A Escuridão II. escrita por Novaes


Capítulo 35
»...death leaves a heartache no one can heal; love leaves a memory no one can steal...«




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P.O.V Charlotte

Ninguém comentou mais sobre nada, Violet me perguntou e eu contei sobre o acontecido, faz apenas 1 dia desde que eu e Elena queimamos a casa, nada foi dito entre nós desde então. Elena saia do quarto, comia e depois quando queria ela saia para a rua e voltava tarde, eu fiquei trancada no quarto esses dias, Damon ainda estava por perto, não sei dizer se isso é para bom ou para ruim, mas ele estava lá, eu não iria o expulsar, ao menos não agora. Hoje, eu decidi que iria respirar o ar, então, me levantei daquela cama, tomei meu banho e me arrumei. Quando eu desci as escadas, estavam Tate e Violet de um lado e Damon numa poltrona qualquer com um Whisky na mão, eles conversavam e riam, mas quando perceberam que eu estava lá, eles mudaram as expressões, estavam preocupados e chocados, eles não me viam por um dia, meio estranho aquilo mas tudo bem.

– Eu irei sair – Falei determinada.

– Sair? Mas para onde? – Violet perguntou preocupada. Damon se levantou.

– Respirar, tomar um ar – Eu respondi.

– Mas, você quer que eu vá com você? – Damon perguntou apressado.

– Não, eu não sou aleijada, eu só perdi meu irmão, parem de me tratar como um bebê – Eu retruquei. – Eu estou me sentindo bem, preciso de um ar – Eu falei, depois de muita briga, eles concordaram e eu saí, era estranho sair na rua de novo, mas eu me decidi, iria sair, sem questionar, eu precisava seguir em frente.

Fui para um parque que tinha perto, lá era calmo, tinha muitas crianças gritando e brincando mas ainda era calmo, me sentei num banco e fiquei observando. Tinha um lago na frente também mas, era um parque normal.

De repente, senti alguém sentando do meu lado, mas era um banco, público, então não olhei para ver quem era, então, acho que começaram a falar.

– Sabe, eu vinha aqui todos os dias, mas... Nunca percebi que tinha um lago aqui – Um senhor de meia idade comentou olhando para frente, olhei para o rosto dele e então vi que ele estava prestando atenção no movimento, no lago.

– Às vezes não percebemos as coisas – Falei. Ele deu de ombros.

– Vai se saber – Ele falou e gargalhou do nada. Fiquei calada. Observamos a paisagem juntos.- Sabe, eu vejo que você... Tem muita dor aí dentro.

– É, eu perdi muito ultimamente, muitas pessoas, eu digo – Falei.

– Nós todos perdemos – Ele falou.

– É, mas minha vida parece um... Funeral inacabado, de qualquer forma, olhe para mim, acho que estou ficando maluca, eu nunca falaria para ninguém isso mas acho que eu não aguento mais ficar apenas calada, mas, de qualquer forma, ninguém entenderia – Eu falei.

– Experimente! – Ele me desafiou.

– Ok, se você insiste – Eu falei respirando fundo, eu nem sabia se aquilo era a coisa certa ou não a fazer, mas eu iria fazer de qualquer maneira. – Quando eu era pequena, meu pai era um homem bastante violento e ele batia em mim, na minha mãe, e eu tinha dois irmãos, num certo dia, ele enlouqueceu de vez, eu tinha duas pessoas para cuidar, para proteger e eu não sabia o que fazer porque não podia deixar minha mãe sozinha, então, mandei os dois fugirem e eu vi meu pai matando a minha mãe, foi a coisa mais difícil desde então, depois meu namorado Mike, morreu, eu pensei, nossa, eu acho que agora já deu, já chega de mortes na minha vida, mas quando fui procurar minha prima, que é tipo minha irmã, e sua família que me acolheram muito na vida, descobrir que eles estavam apenas... Mortos, aí, minha melhor amiga morreu porque meu pai simplesmente não pode me amar, não pode nem me deixar viver, ele a matou, na minha frente, eu vi aquilo, eu não consegui correr, eu só consegui assistir, eu fui egoísta, eu fiz escolhas ruins, mas nenhuma dessas pessoas mereciam isso, muito menos eu, pois, a gente recebe o que dá não é? Eu dei amor e ele me maltratou. Mas, ele não podia fazer isso com essas pessoas, ai meus irmãos voltaram, eu fiquei feliz, eu estava completa, mas aí, ele os caçou e matou meu irmão, então, minha irmã incendiou a antiga casa da gente junto com meu irmão morto dentro, nada mais me fará esquecer, eu não consigo parar de pensar sobre o assunto, você acha isso normal? Você acha que alguém possa aguentar isso? A dor é insuportável porque eu não tenho mais ninguém – Eu falei contando a verdade, também não acho que ele entenderia.

– Mas, e sua irmã? Ela sobreviveu? – Ele me perguntou.

– Sim, ela está viva – Eu respondi.

– Então, por que as duas não estão se consolando? – Ele perguntou o óbvio.

– Porque, Senhor, ela me odeia – Eu respondi meia triste.

– Oh, ela não deve lhe odiar, ela deve apenas não estar acostumada com a perda, e ao meu ver, parece que ela perdeu a pessoa mais importante da vida dela – Ele falou pensativo.

– É verdade, mas ela falou coisas más para mim! Coisas que eu não esperava ouvir dela – Eu comentei.

