A Morte está nos ossos escrita por Liv Marie


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo trata de repercussões mais sérias no que se refere ao período de prisão e confinamento da Regina, então acho que vale o aviso.



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Regina praticamente carrega Emma até o mausoléu enquanto uma quantidade cada vez maior de zumbis se arrasta atrás das duas e ao alcançarem seu interior, ela puxa uma tramela de ferro pesada e trava a porta com uma expressão de incontestável alívio que quase mascara o pânico de gelar os ossos que ainda faz suas mãos tremerem.

Emma não tem a intenção de arruinar o momento, mas não deixa de lhe ocorrer que elas ainda têm que ver se os feijões estão mesmo lá e, em seguida, encontrar uma maneira de dar o fora dali. O que precisará ser feito sem a ajuda dos restos mortais de um coelho encantado, uma vez que as duas usaram o único que tinham em estoque.

Ainda assim, porque ela também está aliviada e grata por não ter sido largada para trás por Regina quando as coisas ficaram difíceis, Emma opta por não mencionar o assunto tão imediatamente.

O que não quer dizer que ela pretenda ficar calada.

"Essa foi por pouco." A loira suspira profundamente enxugando o suor - e um pouco de terra - de sua testa.

“Demais para o meu gosto." Regina concorda, seus olhos arregalados e a adrenalina ainda correndo em suas veias, sentimento com o qual Emma está mais do que familiarizada.

"Alguma chance de colocarmos nossas mãos nesses feijões agora? Nós certamente já esperamos o suficiente." Ela sugere não tão sutilmente, tentando massagear seu tornozelo dolorido por cima da bota.

"Certo." Regina recupera seus sentidos e se aproxima de uma parede lisa cujo único atributo, à primeira vista, se trata de um castiçal de ferro empoeirado e teias de aranha em profusão.

Emma apenas a observa, intrigada pelo que está por vir.

Como esperado, Regina usa sua mágica para abrir uma entrada secreta para o mausoléu. Uma porta que não estava lá há um minuto e que, ao mover de mãos e lábios, se faz subitamente visível.

“Isso foi tão Scooby Doo.” Ela murmura um pouco alto demais, claramente impressionada, e Regina decide apenas ignorá-la, sua concentração presa em outros detalhes do plano em curso.

Com a entrada aberta, ambas podem ver uma estreita escadaria em pedra que desaparece a caminho da escuridão na qual se encontra banhado o andar subterrâneo; Regina olha para Emma com uma expressão que quase parece preocupação. "Por acaso você precisa de uma--"

"Pode deixar." Emma lhe garante rapidamente e, em seguida, limpa a garganta. "Eu dou conta do recado."

Sem discutir, Regina atravessa a passagem e mergulha na escuridão.

Suspirando profundamente, Emma vai atrás dela mancando de forma pouco graciosa e tateando as paredes para se equilibrar caminho abaixo.

Em meio ao breu, a primeira coisa que se pode notar é o intenso cheiro de mofo e de ar estagnado. Emma sabe que não deveria esperar outra coisa, afinal o local esteve selado por um longo tempo.

Então, de repente, as luzes são acesas se derramando sobre o ambiente de uma só vez.

Os olhos de Emma buscam Regina esperando encontrá-la fazendo uso de algum tipo de castiçal ou tocha, mas imediatamente ela percebe se tratar apenas da boa e velha eletricidade. O que não deixa de ser uma decepção.

Regina não parece notá-la, imediatamente se dirigindo a um armário que, ao ser aberto, revela uma porção de gavetas menores. Dentro de uma delas há uma pequena chave de ferro. A antiga Rainha Má toma a mesma em suas mãos e cruza o cômodo, levando o objeto de encontro a um baú enorme e aparentemente pré-histórico, pois poderia muito bem passar despercebido na loja de quinquilharias do Gold – ou ao menos essa é a impressão que Emma retém.

