Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 22
Parte 22




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Por um momento, não consigo escutar mais nada, tudo que vejo é o rosto de Katniss, em todos os telões. Caesar some, os outros tributos somem, a plateia some. Só eu e Katniss estamos ali. Olho bem seus olhos naquele telão, sem coragem de me virar para trás, e encara-la. O que eu consigo ver dentro deles? Chamas. É isso mesmo. São chamas. De ódio, raiva, todo sentimento ruim que pode existir está naquele olhar. Ela abaixa a cabeça, e volto a escutar o burburinho da multidão.

— Oh, isso é que é má sorte — diz Caesar, e eu sinto que ele está realmente triste com a minha situação. De todas as pessoas da capital, a que eu mais simpatizei até agora foi Caesar. Que coisa estranha de se pensar.

A multidão não para de murmurar, e agora a maioria está chorando.

— Não é bom — é tudo que consigo dizer.

— Bem, eu não acho que algum de nós pode te culpar. É difícil não se apaixonar por essa jovem dama — diz Ceasar. — Ela não sabia?

Balanço a cabeça.

— Não até agora.

Olho para o telão novamente, e lá está, Katniss, toda ruborizada. Com aquelas chamas em seu olhar.

— Vocês não amariam puxá-la de volta para cá e conseguir uma resposta? — Ceasar pergunta à audiência.

A multidão grita concordando. Enquanto eu quero gritar contra. Ser rejeitado pela garota que eu amo em frente a toda Panem não seria humilhação demais, para alguém que já está com os dias contados? Prefiro não ter de passar por isso.

— Tristemente, regras são regras, e o tempo de Katniss Everdeen acabou. Bem, sorte para você, Peeta Mellark, e acho que falo por toda a Panem quando eu digo que nosso coração vai com você – Caesar finalmente encerra.

Estou agradecido. Triste. Com medo. Desolado. Um misto enorme de emoções.

A multidão grita, muito. Tenho que esperar um tempo, até conseguir dizer “Obrigado”. Volto para a minha cadeira trêmulo. Não ouso olhar para Katniss. Ficamos em pé para cantar o hino, e vejo que todos os telões mostram eu e ela, lado a lado. O que ninguém pode ver é o que eu estou vendo. Seus olhos, denunciando todo ódio que ela tem por mim agora. Enquanto meus olhos, transbordam toda culpa, e amor que sinto por ela. Haymitch me avisou que não ia ser fácil.

Quando o hino acaba, Katniss sai de perto de mim, eu nem cogito a hipótese de ir atrás dela. Simplesmente espero, e pego um elevador até nossa torre do distrito 12. Quando saio do elevador Katniss vem para cima de mim, e bate em meu peito com as duas mãos, me empurrando com uma força que eu desconhecia até agora. Sou pego de surpresa, e perco o equilíbrio, quando eu percebo, estou no chão, em cima de um punhado de cacos sentindo sangue fluir livremente das minhas mãos, para o chão.

— O que foi isso? — eu pergunto, assustado, sentindo a dor dos cacos cravados em minhas mãos.

— Você não tinha nenhum direito! Nenhum direito de dizer aquelas coisas sobre mim! — Ela grita, descontrolada.

Os elevadores se abrem e nossa equipe, Effie, Haymitch, Cinna, e Portia saem de lá.

— O que está acontecendo? — pergunta Effie, com a voz esganiçada. — Você caiu?

— Depois que ela me empurrou — respondo olhando para Katniss, com certa magoa, enquanto Effie e Cinna me ajudam a levantar.

— Você o empurrou? – Haymitch pergunta para Katniss.

— Isso foi ideia sua, não foi? Tornar-me algum tipo de idiota na frente de todo o país? — ela grita para ele.

— Foi ideia minha — respondo, me arrependendo do que fiz, e desejando loucamente dizer que essa declaração não foi só parte de um jogo. Mas me limito a dizer, enquanto me levanto e retiro os cacos de minhas mãos — Haymitch só me ajudou.

