– Não consigo simplesmente acreditar! – grito com todo o ar que tenho em meus pulmões – Como você pode ser capaz de uma coisa dessas? Destruidora. Insensível.

– Sempre fui, não…? – diz Jeanine. Mas logo a interrompo fingindo não ouvir o que ela tem a dizer, ainda mais por que não estou a fim de escutá-la. Depois de tudo que ela já fez ela não tem muito direito de falar comigo.

– Porque? Logo agora? – digo indignada – Porque, depois de todos nós termos instaurado a paz, acabado com as facções que só nos traziam brigas e violência, depois de termos acabado com os conflitos e diferenças, ou melhor divergências…

– Você quer uma explicação? Pois eu vou te dar uma!

Ela se dirige ao monitor ao meu lado e aperta alguns botões bem rápido, isso me faz pensar que ela já está acostumada com tudo isso. Mas desde quando? Desde quando esses laboratórios existem? Desde o aeroporto? Ou desde sempre? Eles estavam proibidos e interditados. Mal consigo enxergar, já que meus olhos estão encharcados de lágrimas. Estou pronta pra chorar, mas não quero demonstrar fraqueza, não para essa sem vergonha.

Ela aperta um último botão e aparece algumas imagens, bem chocantes, em preto e branco, fotos do aeroporto explodindo, fico pensando quando foi isso e quem teria feito isso, e sendo reconstruído novamente, fotos do lado sul da cidade, pessoas correndo, lutando, brigando, se matando, vídeos de câmeras de segurança filmando as pessoas na maior miséria no lado leste, não consigo reconhecer nenhum dos rostos, não consigo dizer se são os sem facção ou pessoas que acabaram na miséria depois de implantado o novo governo. Será mesmo que isso tudo aconteceu depois das providências de Evelyn?

– Meu deus … – digo

Sinto a lágrima cair pelo meu olho esquerdo, ela chega até a minha boca, sinto o seu gosto salgado e passo logo a mão. Saio andando por todo o laboratório, vejo que meus amigos ainda estão todos parados em frente a porta, perplexos. Vou examinando todos os cientistas, eles nem parecem notar que eu estou passando por eles, vejo o que eles estão fazendo. Eles estão acionando todas as bombas, deixando-as preparadas para o impacto à Sede da Erudição. Vejo que tem mísseis e aviões de caças envolvidos no programa. Como eles conseguiram fazer isso em um tão curto espaço de tempo?

– Como você conseguiu isso? De que época isso é? – pergunto pra Jeanine

– Isso foi desde … – diz Patrick

Mas não aguento e explodo:

– NÃO FALEI COM VOCÊ! Nem sei quem você é! Estou falando com ela! – e aponto para Jeanine

– Deixa q eu cuido disso Patrick – e ela faz sinal para ele se acalmar – Olha aqui Beatrice, ou melhor todos vocês, todas essas imagens são dos dias em que você e seus amigos se encontravam no aeroporto, ou melhor, pista de pouso e esses vídeos de pessoas correndo de brigando são dos dias atuais. Depois do governo da mãe de seu amiguinho, ou namoradinho seja lá o que ele for, ali. – e ela aponta para Tobias.

Vejo que Tobias está com lágrimas nos olhos. As portas atrás deles se fecham com um baque silencioso e ouço trancas. Todos recebemos mensagens:

“Todos estão trancados agora, não tem mais para onde ela fugir” - U

Começo a rir.

– Do que você está rindo? – pergunta Jeanine

– Você não percebeu ainda?

– O que?

– Estamos presos aqui.

Jeanine faz uma cara de desespero como se nunca tivesse recebido uma notícia tão alarmante na vida dela como essa. Sinto o terror correndo pelas veias dela. Posso sentir ela suar enquanto ela pensa num jeito de escapar.

Vou e me sento no chão ao lado de uma mesa e começo a assobiar e ver como estavam as minhas unhas.

– Porque você está tão tranquila? – pergunta Patrick.

– Esse só é mais um risco no qual eu me meti. Acostumada – e pisco para ele.

Recebemos mais uma mensagem:

Deem um jeito nela, que eu dou um jeito aqui em cima - U

Sinto um ar de esperança. Sinto uma alegria como nunca senti na vida. Levanto me e vou em direção a um dos computadores, examino-o e começo a apertar as teclas.

– O que você pensa que está fazendo? – diz Jeanine como se eu mesma soubesse ao menos o que estava fazendo. – Sai daí menininha – diz ela tentando me tirar a força de frente do computador.

