O que diabos estava acontecendo? Eu não tinha certeza do que estava sentido, era um misto de coisas boas e ruins. Harry me encarava de uma maneira que me fazia pensar que ele estava sentindo medo da minha reação, era como se esperasse que eu fosse surtar e sair gritando que Sirius Black estava se comunicando com ele... ou algo do tipo. E Sirius... ou a cabeça dele que parecia ser feita de chamas, me encarava como se eu fosse um fantasma.

– Am... E aí? - essa certamente era uma das frases mais idiotas que eu já havia dito em toda minha vida. Quem diz "e aí?" pro seu pai que foi preso por estar no lado do bruxo mais perverso do mundo mágico e que apareceu do nada na lareira da comunal no meio da noite/quase madrugada... Certamente, só podia ser eu. - Olha, eu gosto de falar. Eu adoro falar, mas eu não quero falar sozinha. E essa situação está bem estranha e eu sinto que deveria estar surtando. Ou gritando. Ou as duas coisas.

– Rosalee... - disse Sirius, e soava tão diferente de quando Lucius me repreendia.

– Esse é meu nome, mas tenho certeza que você já sabia disso.

– Rosalee.

– Harry, eu acho que trancou. - virei minha cabeça para encarar Harry, que não parecia ter sido afetado pela minha piada. Por que todos estavam tão sérios? Se alguém deveria estar assim deveria ser eu, e certamente não estou.

– Talvez eu devesse deixar vocês dois a sós.

– Sirius não sabia que eu estava aqui, mas sabia que você estava. Por lógica, ele estava procurando você. Então acho que quem deveria se retirar sou eu. - me virei para ir em direção as escadas do dormitório das garotas quando Harry segurou meu braço, o que me fez virar minha cabeça para encará-lo.

– Fique.

– Não preciso ficar, eu realmente entendo. - pelo ao menos eu achava que sim. Todos tinham direito a terem certas coisas guardadas para si e quem era eu para obrigá-lo a me contar tudo sobre sua vida?

– Sem mais segredos, Rosalee. - ficamos nos encarando por alguns segundos, e eu quase esqueci da terceira presença no lugar. Quase.

– Ele tem razão, Rosalee. Já se passaram tantos anos...

– Treze anos... Mas quem está contando? Certamente eu não estou. - dei de ombros e me ajoelhei perto da lareira.

– Eu sinto muito, Rosalee.

– Pare de repetir meu nome. Eu sei que foram treze anos sem dizer ele. E eu sei que é um belo nome, modéstia a parte, mas não é necessário. - eu queria encará-lo, mas também queria olhar para qualquer lugar menos para as chamas.

– Queria poder te explicar tudo, mas não posso. Eu vim aqui por um motivo, o torneio. Harry, você colocou seu nome no Cálice de Fogo? - é claro que era sobre o Harry... era querer muito que uma vez na vida ele me colocasse em primeiro lugar em sua vida. Não importava, eu sou uma Malfoy e nada me afeta. Esse era meu mantra de vida. Harry estava explicando para Sirius que ele não havia colocado seu nome e tudo que estava acontecendo. E o que ele achava que aconteceria. Os dois estavam tão distraídos na conversa que não perceberam quando saí da Comunal. Eu sei que deveria ter subido para o dormitório, mas simplesmente não era possível. Era como se o choque de realidade tivesse recém aparecido para mim.

– Você está chorando? - uma voz estranha me perguntou. A voz pertencia a uma garota loira que eu já tinha visto antes na mesa da Corvinal. Ela parecia tão inocente, até sua voz era inocente.

– Eu estou? - foi então que percebi que lágrimas escorriam de meus olhos.

– É isso ou você tem água escorrendo de seus olhos.

– Talvez. Eu sinto muito, não sei o seu nome.

– Luna.

– Luna. Que nome bonito. Eu sou a Rosalee. - não sei se ela havia notado que nós duas estávamos indo em direção a cozinha, eu sabia disso graças aos gêmeos. - O que você faz fora da sua comunal essa hora?

