Aeternum escrita por Selene


Capítulo 2
Capítulo II - Cumque Mane


Notas iniciais do capítulo

Cumque Mane significa madrugada ♥

Queridos, mil perdões! Eu ia postar esse capítulo ontem a noite, mas tive um imprevisto e não consegui. Espero que gostem!

Aika é Orihime;
Kol é Ulquiorra.



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A mais nova sorriu, os brilhantes e curtos cabelos alaranjados resplandecendo com a luz do Sol. Seu irmão, um moreno alto e sorridente, gargalhava junto com a mesma de uma piada idiota que Aika soltara, porém sem desviar sua atenção da estrada e do volante, enquanto a garota concentrava-se em tentar prender a grande caixa de madeira no banco de trás, desistindo depois de várias tentativas e deixando-a solta mesmo.

– Nii-san, vai demorar muito para chegarmos? -A menina repetiu a pergunta pela vigésima vez, finalmente sentando-se, fazendo o irmão suspirar, cansado.

–Já disse, Kia-chan, estamos quase chegando!

Aika estreitou os olhos, cruzando os braços e encarando o irmão com uma falsa expressão de irritação.

– Você disse isso duas horas atrás, baka.

O irmão riu, concordando com a menina.

Matsuri Aika espreguiçou-se, abaixando-se um pouco no banco do carro e cruzando as pernas em posição de índio. Seu irmão sabia que ela era impaciente, mas que podia fazer se a garota insistira tanto em irem até a cidade em que os pais repousavam de carro?

– Pare de reclamar, Aika. Se bem lembro, era você ajoelhando no chão e implorando para que fizéssemos essa viagem de carro, e não avião.

– Sabe que tenho medo de avião, nii-san. Pare de reclamar e dirija! – Mostrou a língua novamente, o que fez ambos rirem como bobos.

O momento de diversão continuou por pouco tempo. Os eventos seguintes foram rápidos demais para que a pequena ruiva pudesse ao menos decifrá-los. Uma luz, um grito, um barulho de batida ensurdecedor, o vidro quebrando, sangue voando, sua testa no porta-luvas e algo batendo forte em suas costas... Tudo rápido demais para que ela pudesse ao menos lembrar-se mais tarde.

A única imagem que não lhe saíra da cabeça fora a de seu irmão, pouco antes que a jovem desmaiasse. Sangue pingava de sua testa, nariz e peito, mas o que mais marcou foi o filete de sangue que escorria pela boca, o fantasma de um sorriso ainda presente nos lábios finos.

Aika soube que ele estava morto antes mesmo de fechar os olhos.

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No instante em que abriu os olhos Aika percebeu que havia algo errado. Começando pelo fato de que aquele não era seu quarto. Além disso, não se lembrava de ter trocado o toque de seu despertador para aquele bipe irritante. Fora a dor agoniante que sentia, principalmente nas costas e na cabeça. E... o que era aquela sensação de que algo estava faltando?

A jovem arregalou os olhos ao perceber que não conseguia mexer as pernas. Nem ao menos senti-las! Olhou ao redor, buscando alguém que pudesse ajuda-la e percebeu que estava em um quarto de hospital. Preparou-se para gritar por ajuda quando o viu deitado na cama ao lado, perdendo toda a coragem de gritar e acorda-lo. O garoto parecia um anjo!

Ele era claro como um dia de nevasca, tendo tal tom de puro branco acentuado pela palidez doentia que lhe cobria a pele. Seus cabelos eram negros como carvão, opacos, um pouco compridos e bagunçados para todos os lados.
Aika surpreendeu-se ao vê-lo abrir os olhos lentamente, uma explosão de verde-esmeralda contornada pelos cílios negros.
– A bela adormecida acordou. - A voz era rouca, baixa, como se as forças do garoto fossem reservadas para qualquer coisa, menos falar. - Você tem dado trabalho para as enfermeiras, mulher.

