Desejo e Reparação escrita por Ella Sussuarana


Capítulo 48
IV - Capítulo 46: Coisas Frágeis pt.1


Notas iniciais do capítulo

Eu gostaria de dedicar esse capítulo especialmente a Vivian R, mas não somente a ela, a todo mundo que está me acompanhando desde o começo e deixando comentários para me motivar a continuar. Espero que vocês gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/523437/chapter/48

Parte IV

{Sobre a loucura, o amor e a guerra}

.

Capítulo 46: Coisas Frágeis

.

Draco deu um passo para trás, abrindo espaço para que ela adentrasse ao seu quarto. Diferente das outras vezes, ela não parecia curiosa nem temerosa do que encontraria dentro dele. Dessa vez, parecia sentir o mesmo que ele – uma inquietante ansiedade.

Atrás dela, vinha caminhando o Bichano, que não se esqueceu de fazer uma pose ameaçadora, com todos os seus dentes pontudos virados na direção de Draco.

– Por que você trouxe essa criatura para cá? Da última vez, ele quase me fez sangrar até a morte!

Hermione revirou os olhos de forma dissimuladamente dramática. Draco engoliu a risada, mas permitiu que ela apreciasse um de seus corriqueiros sorrisos de lado, os quais denunciam apenas sarcasmo e prepotência.

– Eu falo sério quando digo que o jogarei pela janela mais próxima, se ele mijar sobre qualquer um dos meus móveis!

– Claro, Draco – disse Hermione, irônica. Ela tirou a varinha do bolso e se posicionou próxima à janela. – Vamos começar logo, eu não tenho a paciência necessária para suportá-lo a noite inteira.

– Claro, Hermione – disse ele, em tom de deboche. Ele segurou sua varinha e se posicionou em frente a ela, na outra extremidade do quarto.

Ela escondeu o sorriso.

– Vamos começar com o básico, eu tentarei penetrar na sua mente para ter acesso aos seus pensamentos e às suas memórias. Você sabe o feitiço de defesa, certo?

– Quando estiver pronta...

Ela não o permitiu terminar a frase.

Por uma fração de segundos, Draco sentiu-se desnorteado. Havia palavras pesando em sua boca, como se fossem areia a afundar-se em sua garganta. E havia também uma familiar necessidade, que começava no seu membro e se espalhava para todo o seu corpo, corrompendo-o.

O quarto estava escuro, mas ele conseguia enxergar o brilho nos olhos dela e o contorno das suas mãos, que desciam, vagarosamente, em direção à parte de si que mais doía, latejando, a que mais precisava receber um afago atencioso e demorado. Ele estava certo de que implodiria de ansiedade antes que ela o tocasse.

Ela abriu a boca e chupou a extremidade do membro dele. Ele sentiu que havia encontrado o paraíso. Um inferno de paraíso.

Por que ele estava se lembrando disso?

Sabia que era uma memória de sonho, porque a realidade o estava sufocando.

Ele tentou ver para além da lembrança, mas não conseguia desviar os olhos daquela cena. Ela o estava tocando, explorando-o, experimentando do seu gosto. Ele poderia dissolver-se na boca dela; de fato era esta a sua intenção, quando agarrou os cabelos dela e passou a ditar sua velocidade. Os dentes dela o arranhavam e a sua língua o envolvia de forma sensual. Ele não poderia aguentar essa tortura por muito tempo.

Subitamente, foi cegado pela luminosidade que brilhava forte, vinda de todos os lados. Tampou os olhos com as mãos e esperou escutar o barulho da explosão de mil sóis e ser consumido pelo fogo, contudo o recinto estava silencioso. Não completamente. Se prestasse atenção, poderia escutar o fogo estalando na lareira e o miado sonolento de um gato.

Quando finalmente conseguiu engolir, percebeu que salivava em excesso. Teve um medo muito bobo de que o seu queixo estivesse sujo de baba, por isso o esfregou com as mãos.

– Você deveria ter se defendido – disse Hermione.

Ela precisou gritar para se escutar acima da sua respiração. Apesar disso, Draco escutou-a sussurrar em seu ouvido, quase como uma provocação.

Ele abriu os olhos, piscando freneticamente até que a vista se ajustasse à claridade. Ao contrário do que seria de se esperar, ao ver Hermione corada, ele não tinha nenhum resquício de humor para debochar dela.

Pela primeira vez na vida, ele sentia-se envergonhado a ponto de querer cavar um buraco no chão e, nele, se enterrar.