Regina abre o baú com evidente expectativa, mas o que encontra em seu interior faz com que ela congele onde está.

"O que foi?" Emma indaga, temendo pela resposta. Ao que Regina olha para ela com um misto de pesar e decepção a marcar suas feições.

"Eles estão mortos." Ela aponta para um monte de folhas secas e galhos frágeis que parecem prestes a se desfazer com um mero sopro.

"Bem, biologia nunca foi minha matéria favorita na escola, mas isso não era esperado?"

Regina não olha para ela, ainda acariciando delicadamente as folhas mortas com a ponta de seus dedos. "Mágica deveria tê-los mantido vivos por mais tempo. Mas creio que cinco anos foi tempo demais afinal...”

"Bem", Emma se esforça para não demonstrar sua decepção também. "Valeu a tentativa."

"Ainda há algumas sementes. Três, para ser exata.” Regina pausa por um instante e quando retoma a fala não fica claro para Emma se ela está lhe dirigindo a palavra ou se está apenas pensando em voz alta. “Elas parecem secas também, mas é possível que seja apenas na superfície. Talvez com o uso de magia...”

"Regina--"

"Mas é claro, esse plano ainda pode funcionar. Eu ainda posso fazê-lo funcionar. Eu tenho alguns livros aqui que podem ajudar. Só preciso descobrir se...”

"Regina, está tudo bem se você não conseguir."

A morena olha para Emma como se uma segunda cabeça tivesse subitamente brotado em seu corpo, mas ela insiste. "Estou falando sério. Com ou sem feijões, eu te garanto que você não vai ter que voltar para aquele confinamento. Eu juro. Eu não deixaria isso acontecer.”

Regina desvia os olhos ao falar, sua voz soando um tanto pequena. "Não é como se você tivesse sido capaz de detê-los da primeira vez."

Não se trata de uma acusação. Não realmente. Apenas uma constatação. E se é isso ou a forma como a voz dela oscila e falta entre uma palavra e outra o que faz Emma sentir uma fisgada em seu íntimo, ela não saberia dizer.

"Eu sei." Emma admite melancolicamente.

Ela tentou, mas não conseguiu. E, como resultado Regina passou cinco anos de sua vida como um animal enjaulado. "Eu realmente sinto muito."

“Sim, bem..." Regina encolhe os ombros e com os olhos cintilantes encara o que resta dos brotos mais uma vez. "Independentemente, eu acredito que esse plano ainda possa funcionar. Se eu usar os ingredientes certos, eu posso fazer isso. Só vai, talvez... demorar mais tempo."

"Se esperar é o que nos resta, então esperar é o que nós vamos fazer." Emma garante a ela.

Além disso, não é como se eles tivessem outras opções de qualquer maneira.

.::.

É Emma quem sugere que elas pernoitem no mausoléu. A expedição já é perigosa o suficiente quando elas têm clara visibilidade; à noite, os riscos são demasiado elevados.

Regina não a contradiz, estando muito mais exausta do que gostaria de admitir; Assim, ela reivindica o divã para si e observa Emma em suas tentativas frustradas de encontrar uma posição confortável sobre a tapeçaria empoeirada que cobre o chão.

Apesar do cansaço, o sono não vem facilmente para nenhuma das duas, e mais uma vez a dupla se encontra compartilhando mais do que o esperado, apenas para afugentar o silêncio da noite.

Tudo começa, é claro, com a incapacidade de Emma em ficar quieta, algo a que Regina é quase grata, embora jamais tenha a intenção de admitir. Mas o que se revela a gota d’água é na verdade o seu estômago roncando, que ao se manifestar em alto e bom som, acaba dando um susto em Regina.

"O que foi isso?" Regina levanta imediatamente, alerta.

Tentando acalmá-la, Emma é forçada a admitir. "Não se preocupe. Foi apenas o meu estômago."

"Pelo amor de Deus, controle os seus órgãos internos, sim?!"

