Nossas Palavras, Nossos Silêncios escrita por LoveDog


Capítulo 1
One Shot


Notas iniciais do capítulo

Uma fic curtinha, uma historieta dedicada à uma pessoa iluminada de quem sou fã incondicional: a ,,Follow the Call of the Deep".Amigona, esse One-Shot vai para você.LoveDog.



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Shisui, sentia-se fatigado de tanto insistir com seu sentimento para com Itachi e este nem um esboço de reciprocidade demonstrava.

Há anos ele era apaixonado por seu melhor amigo e sempre fazia questão de lhe dizer isso, o que fazia o outro desconversar sobre o assunto ou adotar uma postura evasiva, afinal, Itachi sempre fora o mestre na arte do ,,jogo de cintura” e PhD em ,,saídas pela tangente”.

Exausto de sempre ter seu sentimento adiado para mais tarde, o Uchiha mais velho decidiu-se por uma manobra mais ofensiva e piegas, decidiu-se por escrever uma carta para Itachi. Uma espécie de tudo ou nada. Cabeça e carta feitas, pediu para seu subalterno, Naruto, entregar a carta timbrada na repartição de Itachi com um óbvio e grosseiro selo de (falsa) autenticiadade.

Incauto porém diligente, o Uzumaki tratou de ir ao gabinete de seu superior hierárquico e despachar a diligência ao seu destino.

Naruto bateu à porta com as falanges dos dedos e em seguia a abriu tão logo recebeu permissão para tanto.

– Uchiha Itachi-san, uma diligência para o senhor por parte de Uchiha Shisui-san.

Itachi achou a carta um tanto suspeita, mais ainda quando percebeu o quão a imitação da correspondência oficial era labrojeira. Desconfiado da idoneidade de Naruto, mas receando não sobre-estimá-lo, aceitou a carta, agradeceu ao servidor mais novo e o dispensou com um polido ,,muito obrigado”.

Optou por somente ler a carta quando chegasse a casa afinal, estava em horário de trabalho e, por mais que estivesse curioso, seu senso de dever e ética profissional eram maiores e ali estava Uchiha Itachi, funcionário público e não Uchiha Itachi, pessoa física.

Guardou a carta numa pasta poliondas e voltou a trabalhar.

Quando chegou a casa no final daquela tarde, tirou a carta de dentro da pasta, pegou um cortador de papel e abriu o envelope com cuidado. Desdobrou a carta e mesmo sem a ler, pôde reconhecer a caligrafia de letras grandes e traço forte de Shisui. Correu os olhos pela carta e ela dizia:

Itachi, Acho que não preciso mais dizer o quanto eu gosto de você e o quanto quero você na minha vida de uma forma mais íntima.

Eu não posso, não consigo gostar de você como amigo, digo, posso, mas não quero. Não quero pelo simples fato de que o que eu sinto por você, embora haja começado como amizade, galgou um patamar mais elevado e eu não estou conseguindo mais lidar com esse sentimento.

Sei que você não sente o mesmo por mim e até julguei que poderia levar uma existência à sua sombra e imaginar que talvez um dia você me amaria também, mas a cada dia, vejo o quão isso é impossível.

Tentei de todas as formas conquistar o seu amor, mas todas essas tentativas foram infrutuosas, por isso, como um soldado cansado e moribundo, abdico da peleja.

Tombo.

Não se preocupe, não mais irei incomodá-lo, esta foi a última vez.

Para sempre seu,

Shisui U.

Ao ler aquilo, Itachi sentiu urgência em ir ter com Shisui, mas ao chegar a casa do primo, não o encontrou por lá.

Procurou e procurou por ele. Descontente, resolveu sentar-se num bar a que ia com alguma frenquência e pediu uma cerveja. Estava chateado.