– Dessa vez, realmente esteja preparado antes de começarmos – falou Hermione. Ela deu mais um passo para trás e bateu as costas na janela, sentiu o ar frio envolver seu pescoço quase que como uma mão a enforcá-la. Precisou respirar devagar, várias vezes, até que conseguisse normalizar sua respiração. – Está pronto?

– Sim – mentiu ele.

Ele ainda estava trêmulo, nervoso, envergonhado e irado. Aquela lembrança era tão particular, e havia ainda outras que ele gostaria muito de manter em segredo eterno. Se ela as visse... Oh, teria que matá-la ou matar-se, pois... Não conseguiu completar a sua linha de pensamento, porque ela já estava novamente invadindo a sua mente. Dessa vez, a memória não era sobre ela, esta era pertencente a um passado distante, quando ele costumava ser um menininho que gostava de correr através do quintal da sua casa, apesar de seus pais o reprimirem constantemente por isso.

Aliás, nesta memória, ele estava correndo não pelo quintal, entre as roseiras da mãe, mas pelo corredor. Ele tinha seis anos e gostava de descer as escadas pulando dois degraus de cada vez. Quando virou no corredor, mirando a porta do salão de jogos, os seus passos tornaram-se mais lentos e, então, hesitantes. A porta estava fechada, o que significava que os amigos assustadores do seu pai estavam presentes para mais uma longa tarde na mansão da família Malfoy. Draco os conhecia de vista e isso já era o bastante para saber que não os queria por perto da sua casa, apesar de seu pai o garantir que aquelas eram as pessoas mais sensatas do mundo bruxo atualmente. Draco não entendia o que o seu pai queria dizer com isso, ele nem sequer estava certo do que “sensato” significava.

A porta abriu e revelou duas pessoas que pareciam estar se despedindo. Uma delas era a sua mãe, a outra era Célia.

De todos os amigos do pai, de quem menos gostava era Célia. Ela era uma mulher de aparência jovem e muito bela, sempre vestida com luxuosos vestidos de seda brilhosos e com seus cabelos amarrados num penteado que somente realçava seu ar imperioso. As suas joias eram de safira, rubi e ouro, e elas eram tão opulentas e pomposas quanto a dona.

Contudo, não era isso que o pequeno Draco notava. O que ele via era o olhar frio dela tentando penetrar-lhe a alma para corroê-la com o seu veneno. Ele via também o ódio que ela sempre parecia carregar consigo ao visitar a mansão e o orgulho exacerbado de quem destruiria o mundo antes de submeter-se a ajoelhar e pedir perdão pelo seu erro.

Ela era terrível, e ele era o único que via isso.

– Saía da minha mente – gritou Draco. Piscou os olhos e já não estava na sua infância, mas de volta ao seu quarto, no presente.

Havia um som irritante vindo do exterior, algo que ele não havia notado até aquele momento. Mas, ao que ele pertencia, Draco não conseguia se lembrar.

– Você precisa ser mais rápido – falou Hermione. Ela também arfava. – Não me permita ver as suas lembranças antes de me expulsar da sua mente!

– E você certamente se sairia melhor se estivesse no meu lugar – disse ele, irônico, como era corriqueiro.

– Quer ser o atacante?

Hermione fez uma posse e uma expressão de quem duvida que ele teria a coragem de desafiá-la, sobretudo depois do que ela havia visto.

– Dessa vez, vamos ver as suas lembranças!

– Isso se você sequer conseguir pronunciar o feitiço certo. – Ela sorriu de lado, friamente.

Draco ajeitou a sua postura e concentrou-se, evitando os olhos dela. Ele poderia fazer isso, ir além da zona de proteção dela e afundar-se em suas lembranças à procura de uma que provasse que ele não era o único a estar perdendo as suas defesas.

Na sua mente, ele pronunciou o feitiço.

Não sabia o que esperar, o que deveria acontecer depois.

A lembrança surgiu tão de repente, tão nítida e sensível, por um momento, Draco acreditou que ela o pertencia.

Havia uma grande lua cheia no céu, irradiando uma sinistra luz amarelada, e um uivo longo e sofrido. Ele podia sentir o medo dela... E então, nada.

Ali ela estava, encarando-o a poucos metros. Ela não parecia alterada pelo fato de que, por um momento, ele estivera dentro ela, experimentado suas sensações, suas memórias. Mesmo que tivesse visto pouco, ele estivera lá.

– O que foi isso? – perguntou ele.

– Não é da sua conta! Se quiser descobrir, terá que aprender como aumentar a força do seu ataque e como torná-lo, também, mais sutil. No exato momento em que atacou, eu o senti.

– Se assim foi, porque permitiu que eu tivesse um vislumbre de uma de suas memórias?

Ela sorriu de lado. Aquele sorriso, Draco pensou, era muito parecido com o seu próprio.