"Desculpe... Eu não consigo evitar. Estou morrendo de fome." Ela reclama de uma maneira tão infantil que Regina imediatamente visualiza Henry com cinco anos de idade. "Isso é culpa do coelho que tivemos que sacrificar. E com certeza ver o que restou da lanchonete da Granny não ajudou... Jesus, eu não consigo sequer lembrar a última vez em que comi um hambúrguer. Ou carne, para ser sincera."

"Você não disse algo sobre alguns cavalos?", Regina comenta casualmente.

Emma tenta conter o riso, mas o mesmo escapa pelo seu nariz em um som que Regina quase atribui a seu estômago também.

"Nem me lembre disso! Foi um desastre completo! Evan chorou sem parar por dias por causa dos cavalinhos e se recusa a comer carne até hoje. O que não chega a ser um problema, já que não tivemos acesso a qualquer tipo ultimamente, mas ainda assim..."

"Hmm... Henry também passou por uma fase semelhante, embora não exatamente pelas mesmas razões." A memória atinge Regina de uma só vez e ela tenta mascarar seu impacto com a finalidade de sua própria voz. "Mas isso só durou até ele juntar os pontos e descobrir que bacon também vinha de um porquinho."

Emma sorri, usando o braço de apoio para sua cabeça, como um travesseiro improvisado. "Eu não acho que Evan sequer saiba o que é bacon... Caramba... E eu pensei que a minha infância tinha sido difícil!" Ela deixa escapar um longo suspiro. "O garoto merece mais do que isso... Bem, todos eles merecem."

Ocorre um breve silêncio, momento durante o qual suas palavras flutuam no ar e Regina decide se deve falar ou não o que está pensando. "Então você sabe... Sobre a gravidez do lobo." Ela afirma com cuidado e um pouco reticente.

Claramente Hook e Ruby estavam tentando ser discretos a respeito, mas quase nada passa despercebido aos seus olhos. Regina notou pelos constantes toques, as discussões sussurradas, o senso de urgência e desconforto que emanava dos dois. E também pelos momentos em que  ela testemunhou Ruby distraidamente protegendo o abdômen com uma das mãos.

"Sim, bem, ela é a melhor amiga de Mary Margaret, a quem nós duas sabemos, não saberia guardar um segredo nem que sua vida dependesse disso." Emma avalia com um quinhão de honestidade. "Então é claro que eu já sabia."

"O lobo e o pirata." Murmura Regina em voz alta. "Que par improvável."

"Bem, ao que tudo indica esse é o fim dos tempos ou da civilização como conhecemos..."

"Suponho que sim. Mas pelo o que me lembrava... Não era você o objeto das afeições dele?"

“Se por afeições você quer dizer cantadas baratas... Eu não sei. Talvez... E daí?”

"Nada.” Regina retorque prontamente, mas acrescenta. “Eu não sei por que, sempre presumi que você acabaria com o pirata ou com o ladrão."

"Pois você se enganou." Emma diz simplesmente e Regina não consegue reconhecer a emoção que está vinculada ao seu tom, apenas sente a presença de algo a mais. "No final, Killian encontrou o que procurava na Ruby e o Neal... Bem, ele está morto. Tipo, morto—morto. Mesmo.”

Emma pausa por um breve instante, pesando suas próximas palavras. "Hook se certificou disso."

Esse pequeno pedaço de informação é o suficiente para ajudar Regina a juntar várias peças do quebra-cabeça. "Eu não posso imaginar que Rumplestiltskin tenha aceitado bem essa situação.”

"De fato, foi bem longe disso. Não foi exatamente por acaso que todos nós acabamos sendo deixados para trás quando ele finalmente encontrou um portal."

"E quanto a Belle?"

"Acabou morrendo em uma de suas tentativas em mantê-lo longe do lado negro da força." Emma explica, amargamente. "No final, ele fugiu sozinho."

