Uma Vida Nem Tão Colorida escrita por Jowlly


Capítulo 14
Capítulo XIII


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Tudo bem?

Boa leitura!



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Quem viria me incomodar? Meus pais? Minhas amigas? Não. Estava sozinha.

“O que havia acontecido?” a única coisa que estava na minha mente naquele momento.

Ele havia piscado forte seu olho e aquilo que eu pensei ser uma lágrima desapareceu, porém seu rosto continuava triste.

– Eu... eu conversei com meu pai... sobre o tempo que ficaríamos na Inglaterra...

Cruzei meus dedos, torcendo que fosse apenas um final de semana, mesmo sabendo que isso é totalmente impossível...

Não falei nada, esperei que ele continuasse.

– Ele falou que... – deu uma longa pausa – que talvez a gente nunca mais volte para cá...

...

Eu demorei para responder. Aliás, o que eu responderia?

Tive a mesma sensação... daquela vez que ele falou da primeira vez sobre a Inglaterra... a sensação de que o chão estava se rachando sobre os meus pés, a sensação do céu caindo e eu tendo que aguenta-lo com meus ombros. Só que pior. Muito pior.

Por que ele fazia aquilo? Eu já estava arrasada só por saber que ele realmente iria... e agora será a última vez que eu irei vê-lo. Isso vai acabar comigo.

Eu poderia ter dito muita coisa no momento. Poderia ter dito tudo o que pensava, tudo o que queria... tudo o que sentia... mas optei por dizer algo muito mais inteligente:

– Hm... – foi o que saiu de minha garganta.

Ele ficou em silêncio por mais um pequeno período de tempo. Estava ficando impressionada comigo mesma por ainda não ter desabado em lágrimas, mesmo que meu corpo todo clamava por isso.

– E-eu... – ele gaguejou – como essa, talvez, seja a última vez que nós nos veremos, só queria me despedir de um jeito mais adequado... e dizer que vou sentir saudades da minha melhor amiga.

Consegui, finalmente, olhar em seus olhos. A praça estava escura e a única coisa que nos iluminava eram os postes das ruas, ainda sim, fracos. Ele estava usando um meio-sorriso. Tentei retribuir o gesto, mas não era o que meus olhos diziam... eu não estava feliz.

Repentinamente o loiro me abraçou. Forte. Como nunca havia abraçado antes... nem mesmo nos meus aniversários, nem mesmo nos aniversários dele... Me irritei comigo mesma. - Mexa-se! Retribua o abraço! - Pensava. Mas estava imóvel. Paralisada.

Depois de ele ter finalmente me soltado, me levou para minha casa. Fomos o caminho todo em silêncio. Não falei mais nada e estava me odiando por aquilo. Por que? Eu tinha que reagir! Por que não consigo me mexer? Como ele consegue me deixar assim? Sem reação...

O carro finalmente parou em frente ao meu prédio. Sai dele e quando estava chegando perto do portão, com o objetivo de sair correndo dali e chorar tudo ainda que eu não chorei (estava ficando preocupada se ainda tinha lágrimas reservas), quando sua voz me chamou atenção.

– Por favor... – ele disse quase em um sussurro – Fala alguma coisa.

Parei. Não me direcionei a ele... se fizesse isso, sabia que não conseguiria me segurar. Não fazia ideia de como minha voz sairia, me esforcei, mesmo assim, para normaliza-la:

– B-boa noite.

Ele suspirou.

– Boa noite, Jowlly. – Respondeu e com isso, deu partida no carro e foi embora.

Corri para o meu quarto, não dei nem o trabalho de fechar a porta. Quem viria me incomodar? Meus pais? Minhas amigas? Não. Estava sozinha. Pela primeira vez, me sentia totalmente sozinha, pois quando Nathaniel foi embora, ele levou um pedaço de mim consigo também...

Chorei o resto da noite até cair no sono. Acordei no dia seguinte com o travesseiro empapado de lágrimas e com uma dor de cabeça gritante.

Peguei meu celular e olhei o horário. Eram duas da tarde. Eu fui dormir que horas? Tinha inúmeras mensagens da Bri e da Tainala, pedindo uma explicação. Outras dos meus pais e até mesmo uma do Castiel, dizendo que estava com meu baixo, já que eu o havia esquecido ontem à noite.

Finalmente me levantei da cama, meio preguiçosa. Drika entrou no meu quarto e pulou na minha cama, se aconchegando no meu colo. Levantei-me sem dar importância.

Lavei o rosto, botei o congelado no microondas para que eu pudesse almoçar e fui até a casa do meu vizinho. Felizmente, não precisei esperar muito para que fosse atendida.