Coincidentemente, Kakashi, seu amigo e colega de trabalho, entrou no bar e, ao ver o amigo, pediu licença para sentar-se com ele à sua mesa. Permissão dada, pediu uma cerveja e uns petiscos e os dois ficaram conversando na medida do possível, uma vez que Itachi não era um cara de muitas palavras.

Algumas cervejas depois, Kakashi mencionou Shisui, e isto fez com que a atenção de Itachi se voltasse verdareiramente para o companheiro no bar. Kakashi disse que Shisui iria viajar naquele dia e que àquela altura, ele já deveria estaria na rodoviária.

Itachi não esperou Kakashi contar sobre a viagem com detalhes, levantou-se, deixou em cima da mesa uma quantia além pelas cervejas que consumiu e foi embora.

Manteve uma postura cool até que Kakashi o perdesse de vista e então, correu o mais rápido e silenciosamente que pôde. Ele correu tanto que ficou sem ar, mas chegou à rodoviária a tempo.

Que sorte que ela não ficava muito afastada do centro!

Avistou Shisui ao longe, de mochila nas costas, esperando seu tour bus. Ele inspirou e expirou algumas vezes até retomar o fôlego, quando finalmente foi ter com Shisui.

– Shisui - ele chamou num tom de voz audível.

Shisui, praticamente só na plataforma, virou-se e o avistou. Acenou alegremente.

Itachi caminhou até ele.

– Você vai viajar e nem me comunicou nada?

Shisui ruboresceu, coçou uma orelha direita, procurou palavras e como não as achou, olhou para os próprios pés.

– Fiquei com vergonha depois de tudo o que escrevi. Precisava dar uma viajada, botar a cabeça no lugar, 'cê sabe...

Itachi olhou para ele e nada disse.

Eles ficaram em silêncio pelo que pareceu um tempo enorme, até que o Uchiha mais novo se pronunciou:

– Shisui, não precisa ter vergonha de mim.

– Mas eu tenho, Itachi!- ele exclamou olhando o outro nos olhos - Eu sou apaixonado por você, e você já deixou bem claro de que não quer absolutamente nada comigo.

Fez-se uma pausa. Uma miríade de sentimentos se enovelaram dentro da cabeça de Itachi. Ele não sabia por onde começar e nem o que dizer. As emoções em torvelinho confundiam-no, estressavam-no, irritavam-no. A agústia por estar sentindo tanto e ao mesmo tempo oprimiu o seu peito ao ponto de sentir um desconforto na garganta. Ele jamais desviou os olhos dos de Shisui. Então ele disse:

– Shisui...

Os olhos de Shisui cresceram em expecativa. Seu coração pulsava como louco e pôde sentir os pés e as mãos frios, não obstante o calor que fazia naquela noite. Shisui engoliu com dificuldade. Prendeu a respiração e esperou pelo resto da frase de Itachi.

– ... Parece-me que seu ônibus chegou.

Tal qual banho de água gelada num corpo cálido, Shisui sentiu a decepção esbofetear-lhe o rosto. O ônibus parou a poucos metros de si, freando ruidosamente. Do cano de escape, uma leve bruma com odor característico de diesel queimado. O rumor do motor aquecido, típico de veículos de grande porte, dizia que seu motorista aguardava o embarque dos passageiros.

As pessoas subiam os degraus e entravam no ônibus, mas Shisui ainda olhava para Itachi incrédulo. Ambos imóveis, num diálogo telepático e silencioso que nem eles mesmos compreendiam.

Shisui inspirou profundamente e expirou devagar, sorriu para Itachi e disse:

– Pois bem - ajeitou a mochila nas costas - é mesmo o meu ônibus. Vou-me, então.

Itachi não disse nada, olhou para o canto superior do ônibus. O letreiro digital em vermelho indicava que Shisui iria à uma praia do litoral norte.

– Até mais - fez Shisui.

– Até mais - respondeu Itachi.

Shisui demorou um pouco para embarcar, quem sabe Itachi não falaria?

Não. Ele não falou.

O mostorista buzinou amuado, mas que diabos que esse cara não sobe?!

