Tudo ao meu redor tinha um repugnante tom de verde, eu estava em uma floresta úmida, com folhas espalhadas pelo chão e troncos caídos cobertos por musgo. Era como meu sonho novamente, mas dessa vez eu estava bem acordada e não estava sozinha.

Aparentemente, eu era a única pessoa obrigada a ter ido para aquele lugar, e fazia questão de deixar a minha irritação bem aparente.

Apesar de tudo o local era muito belo. Um lago de água cristalina cheio de peixes ficava no centro do acampamento, e em sua volta ficava o alojamento, ele era bem rústico, tudo feito de toras e mais toras de madeira escura. No refeitório havia uma linda lareira. Estávamos rodeados pela floresta. Até que a prisão não era tão ruim.

Enquanto admirava tudo em minha volta, percebi que uma coisa não se encaixava, um rosto conhecido e não muito agradável, o sujeito olhava fixamente para um corvo que pousara num galho seco da árvore mais alta.

— O que diabos você está fazendo aqui? Anda me perseguindo?— eu o olhava com as mãos firmes na cintura.

— Qual o seu problema garota?

— Aquela era a minha blusa favorita!— eu não tinha dado ouvidos a pergunta dele, decidir ir direto para o ataque.

— Ah espere... Você é aquela louca que derrubou todo o meu almoço?— ele abriu um sorriso sarcástico.

Eu o olhava incrédula.

— Ah sim, desculpe, deve ser difícil olhar as coisas dai de baixo, tendo um metro e vinte. — ele se afastava rindo da minha cara, sem que desse tempo de eu pensar em uma resposta boa o bastante para fazê-lo se desculpar.

Desviei o olhar dele por um segundo e então minha respiração falhou, lá vinha o garoto mais popular do colégio, Kyle era alto, musculoso, tinha os cabelos loiros e olhos azuis, sua pele era bronzeada demais, dentes perfeitamente alinhados e de uma brancura excepcional.

Kyle. O nome que me vinha à mente ao ler romances bregas. Kyle. O homem que ocupava meus pensamentos desde a quinta série. Kyle. Kyle. Kyle.

Eu podia imaginar minha vida ao seu lado, ele se formaria na faculdade de Direito. — era a faculdade que ele cursaria? — teríamos dois filhos lindos com os cabelos dele e os meus olhos.

Então vi uma mão estendida abaixo do meu queixo, olhei para a dona da mão. O menino que derrubou suco em mim...

— Quê isso?—perguntei.

— Tô segurando sua baba para não escorrer. — disse ele impertinente e recolheu a mão.

Inconscientemente levei a mão aos lábios para limpar qualquer vestígio de baba.

O menino gargalhou.

O empurrei de leve no ombro e marchei até Megan.— ela estava linda, seus cabelos cor de fogo brilhavam como o sol, e seus olhos hoje estavam em um verde exuberantemente claro. Ela era perfeitamente branca com pequenas sardas no rosto. Hoje sua roupa era em pró dos golfinhos.

Por todo o acampamento, pessoas de variados gêneros conversavam e riam, havia o pessoal mais inteligente, o pessoal bombado, os hippies, os atletas, os amiguinhos da natureza, mas não pude deixar de reparar em um em especial.

— Alunos do colégio Outside, todos reunidos aqui, por favor.— uma voz retumbou chamando a atenção de todos, comecei a seguir o grupo que ia em direção do lago, eu ouvia a voz do diretor, mas não o via— Isso ótimo!

Olhei ao redor imaginando o que fazer para conseguir ver o diretor, as pessoas ao meu redor eram bem mais altas que eu. Suspirei e então sorri ao ver um tronco caído ali perto, fui até lá e subi no tronco, então consegui avistar o topo da careca do diretor, e logo após o resto do seu corpo. Ao seu lado estava o rapaz que eu vira a pouco, ele usava uma camiseta polo amarela e um shorts vermelho, um boné também vermelho estava enterrado nos cabelos castanhos, a pele era um tanto quanto bronzeada, os olhos pequenos e castanhos brilhavam a distancia. Ele pegou o megafone das mãos do diretor.

— Bem vindos ao acampamento de verão do colégio Outside!

O pessoal ao redor gritou em resposta. Sorri. Talvez o verão não fosse tão ruim assim.

—Isso ai! Animação!— comemorou o homem com o megafone— Eu sou Johny, um dos instrutores do acampamento, e eu vou falar um pouco como as coisas acontecem por aqui. De segunda a sexta temos tarefas que devem ser cumpridas e nos finais de semana teremos algumas confraternizações que todos devem estar presentes. Não sei se já notaram, mas as cabanas tem estandartes azuis, vermelhos, e verdes, há um motivo para isso. Durante todo o verão vocês vão participar de um time, e tudo o que fizerem ou deixarem de fazer. vai contar pontos para o seu time!