Regina suspira longamente, suas pálpebras pesadas pelo sono que se aproxima. "Algumas coisas nunca mudam."

"Imagino que não mesmo." Emma concorda em meio a um bocejo quando o sono finalmente chega.

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Emma desperta no meio da noite de uma só vez.

Não são gritos o que ela escuta, tampouco o ressonar constante de sua mãe ou os roncos do Leroy com o sua estrondosa capacidade de atravessar as finas divisórias de madeira do Jolly Roger.

Ela acorda com um gemido baixinho, e a respiração cada vez mais elaborada de Regina, a poucos passos de onde ela está.

Em algum momento madrugada adentro as luzes foram apagadas e o som, indistinto de muitas formas, quase a induz ao erro em sua interpretação do que este possa ser.

Mas então, com as faces ainda em chamas, Emma escuta os soluços, e mesmo no escuro ela é capaz de reconhecer o lamento que brota do pânico, similar ao que ela muitas vezes testemunhou ou mesmo derramou, nos lares em que passou partes da sua infância, nos meses em que esteve confinada na prisão e mesmo depois, mais recentemente, nas semanas que sucederam a chegada do apocalipse zumbi e a morte de David.

Ao invés de confrontar Regina, Emma apalpa sua mochila no escuro, em busca de uma caixinha de fósforos que ela traz consigo para emergências.

Percebendo sua movimentação, Regina se cala, mas sua respiração continua ofegante.

Com um riscar do fósforo, uma diminuta chama oferece alguma visibilidade, ainda que breve. Os olhos de Emma buscam o divã aonde Regina adormeceu somente para encontrá-lo vazio. Seus lábios traem seus instintos.

“Regina,” Ela se pega chamando antes de poder se conter. Mais um soluço, vindo da direção contrária, orienta Emma a se mover. O fósforo chega ao fim e se apaga. Emma ainda tem mais dois palitos.

“Está tudo bem.” Ela busca assegurar a rainha, embora não saiba ao certo o que possa ter acontecido para provocar semelhante reação na mulher a quem tão raramente ela viu chorar.

Talvez um pesadelo, ela pensa consigo e acende o segundo fósforo.

Eles são bastante comuns no começo, quando o terror diário ainda não se tornou uma rotina. Emma não tem mais pesadelos. Para falar a verdade ela nem se lembra da última vez que sonhou.

“Não se preocupe, nós estamos seguras aqui.” Ela tenta oferecer algum conforto à Regina, seus olhos procurando formatos e sombras que entreguem sua localização. Um suspiro, ela escuta não muito longe. Cinco, talvez seis passos à sua esquerda.

Emma sente o calor da chama se aproximar de seus dedos quando reconhece o perfil de Regina, encolhida em um canto. Tem que ser ela.

A chama se apaga.

Ela acende o terceiro e último fósforo, seus passos suaves e silenciosos. Regina não olha para ela, mas a julgar pela sua postura rígida e tensa, sua presença foi registrada em algum nível. Talvez não consciente o bastante.

“Regina,” Emma chama mais uma vez, em um tom quase inaudível. “Sou eu.”

Ao se aproximar, joelhos no chão e um semblante de preocupação pintado em seu rosto, Emma não pode deixar de notar, mesmo à pouca luz, o brilho deixado pelas lágrimas que a ex-rainha não pôde conter.

Ela está prestes a dizer algo mais quando a última chama se apaga e quase queima seus dedos no processo.

“Ai! Merda!” Emma xinga reagindo a dor, para mais do que imediatamente se retratar. “Droga, desculpa.”

Regina ainda não se manifesta, o que apenas aumenta sua ansiedade. “Esse era meu último fósforo.” Ela comenta sem nenhum motivo em especial.

Uma chama de repente se acende. Maior e mais vibrante do que qualquer uma que ela pudesse criar com um fósforo ou mesmo uma fogueira.

Mágica.

A chama reside na palma da mão de Regina. Emma a observa quase hipnotizada, a ponto de se assustar quando a ex-rainha por fim se manifesta.