Quando será que ela começou a furtar partes dele?

– Talvez eu quisesse deixá-lo curioso e incentivá-lo a se esforçar mais. Talvez eu quisesse deixar a disputa parecer um pouco justa para você.

– Você está blefando – disse ele, revirando os olhos para fingir que não se sentia tão atingido quanto estava.

– Certo... Então, prove que estou errada!

Draco detestava quando ela o provocava. Quem ela pensava que era? Ela não tinha metade do seu poder, não poderia jamais, porque ele era um legítimo puro sangue.

Ele ergueu a varinha e repetiu o feitiço.

Tudo se desmanchou. Estava escuro e, então... Havia luz demais.

Lá estava ela, novamente com aquele enorme sorriso de deboche.

– De novo – exigiu ele.

Ela deu de ombros.

O que ocorreu dessa vez não foi muito diferente da anterior.

– De novo – repetiu ele, ficando cada vez mais irritado.

Eles continuaram a treinar por toda a noite e pelo início da madrugada, até que estivessem muito exaustos para suportar o peso de seus corpos. Foi quando perceberam que estavam com fome, mas não o bastante para percorrerem todo o caminho até a cozinha.

– Eu acho que ainda tenho algumas barras de chocolate por aqui, em algum lugar – comentou Draco.

Ele vasculhou o seu enorme guarda-roupas, jogando algumas calças e camisas no chão, enquanto abria espaço para escavar ainda mais fundo entre as suas coisas. Empurrou caixas de sapatos para o lado, e até olhou dentro de algumas.

– Achei! – gritou ele, bastante satisfeito consigo mesmo ao encontrar duas barras de chocolate fechadas dentro de uma das gavetas, enroladas numa camisa velha, do lado do álbum de fotos da família.

Entregou uma das barras à Hermione e começou a abocanhar grandes pedaços de chocolate. Até para Draco Malfoy, existiam momentos em que graça e elegância eram dispensáveis.

Hermione riu.

– O que foi? – perguntou Draco, olhando-a de forma carrancuda.

– Nada. – Ela deu de ombros. – É só que, às vezes, eu esqueço que você também é mortal como todos nós.

– Não se iluda tanto, eu sou melhor do que todos vocês, Granger.

Ela revirou os olhos e fez uma nota mental para jamais tentar fazer um elogio a ele novamente.

– Para alguém que mal consegue se defender de um dos meus ataques, você tem grandes ilusões sobre o seu poder – disse ela, alfinetando-o onde sabia que doeria mais.

Draco não tinha uma boa resposta para aquilo, então enfiou mais chocolate na sua boca e mastigou-o lentamente, sentindo um gosto azedo na boca.

Ela riu novamente, dessa vez a risada não tinha um tom manso de diversão. Comeu mais do seu chocolate, observando a noite pela janela. Não estava tão frio, felizmente, mas o silêncio crescente fazia a temperatura ambiente despencar. Hermione estava se sentindo desconfortável com a presença de Draco tão próxima e ao mesmo tempo tão distante de si. Ela podia sentir o seu calor familiar, mas também a sua frivolidade, e ela se perguntava como isso era possível, como a mesma pessoa que cresceu em meio a Comensais da Morte e que a maltratou tantas vezes, fosse a mesma pessoa que, um dia, já fora inocente, e que, em certos dias, fora capaz de tocá-la com delicadeza. Isso a fazia se lembrar de que havia uma pergunta – na verdade, várias – cuja resposta ansiava saber. O que o havia convencido a não a entregar a Dolores?

Se o perguntasse, poderia ele falar a verdade? Porque aquela explicação de que as suas mãos eram bonitas não fazia o menor sentido.

Havia muitas perguntas que lhe atormentavam, mas essa era a primordial.

Ela o fitou pelo canto dos olhos, ele estava lambendo os seus dedos e sujando ainda mais a sua boca de chocolate. A cena em si era tão improvável e, exatamente por causa disso, divertida. Hermione sentia vontade de inclinar-se para limpá-lo. Obviamente, controlou o impulso; no entanto, não conseguiu conter a onda de sentimentos que lhe devastariam segundos depois. Começou como uma coceira na ponta dos dedos que subiu pelos braços, contornou os ombros e instalou-se na garganta. Tossiu e tratou de ocupar os dedos, amassando e desamassando a barra da saia. Estava começando a ficar nervosa e impaciente.

Queria uma resposta. Agora.