O que parecia ser a vice diretora se aproximou do instrutor. Ela tinha uma roleta em mãos, e dentro delas havia bolinhas como as de bingo. O diretor e dois ajudantes seguravam alguns sacos coloridos.

— Vamos sortear os times!— gritou Johny empolgado.

Ele segurou um dos sacos coloridos, o verde, depois girou a roleta e tirou de lá uma bolinha,então leu:

— Megan Cooper!— e jogou a bolinha no saco verde.

Minha amiga sorriu, e uma outra instrutora— que usava roupa verde e amarela— a puxou do meio da multidão.

Johny continuou o processo de divisão dos times e me distraí depois de um tempo.

— Como está se sentindo ao ter altura de gente por um momento?— ouvi uma voz rouca perto de mim, me virei para ver quem era... O menino do suco!

Qual o problema daquele garoto? Ergui a mão para lhe dar um tapa. Eu já estava de saco cheio de suas provocações, mas me desequilibrei e acabei caindo. Até que senti os braços dele em minha volta, sem deixar com que eu me esborrache no chão.

— Se queria vir pro meu colo, era só ter pedido— disse ele provocando.

Abri a boca para mandá-lo catar coquinho, porém uma voz mais alta me impediu.

— Castiel Romanov!

O garoto me colocou no chão com uma facilidade impressionante, então ergueu o braço e uma instrutora do time vermelho veio busca-lo.

Castiel? Esse era o nome dele?

— E assim fechamos o time vermelho! Agora vamos aos que restam que são do time azul!— falou o instrutor, e eu me aproximei do resto do pessoal. Com os outros times organizados em filas indicadas, só havia sobrado alguns dispersos por ali.— Kyle Benson... Samantha Bergenfield... Jake Orion...

Ele continuou a listar os nomes e eu sorri enquanto ia até o instrutor dos time azul. Ele nos levou para fazer uma espécie de tour ao redor do acampamento acabamos parando no refeitório, onde em uma das paredes estava o quadro negro que marcava os pontos. O nosso time não era muito forte mas eu TINHA que ganhar daquele Castiel bobalhão.

Algum tempo depois, a comida foi servida, enchi o prato e fui descobrir que eu não poderia sentar com a Megan porque ela era de outro time— bobagem isso— pensei— mas até que senti uma mão repousar sobre o meu ombro, ergui os olhos para Kyle que sorria de canto para mim.

— Hey, você é a Samantha certo?— disse ele e eu assenti— Quer sentar com a gente?

— Hum,claro, por que não?!— me sentei ao seu lado sem jeito. Kyle sabia meu nome!

Eu sonhava com ele desde de pequena, sonhava com nós dois sentados em um campo, fazendo piquenique de mãos dadas, enquanto os nossos filhos correm para todo o lado jogando vôlei.

— Muito bem campistas!— Johny gritou entrando no refeitório e me despertando dos meus devaneios— Os grupos devem se reunir, porque as atividades começam agora!

Cada grupo tinha três instrutores, os três estavam esperando seus campistas. Segui Kyle e seus amigos para o canto esquerdo, onde os nossos instrutores Dave, Alicia e Robert estavam.

Na primeira prova, os grupos teriam que lavar a louça do almoço. Havia três bancadas com o mesmo tanto de louça ( louça essa que usamos para comer a pelo menos 10 minutos), os instrutores dividiram três grupos: os que lavavam, os que secavam, e os que guardavam a louça limpa. Todos estavam separados assim, quando Johny soprou o apito e todos começaram a fazer suas tarefas o mais rápido possível, já que aquela prova contaria pontos.

Eu estava na equipe que lavaria a louça, já tinha conseguido lavar a metade da louça quando, ao esfregar uma panela, um pouco de espuma voou e atingiu uma pessoa do grupo vermelho. Uma menina que eu só conhecia de vista, Kimberly. A espuma voou direto no loiro tingido pranchado. Ela se virou e me olhou com um olhar 43, não tinha dado nem tempo de me desculpar. A garota pegou a mangueira e apertou, fiquei encharcada! Todo mundo parou o que estava fazendo para me olhar, ai então as gargalhadas começaram.

De longe avistei aqueles cabelos negros e rebeldes balançando, ele ria tanto de mim que chegou a ficar vermelho. Eu estou começando a realmente odiar esse menino, Castiel respirar me tira do sério.

Ele se aproximou com uma cara de deboche, em suas mãos tinha uma toalha.

— Toma aqui, se seca— ele me olhava com um sorriso irônico.

— Sai! Não preciso de mais um dos seus deboches!— peguei a toalha joguei no chão e sai marchando.