Ao abrir a porta, o ruivo soltou um risinho.

– Que é? – minha voz estava rouca, odiava falar logo depois que acordava.

– Você esta com a mesma roupa de ontem. A noite foi tão boa assim ou você esqueceu que existe algo chamado pijama? – sua voz também estava rouca e seu bafo cheirava a uma mistura de cigarro com álcool.

– Tem certeza que é menor de idade? – dei de ombros para o comentário dele.

– Ta com carinha de acabada, hein? – revirei os olhos.

– Cadê meu baixo?

– Palavra mágica?

– Pegue meu baixo, porque eu não estou com um bom humor para te aturar, Castiel. Entendeu? – minha cabeça ainda latejava. O ruivo revirou os olhos e adentrou seu apartamento, enquanto eu esperava na porta.

Era parecido comigo. Ambos os lugares costumavam a ser bagunçados e a disposição dos cômodos e móveis eram mais ou menos a mesma, a diferença é que o meu não estava tão ruim atualmente.

Ele pegou meu instrumento encostado na parede e me entregou.

– Grossa – murmurou.

– Obrigada, estúpido. – retruquei.

Ele fechou a porta na minha cara e eu voltei para a minha casa. Sim, essa era a básica relação entre eu e o Castiel, mas não é como se nós fossemos inimigos mortais, esse era só nosso jeito de demonstrar nosso “carinho” que temos um pelo outro.

Comi aquele treco industrializado e me joguei no sofá. O celular tocou e eu só não deixei de atender porque me irrito facilmente com o barulho.

– Alô? – perguntei.

– Oie! – Era a voz de Kentin.

– Oi. – respondi seca.

– Seu ânimo ta uma bosta recentemente. – mesmo não o vendo, podia jurar que ele suspirou forte.

– Também te amo. – ignorei.

– Quero te contar uma coisa. Posso ir aí hoje a noite?

– Hm... pode.

– Ok. Tchau.

– Até.

Perguntei para mim mesma se ele conhecia mensagem ou coisa parecida. Como já estava com o celular em minhas mãos, decide responder os inúmeros torpedos que lá se encontravam.

Falei com meus pais, dizendo que estava tudo bem comigo. Era uma mentira, talvez, mas eles não precisavam saber muita coisa sobre o assunto... eu parei de conversar realmente com eles quando tinha mais ou menos dez anos...

Convidei minhas amigas para virem para minha casa, não demorou muito menos que alguns minutos para que elas chegassem, querendo saber de cada detalhe. Acontece que eu não curto muito detalhes.

– Ele não vai mais voltar. Ontem foi a última vez que eu o vi. – Falei as duas frases de modo que devia ter dado para entender que era o final, mas elas ficaram me olhando na expectativa de eu falar mais coisa.

– E...? – Brittinei perguntou.

– E o que? – estava indiferente, cansada, arrasada.

– Por que essa carinha de quem chorou a noite inteira? – Tainala completou.

– Porque eu chorei a noite inteira...

– Hm. – as duas disseram em uníssono.

– Você tem que desencanar.

– Você tem que dizer a verdade.

– Eu tenho que arranjar um jeito de sofrer menos nesse lance de amor.

– Concordo. – elas disseram em coro novamente.

– Mas o que aconteceu? Tipo, em detalhes, agora. – Brittinei continuava curiosa.

– Ué... aconteceu que ele me chamou para conversar na praça e eu não estava preparada para o que ia acontecer. Daí ele disse que não me veria mais e que moraria na Inglaterra para tipo, sempre, e eu paralisei. Ele resolveu se despedir de mim e falou que ficaria com saudades de sua melhor amiga, então me deixou em casa. E eu chorei.

– Você tem muito azar. – Brititinei falou.

– Obrigada, capitã óbvia – segurei o riso, o primeiro em algum bocado de tempo.

– Ele vai embora sem saber como você se sente! – a loira amarrou seu cabelo em um coque frouxo.

– Ainda bem, se soubesse, seria ainda pior. Iria embora sem ser meu amigo.

– Vocês tem que parar com isso! – dessa vez foi a ruiva de olhos verdes que bradou – Ainda tem a vida inteira pela frente e vai sofrer agora? Ah, guarde suas lágrimas para algo mais importante.

Dei um risinho. Fácil para ela dizer já que nunca sentiu o mesmo.

Depois de muito papo vem e muito papo vai, ambas saíram de minha casa, me desejando melhoras. A verdade é que realmente me ajudaram, me ajudaram a ver que agora era partir para a próxima... Mas como? Me pergunto.

Aliás, ele só vai embora daqui seis dias... não que eu vá ver em algum, mas é com se ele estivesse tão perto de mim... e ao mesmo tempo tão... longe.

