo que ficamos juntos. Por me amar de verdade, por nossa noite. Não me arrependo por um minuto de ter me entregado a você. Seria muito pior partir sem saber como era fazer amor à noite e toda e acabar em seus braços. Eu fui tão feliz que se eu fechar os olhos e me concentrar-me bem, ainda sou capaz de sentir o calor de seu corpo. Muito obrigada por ter me mostrado quão intenso um verdadeiro amor pode ser. Você é o meu verdadeiro amor, o único dono do meu coração, apesar da situação que estamos.

Eu gostaria de voltar para o meu lar, sinto saudades dele, porém isso não será possível. Sendo assim, cuide bem dele, sei que outra pessoa pode ocupá-lo e será extremamente feliz como eu um dia fui.

Precisava lhe escrever essa carta para por um ponto final em nossa história. Foi linda e trágica, e vou levar cada momento comigo para o resto de meus dias. Seus toques irão aquecer meus sonhos, a lembrança de seus lábios colorirá minhas horas e tudo o que rezo é para que encontre aquilo que busca e seja feliz.

Muito obrigada por ter sido um amigo incrível e um amante ainda melhor…

Com amor, de para sempre sua,

                                           Emma.”


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Notas finais do capítulo

Bom, foi isso. O que acharam? Espero que tenham gostado.
E me digam, vocês têm suas teorias para o final da fic? O que esperam que aconteçam? Estão ansiosos como eu estou?
Na minha próxima postagem, já será capítulo final+ o epílogo, então será a última vez que estaremos nos falando e convivendo com esses personagens... Não sei se vou conseguir postar na semana que vem (provavelmente estarei viajando, mas se caso nada der certo, o que pode ocorrer, então já libero vocês de mim).
Então espero vocês para uma última conversa no último capítulo.

Obrigada por lerem.

Beijos.