POV - Anabeth

        Hamburgo.

       Como desejei voltar a essa cidade, o único lugar que eu pude chamar de lar. Senti saudades dos seus inúmeros canais, a Veneza Alemã. Colônia nunca se aproximaria de sua beleza. Desci na estação rodoviária, seis anos longe fora tanto tempo, mas naquele momento parecia que eu havia embarcado ontem. Thomas resmungou quando eu o acordei para descer do ônibus. As luzes da noite na cidade lhe forneciam um charme que faria Paris se invejar.   

        Quantas lembranças aquela cidade me trazia, os momentos mais felizes que eu já havia tido. A volta fora uma decisão difícil. Eu havia jurado nunca voltar, porém, a vida – não minha, mas do meu filho – me obrigara a voltar. Eu teria de juntar as forças que eu não mais sabia se tinha. Me acomodei em um hotel, precisava encontrar Tom, a visão do seu sorriso veio a minha mente fazendo meu coração sangrar, como eu queria tocá-lo novamente.

        Não consegui dormir a noite, o tempo era meu inimigo, a cada dia Thomas ficava mais debilitado. A doença avançava rapidamente pelo seu pequeno corpo. Será que Bill ainda morava na mesma casa? A última coisa que eu queria era ir a casa de Simone, mas por outro lado seria mais fácil ver Tom se eu tivesse o apóio de Bill.

        Lucy! Como eu senti saudades da minha pequena, com seu sorriso meigo e inocente, eu a procuraria primeiro aproveitando a turnê do Tokio Hotel. Ela deveria estar linda, assim como Katie.  Tracei meus planos, levaria Thomas ao hospital quando a manhã chegasse, depois procuraria Lucy.

        A noite se arrastou, Meu filho dormia profundamente, parecia um anjo, Eu precisava de um emprego e de uma casa de preferência próxima ao hospital, me acomodei em um sofá para ver a noite passar com a certeza que seria mais uma noite de insônia. Me sentia sufocada. A presença de Tom naquela cidade era intensa, mesmo sabendo que ele não estava lá. As lembranças me inundavam.

        “A neve caía lentamente deixando a paisagem branca, eu precisava encontrar Bill. Lucy deveria estar linda. Eu estava cumprindo minha promessa, eu estava voltando. Caminhei lentamente com minha mochila nas costas, era pequena, mas grande o suficiente para acomodar os meus pertences. Eu não tinha dinheiro e nem para onde ir. A casa marrom se estendeu a minha frente, será que ele ainda se lembraria de mim? Respirei fundo e subi os degraus, era o momento de enfrentar a realidade. Toquei a campainha e esperei alguns minutos que para mim se transformaram em horas. A porta fora aberta lentamente por um homem de meia idade muito bonito: Sr. Trumper, que parou chocado ao me ver. Sua cara de espanto foi substituída por um sorriso, o que me chocou.

        - Anabeth! - ele falou me dando um abraço apertado – Que bom te ver! - ele falou me puxando para dentro de casa – TOM! TOM!!!!!!!!!!! Vem ver quem está aqui!

        Comecei a sorrir, nunca imaginei essa reação dele, mesmo ele sempre tenha sido carinhoso comigo e com a minha irmã.

        - Você está linda! – ele me elogiou – Vamos acordar o Tom! Aquele dorminhoco! Ele vai ficar tão feliz em te ver. – Sr. Trumper me puxava escada acima.

        Paramos em frente a porta do quarto de Tom, meu coração não mais batia em meu peito, não conseguia acreditar que Tom fosse ficar feliz em me ver, Gordon abriu a porta sem bater. Tom estava adormecido em sua cama de casal, usando apenas uma calça de moletom cinza abraçado no edredom negro. O seu rosto tão tranqüilo, como eu sonhei em ver todos esses anos, o tempo poderia parar naquele instante que eu seria a garota mais feliz do mundo.

        - Tom acorda! – Sr. Trumper o sacudia - Olha quem está aqui!

        Tom resmungou e abriu só a metade de um olho bem lentamente, eu pude ver seus lindos olhos castanhos, os olhos que fazia meu sangue gelar, seu sorriso se desenhou em seus lábios, mas ele voltou a fechar o olho.

        - Acorda garoto! É a Anabeth!

        O garoto sonolento abriu os olhos lentamente, mas desta vez ele se sentou na cama em instantes com o seu olhar alarmado vidrado em mim. Ele se levantou lentamente e caminhou até mim, sua mão direita foi levantada, mas voltou para o lado do seu corpo antes de me tocar, como desejei aquele toque, o calor do seu corpo. A tensão entre nós era palpável, como se o mundo ao nosso redor não existisse, eu não tinha consciência nem do meu corpo, forcei um sorriso tentando retomar o controle sobre ele.

        - Não é um sonho, você voltou! – ele falou com sua voz rouca de sono.

        - Eu prometi! Eu cumpro. – falei séria

        Seu sorriso se iluminou, fazendo o meu se abrir em resposta. Ele não havia me esquecido, meu medo fora em vão, durante cinco anos não dormi uma noite sequer sem pensar nele. Ele me abraçou e seu cheiro amadeirado me consumiu, fazendo todos os meus medos se esvaírem. Como seu corpo era quente, capaz de esquentar o meu que esteve gelado por todos esses anos, morto.

        - Me dá a sua mochila. – ele me pediu me soltando, eu havia esquecido dela em meus ombros.

        Passei minha mochila para ele que a colocou em cima da sua cama, olhei em volta procurando pelo Sr. Trumper, mas não o encontrei só havia Tom e eu naquele quarto e a porta estava fechada.

        - Você vai ficar! Não vai?! – ele me perguntou me puxando para me sentar na cama com ele.

        - Eu não tenho para onde ir. – falei me dando conta da realidade, eu era uma sem teto – Eu saí de casa só com essa mochila e o dinheiro da passagem. – mesmo assim eu sorri ao falar.

        - Ótimo! Se você me falasse algum dia que iria embora eu ficaria muito chateado com você. – ele sorriu e me abraçou novamente seus dedos passearam lentamente pelo meu rosto.

        Aquele momento era mágico, quantas vezes eu havia fugido para aquele quarto, e agora eu estava lá novamente sem aquela regra idiota que me atormentou por um ano. Nos soltamos lentamente sem o contato visual ser quebrado.

Nossa aproximação foi lenta, ambos sabíamos o que iria acontecer e desejávamos aquilo. Seus olhos queimavam, mas não era devastador, era calmo e intenso. Sua boca tomou a minha, houve uma explosão, seus lábios se amoldavam aos meus em um balé macio acompanhado pelas nossas línguas. A maciez deles era minha perdição, meu paraíso. Nossos lábios se afastaram calmos assim como começou.

        - Eu estava com saudades! – Tom falou sorrindo”