Meia hora depois Kentin chegou. Ele me abraçou forte, como costuma fazer e já foi entrando abrindo minha geladeira.

– Tem alguma coisa gostosa? – xeretou.

Eu ri da ousadia do garoto.

– Eu. Serve? – rimos juntos. Só que não.

Estava tentando parecer um pouco mais animada do que realmente estava.

– E aí? – mudei de assunto enquanto ele pegava o pote de sorvete – Qual o assunto que você queria me falar?

– Ah... sobre isso. É tipo um conselho... – sua expressão mudou para uma mais séria. Ele colocou os sorvetes em dois pirex e me deu um, fomos sentar no sofá.

– Olha, sobre isso... eu não quero que você fique brava comigo por não ter lhe contado antes, mas eu também nem descobri faz assim tanto tempo...

Fiquei quieta, apenas fiz um sinal para que ele prosseguisse.

– Eu... – parecia que estava meio relutante em me dizer, mas suspirou uma vez e completou a frase. – Eu sou gay.

Minha boca fez um perfeito formato de “o”, por um momento fiquei sem saber como reagir, mas então eu o abracei:

– Que... que incrível!

Ele começou a rir.

– Mas não é só...

Ouvi atenta.

– Eu estou apaixonado pelo Alexy e acho que ele também gosta de mim, quero pedi-lo em namoro. Vale a pena?

Meu coração bateu ainda mais forte. Eu realmente sabia que o Alexy gostava do Kentin, por causa do jogo de ontem a noite, só não fazia ideia que o outro o correspondia.

– Vai fundo! – falei sem pensar duas vezes – Eu apoio vocês totalmente! O Alexy gosta realmente de você, vão ficar lindos juntos! Faça isso ser especial! Oownnn, que lindos! – explodi de felicidade, já os imaginando juntos.

Olhei para o moreno, ele sorriu e ficou meio vermelhinho.

– Fico feliz que concorde!

Conversamos mais um bom bocado sobre o Alexy e ele, eu dei várias ideias para o Kentin de como começar o relacionamento e etc., mesmo que eu não tivesse muita experiência pessoal, já assistira filmes de romance suficiente para entender como funciona...

Ele só foi depois da sua mãe ligar para o próprio perguntando onde estava e por que estava demorando tanto. Despedimos-nos e eu voltei a ficar e me sentir sozinha.

Legal... agora até mesmo Alexy tinha seu amor correspondido por Kentin, que eu descobri hoje mesmo que ele também era gay.

Até os dois iriam começar um relacionamento, e eu tinha certeza que isso daria super certo, já eu, estou embolada com algo que só me faz mal.

Deitei na minha cama depois de assistir alguns animes. O que eu faria agora? Com que minha mente ocuparia seu tempo, se nem perto para criar novas boas memórias ele estava. Isso... doía. Muito.

Comecei a pensar em nós dois... desde o começo.

Pensei em quando nos conhecemos, com dez anos. Eu havia me apaixonado no mês seguinte. Ele tinha se mudado para minha sala e ficamos super amigos, quando vi, era um buraco negro sem volta... estou gostando dele por seis anos e agora ele simplesmente vai embora.

Foram muitos os momentos que passamos juntos... e separados. Poucas brigas, muitas risadas, muitos olhares bobos. Muita tristeza. Pelo menos, durante os quatro primeiros anos eu podia jurar de pés juntos que ele gostava da Brittinei. Os dois andavam muito juntos, riam juntos, e não era como ele ria comigo, era um olhar diferente...

Eu sentia uma pequena pontada de ciúmes. Mas do que adianta ter ciúmes de algo que nem é seu?

Ele tocava mais nela, ele a pegava no colo, ele a abraçava mais, ele conversava mais com ela, ele sorria mais com ela. E eu apenas observava.

Estava feliz por ele estar feliz, feliz por ter achado alguém que lhe fazia feliz assim como ele me fazia feliz... mas eu também estava com inveja. Inveja de não ser essa tal pessoa especial para ele. Só que a felicidade dele vem em primeiro lugar do que a minha.

Como eu poderia ser feliz sabendo que ele não estava?

Foram com esses pensamentos que eu caí no sono. Tive um pesadelo. O pior de toda a minha vida... eu não queria perde-lo. Eu iria perdê-lo.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Amaram? Odiaram?
O que acharam das revelações desse capítulo?!
Nath vai mesmo embora para sempre ou é só um engano?
A fic já está chegando na reta final, terá 15 cap.s mais o epílogo, então agradeço a todos que estão acompanhando e gostando!

Beijão, até sexta!