“O coelho branco.

Só podia ser, sentia a forte e estranha sensação emanando do simples animal de pelúcia, escutava os sussurros desesperados clamando por ajuda, sôfregas envolta por um minúsculo fio de esperança.

O medo.

O sentimento mais primitivo de todo ser humano, assim como o mais angustiante. Por ele as pessoas podem cometer as piores loucuras.

Estava lá, impregnado no pequeno brinquedo sujo e manchado, a maldade sendo consumida pela pureza da representação do bem. Tudo estava selado naquele coelho, até mesmo a dor e o ódio - causas e consequências de atos maldosos.

Mesmo assim, causava um contraste tão certo - luz engolindo trevas. E tudo isso acontecia em um objeto praticamente insignificante.

Orihime sentiu os principais ossos dos seus joelhos fraquejarem, fora obrigada a sentar-se no chão frio. A visão se embaçou, assim aos poucos podia ver suas forças sumindo, quase como se estivessem sendo sugadas para fora de seu corpo.

"Preciso achar o Ulquiorra." – Pensou enquanto respirava com dificuldade.

De certa forma, sabia que o moreno estoico daria um jeito nessa bagunça.

Respirou fundo e ergueu-se, mesmo que não pudesse achar Ulquiorra, precisava encontrar Yachiru. Forçou alguns passos, tarefa impossível na situação em que Inoue se encontrava, onde não tinha forças o suficiente, obviamente a garota iria cair.

Quando estava prestes a cair, largou o coelho no chão ao seu lado, e num segundo sentiu ser amparada por braços largos, fortes e extremamente pálidos. Até pareciam os braços de Ulquiorra.

Entretanto, definitivamente não era, não tinha o conforto que braços deviam ter. Nem olhou para o sujeito, afinal não necessitava saber quem era, somente a constatação de que o perigo é iminente.

Inoue tentou se desvencilhar de quem estava a segurando, mas como já previa, não conseguiu nem mesmo movê-lo um pouco, muito pelo contrário, só se apoiou ainda mais nele. Tomou coragem e ergueu seu rosto para encarar o indivíduo.

"Não pode ser..."»

( Fanfic Conejo Blanco escrita por Painhurt, Nathamy, UlquiHime FC; Capítulo 8: Alma Inabalável)

– Ulqui-kun, não me importa as vidas anteriores ou as futuras, eu quero esta! Quero viver contigo agora e não daqui a 200 anos passados. Por favor luta pelo hoje… Não quero saber quantas vidas teremos, eu quero viver contigo nesta. Eu preciso de ti!

A ruiva curava Ulquiorra, enquanto dialogava com este tentando manter a mente do espada desperta. Temia que este adormecesse num sono profundo e que nunca mais acordasse. Esse era seu maior receio, por isso conversava desesperada com ele, tentando demovê-lo, encaminhá-lo para a persistência, que ele lutasse pela vida! Naquele momento era só isso que lhe importava.

Aizen não alterou suas feições apesar de ligeiramente estupefacto, porém não escondera o olhar cintilante de felicidade pelo estado débil e crítico do seu ex subordinado. Dessa forma, ela dirige-se até Orihime, que não prestara atenção no seu movimento, demasiado ocupada em ajudar Ulquiorra. Contudo, imprevisivelmente, algo intercede no caminho do shinigami. O estranho e suspeitoso movimento atrai a atenção de Inoue que desvia o olhar do ferimento do arrancar percebendo por fim a súbita aproximação de Aizen. Contudo, isso parecia irrelevante no momento, houve um outro detalhe que a surpreendeu muito mais.

– Kurosaki-kun…?

– Kurosaki Ichigo, não contava com a sua presença aqui. Ajudar um arrancar é crime sabia? Pode-lhe ser retirado o seu cargo de substituto de shinigami.

– Eu não venho ajudar um arrancar e sim um amigo.

– Tem de aprender a escolher melhor seus amigos.

– Amigo do meu amigo, também é meu amigo. Ulquiorra salvou a Inoue e isso é tudo o que eu preciso saber, para o ajudar!

– Sempre altruísta… Isso vai-lhe custar caro, talvez a própria vida.

– Estou disposto a arriscar, Aizen!