O Uchiha mais velho fez um gesto de desculpas ao sujeito, arriscou uma olhadela para Itachi e, conformado de que nada aconteceria, ele se despediu novamente:

– Tchau, Itachi.

E subiu no ônibus.

Itachi permaneceu ali, imóvel, observador. Olhava para Shisui, que olhava para ele pela janela do veículo. Shisui acenou com a mão quando o ônibus fez a curva, no entanto, Itachi não respondeu de volta, mas aguardou até que o ônibus de Shisui desaparecesse na noite.

– Tchau, Shisui.

********

Todos pensaram que Shisui passaria apenas o fim de semana, mas não. Ele passou uma, duas, três semanas, um, dois, três, seis meses, um ano!

Ao cabo de um ano, Shisui voltou com um bronze lindo e menos coisas do que levou.

Ele havia arranjado um trabalho no litoral norte e fixado residência. Conhecera uma pessoa de lá e iniciara um relacionamento tranquilo. Estava satisfeito.

Passou em casa para pegar o restante de suas poucas coisas.

Havia terminado de empacotar a sexta e última caixa quando viu, jogado a um canto da prateleira da televisão, um pequeno porta-retratos branco. Nele, um Shisui 10 anos mais novo e com um sorriso largo, abraçava um também 10 anos mais novo e tímido Itachi. O Uchiha se recordou daquela tarde com carinho. Não houvera nada de especial nela, apenas uma tarde como tantas outras, mas algo naquele dia, naquele céu veronil despertara a vontade de tirar aquela foto.

Ele até podia sentir a brisa morna daquela tarde e como ela bagunçava os cabelos de Itachi, e carregava seu perfume até Shisui.

– Há quantos anos estive apaixonado pela mesma pessoa! - Shisui lembrou e sorriu com ternura.

Decidiu levar o porta-retratos consigo, mas quando foi colocá-lo na caixa, não havia mais espaço. Ele então, decidiu deixá-lo no local onde encontrou, afinal, não cabia na caixa e ele não tinha como guardar noutro canto.

Caixas na caminhonete, era hora de dar tchau para aquela vida pregressa. Uma nova vida cheia de promessas se iniciava e naquele exato momento, uma pessoa amada o aguardava no litoral norte. Deu marcha a ré na caminhote e partiu.

Decidiu ir à casa de Itachi para se despedir, mas ele não estava lá. Procurou o velho amigo por todo canto da vila, mas não o encontrou. Como fazia calor, decidiu se refrescar com um cerveja geladinha em seu bar favorito. Matar saudades dos velhos tempos.

O dono do bar, um senhor rechonchudo, de bochechas rosadas e barba farta, o recebeu com alegria. Era muito simpático esse Matsumoto-san.

Pediu a cerveja e aceitou uns amendoinzinhos, foi quando, coincidentemente, Kakashi chegou. Ele cumprimentou Shisui com energia e eles conversaram por mais tempo do que Shisui pretendia. Tempo o suficiente para o efeito do álcool passar e ele poder digirir com segurança. O Uchiha contou sobre sua vida a Kakashi e vice-versa, e em algum ponto, a conversa afunilou para Itachi. Kakashi contou a Shisui que Itachi trabalhava muito todos os dias e que nunca mais o avistara pela noite, somente no escritório, em meio a papéis, arquivos e sempre preenchendo planilhas. Shisui comentou que essa vida deveria ser muito chata ao que Kakashi assentiu, mas que o retorno financeiro compensava.

– Nada compensa, Kakashi. Não existe dinheiro no mundo que compense! Trocar sua vida por papel-moeda? E o lazer? E as ida à praia ou ao campo? Eles sempre gostou tanto!

– É, meu amigo, mas parece-me que Itachi agora encontrou um novo amor e precisa do dinheiro para constituir a família.

Pela primeira vez em meses, Shisui sentiu o peito apertar à menção das palavras ,,Itachi. Novo. Amor".