Aika observou-o por mais alguns instantes antes de se pronunciar. Sentia que o conhecia de algum lugar.

– Meu nome é Aika, garoto. Você é...?

O dono de olhos verdes apenas sorriu de lado, permanecendo em silêncio ao ver duas enfermeiras entrarem ali, o que acabou fazendo a garota suspirar de alívio. Ajuda, finalmente!

Uma das enfermeiras, uma senhora de cabelos castanhos presos em um coque firme, veio em sua direção, enquanto a outra, também de idade, mas loira, seguia diretamente em direção ao moreno ao lado, fechando a cortina e separando-os.

– Como se sente, querida? – A mulher segurou aproximou-se, perguntando enquanto fazia exames básicos na menina.

Aika, então, teve um choque de realidade e olhou para a mulher, aflita.

– Não consigo mexer meus pés. O que aconteceu? Por que eu não consigo? Onde está meu irmão? – Lágrimas começaram a surgir nos grandes olhos cinzentos, e a mulher apenas segurou sua mão, dando-lhe um sorriso reconfortante.

– Não se preocupe, querida. Vou chamar o médico, em breve você saberá de tudo.

Aika assentiu, mas não deixou de notar o brilho de preocupação que os olhos daquela mulher emanavam quando a mesma levantou-se, dirigindo-se à saída.

Alguns instantes depois, a mesma senhora voltou, acompanhada de um homem alto, não muito velho, que usava um jaleco branco até os joelhos. O médico sorriu terno para ela, e Aika sentiu-se aquecida por alguns instantes. E então ele se aproximou, sentando-se ao seu lado e segurando-lhe a mão.

– Como se sente, meu anjo?

Aika respirou fundo, queria logo encontrar a resposta para todas as suas perguntas!

– Minha cabeça dói. E minhas costas também. E eu não sinto minhas pernas! – A garota falava pausadamente, observando-o escrever algo em uma prancheta que pegara na escrivaninha ao lado da cama. – Onde está meu irmão?

A ruiva sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ver a expressão do homem. Aquelas feições... Ela já as conhecia muitíssimo bem.

– Ele não aguentou, minha querida. – Aika sentiu-se flutuando, como se tivessem a arrancado do chão e jogado para uma realidade assombrosamente cruel. – Eu preciso entrar em contato com seus pais.

Aika negou, sentindo que as lágrimas escorriam de seus olhos aos poucos. O choque era demais para ela. Seu irmão...

– Otou-san e Okaa-san estão mortos. Se foram quando eu tinha dois anos.

Sua única família...

Ela arfou.

Estava morta.

Ouvia o médico dizer coisas aleatórias para a enfermeira ao seu lado, mas tudo o que ela conseguia fazer era olhar para suas mãos e chorar. Percebeu que o médico lhe perguntou algo se ela era maior de idade e ela assentiu. Sabia que ele falava com ela e apenas assentia, e quando o viu pegar um objeto estranho e ir até seus pés, estranhou. Observou-o passar o palito pelos seus pés, mas apenas isso. Não sentiu nada. E então o choque de realidade novamente tomou conta de seu ser, trazendo o desespero e a confusão junto enquanto ele dizia algo sobre ter que fazer mais exames para ter certeza.

– Mas antes, eu preciso de seus dados, querida.

– Matsuri Aika, 18 anos, moro em Karakura Town. Nós... Nós estávamos indo para Kaikori, ontem foi aniversário de morte dos meus pais e... – Aika não conseguiu. Lentamente a garota se dava conta de que estava sozinha. Abandonada em um mundo enorme, tendo apenas empregados e seguranças como companhia. Neste momento, odiou-se por ter insistido tanto para irem de carro.

– Vamos procurar algum parente seu para vir ficar com você, Aika-chan. Não se preocupe. – O médico obviamente reconhecera o sobrenome da garota. Não deixaria a única herdeira de uma das empresas mais ricas do Japão continuar na ala pública do hospital, mas não podia transferi-la sem que acertassem todos os papéis.