Ele se levantou e foi lavar as mãos no banheiro. Ela, inquieta, foi sentar-se na poltrona ao lado do sofá. Quando Draco retornou, sentou-se na cadeira em frente a ela. Hermione estava esperando ser expulsa do quarto, mas ele não falava nada, sequer a olhava. Pelo que ele estava esperando? Estava a ignorando? Fingindo que ela não estava ali? Seria uma indireta para lembrá-la de que nunca seria bem vinda em seu quarto? Ou na sua vida?

Ela estava tão cansada daqueles sentimentos!

– Por que você não me denunciou a Dolores? – perguntou ela, subitamente.

Ele girou a cabeça na direção dela, os olhos confusos, a boca entreaberta. Demorou um momento mais longo do que o necessário para que se recuperasse da surpresa. Enquanto isso, Hermione pensava que não deveria ter feito aquela pergunta estúpida. Sua avó a ensinara, quando era pequena, que não deveria jamais perguntar algo se não estivesse preparada para as consequências da resposta. Deveria saber melhor...

– Se pensa que a poupei de ser torturada por pena ou por outra qualidade sublime que possa eu vir a ter, desiluda-se – disse Draco, no seu habitual tom gélido. Mesmo com aqueles olhos feitos de inverno a encará-la, ela sentia-e febril, desorientada. O que sentia, sabia, era irreal, mesmo no mundo dentro de si, contudo não conseguia parar de pensar que deveria haver algo a mais entre eles e que esta seria a razão de ele a ter salvado da forma estranha dele. – Eu fiz aquilo por puro narcisismo. Em parte, queria submetê-la à minha vontade e vê-la engolindo esse seu petulante orgulho. Quanto à outra parte – ele desviou o olhar do dela e, por um minuto, permaneceu em profundo silêncio de forma que era possível escutar o chiado que a respiração dela fazia toda vez que engolia e soltava o ar pela boca.

Era essa outra parte que assustava ambos.

O que ela não faria, nesse exato momento, para poder ler os pensamentos dele?! Porém, sabia que se o pressionasse naquele momento, ele se fecharia para ela para sempre.

– Eu não queria ser o responsável por causá-la dor, sobretudo o tipo que Dolores aprecia. Ela não iria apenas machucá-la, iria humilhá-la.

Hermione levantou-se sobressaltada. Não foi capaz de encará-lo. Quando estava pronta para correr em retirada, Draco se manifestou novamente.

– Não quer saber o que me fez mudar de ideia em relação a entregá-la?

Oh Merlin! Como poderia ela responder que sim e que não e ainda esperar que isso fizesse algum sentido?!

Muito lentamente, sentou-se na poltrona e esperou que ele continuasse. Os seus olhos persistiam com a intenção de evitar os dele. O que quer que existisse na maresia do olhar dele, ela não queria jamais tomar conhecimento. Ela sabia que, se olhasse, alguma coisa dentro dela se romperia.

– Eu tive um daqueles sonhos... Mas ele foi bom, de certa forma.

Ela não sabia o motivo de ele estar falando aquilo, mas seu histórico com os Malfoy dizia que não havia bons motivos por trás.

– Não foi um sonho ruim como a maioria deles – falou Draco, pensativo. – Foi bom... Nós estávamos fazendo um piquenique à beira de um lago, e havia aquele... O seu... Bem, o nosso filho... – engoliu em seco, um movimento que Hermione não viu, para a sua sorte. – Foi agradável... Em certo momento, o cenário mudou, então estávamos num quarto, sozinhos e... Você viu o que aconteceu.

– As suas explicações nunca fazem sentindo – disse ela, baixinho, sentindo-se frustrada. Mas pelo que?

Um dia, se Harry e Rony não a matassem, a sua vontade de compreender Draco Malfoy o faria.

.

– Eu acordei, naquele dia, bastante sensível. – Isso era o máximo que ele diria sobre a ereção que tinha sempre que pensava nela tocando-o daquela fora. – Isso influenciou na minha decisão.

A quem ele queria enganar? Ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo quando decidiu a poupar, naquele dia!

– Quando você me chamou ao seu quarto, o que queria fazer comigo de verdade era... Você sabe... Aquilo? – perguntou ela. Seu sangue estava fervendo, a ponto de sentir o corpo leve, desprendido dos comandos rígidos da sua consciência.

O que ele realmente queria quando a chamou ao seu quarto?

A resposta, nunca teve a coragem de conhecer conscientemente. No entanto, bem embaixo, nas profundezas abismais do seu âmago, ele sempre soube qual acordo queria fazer com ela. De fato, ele o fez, não naquele dia, mas meses depois, quando ela batera na sua porta, assombrada por seus pesadelos, dizendo que faria o que ele quisesse. De certa forma, ele se aproveitara da fragilidade dela, mas ele sempre faria isso. Aquele desejo era um demônio preso dentro dele.