– Eu gosto de caminhar... nesse horário não tem ninguém. É tão calmo.

– E de dia é uma correria. - fiz cócegas na pera do quadro e abri caminho para Luna entrar, e depois de ter certeza que ninguém estava ao redor a segui. A cozinha era tão linda, os elfos eram incrivelmente fofos e prestativos. - Você é bem diferente, Luna. É como se você fosse de outro mundo.

– As pessoas me dizem muito isso. - tinha quase certeza que as pessoas não falavam isso como se fosse uma coisa boa. Não que eu achasse que isso era algo ruim, ela parecia ser tão...complexa.

– É algo bom. Você ser diferente, eu quero dizer. Olhe para mim, não sou nem um pouco normal. Normalidade é tão chata, todos tentam ser normais e iguais.

– Isso tira o que cada um tem de especial.

– É isso que eu sempre digo! Abrace sua loucura e seja quem é.

– O seu cabelo é loiro natural?

– Cem por cento natural. Uma vez eu tentei um feitiço para deixar ele castanho, era uma fase rebelde da minha vida, mas acabou ficando completamente rosa. Foi assim que eu aprendi a deixar cabelos cor de rosa... Mas nunca consegui o castanho.

– Interessante...

– Você é baixinha.

– Ou talvez você seja alta. - se eu não tivesse certeza absoluta da história da minha vida, diria que Luna era minha irmã.

– Eu gosto de elfos.

– Eles são adoráveis.

– Meus tios, os Malfoy, tinham um elfo doméstico. Sou contra isso, acho que nenhuma família, ou pessoa, deveria escravizar qualquer tipo de ser, seja mágico ou não. Dobby. Eu o vi poucas vezes, eles tinham medo que eu o presenteasse com alguma roupa e o deixasse ser livre, mas ele era um elfo incrível, doce e leal. - ficamos alguns segundos em silêncio, apenar encarando os elfos que trabalhavam sem parar. - Eles nunca param, sempre estão aqui. Os elfos trabalharam praticamente o dia inteiro e não são reconhecidos. O mais incrível de tudo é que ele não se importam de não receber mérito... Eles simplesmente querem nos ver bem. Felizes.

– Se ao menos as pessoas fossem assim. - o olhar de Luna era distante, como se ela só estivesse ali de corpo.

– Eu gostei de você, Luna. - o silêncio voltou a se instalar no lugar. Eu precisava de alguém como ela na minha vida, alguém como eu que me entendesse. Alguém que não estivesse por dentro de toda a loucura que eu estava cercada. Alguém que me visse além do Malfoy. Além do Black. Alguém que me visse como Rosalee e apenas isso. Depois de observar os elfos por mais alguns minutos, deixamos a cozinha. - Parece que é aqui que nossos caminhos se separam, jovem Luna.

– Certamente se cruzaram novamente. Minha mãe dizia que as coisas que perdemos sempre acabam voltando para nós, mas nem sempre da forma que esperamos. Acho que essa frase também pode ser sobre pessoas. - e eu concordava perfeitamente com a mãe dela, hoje era a prova viva que essa frase era verdadeira. Quando me virei para voltar para minha comunal, ouvi a voz de Luna. - Boa noite, espero que seus problemas se resolvam. Também gostei de você, Rosa. - ela era bem mais perspicaz do que eu imaginava. A noite havia sido cheia de surpresas, boas e ruins, e eu acho que fiz uma nova amiga. Luna da Corvinal, uma caixinha de surpresas que salvou minha noite. Quando entrei na Comunal percebi que Harry não estava mais lá e foi então que outro choque de realidade me atingiu. Eu havia quase beijado o Harry. Harry, o garoto que havia se tornado meu melhor amigo. Harry, que havia escondido o fato de saber aonde Sirius Black estava. Harry Potter, o garoto que eu havia prometido não abandonar... No que eu havia me metido?