“Eu nunca tive medo do escuro. Quando eu era pequena e me portava mal, minha mãe me trancava por horas em um quarto escuro. Para que eu pensasse no que tinha feito, para que aprendesse a me comportar.” A narrativa é feita como se fosse uma história de livro e não uma parte dolorosa de sua infância. Emma já ouviu esse tom antes, na voz de muitas crianças que cresceram como ela. Na sua própria voz.

Com os olhos fixos em um ponto qualquer, Regina continua. “Mas eu nunca tive medo. Porque quando você fecha os olhos, também está no escuro. E é assim que você pode sonhar. Então ela me trancava no escuro e eu sonhava por horas e horas. Eu nunca tive medo do escuro.”

“Do que você tem medo então?” Emma pergunta temendo não obter qualquer resposta, mas algo na sua voz faz com que Regina a olhe pela primeira vez. A chama em suas mãos refletida em seus olhos escuros, revelando uma tristeza sem tamanho.

“É o silêncio...” Ela murmura e então repete mais alto. “É o silêncio. Você nunca pode calar ou enganar o silêncio. Ele está sempre lá. Aqui. Se derramando em toda parte.”

Emma a escuta atentamente, registrando cada acento que deforma seu rosto. Cada detalhe que ela deixou passar até então.

“Eu odiava aquele buraco. Ainda odeio.” A voz de Regina estremece. A simples menção ao local em que foi mantida por tanto tempo capaz de lhe causar a mais profunda repulsa. A chama em sua mão brilha mais forte.

“Todos os dias eu fechava os olhos para escapar. E agora quando eu fecho os olhos estou lá de volta.” Regina revela e oferece a sombra de um sorriso aos pés de sua confissão.

Emma reconhece os sinais então.

Como ela pode ter sido tão estúpida?

Ela se lembra dos meses em que passou presa, sozinha. Grávida de Henry, sim, mas ainda assim incrivelmente sozinha. Em uma cela só para ela, para sua proteção. Havia guardas, passeios ao sol, consultas médicas para avaliar o crescimento e a saúde do bebê. E ainda assim, especialmente no meio da noite, ela por vezes tinha que conter o ímpeto de rasgar a própria pele desejando escapar de tudo, desejando escapar dali.

E foram apenas meses afinal.

Essa fora a realidade de Regina por cinco anos.

É claro que haveria marcas, sequelas.

Regina sempre foi muito boa em se mascarar. Mas basta um olhar atento, um pouco de cuidado, para enxergar o que está ali, tão evidente quanto uma fissura em um espelho.

“Ajudaria se eu prometesse falar até você dormir?”

“Sua voz é bem irritante.” A morena debocha, em uma versão muito pálida do que ofereceria normalmente, mas Emma não pode deixar de notar que suas palavras não se tratam de uma recusa.

O que ela considera uma vitória.

“É só por hoje. Amanhã você terá os roncos do Leroy pra lhe fazer companhia mais uma vez. Nenhum silêncio é capaz de vencê-los. Confie em mim.”

O sorriso de Regina nunca alcança os olhos. Mas é um sorriso mesmo assim.

.::.

Quando a manhã seguinte vem ao encontro do par, fria e úmida, nenhuma menção é feita aos eventos da noite anterior, um acordo tácito feito entre as duas.

De qualquer forma, o foco passa a ser a missão mais uma vez e é com um grito de ‘EUREKA’, que Emma anuncia ter um plano para tirá-las de onde estão.

É um plano rudimentar, ridículo e absolutamente revoltante que só pode dar certo por um milagre. Ou ao menos é o que Regina acredita e faz questão de expressar com o máximo de ênfase possível.

Mas, revoltante ou não, ele funciona.

Custando grande parte da dignidade da rainha, é verdade. O que Emma provavelmente teria desfrutado muito mais se ela também não estivesse coberta de gosma de zumbi.