– Coisas, como? –Ele me perguntou.

– Como... Ela disse que foi apenas tudo minha culpa, que eu era culpada de tantas perdas – Eu respondi.

– E o que você acha? – Ele me perguntou.

– Eu acho que sim, Senhor, eu sou culpada de tudo isso – Eu respondi contando a verdade.

– E por que acha isso? – Ele me perguntou.

– Porque... Eu deveria ter sido posta nessa situação e não eles – Eu respondi de novo.

– E por que seu pai não lhe matou ao invés de tantas matanças sem razões? – Ele me perguntou mais uma vez curioso.

– Porque ele não pode, Senhor, ninguém pode – Eu falei. Ele me olhou um tanto confuso. – Não espere me entende de cara, sou um enigma – Falei e ele riu brevemente.

– Posso ver isso – Ele respondeu.

– Eu apenas estou... Cansada – Falei quebrando o silencio.

– Somos dois então, garotinha – Ele falou, eu ri daquilo. – Por que está rindo? Falei algo errado? – Ele me perguntou curioso.

– Não é que, faz um longo tempo que não me chamam de garotinha, acho que só uma pessoa me chamava de garotinha na vida – Falei pensativa lembrando daquele amigo de mamãe, ele era tão carinhoso comigo.

– E quem era? – Ele me perguntou. – Onde ele está?

– Um amigo, um velho amigo meu. Eu não sei, não o vejo desde pequena, já se fazem, muitos anos – Eu falei. Ele deu de ombros.

– Quem sabe ele volte, ele parece importante para você – Ele falou.

– E é, ao menos para mim, mas não acho que ele iria voltar – Falei.

– Quer saber um segredo? – Ele me perguntou, eu afirmei com a cabeça.

– Claro – Respondi.

– A dor do luto, é a pior coisa que podemos sentir, dói e é uma dor inexplicável, nem eu consegui ainda desvendar esse enigma da morte, do outro lado, ou da dor, mas eu lhe digo uma coisa garotinha, isso não vai passar... De modo algum, a dor não passa, mas o tempo minha filha, o tempo é essencial na sua vida, só ele irá melhorar a dor mas você vai ter que viver com ela, para sempre. Não quero assustar você, mas esse velho aqui já teve muitas perdas na vida, lhe aconselho, aqui é meu segredo... Deixa a vida levar, esqueça um pouco disso porque você é a única que pode fazer melhorar essa dor ai dentro de você, você não pode ir, apenas tem que conviver –Ele falou, e naquele momento, pode parecer uma merda de clichê, que assim seja, mas... Ele tem razão, eu preciso ajudar Elena, eu preciso nos ajudar, ser forte por nós, ela precisa de mim, mais do que nunca.

– Obrigada – Eu falei me levantando. – É um homem muito sábio – Eu falei olhando para ele, então, ele me abraçou, eu não era o tipo de louca que saia abraçando velhinhos por aí, mas esse aqui eu abraçarei pois ele me ajudou a perceber algo que eu não estava enxergando.

– Tem muitas coisas que eu sei, Charlotte – Ele falou, fiquei confusa, não lembro de qualquer momento dessa conversa de nós termos tido uma apresentação formal, eu nunca citei meu nome.

– Como sabe meu nome? – Perguntei.

– Eu sei de muitas coisas, como já disse – Ele falou, eu ri daquilo.

– Preciso ir, mas muito obrigada mesmo – Falei sincera.

– Sempre que precisar – Ele falou.

– Mas qual é seu nome? – Eu perguntei antes de ir embora.

– James, meu nome é James – Ele respondeu.

– Nesse caso, muito obrigada e foi um prazer te conhecer nesse parque, James – Falei saindo e indo andando para casa.

Chegando em casa, o que não demorou, todos ainda estavam no mesmo lugar, falei com eles e subi para o quarto de Elena, ela estava se arrumando com um Whisky na mão. E um papel também.

– Podemos conversar? – Perguntei, ela se virou para mim, seus olhos marejados de lágrimas, seu rosto inchado e vermelho, ela estava exausta.

– A policia foi atrás de mim hoje – Ela falou.

– O que aconteceu? – Perguntei preocupada.

– Descobriram que Jeremy morreu, provavelmente queimado, vieram dar seus pêsames – Ela falou irônica. – Dá para acreditar nisso? – Ela perguntou.

– Eu sinto muito – Eu falei, fechando os olhos por alguns segundos.

– De qualquer forma, eles aconselharam em eu fazer um pequeno funeral para ele – Ela falou. – Vou me arrumar, pois vou enterrar o meu irmão – Ela falou.

– Elena, o que está falando? Ele morreu queimado. Quem te deu essa ideia? – Eu perguntei irritada, não queria que ela sofresse mais.

– Eu sei! Eu sei! - Ela gritou histérica. – Mas eu quero dar a ele algo, eu quero dizer adeus! – Ela gritou e jogou o Whisky no chão, onde quebrou o vidro.

– Eu vou me arrumar, se quiser ir, faça o mesmo – Ela falou e saiu me deixando chocada, olhei para cima e vi a foto dela com Jeremy.

Fiquei de repente triste novamente, todo aquele sentimento voltou e não era algo bom, na verdade, aquilo estava me matando. A morte deixa uma mágoa que ninguém pode curar, o amor deixa uma memória ninguém pode roubar.


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Notas finais do capítulo

amo tanto vocês!



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