Capítulo 2 - O livro

Alexia acordou no meio da noite, assustada, tremendo e suando frio. Havia tido outro sonho... ou seria um pesadelo? Alexia não sabia exatamente o que diferenciava um do outro.

Dizem que sonhos são bons e agradáveis e pesadelos assustam e nos deixam aflitos. Alexia nunca teve um sonho totalmente bom. E nem um sonho totalmente ruim. O sonho desta noite era igual a de muitas outras.

Alexia caia. Assim como Alice caiu. Assim como todas as mulheres de sua família tinham o mesmo sonho. Mas na verdade ela mais flutuava para baixo do que caia, Alexia nunca soube explicar.

E lá em baixo se encontrava uma sala, com inúmeras portas, mas todas trancadas. Em cima da mesa um frasco e licor de cereja e uma chave. Então, como se Alexia não fosse mais racional, o sonho começa a controla-la, enquanto ela apenas assistia tudo, sem poder fugir do roteiro, por mais assustador que fosse.

Então Alexia encontrava uma minuscula porta, a única que se abria com a chave em cima da mesa. Mas nem a cabeça de Alexia passava ali direito. Então ela caminhou até o frasco em cima da mesa que continha um bilhete dizendo ''Beba-me''.

Alexia não beberia, é claro. Podia muito bem ser um veneno ou um ''boa noite Cinderela'' e não se pode confiar em nada nos mundos de hoje... mas, como era de se esperar, ela já não respondia pelo seu corpo.

Seja lá o que era dentro do frasco, não tinha gosto de licor de cereja. Aquilo fez a garganta arder e a fez tossir. Então sentiu tonta, as coisas giravam... e quando o foco voltou... a mesa estava gigante.

Okay, provavelmente não foi a mesa quem cresceu e sim Alexia quem diminuiu. Pelo menos minhas roupas diminuíram junto, poderia ser bem pior. Mas então Alexia se lembra que esqueceu a chave em cima da mesa.

Olha ao seu redor e dá de cara com uma caixinha... uma caixinha com um bolo, e nele estava escrito ''Coma-me''. Quando Alexia estava prestes a pegar o bolo... seu celular tocava, e então foi arrancada do sonho bruscamente.

Então ela se vira para seu celular, ainda sonolenta.

O nome Jared piscava na tela, e a luz a cegava. O que ele queria a esse hora? Alexia atende e logo Jared começa a falar:

– Te acordei?

Alexia teve uma vontade imensurável de ser irônica. Duas horas da manhã, o que ela poderia estar fazendo as duas da manhã a não ser dormir.

– Ahn... acho que acordaria qualquer um que ligasse - Alexia respondeu coçando os olhos e pode ouvir a risada melodiosa de Jared do outro lado da linha.

– Tem razão, me desculpe - Ele respondeu. Uma das qualidades de Jared que Alexia mais admirava era o fato de ele não guardar rancor. Ela não havia se esquecido de como havia tratado ele mal... Mas ele dizia como se nada tivesse acontecido - Preciso te fazer uma pergunta.

– Que pergunta? - Disse Alexia curiosa. Ele havia ligado para ela de madrugada para fazer uma pergunta? Deve sem importante, então Alexia começou a ficar aflita.

– Bem eu queria ter te perguntado a tarde mas você parecia bem magoada, entende? E tenho que te perguntar antes da aula de amanhã, por que com certeza Amber vai chegar em mim como mel atrai ursos para pedir a mesma coisa. O que acha de ir ao baile comigo?

Alexia não acreditava no que ouvia. Será que está acontecendo como nos filmes, que você acha que acordou mas na verdade acordou dentro do sonho para depois acordar de verdade? Ela só sabia que estava sem palavras.

– Ahn... E-eu.. - Alexia criava coragem. Desejou por tanto tempo poder ir a uma festa com Jared, não podia desperdiçar essa oportunidade. - Sim... É uma ótima ideia!

Mesmo não estando frente a frente com ele, sei que ele está sorrindo. Apesar disso, ele parecia não saber o que responder, então Alexia continuou - Por que não convidou a Amber? Tenho certeza de que ela iria adorar ir com você.

– Sim, que ela gostaria todos nós temos certeza. Mas sabe que não gosto dela. E ir com você vai ser bem melhor.

Alexia estava agradecida por estar tendo essa conversa pelo celular... afinal estava bem vermelha nesse momento.

– Ahn... é, tem razão.

– Bem, acho que agora posso dormir em paz né? - Ele ri.