Aika assentiu, e quando o doutor Kurin se retirou, permitiu-se chorar em desespero como nunca fizera. Controlava-se para não gritar, mas seu coração ainda doía e seu peito queimava como se fosse explodir. A garota soluçava, sentindo a dor percorrer todo o seu corpo tão rápido como a luz.

Kol. Kuchiki Kol. – Ela ouviu a voz vinda da cama ao lado, mas tudo o que pôde fazer foi soluçar.

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– Então, qual a sua história? – Ela perguntou, olhando-o sentado no banco enquanto o sol iluminava e aquecia os dois. Aika já podia sair, ainda que de cadeira de rodas, e não pode evitar a surpresa ao ouvir Kol oferecer-se para leva-la a um passeio pelo hospital. Porém, ele a ajudara tanto desde aquele dia que a garota simplesmente não conseguira dizer não.

– Família classe média que gasta todas as economias me mantendo aqui. – Ele observou que a curiosidade no rosto da garota não desaparecia e sorriu. – Câncer no pulmão, descobriram quando eu tinha dez anos. – Ele suspirou, brincando com a cânula que lhe facilitava a respiração. – Por isso uso essa coisinha aqui. Mas ultimamente a quimioterapia não tem dado muito certo, então tenho que ficar no hospital mais do que o necessário.

Aika assentiu, imaginando quão terrível deveria ser aquela vida. Talvez tão terrível quanto a sua se encontrava agora.

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No dia em que recebeu alta, Kol prometeu visita-la, beijando-lhe a testa antes de seguir a mãe para o carro. Aika apenas o observou partir, enquanto sua tia – que fora avisada do acidente e viera ajuda-la com tudo- segurava seu ombro em um tipo de carinho de consolo. Sabia o quanto a sobrinha se apegara àquele rapaz.

– Você quer passear, Aika-chan? – A mulher perguntou, mas a ruiva apenas negou. A mais velha suspirou fundo, ajeitando os travesseiros da sobrinha e sentando-se no confortável sofá ao lado da cama. Privilégio para os mais ricos, claro.

Aika esperou por dois longos dias, até que ele finalmente veio. Estava mais magro, mas as roupas comuns lhe traziam um ar mais saudável. Kol sorriu para ela, e Aika não pode deixar de pensar em como ele estava lindo. O garoto a abraçou, fazendo a ruiva corar como um tomate.

– Você demorou, infeliz. – Murmurou, fazendo bico e cruzando os braços.

Kol apenas riu, enquanto a pegava no colo com cuidado, colocando-a na cadeira de rodas. Aika olhou-o, curiosa.

– Onde vamos, Kol?

O menino sorriu, enquanto entregava a bolsa que continha seu cilindro de oxigênio para Aika. Já era costume, ele a empurrava e ela carregava o cilindro no colo.

– O médico me deu permissão para passear com você pela quadra, já que você já está estável e quase recebendo alta. Vamos ao cinema!

Aika sorriu como não fazia há muito tempo. Adorava o cinema! Ela sempre ia com seu irmão e alguns seguranças assistir filmes variados.

– O que vamos assistir, Kol-kun? – Aika fez questão de enfatizar o sufixo carinhoso, coisa que só fazia quando estava realmente grata. Kol sorriu novamente, não deixando de perceber o quando aquela garota colorira seu mundo preto, cinza e verde.

– É um drama romântico. – Aika riu ao vê-lo corado. – Love Rain, saiu faz pouco tempo.

A ruiva assentiu, empurrando a cabeça para trás de modo que sua nuca ficasse pressionada no encosto da cadeira e ela pudesse olhá-lo de baixo para cima.

– Muito obrigada, Kol. Não vejo a hora de receber alta, os dias naquele hospital são terríveis!