Cansei das pessoas me chamarem de menininha. Ela vai ver só a menininha.

– Procurando um jeito para detonar totalmente a Sede e a Praça – sorrio para ela – Não era isso que você queria?

– Você passou para o meu lado? – diz Jeanine.

– NÃO TRIS! NÃO FAÇA ISSO. – grita Al

– TRIS NÃO SE RENDA! – escuto Christina. – Você não tem motivo para isso! Todos te amam. VOCÊ TEM A NÓS!

– Tarde demais – esclarece Jeanine – ela já é uma das nossas.

Olho para Jeanine e fico intrigada:

– Me conte sobre o soro da memória.

– O que tem ele?

– Você conseguiu escapar dele, você não parece ter um deslize, nem muito menos ter frequentado algum centro para recuperação, calma, espere um pouco … – e uma coisa desperta em mim, como um estalo – você é divergente.

– Demorou em, pra descobrir. David me ajudou muito

– David? Onde ele está?

– Laboratório 3. Poderes bélicos. Como você acha que a gente consegue as bomcas mísseis e poções?

Não consigo assimilar. Mas não faço reação para ela não desconfiar.

– Entendo. Depois desse processo preciso de uma conversa com ele.

– Fique à vontade querida – diz ela

Acho isso muito estranho, me afasto para poder olhá-la direito. Miro-a dos pés a cabeça. Recebemos uma mensagem, todos nós, eu, Al, Christina, Tobias e Caleb:

Lado leste vazio -U

– O que é isso que toda hora vocês recebem uma mensagem? – pergunta Jeanine.

– Nada – respondem todos nós

– Acho que podemos começar com alguns ataques – digo

Jeanine sorri impressionada.

– Pode onde começamos? – diz ela

– O lado leste, depois nós chegamos mais perto da Sede, causa mais terror.

Acionamos um botão escrito “Leste”

Ouvimos uma sirene bem alta ecoando por toda a cidade, vemos todas as pessoas correrem pelas telas do computador. Percebo que o lado leste explodiu antes dela ver se tinham pessoas lá ou não. Que sorte.

Meus amigos sentam chorando no canto do laboratório, sinto pena deles, por não saber que continuo do lado deles.

– Ela está sobe simulação, só pode ser – diz Christina soluçando por causa do choro.

– Tem que estar – diz Tobias

Recebo nova mensagem, estranho só eu ter recebido dessa vez:

A praça está vazia, mandei todos para a Sede da Franqueza, Jeanine não tem conhecimento -U

– Acho que agora pode ser a praça – digo já apertando o botão para ela não perceber que a praça está totalmente vazia. Ouço a mesma sirene que escutei ao explodir o Lado Leste, e então a explosão. Mais alta dessa vez por estarmos mais perto.

Não consigo entender o porquê que -U sabe de tudo. Vai ver ele está na central de controle ou algo do tipo.

Recebo mais uma outra mensagem:

Precisa fazer alguns sacrifícios para salvar você e seus amigos, não se preocupe com a Sede, ela já está vazia. Você precisa correr -U

Olho para o monitor a minha esquerda, vejo que tem a contagem regressiva bem grande em destaque, e sinto que entendi o que -U quis dizer.

Temos simplesmente 20 minutos para tudo ir pelos ares.

– Temos muito pouco tempo – diz Jeanine – Temos muita coisa para resolver ainda

– Se acalma, vamos fazer tudo e ainda vamos ter tempo de sair daqui. – diz David entrando no laboratório. Mostrando um cartão mestre. – Tris, veio ver o espetáculo?

– David, ela mesma esta fazendo o espetáculo – dia Jeanine – tudo que aconteceu foi ela quem fez.

Ele levanta as sobrancelhas como se estivesse surpreso e ao mesmo tempo orgulhoso do que eu fiz. Coitado. Mal perde por esperar.

– Bom, então Tris, sinto que você já conhece todo o projeto, certo? – diz David

– Bom – falo tentando imitá-lo, porque apesar de eu fingir que estou do lado dele, continuo não gostando dele – na verdade não, Jeanine só parece estar revoltada com o governo de Evelyn, sem as facções, que falando nisso Jeanine, eu acho que as facções não lhe favoreciam tanto em? Digamos, pelo seu probleminha – e aponto para minha têmpora.

– hem hem – tosse Jeanine – bem, já disse para ela tudo que ela e seus amigos deveriam saber. Que falando a verdade, não deveriam saber de nada. Me pegaram de surpresa, mas ok, nada foi alterado. Não precisa ficar preocupado. Tudo sobre controle.