– Ah foi? E quem é? - perguntou Shisui.

– Você realmente acha que EU sei? - Kakashi perguntou dando uma sonora gargalhada.

Shisui o acompanhou, mas timidamente.

– É... Não, não é?

– Sem chances – reforçou Kakashi-. Itachi é um livro árabe escrito em braile para mim!

Finalmente eles se despediram e Shisui sentiu a alma pesar. Ele achara que Itachi era página virada em sua vida, e era! Mas saber de um possível novo amor o deixou um pouco deprimido. Ele pegou o celular e tentou ligar pro seu namorado no litoral norte, mas o sinal estava fraco e ele só se aborreceu. Tentou mandar uma mensagem de texto, mas a internet de seu celular havia ido com o vento... E agora?

Aborrecido, Shisui dirigiu a caminhonete até a colina mais alta de Konoha, aquela que imita o Monte Rushmore, com cabeças de ex-governantes entalhadas na rocha. Ele desligou o carro e ficou apreciando a noite estrelada, a sós com seus pensamentos.

Ao sair do carro, estirou-se sobre o capô assim que este esfriou. O céu estava realmente belo. Deve ter cochilado, porque acordou de sobressalto.

– Quem está aí? Identifique-se ou eu corto sua garganta! - ameaçou.

– Não precisa cortar minha garganta - respondeu uma voz familiar -. Sou eu, Itachi.

Itachi saiu por detrás de uma formação rochosa.

– Itachi! Quanto tempo! - exclamou Shisui.

Levantou do capô e foi cumprimentar o amigo.

– Procurei por você pela cidade inteira, até encontrar-me com Kakashi no bar e ele me dizer que você não tem horário para mais nada nessa vida a não ser trabalhar.

Shisui sorriu mostrando os dentes brancos.

– É... - respondeu Itachi evasivo. - O trabalho, de fato, consome todo o meu tempo.

– E você é o quê? Juiz? Advogado? Soube que você vive entre papéis e planilhas.

– Sou consultor financeiro agora.

– Ah. Parece... Legal. - Shisui tentou parecer honesto.

Itachi sorriu tímido, em seguida, começou a rir de verdade. Shisui ficou confuso.

– Não, não é legal, Shui, é bem chato. Posso me sentar ao seu lado?

De repente, aquele Itachi da infância, adolescência e juventude de Shisui estava de volta.

– Ah, claro! Sente-se aqui – ele disse cedendo espaço no capô para Itachi.

Eles ficaram lado a lado sem dizer nada por um tempo, observavam o céu. Então, Itachi quebrou o silêncio.

– E você, como anda a vida la na praia? Muito coco, sol e mar?

Shisui riu.

– Quisera! Minha vida por lá é bem puxada.

– Ah é? E em que você trabalha?

– No que amo - Shisui respondeu lacônico, porém bem-humorado.

– Que seria...?

– Faço pranchas de surf, wind-surf, kite-surf, enfim, esportes marítimos.

– Uau! E como vc descobriu esse seu lado, digamos, artesão?

– Bem, eu fui para lá na esperança de passar só um findi mesmo, mas o pessoal é bastante legal e fui ficando. Em pouco tempo, aperfeiçoei-me no surf. Você lembra disso, não é? A gente praticava quando éramos pirralhos e íamos à praia.

Itachi assentiu com a cabeça.

– Foi então que descobri que nasci pra isso. Aprendi tudo o que podia, mas me vi sem dinheiro. Comecei a trabalhar meio-período num restaurantezinho de beira de praia servindo água- de- coco para os turista. À tarde, ia às aulas de surf, mas como eu me destacava, acabei ajudando meu instrutor com os outros alunos. Comecei a lichar umas pranchas para dele, depois impermeabilizá-las, pintá-las e, quando vi, fiz minha própria prancha! O instrutor ficou tão satisfeito, que me convidou pra trabalhar na escolinha. Passamos um tempo juntos e aprendi a não só fazer pranchas como a dar aula para crianças. O instrutor gostou muito do meu trabalho e, com o tempo, por não dizer, ele passou a gostar muito de mim também - Shisui fez uma pausa e riu. - Começamos a namorar há 6 meses, mas somente há 3 decidimos morar juntos.