A ideia lhe ocorre de manhã bem cedo e ela tenta acordar Regina para lhe contar (lembrete pessoal para futuras referências: nunca tente acordar Regina. Não importa o motivo).

Trata-se de uma ideia muito simples, na verdade: Se zumbis são atraídos pelo cheiro, e não se sentem compelidos a comer sua própria espécie, então tudo o que eles precisam é acreditar que Regina e Emma são parte da horda.

A parte mais complicada acaba sendo, sem surpresa, convencer Regina a permitir que Emma cubra seu corpo com substâncias sangrentas e pútridas.

Fora isso, elas estão mais do que bem arranjadas.

E assim, as duas conseguem evadir o cemitério, lado a lado, Regina transportando os brotos de feijão mortos em um recipiente pequeno, enquanto Emma segue atrás dela, mancando em um ritmo constante.

Leva mais tempo do que o usual, mas eventualmente as duas encontram o caminho de volta à praia. Contudo, o Merry Jerry (filhote do Jolly Roger) não está ao foi deixado ou em qualquer lugar à vista.

Emma está à beira de um colapso nervoso quando as duas veem o Jolly Roger muito mais próximo da costa do que normalmente deveria estar.

"Alguma coisa está errada." Emma anuncia em um tom sombrio, alto o suficiente para que Regina a escute.

Sem precisar fazer o uso de palavras, Regina se vê obrigada a concordar.

.::.

Sem outras opções, Emma é forçada a recorrer a uma de suas táticas de emergência. Usando alguns ramos e muita prática ela rapidamente forma uma pequena fogueira. É um sinal para a tripulação no navio e graças a Deus ele funciona porque 15 minutos mais tarde, Henry aparece com o barquinho. Isto e um notável olho roxo.

"Que diabos?!" "O que aconteceu com você?" Emma e Regina perguntam simultaneamente, suas vozes em coro.

"Eu poderia perguntar a mesma coisa." Ele diz, ajudando-as a entrar no barco. As duas mulheres olham uma para a outra como se estivessem se enxergando pela primeira vez e Emma é a primeira a admitir, elas parecem de fato recém-saídas da boca do inferno, mas ainda assim...

"Bem, nós estávamos em uma missão mortal. Qual é a sua desculpa?" Ela reage e Regina faz um visível esforço para conter suas palavras, sem conseguir tirar os olhos do filho, mas incerta de qual será a reação dele se ela se manifestar.

"Não é seguro aqui. Vou explicar tudo quando chegarmos ao Jolly."

"Pode apostar que sim." Emma bufa e se senta ao lado de Regina em seu caminho de volta para casa, o inchaço de seu tornozelo e o fedor de suas roupas completamente esquecidos.

.::.

Apenas em seu retorno fica claro quão grande foi o dano e o que de fato aconteceu enquanto Regina e Emma estiveram ausentes.

O navio foi atacado.

Emma enxerga os sinais no momento em que coloca os pés no convés; as evidências gritantes para alguém que costumava ser uma xerife.

Leroy e Snow tem que puxar as cordas que levantam o pequeno Jerry e tão logo sua mãe a vê, seus olhos transbordam com preocupação e também alívio.

"Oh meu Deus Emma, você está bem?" Snow se aproxima, mas não se atreve a tocá-la.

"Estou bem, isso aqui foi só um leve contratempo.” Ela procura acalmar Snow, apontando para seu tornozelo ferido com um gesto banal. “Agora, eu faço a mesma pergunta! Que diabos aconteceu aqui?”

"Enquanto você estava batendo perna por aí com a Rainha Má em sua pequena jornada, nós estávamos sendo atacados. Foi isso que aconteceu!” Leroy resmunga, oferecendo quase nenhum esclarecimento.

"Foi um grupo pequeno, apenas quatro homens, mas eles estavam armados. Aparentemente eles já estavam observando o nosso grupo há mais tempo e usaram o Merry Jerry para chegar até nós, provavelmente com a intenção de assumir o controle do Jolly Roger.", Snow explica.

