Stohess

O começo de tarde é marcado pelo leve encobrimento do Sol por nuvens baixas e largas bem acinzentadas. Em poucos minutos uma rala chuva começou a cair.

Muitas pessoas gritam desesperadas para atravessarem o portão. Ignorantes passam a frente de crianças acompanhadas por suas mães, e de fracos senhores e senhoras que lutam pela vida que ainda lhe restam. A Polícia Militar já não tem a mesma força para impedir a incansável multidão.

Uma pequena parte dos habitantes havia decidido permanecer em casa, já desistindo de tudo aquilo, aceitando a morte.

Enquanto a dor e o sufoco concentram-se na passagem pela Muralha Sina, ao redor de Stohess, sobre os escombros da antiga parede, saindo das cinzas os titãs surgiram causando mais desespero na população. A quantidade ainda não é bem definida. O curioso é que nenhum dos titãs se movia e todos permanecem com seus olhos fechados.

Pela primeira vez as pessoas presenciavam a imagem do que é estarem presas pelos titãs, vivendo confinadas a esse medo.

Erwin e o seu grupo já estão bem próximos do Distrito e a imagem vista a alguns metros os surpreendem, sem exceção. Erwin que mantinha sua dúvida sobre o atentado agora via a verdade diante seus olhos. Como estão em pouco número eles tem de evitar o confronto com final previsível.

“Aquele homem estava certo, mas porque fazer isso? O que ele ganha com isso?” – pensa enquanto cavalga até a região abalada.

– Você. – se virou para trás e apontou para o soldado mais distante de si –Preciso que volte a Karanese e passe as informações que te direi para Rivaille.

A Tropa Estacionária da Muralha Sina começa a chegar à cima da Muralha Sina no portão de ligação, antes, com o Distrito de Stohess. O grande número de soldados olha com espanto para a enorme parede de titãs formada em torno do Distrito. Seus corações se apertam e seus corpos gelam.

Lugar desconhecido. Próximo a Karanese.

A pequena floresta é bem escura, as copas das árvores impedem qualquer tipo de entrada luminosa, as laterais são as únicas iluminadas apenas pela claridade que emana ao seu redor. O seu centro é como a noite, senão fosse por uma pequena fogueira quase em seu fim que ilumina com dificuldade o local, pelo menos três pessoas são distinguidas ao seu redor. Hanji se aproxima do centro da floresta montada em seu cavalo.

– O que acha que ela está fazendo lá Chefe? – disse um dos homens ao redor do fogo.

– Ela deve ter ido nos desmascarar para os babacas da tropa de exploração. – disse ranzinza o outro homem – Chefe, o Senhor foi muito idiota para confiar nela.

– Vocês provocam o Velho só porque ele já está no seu fim. – o terceiro homem – Não finjam que não sabem o porquê dele confiar nela, afinal sendo fi..

– Olivier. – chama a atenção do último a falar – Você não precisa repetir o que venho dizendo há semanas.

*Barulho de galope*

– Ela chegou. – disse o velho saindo da escuridão e se mostrando pela luz do fogo – Zoe!

Hanji passa pelo último arbusto que dá acesso ao esconderijo. Faz um círculo com seu cavalo até parar um pouco perto da fogueira, assim que o cavalo parou ela desceu.

– Até quando você pretende ficar nessa escuridão? Sabe que isso faz mal para o Senhor. – disse preocupada caminhando até o Senhor.

*riso fraco* - Não se preocupe Querida. – um leve sorriso é visto – Eu estou bem.

Em ordem o velho disse o nome de todos.

– Adrian, Martim, Olivier e Hanji. Quero que vocês chamem o restante do pessoal para se preparem para o maior acontecimento que a humanidade já viu. Adrian e Hanji o grupo ao Norte espera vocês, Martin e Olivier o do Sul. Tenham cuidado.

– Tem certeza que vai ficar bem? – Hanji segura à mão do homem – Eu posso ficar aqui com o Senhor, quem sabe discutirmos os últimos acertos e talvez...

– Não tente convence-lo de novo Hanji. – disse Olivier sério – Você sabe que ele não irá mudar de opinião.

– Querida. – o homem chama a atenção da garota – Eu sei que você se importa com essas pessoas, mas tente pensar que tudo isso irá acabar com a liberdade das criaturas que amamos e também dessas pessoas que você ama. O tal de Eren, o garoto que você disse que deseja conhecer o além depois das Muralhas pense que o desejo desse pobre garoto será possível. – sorri – Agora vocês precisam avisar os outros para se preparem.