A notícia atingiu Itachi como uma pedrada. Ele soubera por Kakashi que Shisui estava na cidade e soubera o que o próprio Shisui contara. Ele soube de tudo, mas não quis acreditar.

Shisui parecia feliz. Gesticulava e sorria bastante e, não obstante a noite estivesse escura, Itachi podia vislumbrar o brilho em seus olhos sempre que falava no namorado. Itachi sentiu uma dor enorme no peito e se fechou em seu mundo mais uma vez. As lágrimas que ele quisera derramar, inundavam-no por dentro. Sua expressão polida e concentrada era uma máscara de concreto para o que ele sentia naquele momento: tristeza.

Shisui falava sobre seu namorado quando Itachi deixou escapar um fungado. Shisui parou.

– Está resfriado, Tachi? - inquiriu visivelmente preocupado.

– Ahn? Não, não.

Itachi se desesperou por dentro. Aparentemente, tinha deixado uma lágrima escapar, um lamento de sua alma triste.

Shisui perscrutou o amigo de infância milimetricamente com o olhar e tudo pareceu em ordem. Itachi era muito forte e comedido.

Seguro de que não havia sido nada, conforme Itachi disse, Shisui retomou a história.

– ... E eu realmente o amo. Acho que finalmente achei o lugar onde pertenço, junto a ele.

– Não pertence nada! - gritou Itachi.

Ele levou o punho à boca, chocado com o que acabara de dizer.

Shisui emudeceu. Olhos arregalados para o amigo.

– O-oi?

Itachi estava pálido, o coração à mil por hora. Como contornaria aquele fatídico deslize? Deslize não, avalanche!

– O que você quer dizer com não pertenço, Itachi? Não pertenço ao norte? Não pertenço ao meu namorado? Não pertenço à minha nova vida? Por quê?

Itachi não falou nada.

– Fala, Itachi! Fala qualquer coisa!

Itachi olhou para ele amargurado.

– Você não levou o porta-retratos.

Shisui o olhou confuso.

– Que porta...?

– Aquele branco, com nós dois naquela tarde na praia.

– Ah sim! O porta-retratos! - exclamou Shisui alegremente - É que ele não coube na caixa e não deu para eu pegar e... Como você sabe dele?

Fez-se silêncio entre eles.

– Não importa - disse iIachi saindo de cima do capô do carro -. Ele não cabe em sua caixa de qualquer maneira.

Itachi se dirigiu para o local de onde veio, iria embora.

– Espera um pouco! - gritou shisui irritado - Eu demando saber como você sabe do porta-retratos e por que sempre que você se irrita, você me dá as costas e vai embora. Não somos mais crianças pra você ignorar e fingir que o problema não existe, Itachi!

– Eu estou cansado dessas suas frases evasivas, desse seu estoicismo! Se você tem algo para me dizer, diga de um vez! - Shisui se expressava energicamente. Seus olhos estavam úmidos com lágrimas de raiva e frustração.

Itachi parou e, silenciosamente, voltou-se pra Shisui.

– Tenho, sim, algo para lhe dizer.

Shisui pareceu se acalmar, ficou prestando atenção em Itachi. Este se aproximou e disse:

– Quando eu digo que não quero mais ficar com você, é porque eu quero. Na verdade, tenho medo de dar a você o meu coração e de confessar que eu estou à sua mercie. Pois eu sempre acreditei que você estaria ao meu lado todos os dias, e nunca pude sequer imaginar o que seria de mim se eu o perdesse.