– Você quer a verdade ou a resposta mais conveniente? – perguntou ele.

– O que você quer me dizer? – retrucou ela.

Por que ela precisava ser sempre tão difícil?

Ele caminhou até a lareira, usando-a como sustentação. Os seus ossos estavam frágeis, esponjosos. Ele sabia o que queria, mas o desejo só o fazia mais fraco. Se ela soubesse, poderia usá-lo contra ele, poderia destruí-lo. Ou poderia... Ele não deveria se permitir pensar sobre isso.

Ele não viu, mas a escutou erguer-se e aproximar-se.

Se ela ao menos soubesse...

Ele virou-se para encará-la. Os olhos dela continham um brilho vermelho perverso, delirante, exatamente como os dele.

Se ele se atrevesse...

– Eu quero... – O que ele queria? – Assisti-la tocando-me, chupando-me, beijando-me até que eu goze na sua boca. – Entreabriu os lábios dela com o seu dedão, devagar para não a assustar, sentindo a textura macia e a umidade deles. Empurrou o dedo indicador para dentro da boca dela, rapidamente o sentiu ser envolvido pela língua dela. Ela estava tão morna. Ele começou a mover-se, retirando e empurrando o seu dedo para dentro dela. Quando ela fechou os olhos e começou a gemer, ele soube que precisava parar.

Ela abriu os olhos para encará-lo. Havia uma tempestade dentro deles.

– Isso é tudo que você quer? – perguntou ela, com a voz rouca.

O sorriso de Draco era voraz e dizia – Não, esse é apenas o começo.

– Eu quero fodê-la. Mas não de qualquer jeito, eu quero fazê-la esquecer todos os homens que já a tocaram, eu quero fazê-la implorar por alívio, eu quero dá-la tamanho prazer como jamais encontrará com outro homem, eu quero fazê-la ficar viciada em mim.

– Por quê?

– Pelo prazer de saber que, quando fecha os olhos, eu sou o único homem na sua mente.

Ele não precisava dizer isso, porque o jeito como a beijou foi o suficiente. O beijo era possessivo e lascivo, profundo, tão desesperado quanto a sua necessidade de tê-la por completo, por uma noite.

Diferente das outras vezes que a beijou, as suas mãos não se prenderam ao cabelo dela, elas correram em direção à sua espinha e indo ainda mais baixo, levantando-lhe a saia e contornando a curvatura da bunda dela. Não havia nada de meigo na forma como ele a desejava.

A língua dele deslizou para dentro da boca dela, no mesmo instante em que as mãos dele apertaram a bunda dela, trazendo-a para mais perto, e, em seguida, começaram a massageá-la. Hermione gemia na sua boca, e as mãos dela cravavam-se nos ombros dele.

Ele a queria mais perto de si, sem as camadas de roupa, sem a razão hesitante, sem todos os contrapontos que o colocariam em extremos opostos na guerra.

Ele a empurrou para trás, fazendo a caminhar. Eles bateram na lateral da poltrona e, em algum momento, acabaram por se chocar contra a parede, onde ele pressionou-se contra o corpo de Hermione. Os dedos dele começaram a arranhar as coxas dela, fazendo-a estremecer, e então se afundaram na pele, separando-as, abrindo espaço para que ele se afundasse ainda mais nela. Ele mordicou o lábio inferior dela antes de descolar a sua boca da dela. Queria escutá-la gemendo.

.

Hermione estava certa de que havia alguma coisa da qual precisava se lembrar, mas no momento em que Draco chupou uma região estratégica em seu pescoço, até mesmo esse pensamento se desmanchou no ar. Ela inclinou a cabeça para dá-lo mais espaço e lutou para não se contorcer nem gemer tão alto. Quando ele começou a sugar a sua veia, sentiu todo o seu corpo tremer, e era como se ele sugasse a parte mais sensível do seu corpo com a sua boca úmida e quente.

Alguém soltou um som rouco, bastante sensual. Não estava certa se havia sido ele ou ela própria. Apesar disso, estava certa de que havia sido ela quem ergueu a perna para enrolá-la na cintura dele.

Sentiu a respiração morna dele na sua bochecha. Ele a mordicou rapidamente. A sua boca subiu em direção ao ouvido dela e chupou o lóbulo da orelha direita. Ela prendeu a respiração. Novamente, sentiu como se ele a estivesse sugando lá embaixo. Não poderia aguentar muito mais daquela tortura.

– Você gostou? – sussurrou ele, apertando a bunda dela de forma provocativa.