– Sim, amanhã tem que acordar cedo, não é? Ou vamos ficar parecendo zumbis.

– Sim - Alexia escuta-o rir - Então até amanhã Lexy,

– Até amanhã - Ela suspira e ele desliga.

Se Alexia já estava com problemas para dormir antes, agora eles tinham triplicado. As palavras de Jared ecoavam em sua cabeça e ela revirava na cama, de um lado para o outro.

Então bruscamente as janelas se abrem com uma forte rajada de vento. Alexia se levantou para fechar, afinal o ar que entrava era gelado. Mas uma pequena mariposa entra.

– A biblioteca - Sussurrava a mariposa.

Alexia não faria o que ele diria. Mas nessa noite estava tão sem o que fazer que seguir os conselhos de um inseto não seria tão ruim.

Então Alexia fechou as janelas, calçou sua pantufa para abafar os passos e foi até a biblioteca sem fazer barulho.

A biblioteca era pequena, foi feita apenas para ter um lugar especial para guardarem seus valiosos livros.

Quase todas as paredes eram tampadas por armários todos de livros, para evitar acumular pó nos livros. No meio da sala havia uma mesa e em uma das paredes foi deixado um espaço para um mural, onde o pai de Alexia colocava seus desenhos.

Alexia caminhou perto dos armários. Avistou seu livro preferido na sua infância ''Alice no país das maravilhas''... até que começou a sofrer Bullyng por causa dessa história.

Então quando chegou perto do mural, tocando nos desenhos de seu pai, notou que uma parte da parede era oca.

Alexia franziu o cenho e tirou o enorme mural com cuidado... E atrás dele havia uma pequena portinha.

Alexia achou estranho ter uma parta atrás do mural, dava a impressão de que queriam escondê-la.

Porém, para abrir a porta, devia ter uma senha.

Quase como se alguém tivesse lido seu pensamento, escutou um sussurro bem longe.

– 35,75,32 e 48 - Alexia pode ouvir, e viu a mariposa planando ali perto.

Então Alexia digitou a senha devagar e escutou um click. A porta estava aberta.

Alexia abriu-o devagar... E lá dentro havia um livro velho e seu nome era ''Alice no país das maravilhas''.

Estranho... eles tinham um exemplar desse livro ali, por que outro? E Ainda por cima trancado?

Alexia nem se deu o trabalho de se sentar. Começou a folhear o livro, suas páginas e frágeis e quebradiças.

O livro era todo rabiscado. Riscavam várias frases e escreviam outros logo ao lado.

''O coelho branco não é como parece. O coelho, é um esqueleto''

''Alice foi ambiciosa por poder e criou o mar de lágrimas''

''O buraco do coelho fica no relógio de sol''

''Para a maldição quebrar, os erros de Alice deve concertar''

''O país das maravilhas não é o que parece''

Alexia não compreendia nada do que estava escrito ali. Algumas letras eram de sua mãe, outras, de sua avó.

Talvez fosse mais uma das loucuras delas. Sua avó chegou a frequentar um sanatório, sua mãe não. Talvez tenha chegado a hora dela também, afinal.

Então Alexia também teria o mesmo destino um dia.

Alexia então colocou o livro de volta no cofre e o trancou, colocando o mural em cima, assustada.

Quando olhou para seu reflexo no vidro dos armários perdeu o ar. Tinha um homem atrás dela.

Não conseguia ver seu rosto, nem nada. Era só um vulto e como aquilo era um vidro de um armário e não um espelho, não conseguiu distinguir o que ou quem era.

Quando olhou para trás, não tinha nada. Tornou a olhar para o vidro, ele continuava lá.

Alexia então ficou tonta e cambaleou, batendo contra a mesa, arrastando-a e fazendo barulho.

Em poucos segundos viu a porta da biblioteca se abrir e sua mãe entrar assustada.

– O que aconteceu?! - Perguntou ela vasculhando o lugar e encarando Alexia logo depois.

– N-nada - Mentiu Alexia ainda perplexa - Estava sem sono e vim procurar algo para ler.

Alyssa encarou a mariposa que ainda planava e depois para o mural, desconfiada. Depois voltou a olhar Alexia com cautela.

– Vamos, você tem que dormir, ou vai se atrasar amanhã.

Alexia obedeceu e saiu da biblioteca rapidamente. Sua mãe a acompanhou até seu quarto e quando Alexia entrou disse:

– Cuidado com os espelhos. Tenha uma boa noite.

Alexia não sabia muito bem o que aquilo queria dizer mas lhe deu calafrios.