Itachi fez uma pausa e continuou:

– Eu me afasto e me defendo de você, mas depois, dentro de mim, é como se me entregasse. Sei que faço o tipo calado e falo coisas que eu seu que não sou eu, ou não penso, e isso com razão, porque em seguida, eu me nego!

– Mas Shisui - ele disse com voz embargada-, a verdade é que eu sou louco por você e tenho medo só de pensar em perdê-lo para sempre!

Shisui ouvia a tudo emudecido.

– Mas agora eu... - Itachi recomeçou fitando o chão - Eu preciso aceitar que não dá mais para fingir o que sinto. Eu tive que perder você para só então perceber que não consigo mais separar as nossas vidas.

O coração de Shisui batia descompassadamente. Aquilo o que Itachi falava, ele havia esperado ouvir aquilo a vida inteira!

Mas agora que ouvia, ele se sentia confuso e perdido.

– Eu sei que você deve me achar um egoísta agora, um louco! Mas nessa loucura de dizer que não o quero, sei que vou negando as aparências e disfarçando as evidências, no entanto, para quê viver fingindo se eu não posso enganar meu sentimento?

– Shisui, eu simplesmente SEI que o amo!

As bochechas de Itachi ganhavam bonitos tons róseos à medida que ele declarava tudo aquilo que estivera guardado dentro de si por tantos anos.

– Chega de mentiras - ele continuou- , de negar o meu desejo, pois eu o quero mais que tudo, eu... eu necessito do seu beijo. E juro, Shisui, que entrego a minha vida para você fazer o que quiser de mim; portanto, por favor, só quero ouvir você dizer que não me esqueceu. Que seu sentimento não mudou. Por favor, diz que sim.

Itachi relutava para conter a vontade de chorar, relutou debalde, pois as lágrimas afloravam devido à intensidade de seu sentimento.

– Eu compreendo que você refez a sua vida e que encontrou um novo amor, mas eu não quero acreditar nisso, Shisui. Eu me recuso a acreditar nisso! Diz que é verdade tudo aquilo que você me disse e escreveu, diz que você ainda tem saudades e que você ainda pensa muito em mim. Diz que você ainda quer viver por mim!

Shisui estava confuso, sua cabeça girava feito um ventilador de teto e ele não sabia como reagir. Uma parte de seu ser queria pular em Itachi, apertar aquele corpo esguio contra o seu, beijá-lo até não mais ter fôlego, mas outra parte estava decepcionada e irritada, pois Itachi parecia mesquinho e frívolo.

,,E se ele só estiver agindo assim porque eu disse que estou gostando de outra pessoa?”, ele pensou.

Itachi parecia tremer sob aquele céu. O outrora comedido e forte Itachi havia se desnudado e se exposto diante de si. Ele parecia flébil e pequeno. Itachi limpou os olhos com as mangas da camisa, internamente aguardando uma reação ruim por parte de Shisui.

– Fui eu - ele disse numa voz diminuta - quem colocou o porta-retratos na sua estante.

Shisui pareceu surpreso.

– Quando passei mais tarde e vi que não havia mais nada seu, exceto o porta-retratos, eu fiquei muito, muito triste e vim para cá.

Shisui continuava mudo, lutando contra os seus próprios demônios.

– No caminho, encontrei Kakashi - prosseguiu -, é incrível como aquele sujeito aparece nos lugares mais inusitados!

– Kakashi me falou tudo sobre você, sua nova vida, seu novo emprego e, o que eu mais temia, seu novo companheiro. Eu... Não consegui ficar contente.

Shisui ouvia a tudo atentamente e quando Itachi pareceu calar ele disse:

– Kakashi me disse que você também tem um novo amor, isso é verdade?

Itachi levantou os olhos negros para Shisui, surpreso com que acabara de ouvir.

– Novo amor? Eu?

– Sim. Ao menos, foi o que Kakashi disse. Que você trabalhava feito um bicho, estava podre de rico e que tinha um novo amor.

