Jorge!

Irmão, sabe aqui é muito solitário, do outro lado. Mas não solitário de eu estar sozinho, é mais um solitário interno, algo que eu sinto falta de ter não só ao meu lado, mas internamente, é como se uma parte de mim estivesse faltando também. Acho que é maldade minha eu querer que certa pessoa estivesse ao meu lado, levando em consideração que eu estou morto. Sinto-me culpado por não ser a mamãe ou papai, mas ser meu irmãozinho gêmeo, ou seja, você.

Sinto muito a falta de estar vivo e às vezes eu vou visitar vocês, mas é óbvio que vocês não me veem, apesar de no natal passado quando fui dar uma passada lá na toca, me pareceu que seu filho o Fred II me viu. Fiz careta para ele e em troca me deu um sorriso. Ele é lindo. Tem a beleza e o nome do tio dele. Não ache que estou me gabando, mas convenhamos, o gêmeo e o Weasley mais irresistível, lindo, engraçado e tudo de bom sou e sempre serei eu.

Sinto falta da Fleur e seu sotaque, bonitinho e engraçado, francês, da Hermione e da sua incrível inteligência, do Harry e sua coragem e lealdade admiráveis, do Percy e sua forma esnobe, até a hora de ter lutado e tentado me salvar, eu percebi que ele finalmente tinha mudado, do Carlinhos e sua adoração por dragões, de Gui e seu gosto por carne mau passada, de Gina e sua valentia e por muitas vezes nós aprontávamos juntos, nós três, de Rony e seu medo de aranha adquirido por nossa culpa, de Angelina e como jogava bem quadribol, eu sei que está cuidado muito bem dela, assim como ela cuida de você, de papai e seu fascínio por coisas trouxas, de mamãe e suas incríveis e saborosas comidas, e de você meu irmão gêmeo, que dividiu comigo a placenta da mamãe, me fez rir, me fez gargalhar, ficou comigo ouvindo as broncas da mamãe quando aprontávamos alguma coisa, estávamos juntos compartilhando o histerismo dela quando descobriu que íamos abrir uma loja, mas como nós mesmos dizíamos: “Queríamos levar felicidade aonde aos poucos ia sendo tomado pela escuridão.” Entramos na AD juntos, aprendemos feitiços, aperfeiçoamos alguns e nos ajudamos em outros. De todas as minhas lembranças nos dois únicos lugares em que você não esteve comigo foi no banheiro ou quando ia dormir, pensa se nós dois tomássemos banho juntos ou dormindo na mesma cama? Isso ia ser muito, muito estranho.

Sabe, ouvi uma frase um dia: Os pais nunca deveriam enterrar seus filhos. Na hora não dei muita bola, mas agora eu penso quase todos os dias sobre isso. Não, os pais não deveriam enterrar seus filhos, os filhos não deveriam ver o corpo morto dos pais, e o irmão não deveriam ver o outro irmão morrer. As pessoas que amamos deveriam ser imortais, assim não teríamos que sofrer com sua morte, não choraríamos em saber que partiu dessa pra melhor, e nem veríamos seus corpos sendo enterrados ou cremados, teríamos essas pessoas sempre perto, não temeríamos a morte, a venceríamos, mas não precisamos viver eternamente para estar do lado de quem se ama. Mesmo morto vocês sempre estarão habitando meu coração e vagando a minha mente, e sei que sempre estou presente na de vocês também.

Desde pequeno fizemos tudo juntos, aprontávamos, estudávamos e lutávamos juntos, mas chega uma hora que na vida cada um tem que achar um rumo sozinho, mas não estávamos prontos para isso, não queríamos isso e não estava nos nossos planos. Não estou só falando de eu morrer, mas que nunca pensamos na hipótese de nos separarmos, mas o destino nos pregou uma peça, nos colocou em um caminho que cada um tem que seguir sozinho, e o caminho que estou atravessando não tem mais volta, já o seu... Você tem escolhas. Sei que nos primeiros dias depois de minha ausência, você estava pensando na escolha de se juntar a mim, de vez em quando sei que ainda considera esse caminho, mas veja bem, se você escolher isso ficaremos juntos, vamos aprontar, daremos gargalhadas, te apresentaria os marotos, com quem tenho uma amizade muito boa, e você veria seus filhos crescerem, mas não estaria presente. Entretanto se você escolher o outro caminho você vai poder brincar com seus filhos, vê-los crescer, ensina-los a jogar quadribol (vão puxar o tio e vão ser ótimos), você poderá contar histórias do que aprontávamos em nossa época de colégio, poderá continuar a nossa loja, a nossa última conquista juntos, com ajuda do Harry, mas isso não vem ao caso agora. Não pense em querer vim ficar aqui ao meu lado só por que as coisas estão difíceis ou sente minha falta. Se sentir minha falta lembre-se dos momentos bons que passamos, pode doer se lembrar, mas às vezes ajuda, e quanto aos momentos difíceis tente ultrapassa-los, pois são apenas obstáculos para ver se você vai seguir em frente e enfrenta-los ou vai amarelar e deixar para outra hora. Lembre-se você é um membro da Grifinória, pode não ser mais estudante, pode já ter se formado, mas seu coração sempre baterá pela Grifinória. Se pelo menos esses argumentos não te ajudaram, pense em seus filhos e se lembre do Harry que não teve uma figura paterna presente, escolha pelos seus filhos.

Querido irmão, nunca escrevi algo tão longo, tirando as lições de Hogwarts. Sabe, queria poder estar aí com vocês quem sabe teria meus próprios filhos, estaria casado ou quem sabe namorando, estaria te ajudando com a loja e não Angelina, não, não estou com ciúmes, só apenas fica sem sentido deixar a loja com o nome que está, afinal, não são mais gêmeos os donos dela, mas acho bonito a homenagem.

Não deixe ninguém ler essa carta e não comente sobre ela com ninguém, pois se você comentar vão te achar mais maluco do que é e vão querer ver a carta, mas eu não quero que ninguém leia, entendeu bem? NINGUEM, leia essa carta. Saiba que te vejo no Natal, ah e considere essa carta um presente de aniversário.

Sinto Saudades!

Fred!