Biografia de Alguém escrita por Madu Loescher


Capítulo 17
Capítulo 17




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Entre animada, desesperada e louca, me debruço na janela, tentando captar tudo. Os muros que separam o colégio do retiro dos artistas estão um pouco sujos, e têm um tom de cinza um pouco mais claro que o dos paralelepípedos sobre os quais os pneus dos carros dirigem. O caminho é uma ladeira. O ônibus passa por uma rotatória e para em frente ao prédio que deduzo ser o principal.

– Nós estudamos no último andar, mas você não está na minha turma. Nem Diego. Do grupo todo, você ficou com a Isabel. Tenho certeza que vocês vão se dar bem. Vamos, eu te mostro o caminho.

– Pode me mostrar onde é o banheiro primeiro?

– Nossa! Desculpa! Esqueci. Vamos!

Descemos do ônibus e Louise chama duas outras garotas. Isis e Isabel. Louise vem conosco ao banheiro/vestiário. Esse colégio é enorme!

Dentro do vestiário, troco de roupa e me apresento para as garotas. Isis é, como comentou Louise, desesperada pelo 1D, mas não foi tão difícil falar com ela. Quer dizer, é melhor não comentar musica com ela, mas fora isso…

Ela é ainda mais baixa que Louise ou Isabel. Mas é muito difícil ser mais alta que Isabel. Ela tem 1,70m de altura, rosto anguloso e cabelos castanhos ondulados.

Já Isis, pelo que noto, é a mais baixa do grupo. Olhos verdes, pele morena e o aparelho são extremamente marcantes em sua aparência. Diria que, a primeira vista, é um pouco antipática. Ela é quase o oposto de Isabel.

Vamos todas juntas à sala de aula, onde Louise nos deixa para juntar-se ao resto de seu grupo de amigas, em sua turma. Isabel me entrega a chave do armário, que fica no corredor. Não me surpreendo quando o vejo com todo meu material dentro. Pego uma pilha de livros e cadernos e entro em sala.

Quase todas as cadeiras já estão ocupadas, então sento em uma das poucas livres: no fundo da sala, encostada na parede. Em frente a mim, um garoto alto, uma garota, Isis e então uma cadeira vazia. Depois a mesa do professor. As cadeiras estão muito grudadas umas nas outras, e sinto-me como uma criança perdida em uma multidão. Sento-me, escondo meu rosto sob o capuz do casaco do colégio – também o peguei emprestado com Louise no banheiro – e abro meu livro. Estou relendo As crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis. Bianca costumava lê-lo para mim, e sua leitura é como um relaxamento instantâneo. Sinto-me automaticamente em paz, embora uma lágrima escorra por minhas bochechas, sumindo no queixo. Esfrego os olhos, para garantir que não viria mais nenhuma de onde veio à primeira. Surpreendentemente, nenhuma segue a iniciativa da primeira, e fico presa entre o nada e o lugar nenhum até que a voz um tanto incomum para um homem praticamente grita:

– Anda logo! Vai para o inglês!

– Já estou indo Rodrigo! Eu hein! – rebate uma garota com pele morena e dentes brancos em estilo Colgate. Ela caminha com leveza, embora rebole como uma modelo na passarela. Sigo-a, com o material de inglês na mão e o capuz sobre o rosto.

***

A aula de inglês não foi tão impressionante assim. A matéria está muito atrasada em relação ao me colégio antigo, mas a didática era perceptivelmente melhor. Enquanto os alunos fazem exercícios, eu realizo uma prova de admissão para saber se eu fico no grupo com os melhores ou os piores alunos de inglês. Acho que minha nota vai ser relativamente boa nesse teste.

Depois tivemos matemática, história, geografia e recreio. Durante o Recreio, eu e Diego exploramos o colégio. Em alguns lugares não era permitido ir, e os corredores das salas de aula ficam fechados durante o recreio, mas fora isso foi uma caminhada e tanto. Juro que o colégio me impressiona. Eles têm até um bosque dentro do colégio!

Voltamos as nossas respectivas salas para mais três aulas: Redação, História e Matemática novamente. No fim do dia letivo, passamos em um ponto de ônibus e voltamos para casa.

***

Chegando a casa, Diego (que teve aula de Educação Física e estava demasiado suado) toma um banho enquanto eu faço o almoço. Hoje tive que caprichar mais na comida, porque Melissa viria para almoçar conosco, (Acho que viria perguntar sobre o colégio e tudo o mais) então faço macarrão com molho branco e carne. Não é nenhum prato chiquérrimo, mas não pode estar tão ruim assim.

Diego desce as escadas com cabelo e rosto molhados, shorts de surf e uma camisa do Green Day. “O gosto musical dele esta mudando” penso. Ele pega os pratos e diz que assume a comida e a mesa, para eu tomar um banho também. Automaticamente cheiro debaixo do braço e entendo porque ele quer que eu tome um banho. Um sorriso brota em meus lábios, mesmo que eu devesse estar preocupada com o desodorante, e subo as escadas.

***

A água escorre por meu rosto, mesmo eu já estando vestida. Esfrego a toalha pelo cabelo mais uma vez, fazendo com que a água pare de pingar e, ao mesmo tempo, bagunçando-os. Quando considero a ideia de penteá-lo, meu celular começa a tocar Basket Case, meu toque padrão. Sem verificar a fonte da chamada, atendo. Um grito animado e carregado de sotaque diz “oi” do outro lado da linha. Mesmo só a tendo conhecido hoje, reconheço a voz de Louise.

– Oi Louise. Tudo bem?

– Tudo! E você?! – as muitas vozes no fundo confundem-me, e dificultão o discernimento das palavras, embora ainda consiga ouvi-la.

– Estou bem. O que houve?

– Você não voltou de ônibus. Liguei para saber se estava tudo bem com a minha ruivinha favorita!

– Quantas ruivas você conhece?

– Você. Mas está tudo bem? – seu tom de voz fica ligeiramente mais sério nesse ponto.

– Sim, tudo. Peguei um ônibus público para chegar a casa.

– Ah! Entendi. Você pode vir aqui no Starbucks? Meus amigos fotógrafos estão aqui. Vamos para um shoot agora, e eu sempre quis tirar foto com uma modelo ruiva!

– Louise, eu não sou modelo! Além do mais, acabei de fazer o almoço. Fica para depois?

– Onde você mora? Espera eu lembro. Tenho certeza. É perto da cultura, não? Uma casa?

– É. Você não vem aqui, não?

– fica tranquila. Só vou aí depois do shoot que é aqui no Starbucks. Me liga quando tiver terminado o almoço, Okay?

– Okay. Tchau.

– Beijão pra minha modelo ruiva!

A ligação acaba e me pergunto como ela pode ser tão animada o tempo todo. Acho que não terei a resposta tão cedo.


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