O seu corpo estava estático, correntes elétricas espetando-lhe a pele. Ela queria dizer “Sim, faça isso de novo!”, mas tudo o que ela podia fazer era olhar para aqueles olhos azuis que sorriam para ela e sorrir de volta.

.

Ele a beijou de forma meiga, lenta e carinhosa, mas isso não durou um minuto a mais. Ele não conseguia conter todos os sentimentos e, através do beijo, estava dizendo isso a ela – o quanto estava confuso, apreensivo e louco e o quanto a queria. Por uma única noite, ele poderia fingir que eles eram apenas uma mulher e um homem e que não havia motivos para serem inimigos declarados.

Sentiu as mãos dela infiltrando-se por baixo da sua camisa. Ele queria senti-las em tantos lugares diferentes nessa noite, e o pensamento de que ele poderia o dava tanta... Satisfação.

Ela começou a desabotoar a blusa dele com uma habilidade que Draco não julgava ser capaz de desafiar. Se fosse ele desabotoando a blusa dela, ele se atrapalharia entre um botão e outro e faria uma terrível confusão que a faria rir, certamente; então, ele poderia a beijar mais e morder o seu lábio inferior e desistir de seu trabalho, preferindo rasgar-lhe a blusa e beijar todo o trajeto da boca dela à extremidade da sua barriga mais próxima ao seu órgão feminino.

Ele a ajudou a tirar a sua camisa, afastando os braços, permitindo que ela deslizasse as mãos pelos seus ombros e pelos seus braços. No momento em que sua camisa foi jogada ao chão, ele estava de volta com as suas mãos na cintura de Hermione, e ela estava traçando um mapa no peito dele com a ponta dos dedos. Ela era tão delicada. Ele a queria ver perdendo o controle, tornando-se tão voraz quanto ele.

Eles começaram a se mover em direção à cama, dando um passo atrapalhado atrás do outro, por vezes tropeçando um no pé do outro e batendo as costas contra a poltrona e, depois, contra o sofá. Draco não saberia apontar quem começou a empurrar quem, mas essa era uma daquelas questões irrelevantes à humanidade. Tudo o que lhe importava era que ela estava se arrastando à sua cama e que ele a estava seguindo. Então, ele empurrou as pernas dela com as suas, abrindo-as, e cedeu à gravidade, caindo sobre ela, beijando-a da forma que queria.

.

Ela se sentia sem ar. Ele a beijava como se o mundo pudesse acabar a qualquer instante, e ele não pudesse desperdiçar um segundo a mais sem ela. Suas línguas dançavam uma melodia bacanal, enquanto suas mãos exploravam cada pedaço de pele descoberta.

Sabia que era uma péssima ideia estar se permitindo experimentar tanto do sabor dele, mas não conseguia se lembrar do motivo disso. O cheiro dele, o gosto dele na sua boca, o toque audacioso dele, tudo parecia tão natural.

Draco começou a desabotoar a blusa dela. Como julgara antes, ele fez uma confusão ao tentar realizar esse simples ato. Hermione riu brevemente, porque logo em seguida ele a beijava com a mesma voracidade de antes. Segurando-lhe pelos ombros, ela o puxou para mais perto de si. Suas pernas enlaçaram-se na cintura dele. As mãos dele percorreram a sua perna, subindo, apalpando-a sem delicadeza, subindo ainda mais do que deveria, erguendo a sua saia e tocando uma região muito sensível do seu corpo. Mesmo que houvesse ainda uma camada muito fina de tecido, ela sentia como se suas peles estivessem em contato direto. Ela tremeu. Ele pressionou aquela delicada região, fazendo círculos compactos com seus dedos. Ela sentiu-se com se pudesse se desmanchar sob as mãos dele.

Ela não conseguia mais respirar. Afastou-se minimamente, o bastante para aspirar ar aos seus pulmões. Quando abriu a boca, os únicos sons que lhe escaparam foram tímidos gemidos que tendiam a crescer em intensidade na mesma proporção em que os movimentos de Draco aumentavam em complexidade.

Dessa vez, foi ela quem o beijou com uma fome que não sabia ter até esse exato momento. Ele retirou as mãos do seu corpo; antes que ela pudesse reclamar, elas já estavam novamente sobre a sua pele. Ele continuou o serviço deixado incompleto – a difícil tarefa de desabotoar a blusa dela.

Ela estava tão impaciente com a demora dele, que afastou as mãos dele e começou a desabotoar rapidamente a sua camisa, jogando-a em algum canto do quarto. No segundo seguinte, eles estavam rolando na cama. Ela ficou por cima, conduzindo o ritmo do beijo. Isso não durou muito tempo, pois ele logo a jogou contra a cama, ficando por cima novamente.