– Ótimo. Mas Tris, caso você não tenha entendido, não sei se você sabe, mas temos vários experimentos, em várias cidades por todo o país, uns grandes e outros pequenos, não estamos gostando de nada do que Evelyn está fazendo aqui com essa cidade, bem, não agrada a nós em nada basicamente. Estamos destruindo-a para alertar as pessoas que ela não tem conhecimento nem tem controle sobre Chicago. Estamos tentando nos migrar para Los Angeles ou para Atlanta. Cidades do país como você pode ter conhecimento, quando você e seus amigos” e ele olha para todos eles sentados em um canto chorando e encolhidos “estavam lá na base aérea.” toda hora chamam isso de algo.

Mal ele sabe que temos tudo só bre controle, principalmente Evelyn que evacuou a cidade.

“Então vamos deixar ela no chão, para provar nosso poder e acho que ninguém mais consegue nos impedir né mesmo?” e ele aponta para o monitor com a contagem regressiva. 15 minutos.

“Jeanine tudo pronto?”

– Tudo em perfeito estado David – responde ela

– Então agora é só esperar dar o momento certo e cairmos fora daqui.

Me dá uma pontada de esperança só em saber que eles não saíram.

– Isso não inclui vocês. – diz David olhando para Al, Clabe, Christina e Tobias – Acho que foi um grande erro se meter com uma pessoa perigosa que nem Beatrice Prior. Ela é descendentes de pessoas da Erudição, alguma hora você ia ver que o nosso lado é o melhor e ia se juntar conosco. Você sempre sai ganhando. Ontem, hoje, amanhã e sempre!

Caleb recebe uma mensagem. Não sei o que ele pode ter recebido pela sua expressão foi algo meio chocante, ele olha para Patrick.

– Meu deus. Vocês são mesmo muito inteligentes. – digo – Estou impressionada – e bato palmas.

– E psicóticos – diz Al.

– CALA A BOCA! – diz David sacando a arma e dando um tiro em Al. – Menos um. Acho que ficaria quieto se fosse um de vocês. – apontando as armas para eles – Se não acontecerá o mesmo que ele.

Sinto um susto muito grande, não pode ser possível, Al. Um dos meus melhores amigos. Sinto uma lágrima escorrer pelos meus olhos, Tobias percebe, ele faz um sinal com a cabeça. Enxugo-a e ergo a cabeça. Tento não pensar nele. É quase impossível não pensar em Al, tantos momentos divertidos, a festa, as conversas, as saídas. Sinto uma raiva me consumindo por dentro. Uma raiva de David, ele não deveria ter feito isso. Não tinha motivo, vou matá-lo. Mais uma pessoa para morrer aqui nessa Sede. Não posso deixá-lo passar. Se não, eu não me chamo Beatrice Prior.

Dou mais uma olhada na contagem regressiva 3 minutos. Tenho que sair o quanto antes.

Recebo uma mensagem. Percebo que não sou só eu, todos olham os seus celulares

– O que é isso? – pergunta david

Está na hora … Pegue-os e CORRAM! -U

Todos levantam e saio correndo corredor afora, a porta está destrancada, obrigado -U. Fecho a porta atrás de mim. Ouço um clique, David tenta passar o cartão, mas nada resolve. Estão finalmente presos no laboratório. Vejo Jeanine batendo no vidro com força e gritando para sair.

– Você não pode fazer isso garotinha!!!!!!!! – grita ela – Você não teria coragem! Me enganou esse tempo todo.

– Tem razão, a garotinha não pode fazer isso. Ela também não teria coragem – digo – mas eu não sou mais aquela garotinha. Sou uma divergente.

E saio correndo corredor acima com meus amigos.

– Corre devemos ter menos de 1 minuto!!! – grita Christina engolindo o choro.

Chegamos ao hall. Totalmente vazio. Vejo as pessoas do lado de fora, a uma distância bem segura. Recebo uma mensagem

Muito bem, agora saiam da Sede, está na minha hora de morrer -U - Patrick

Fico em choque. Era Patrick todo o tempo. E ele estava simplesmente ao meu lado. Por isso ele sabia de tudo que acontecia. Ele era amigo de Evelyn, e evacuaram todos os pontos críticos da cidade.

Vemos as duas portas espelhadas do hall prontos para sair.

Saímos do recinto. Nos jogamos no chão.

Ouço a explosão.