“É nisso que penso todo dia.” – Tudo bem. – retribui o sorriso.

– Podem ir.

O fogo apagou-se com a água que Martim jogou. Assim todos subiram em seus cavalos e foram para seus destinos. O Velho permaneceu na escura floresta junto aos seus pensamentos para o inicio do próximo dia.

Caminho

Hanji segue cautelosa pela região, apesar de saber que naquele momento ninguém da Tropa poderia estar por ali por conta da queda de Stohess.

Adrian é um jovem homem, ele é bem inofensivo e, algumas vezes, chega a ser bem idiota. Hanji se sente confortável estando ao lado dele, era o único amigo que tinha feito. Ele conseguia facilmente alegra-la, além de ser um biólogo nato.

Os dois cavalgam no mesmo ritmo, lado a lado. O silêncio e concentração de Hanji são quebrados pela rotineira curiosidade de Adrian.

– Você não parece confortável com esse plano... Acha que ele irá dar certo? – olha pra Hanji.

– Ninguém daqui vai ser capaz de impedir. Só que esse plano não está bem esclarecido. – continua olhando o caminho a sua frente.

– Porque diz isso? – confuso – Você mesma concordou que tudo estava certo.

– E está. O problema é que não sabemos se quando eles acordarem a cristalização vai permanecer para mantê-los a salvos.

– Com certeza vai! Os pesquisadores mostraram que eles e o humano são os únicos a desfazerem, o corpo do titã não consegue absorver aquele componente. E se os pesquisadores estivem errados sobre a cristalização essas Muralhas já teriam caído há muito tempo. E também não se lembra dos testes sobre como desfazer o cristal? Eles mostraram.

– Mas todos aqueles testes foram feitos com humanos retirados recentemente dos titãs.

– Recentes? – surpreso – Todos aqueles titãs daquela sala são os primeiros projetos da Muralha, são antigos e você ouviu das próprias cobaias que elas estavam ali há muitos anos, saiam até honradas por terem participado desses testes. Na época isso era tão certo... – sussurrou a última frase.

– Você não vai conseguir ler agora. – Hanji estica seu braço para a bolsa marrom que seu cavalo carrega e retira algumas folhas escritas – Esses papéis estavam dentro daquela sala e tem o nome de todos os participantes junto à data. Pode ver que todos os que foram retirados são recentes. – para o animal junto com Adrian e o entrega.

– Aonde quer chegar com isso? – pegou os papéis, confuso.

– Existe a chance de que uma das informações que os titãs conseguem absorver do corpo humano seja desfazer a cristalização. Se eles aprenderam isso, significa que não existe mais humano, pensamento ou corpo, agindo sobre ele, apenas a gigante forma humanoide. – olha para Adrian que está perplexo – Apesar dos titãs serem irracionais o desejo pela caça existe como em qualquer outro animal, como estão presos há muito tempo esse desejo está muito maior... Me diga se você já visitou o subsolo para saber o que acontece lá?

– Não. Eu sempre quis ir, mas nunca fui permitido. Só os principais pesquisadores são autorizados assim como o Senhor Hajime... – o garoto desvia seu olhar para o vasto campo - Hanji por que você diz isso como se já tivesse acontecido?

– O titã que falei para você, o que foi encontrado dentro da Muralha durante a batalha entre Annie e Eren, ele está vivo. Eu vi os olhos dele abertos. Eles têm o que, 25 a 50 metros? Se todos estiverem acordados ninguém será capaz de mata-los. – diz séria – Agora se eles sabem ou pelo menos imaginam que nenhum humano está lá, então porque querem liberta-los?

O garoto escutava tudo o que Hanji dizia enquanto lia os nomes escritos nas folhas, ficou um pouco confuso com tudo o que estava acontecendo e acabou concordando que a possibilidade de acontecer o que Hanji previa era a mesma que o contrário.

– Adrian se os pesquisadores sabem como os titãs podem estar é porque eles não querem salvar os humanos. Você vive há mais tempo lá fora, qual é o motivo para libertar esses titãs?

– Pode acreditar que estou mais surpreso que você. – dá as folhas para Hanji – Se você estiver certa devemos nos preparar para o pior... Droga, Droga, Droga! – começa a cavalgar de novo, só que dessa vez mais rápido.

Um silêncio medonho rodeou pelos dois. O galopeio do cavalo pareceu mais intenso e forte, o ar pareceu mais quente e seco, o vento parou trazendo uma horrenda sensação de calor.

– Estamos mortos. –Adrian diz com medo.