.

Ele beijou o pescoço dela, a clavícula dela, deslizando vagarosamente até alcançar o seio dela. Com inesperada sutileza, ele retirou o sutiã dela. Encarou-a, procurando qualquer vestígio de incerteza ou de medo; o que encontrou foi apenas o grito nos olhos dela, um pedido mudo e insistente para que continuasse. Ele a beijou uma última vez antes de inclinar-se para baixo e abocanhar o seio dela na sua boca. As costas dela ergueram-se, ela gemia baixo, mas de um jeito que o fazia perder completamente a razão; o único pensamento sensato que conseguia formar era como seria maravilhoso se ela dissesse o seu nome desse jeito, entrecortado por prolongados gemidos.

Quando ela finalmente o fez, ele mal podia acreditar que existia uma realidade fora dele.

– Draco... – disse ela, suspirando sonoramente.

Ele sentiu uma onda energética, potente, arrastando-se da cabeça aos seus pés, beliscando a pele, fazendo-o estremecer. Seu membro enrijeceu-se ainda mais, criando um volume desconfortável na calça. Ele precisava tirá-la logo, mas não queria assustar Hermione. Eles estavam prosseguindo tão bem...

–... Draco – falou ela, dessa vez, de forma mais grave, com um sutil tom de surpresa.

Ele sugou o bico do peito esquerdo dela, fazendo-a contorcer-se, algo que não colaborava para manter o desconforto na sua calça controlado e imperceptível. Em seguida, começou a trilhar o caminho em direção à extremidade da barriga dela. Ao mordiscar carinhosamente a pele acima do umbigo, ela o empurrou.

– Draco!

Dessa vez, ela realmente parecia assustada.

– Nós precisamos parar com isso

Se Draco não estivesse com cada uma de suas mãos de um dos lados da cabeça dela, sobre ela, Hermione teria levantando-se e saído correndo antes que perdesse a coragem.

Ele aproximou-se dela, mais do que ela considerava seguro, e sussurrou com a voz rouca, embargada de desejos a serem saciados.

– Por quê?

– Porque... – murmurou ela, esquecendo-se do que deveria falar. Antes que ela pudesse se lembrar, ele a beijou.

Eles rolaram na cama. Draco permitiu que ela ficasse por cima mais uma vez. Ela própria tomou a iniciativa de ajeitar o seu corpo de forma que a região protuberante entre as pernas dele ficasse exatamente abaixo de onde sentia mais prazer. Ele sorriu largamente, e ela mordiscou o canto do seu lábio. Ele riu rouco próximo ao ouvido dela.

Eles giraram novamente; dessa vez, Draco afundou-se sobre ela. Ele estava convicto de que havia recuperado o controle da situação, quando ela começou a tentar afastá-lo.

– Pare! – pediu ela, com a voz fraca, rouca. – Por favor... Blaise...

Ele afastou-se dela, o bastante para que pudesse mantê-la presa debaixo do seu corpo ao mesmo tempo em que poderia encará-la de cima. Por que ela precisava ter dito o nome dele? Por que, oh Merlin, ela estava pensando nele enquanto estavam experimentando um dos momentos mais íntimos que pode existir entre duas pessoas?

Ela deveria ter percebido a cólera na expressão dele, pois se encolheu na cama.

– Você é virgem? – perguntou ele, sem demonstrar emoção.

Ele esperou pela resposta, todo o seu corpo parecia paralisado em expectativa. Hermione hesitou antes de balançar a cabeça, timidamente.

– Não...

– Quando?

De alguma forma, ela encontrou forças para falar.

– Não é da sua conta!

Draco ainda não emitia nenhuma emoção, o que causava um desassossego doloroso no âmago de Hermione. Ela sabia como lidar com o seu humor sarcástico, com a sua raiva, com o seu jeito arrogante e egoísta, porém, quando ele vestia aquela máscara gélida, se trancava dentro de si mesmo, atrás de uma muralha impenetrável, não havia nada que pudesse fazer para conseguir alcançá-lo. Havia partes dele que ela jamais conheceria.

– Você o ama?

Ela hesitou. Amor era uma palavra muito forte tanto para os trouxas quanto para os bruxos. Será que amava Blaise? Ou será que estava apenas apaixonada por ele? Ela sabia a resposta, mas não admitiria isso a Draco.

– Sim – falou ela.

Por um segundo, ele sentiu nada. Então, a compreensão da resposta o atingiu. Ele caiu para o lado, esfregou os cabelos e os olhos, exasperado; sentia-se desconfortável por causa de sua ereção e sentia-se enraivecido, simplesmente. Não fazia sentindo para si mesmo. Ele sentia algo que jamais havia experimentado em tamanha intensidade antes, sabia que “isso” tinha um nome, mas não poderia fazer-se dizer.