— Sim, Haymitch é muito útil. Para você! — ela grita. Está tudo tão claro como as luzes da cidade para mim agora. Todos os motivos que levaram Katniss a sentir isso por mim. Ódio, desprezo.

— Você é uma tola — Haymitch dispara. — Acha que ele te prejudicou? Aquele garoto só deu a você algo que você nunca poderia conseguir sozinha.

— Ele me fez parecer fraca! - Ela diz um pouco mais calma.

— Ele fez você parecer desejável! E vamos encarar, você pode usar toda a ajuda que conseguir nesse departamento. Você era tão romântica quanto lixo até ele dizer que queria você. Agora todos eles querem. Você é tudo sobre o que eles estão falando. “Os desafortunados amantes do Distrito Doze!” diz Haymitch.

— Mas nós não somos amantes desafortunados!

Haymitch agarra os ombros dela e a pressiona contra a parede.

Dou um passo para frente, para o caso de Haymitch bater nela ou algo do tipo.

— Quem se importa? É tudo um grande show. É tudo como você é percebida. O máximo que eu poderia dizer sobre você depois da sua entrevista era que você estava boa o bastante, embora isso em si seja um pequeno milagre. Agora eu posso dizer que você é uma arrasa-corações. Oh, oh, oh, como os garotos de volta para casa caem saudosamente aos seus pés. O que você pensa que vai te conseguir mais patrocinadores?

Ela empurra ele. Cinna se aproxima, e a abraça.

— Ele está certo, Katniss.

Agora ela parece estar confusa. Menos raiva em seus olhos.

— Eu deveria ter sido informada, então não pareceria tão estúpida.

— Não, sua reação estava perfeita. Se você soubesse, não seria tão real — diz Portia.

— Ela só está preocupada com o namorado dela —digo subitamente entendendo que o motivo da raiva dela, pode não ser nada do que eu pensei. Pode ser simplesmente Gale.

Ela cora. E isso só confirma minhas suspeitas, fazendo meu coração doer mais, que minhas mãos encharcadas de sangue.

— Eu não tenho um namorado.

— Que seja — respondo, com certa amargura em minha voz. — Mas eu aposto que ele é esperto o bastante para reconhecer um blefe quando o vê. Além disso, você não disse que me amava. Então o que importa?

Ela parece estar pensando. Avaliando tudo o que foi dito. Seus olhos não estão mais com aquele fulgor. Ela finalmente se acalmou. Mas infelizmente isso não quer dizer que seu ódio por mim tenha diminuído também.

— Depois de ele dizer que me amava, você achou que eu poderia estar apaixonada por ele, também? — ela pergunta para Portia.

— Eu achei — Portia responde. — O modo como você fugiu olhar para as câmeras, o rubor.

Todos concordam. Eu fico em silencio.

— Você é ouro, querida. Vai ter patrocinadores se enfileirando ao redor do bloco — diz Haymitch.

Ela parece estar embaraçada. Olha em minha direção.

— Sinto muito por te empurrar – ela diz, demonstrando sinceridade.

— Não tem problema — dou de ombros. — Embora isso seja tecnicamente ilegal.

— Suas mãos estão bem? — ela pergunta.

— Elas ficarão bem — digo, deixando escapar um certo ressentimento em minha voz.

Minhas mãos podem até ficar bem, mas eu certamente não irei ficar.Estou confuso, sem saber direito que emoções estão dentro de mim. Mágoa. Acho que esse é o sentimento que me preenche no momento. Estou muito magoado com Katniss. Com a vida. Comigo mesmo. Essa é a segunda vez que tento ajudar Katniss. No entanto, tudo que consigo é que ela sinta ódio de mim. Me pergunto, quanto tempo alguém é capaz de aguentar, doar amor para uma pessoa, e receber apenas ódio em troca? A resposta é simples no meu caso. A resposta é para sempre.


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