"Eu não entendo." Regina se manifesta pela primeira vez desde seu retorno, sem esconder sua perplexidade. "Você está dizendo que vocês não foram atacados por pessoas mortas, mas por pessoas vivas?"

"Isso é exatamente o que ela está dizendo." Leroy confirma impacientemente, para o grande choque de Regina.

"Cadê o resto do pessoal? Houve vítimas?" Emma pergunta preocupada.

"Somente o pessoal do outro time." Henry responde aparentemente orgulhoso, mas Snow acrescenta com o cenho franzido.

"Killian e Victor foram gravemente feridos."

"E o Evan?" A voz de Emma escapa engasgada.

"Ele está bem! O bando agiu no meio da noite, mas o Pongo deu o sinal de alerta. Ruby e Evan ficaram lá embaixo o tempo todo. Eles estão sãos e salvos."

Emma parece aliviada ao saber que o seu irmãozinho está seguro, mas ainda tensa quanto aos demais feridos.

Whale nunca foi um amigo - ou mesmo alguém em quem ela confia -, mas foi de muita assistência ao grupo com os seus conhecimentos médicos muitas vezes. Já Killian é uma história diferente. Mesmo com todos os seus hábitos irritantes e seus trocadilhos ruins, a sua ausência certamente seria sentida se alguma coisa lhe acontecesse, especialmente por Ruby e o bebê que está a caminho.

"Bem, o que podemos fazer?" A questão vem de Regina, surpreendendo a todos - inclusive Emma.

"Erm, muito na verdade. Quanto você sabe sobre ervas e poções de cura?" Snow sonda diretamente, mais preocupada com o bem-estar dos feridos do que a antiga rivalidade existente entre as duas.

"Eu admito que não seja o meu forte, mas o pouco que sei pode vir a calhar. Leve-me a eles."

Assim, as duas seguem juntas para o interior do navio, deixando o restante do grupo a observá-las com espanto até suas figuras se perderem de vista.

"Se eu contar, ninguém acredita." Leroy tira a sua toca esfarrapada e coça a cabeça.

"Bem, o que mais vocês precisam? O que posso fazer?" Emma indaga, preferindo não pensar sobre o quão estranho é ver sua mãe e Regina finalmente unindo forças depois de tanto tempo.

"Você pode fazer um favor a todos nós e tomar um banho." Henry faz uma careta para ela, mas um sorriso torto vem à superfície arruinando seu desempenho.

"Cale a boca moleque. Ou eu vou te dar outro olho roxo pra combinar com esse aí.” Emma tenta parecer séria, mas falha espetacularmente.

Normalmente ela aproveitaria a oportunidade para provocar o garoto engomadinho que Henry ainda carrega dentro de si, mas não encontra determinação suficiente para tanto, sua cabeça cheia demais com outras preocupações.

Em primeiro lugar o bem estar do grupo.

E o fato de que agora isso também inclui Regina.

.::.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Primeiramente gostaria de dizer que não foi minha intenção deixar vocês esperando muito tempo, mas a semana correu e não sobrou tempo para eu dar o trato que o capítulo merecia antes dessa madrugada.

Em segundo lugar, esse é um capítulo que começou simples e que de repente cresceu fora das proporções devido a um desenvolvimento novo que achei fundamental explorar. Em razão disso ele acabou dividido em dois, o que significa que o próximo não deve demorar de fato.

E em terceiro e último lugar (mas não menos importante!): Muito obrigada mais uma vez pelos comentários que tenho recebido. Sinceramente, gostaria de poder marcar *TODOS* como melhor do capítulo. O que seria absolutamente justo e sincero. Todo o trabalho que esse capítulo de hoje deu foi compensado pelo incentivo oferecido por vocês. Então espero que tenham gostado.

E até a próxima. :)



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