– Saía do meu quarto agora, Granger! – disse ele, baixo, mas não menos tenso.

Ela fez como ele falou. Ergueu-se, recolheu suas roupas e vestiu-se no mesmo ato, o mais rápido que podia.

A porta abriu-se e fechou-se com um baque ensurdecedor.

Draco não se moveu.

O gosto dela continuava na sua boca, assim como a sensação calorosa do corpo dela grudado ao seu. Se fechasse os olhos, poderia afirmar que ela ainda era real, que ela o beijava com voracidade e arranhava os seus braços e o seu peito. Esse pensamento não fazia se sentir nenhum pouco mais excitado, pelo contrário, sentia raiva. Uma vontade mal controlada de arrastá-la de volta à sua cama e beijá-la até que ela esquecesse o próprio nome – e todos os homens que já desejara. A pior parte era que ele queria encontrar Blaise e reduzi-lo ao tamanho de uma formiga e esmagá-lo com ambos os pés.

Não acreditava que ela seria tão tola e flexível e fácil a ponto de transar com aquele babaca! Mas se fosse com o Potter, com o Weasley ou com qualquer outro homem, suspeitava que isso não faria a menor diferença ao seu humor. Ele só queria que ela... Oh Merlin! O que queria? Bem, sabia que queria fazer sexo com ela. Todavia, nesse exato momento, isso parecia pouco; ele queria mais.

.

Hermione não conseguiu sequer chegar até à Casa da Grifinória antes que se desmanchasse em lágrimas. Sentou-se no terceiro degrau de uma escada e chorou, sozinha, no escuro. Era incrível a capacidade que Draco tinha de fazê-la sentir-se suja e humilhada. Ele a expulsara do seu quarto, depois de tudo o que dividiram juntos, como se fosse qualquer uma. Mas era isso que ela era para ele, não poderia jamais se esquecer. Ele nunca sentiria qualquer afeição real por ela, ou por qualquer outra criatura. Ele era uma pessoa terrível, que não tinha sentimentos nem qualquer resquício de moralidade. Deveria tê-lo chutado para longe de si antes que as coisas fugissem do controle de ambos. Sim, deveria tê-lo feito! Nunca deveria tê-lo permitido beijá-la novamente!

Se chorava, era porque sabia que não queria afastá-lo. Estava comprometida com Blaise, não deveria desejar isso, sequer sabia que o fazia até o momento em que Draco empurrara um dedo para dentro da sua boca. Naquele momento, sentiu um desejo primitivo queimar sua pele. Mesmo quando ela pediu que ele parasse, o que realmente queria era que continuasse a se mover sobre ela, beijando-a, cravando as unhas em sua pele, afundando-se cada vez mais em seu corpo, ansiando por tocá-la no seu âmago. Queria que ele a penetrasse, queria desfazer-se nos braços dele. Foi a realização disso que a fez lembrar-se de todos os motivos pelos quais o que estavam fazendo era uma péssima ideia, péssima no sentindo de proporções épicas e catastróficas!

Havia traído Blaise, seus amigos, sua família e basicamente todos os ideais pelo qual lutava. Sentia-se tão imunda, principalmente porque o cheiro dele ainda estava impregnado na sua pele. Pior, havia uma vontade tímida, mas resistente, de fazer todo o caminho de volta ao quarto dele, arrancar as suas roupas e permitir que ele fizesse o que quisesse com o seu corpo e a sua mente.

Ela repetiu para si mesma que isso não era real, da mesma forma que a projeção fantasmagórica do filho que jamais teria também não o era. As sensações e a vontade que sentia eram coisas que existiam somente na sua mente confusa. Ela jamais iria desejá-lo. Todavia, isso não importava mais, era tarde demais, ela já havia pecado.

Os primeiros raios solares se espreitavam pela borda do horizonte quando Hermione finalmente se ergueu e andou à sua Casa. De alguma forma, ela conseguiu desabar na sua cama antes que alguém acordasse e visse a profunda tristeza em sua face. Seu corpo parecia que tinha sido anestesiado, pois ela julgava ser incapaz de sentir qualquer coisa que não fosse fruto da sua culpa. Ela dormiu, mas não conseguiu encontrar um abrigo seguro nem em seu sonho.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pois é... Que capítulo pesado!
Digam-me se vocês gostaram ^^
Ahhhh e obrigado por todos os comentários! Vocês são incríveis, os melhores leitores desse site!
Beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desejo e Reparação" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.