Ichigo utiliza o shunpo para atacar o shinigami que obviamente não fora apanhado desprevenido, contudo esse não era o objectivo do ruivo, e esse pormenor passou despercebido ao moreno, que não compreendeu que o Kurosaki não estava a lutar mas a afastá-lo de Orihime, tanto para a proteger como para ela poder curar o espada tranquilamente.

Curiosamente, o seu plano obtivera êxito. E em poucos segundos eles combatiam fora da prisão. Inoue apesar de preocupada com o combate sob sua cabeça, não conseguia de deixar de estar mais angustiada pelo estado do quarto espada, que encontrava-se inconsciente. Nem sua voz fora suficiente para manter os seus sentidos despertos.

Novamente sente as lágrimas queimarem seus olhos, mas subitamente uma mão fora depositada em seu ombro direito para a apoiar. Ela não precisava de olhar para saber a quem pertencia, aquela maciez, o toque suave mas profundo… Como se penetrasse seu ser, só havia uma pessoa que compreendia o que ela sentia naquele momento.

– Arigato… Kuchiki-san.

– Ele ficará bem Inoue.

A humana pretendia responder, porém, inesperadamente o brilho do escudo modificou-se para completa surpresa de Orihime, que nunca assistira a algo semelhante em seu poder. O brilho cintiliu mais intensamente até que o aspecto de Ulquiorra transformou-se…

Como? Ele estava humano!?

Ela desviou seu olhar acinzentado para a shinigami que também encontrava-se incrédula pelo que seus olhos viam, não entendendo nada do que se passava. Curiosa, a ruiva eleva uma mão até a face do moreno, onde antigamente repousavam as eternas lágrimas esverdeadas, mas que dera lugar a um rosto levemente rosado.

Receosa, ela coloca timidamente sua mão no peito de Ulquiorra, sentindo seu coração bater, emocionada, não consegue conter o sorriso. Eles tinham tido outra oportunidade… Levou a outra mão até a prenda de seu irmão agradecendo mentalmente a suas fadas.

Ao escutar um resmungo, ela rapidamente observa o recente humano.

– Ulqui-kun? Sentes-te bem?

Ulquiorra a encara confuso, como se estivesse perdido no tempo. Nervosa, ela desvia a atenção para as suas mãos, com temor da reacção do espada com sua nova fisionomia. Ele não pareceu compreender de imediato as mudanças em seu corpo, por isso estranhou o comportamento da mulher que não o encarava directamente nos olhos, como se estivesse com medo dele.

– Obrigada por me salvares. Eu… Usei os meus poderes para te curar mas não sei o que aconteceu…

As meias respostas da ruiva, o seu enrolamento e o gaguejar nas falas o estavam a deixar ansioso, e com esse sentimento algo dentro de si acelerou e instintivamente leva a mão ao peito e percebeu o que ela queria dizer. Estava humano! Sorria ou ficava furioso? Aliás, isso era ao menos possível?

– Desculpa, onna.

– O quê?

– Fui embora.

– Mas agora estás aqui… Isso que importa.

Orihime abraça Ulquiorra, eufórica, sentindo o coração calmo dele bater rimaticamente contra sua face rosada. O antigo subordinado de Aizen remexeu em suas madeixas ruivas onduladas, ela o convertia num humano, ela era seu coração perdido e não o órgão que se encontrava em seu peito agora. Talvez, ele já se tivesse tornado em humano há muito tempo atrás.

A ruiva ergueu o topo da cabeça para o encarar, a alegria em seu peito irradiava por cada poro seu, e excentricamente ela o beija. Sem pensar, sem pudor, só agiu. Ele pareceu ligeiramente surpreso… Talvez porque em anos nunca tivera um contacto tão próximo com alguém. Provavelmente, porque não compreendia como ela não tinha medo dele, tendo ainda visto sua segunda transformação.

Contudo, gradualmente, ele foi se entregando aos sentimentos invisíveis… Deixou-se levar pela dança dos lábios carnudos da princesa. Percebendo por fim, quando tinha suas pálpebras completamente fechadas, que havia vida para além do que seus olhos podiam enxergar.

Seria possível um hollow voltar a possuir um coração? Voltar a ser humano?