—Ei, di-Lua, vê por onde anda! –Draco Malfoy me encarava por cima do ombro, o rosto inflamado de arrogância enquanto ele se abaixava para apanhar os livros que deixara cair no chão. –Ou será o fato de “enxergar” algo muito normal para Luna Lovegood? –Ele completou, pegando um livreto preto do chão e fazendo uma trupe de sonserinos ao seu redor explodirem em risadas debochadas.

—Perdão, mas foi você que esbarrou em mim. –Falei, a voz falhando um pouco enquanto eu me virava.

—Como se alguém quisesse tocar em você. –Ouvi uma voz aguda e atropelada. Com certeza era Pansy Parkinson. Enquanto me afastava rápido de mais risadas frenéticas, senti um calor inundar minhas bochechas.

Balanço furiosamente a varinha dentro das vestes enquanto passo pelos corredores majestosos de Hogwarts. Vários quadros me cumprimentam, tirando o chapéu e acenando as mãos.

“Aquele comentário foi realmente desnecessário...” –Me apanho pensando quando uma voz me interrompe.

—Luna! Novamente por aqui?

Me viro para encarar um enorme quadro com a moldura dourada. Uma mulher trajando brilhantes vestes amarelo-gema me encarava com os olhos escuros ligeiramente arregalados, os cabelos caindo do coque costumeiro.

—Ah. Olá, Srta. Honeycut. –Cumprimento sorrindo largamente. –É, eu estava indo para a sala de feitiços, mas de repente achei que seria melhor usar o outro caminho. –Dei de ombros. –Não estou com muita pressa.

Ela me olhou com curiosidade por um segundo.

—Oh, não. Fred e Jorge jogaram alguma bomba de bosta lá outra vez, não é? Bem que eu imaginei ter sentido fedor de algo podre. –Ela torceu o nariz arrebitado e eu me apressei em levantar uma mão.

—Não, não é nada disso. Só acho que posso encontrar pessoas mais agradáveis por este caminho. –Indiquei amplamente a minha esquerda. Antes que a Srta. Honeycut falasse algo, sorrio calmamente para ela balançando uma mão. –Te vejo em breve, Srta. Ah, e gostei do estilo novo do coque.

Ando praticamente correndo até uma escadaria de pedra que subia em espiral.

Subo rapidamente as escadas, ficando levemente tonta e respondendo um pouco mais rápido do que o habitual aos cumprimentos dos quadros ao longo da subida. Alguns metros a minha frente, uma cabeça aparentando estar envolta em labaredas corre pelo corredor. Reconheço o cabelo longo e ruivo e me apresso para alcança-la:

—Gina! –Grito levantando as mãos. Ela me encara, os olhos brilhantes levemente alarmados antes de readquirir a calma.

—Ah, Luna. É você. Rápido, tenho algo para te contar. –Ela crava as unhas na manga longa do meu uniforme. –Você nem vai acreditar em quem me convidou para o baile de inverno! –Gina rola os olhos, sonhadora. –Mas eu te conto só quando formos lá fora. Na verdade, onde você estava indo? –Ela ergue as sobrancelhas vermelhas.

Olho para cima enquanto falo:

—Para a sala de feitiços. Mas não era nada realmente muito importante. Eu só queria checar se deixei o folheto: “Hábitos de Estudo para garantir bons N.I.E.M’s (dicas especiais para crianças com dificuldade em Aritmancia)”. Depois eu pego. –Falo quando Gina faz menção de mudar de direção para a sala de feitiços.

Andamos mais alguns metros antes de chegar até o portão da escola, que permite uma visão panorâmica dos belos jardins de Hogwarts. A primeira coisa que me chama a atenção é o lago e sou tomada por uma súbita vontade de acompanhar os movimentos circulares da lula gigante dentro das águas transparentes. Mas está muito frio, o que aumenta as probabilidades de eu pegar Fungo Fuminoso, algo que saiu na última matéria do Pasquim e que papai agora vive comentando. Estou muito absorta para escutar o que Gina conta animadamente, entendendo algumas palavras como “tenho que comprar um vestido...” e “Ele é simplesmente tão maravilhoso”.

—Luna Lovegood! –Alguém chamou em voz realmente alta. Demorei alguns segundos para lembrar que aquilo se referia à mim antes de virar.

Um alto aluno sonserino com cabelos pretos e pele muito branca me olhava com certa surpresa. Percebi depois de meio segundo que segurava um convite prateado e flores amarelas.

—O que é isso? –Pergunto.

O garoto parece envergonhado antes de engolir em seco.

—Um convite para o baile.