Seguiram conversando sobre o dia-a-dia dos dois, e quando chegaram ao cinema Aika suspirou. A única rampa para cadeirantes era usada por vários adolescentes que, sentados na mesma, papeavam.

Kol suspirou fundo e foi naquela direção. Ao perceber que os jovens não pareciam querer dar passagem, seu corpo ficou tenso.

– Vocês poderiam, por favor, nos deixar passar?

Um dos garotos olhou-os com desdém, levantando-se e puxando uma menina que estava ao seu lado.

– Levanta aí gente, os problemáticos querem entrar. – O menino olhou para os dois novamente, a expressão transformando-se em nojo. – Só não nos contaminem com seus germes nojentos.

Aika segurou a mão de Kol, contorcendo-se um pouco na cadeira, procurando acalmá-lo.

– Vamos, Kol. Eles não valem a pena.

Ele apenas assentiu, seguindo firme enquanto subia a pequena rampa. Aika pôde ouvi-lo ofegar um pouco quando os dois finalmente acomodaram-se para assistir o filme, mas estava feliz. Ambos estavam ali, juntos, e nada poderia separá-los.

E foi naquele dia, ouvindo a chuva que vinha das caixas de som enquanto o jovem casal se beijava na tela que Kuchiki Kol e Matsuri Aika deram seu primeiro beijo.

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Aika e Kol estavam novamente deitados lado a lado em camas de hospitais. Ela faria a cirurgia de transplante de medula em dois dias, e ele tivera uma recaída forte. Diziam que não aguentaria.

Kol a observava, silencioso, segurando sua mão – os médicos tiveram pena do casal e aproximaram as camas, para caso precisassem um do outro. O moreno fazia carinhos delicados na mão de Aika, enquanto ela chorava, de medo e desespero.

– Por favor Kol, pare de falar coisas assim, você não vai morrer!

Ele sorriu, um sorriso mínimo e cansado. Os pais de Kol e a tia de Aika haviam os deixados sozinhos, para que pudessem conversar.

– Sabe... Eu queria que tivéssemos mais vidas. Para que pudéssemos ficar juntos mais vezes. – Ele murmurou.

Aika assentiu, encostando-se a ele.

– Que tal cinco, Kol?

Ele riu.

– Cinco seria um número ótimo. Assim poderíamos nascer em cinco cidades diferentes.

A ruiva concordou.

– E comer cinco outras coisas diferentes! Imagina? – Ambos riram, Aika da ideia estúpida e Kol da gula infinita da namorada.

– Poderíamos ter cinco empregos diferentes. Eu seria médico, bombeiro, astronauta, ator e motorista de taxi.

Aika gargalhou.

– E eu seria médica, dançarina, desenhista, policial e babá!

Ambos riram juntos.

Profissões peculiares, pensou Kol.

– Nós também poderíamos... – Suspirou, apertando Aika mais forte em seus braços. – Poderíamos amar a mesma pessoa cinco vezes.

Ela concordou, afundando seu rosto no pescoço dele e deixando-se chorar.

Kol faleceu na madrugada daquele mesmo dia, após uma parada cardíaca. Tudo aconteceu tão rápido que, quando Aika percebeu, haviam o tirado de seus braços enquanto a mesma era abraçada pela mãe do garoto, que chorava desesperadamente.

Dois dias depois, Aika faleceu, não conseguindo se recuperar da delicada cirurgia. Deixou para trás uma herança milionária, uma tia desolada e um diário com frases e momentos peculiares, que quebravam o coração da tia da ruiva e da mãe do moreno.

Mas a última frase escrita foi a que mais lhes chamou atenção:

“Nós ainda temos três vidas pela frente, Kol-kun. Me encontre.”


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Odiaram? Esperavam mais? Comentem, queridos! Me perdoem qualquer erro, e me avisem por favor!
(MP's e reviews fazem minha semana! haha) ♥



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