– Eu... Eu não sei do que Kakashi está falando - Itachi fungou.

– Eu também não - disse Shisui duro.

– A menos que... - fez Itachi.

– A menos que o quê?

– A menos que ele tenha sido sarcástico.

– Sarcástico? - inquiriu Shisui.

– Sim - respondeu Itachi. - Porque de fato, trabalho muito, mas recebo pouquíssimo. Só dá para sustentar a mim e ao meu cão.

– CÃO?!

– Sim, o Pochi. Eu o encontrei no mesmo dia que você partiu.

Eles ficaram em silêncio. Mas não foi num silêncio estranho, foi num silêncio confortável, cheio de significados.

Então, Shisui riu alto. Itachi não entendeu o motivo.

– Tudo faz sentido agora - disse Shisui e sua expressão era serena e amistosa.

Itachi continuava sem entender.

– Na minha ânsia por querer pertencer a um lugar, a uma pessoa, eu deixei de observar o que sempre esteve claro para mim - Shisui disse e olhou carinhosamente para Itachi, que ruboreceu. - Eu sou tão barulhento, Itachi, e você tão silencioso!

Shisui estendeu uma mão para Itachi e ele a pegou, em seguida, sentiu um puxão abrupto e um calor e um perfume familiares. Estava envolvido nos braços de Shisui e teve a certeza de que jamais se permitiria perder aquele contato novamente. Eles não se beijaram, eles não disseram palavra. O que eles trocaram e sentiram era grande e intenso demais para ser interrompido por quaisquer das duas coisas. Quando a conexão esmaeceu um pouco, Shisui disse:

– Vou pro norte.

O coração de Itachi pulsou mais forte.

– Eu tenho coisas por lá, sabe, Itachi?

Pesaroso, Itachi assentiu com a cabeça.

– Eu realmente tenho que virar essa página da gente, Itachi.

– Eu compreendo - a voz de Itachi soou embargada e quase inaudível.

– Porque eu quero começar um novo livro com você.

O susto que Itachi levou só não foi maior do que o sorriso estampado na cara de Shisui. Os olhos dele também sorriam. Seu peito transbordava de alegria! Ele segurou as mãos de itachi bem forte e o beijou na bochecha.

– Eu preciso terminar com meu namorado. Jamais trairia ele, mesmo que fosse com você, meu verdadeiro amor. Você me espera, Tachi?

O Uchiha mais novo afundou o rosto no peito do mais velho e assentiu com a cabeça. Suas lágrimas umedeciam a camiseta verde de Shisui. Ele também estava tão feliz que não sabia o que falar.

Shisui foi para o norte naquela noite mesmo, depois de deixar Itachi em casa.

– Amanhã eu estarei de volta. Pode levar suas coisas e o Pochi lá pra casa. Eu quero garantir que nunca mais vou perder você de vista.

Itachi empacotou seus parcos pertences e naquela mesma noite também fez a mudança, mas optou por dormir em casa, em cima de um edredom.

Na manhã seguinte, o bit-bit da buzina da caminhonete de Shisui acordou Itachi. Ele sorriu por dentro e por fora. Correu ao encontro de Shisui e quando este abaixou o vidro para falar com Itachi, um hematoma roxo coloria o olho direito de Shisui, que, embora machucado, trazia um sorriso moleque de orelha a orelha.

– O que foi isso no seu olho?

– Humm... Caí da prancha de surf– Shisui deu uma piscadela.

Eles se mudaram e moram juntos até hoje. Itachi aprendeu a se expressar mais com as palavras e Shisui, a se expressar mais com ações e, à medida que envelhecem juntos, melhores se tornam.

E quanto ao porta-retratos?

Bom, ele se encontra até hoje, em local de destaque, sobre a prateleira, junto com muitos outros porta-retratos, registrando momentos, pessoas e recordações que jamais poderão ser esquecidos.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a você que leu. Você é muito importante, você é essencial e necesserári@.



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