*Narrado por Catherine

Tudo estava indo bem, na medida do possível, continuávamos na proteção da casa de Peter e Samantha. De dois em dois dias, fazíamos rondas pelo bairro para procurar alimentos e armas. Sempre quando eu ia, deixava mensagens nos muros, torcendo para Carol ver que estávamos bem. Sam se apegava a Judy a cada dia mais, já Peter tinha um certo receio com Judy, ele não gostava de bebes, Samantha tinha sofrido um aborto e ele ficou traumatizado (ela havia me dito enquanto conversávamos). Um dia quando eles saíram pra ronda, fiquei ensinando Judy a falar, como era de costume.

— Vamos Judy, você consegue. RI-CK, RI-CK — eu dizia, enquanto ela tentava pronunciar alguma coisa, mas ainda era cedo de mais.

Ouvi Peter gritar para que eu abrisse o portão e eu o fiz. Ele entrou correndo com Samantha inconsciente em seus braços.

— O que aconteceu com ela? — perguntei enquanto ele a colocava no sofá.

— Foi mordida — ele disse enquanto chorava.

Quando ouvi isso, comecei a chorar também, ao mesmo tempo corri para pegar minha adaga que estava encima da mesa, mas ele me impediu.

— Não! Não podemos matá-la, Cath! — ele disse com uma expressão séria e triste.

— Ela já está morta, Peter. Você quer que ela vire uma daquelas coisas? — perguntei enquanto o encarava.

— Por favor, Cath. Eu te peço. Podemos trancá-la ou amarrá-la, só de estar perto dela eu já vou estar feliz, ela não pode ir embora da minha vida assim. Você sabe o quanto eu a amo — ele estava mesmo desesperado.

— Tu- tudo bem, Peter. A casa é sua, faça o que quiser, mas, por favor, a deixe amarrada, ok? Eu não a quero chegando perto de mim ou de Judy — disse, pegando a bebezinha e indo em direção ao nosso quarto.

Era ele contra mim, não tinha nem como discutir, ele poderia me colocar pra fora da casa a hora que quisesse. Eu não tinha escolha, só espero que ele cumpra o que disse e deixe Sam... aquela coisa longe de mim e Judy.

XxX

A cada dia Peter ficava mais alterado, bebia muito e vivia trancado com aquela coisa que antes foi Samantha. Quando ia pra suas rondas, sempre trazia alguns animais mortos pra aquele monstro comer, ele estava ficando maluco de verdade, nem parecia aquele mesmo Peter de anos atrás. Eu já estava considerando a possibilidade de algum dia ter que fugir com Judy dali, já estava cansada de todo dia dormir com medo daquele zumbi nos machucar no meio da noite. Antes de sair pra mais uma de suas rondas, ele começou a falar comigo.

— Olha Cath. Samantha está ficando cada dia mais fraca — ele disse com uma expressão calma

— Peter, ela está morta. Você não pode fazer mais nada — eu disse o mais calma possível

— Nunca mais fale isso, Catherine! Nunca mais! — sua expressão rapidamente mudou de calmo para furioso. Ele nunca me chamou de Catherine, o que comprova minhas suspeitas, ele estava alucinado — Continuando, ela não come as coisas que eu trago, ela não gosta de animais mortos.

— Ela não GOSTA? — perguntei com um olhar furioso, desde quando zumbis tem que ‘’gostar’’ de alguma coisa?

— Ela precisa de alguma coisa viva, Catherine — ele disse, ignorando minha pergunta.

— O que você quer dizer com isso, Peter? — não, ele não podia estar pensando nisso.

— Você sabe que eu nunca faria nada de mal com você, Cath, sabe disso. Mas... — ele deu uma olhada na direção de Judy — Se eu não achar nada vivo pra ela hoje, terei que tomar uma decisão drástica.

— Não! Você não pode fazer isso, Peter! Ela é só uma bebe! Você não tem esse direito — eu disse, já com lágrimas nos olhos.

— Sinto muito, Cath. Mas essa é a única solução — dizendo isso, foi saindo pela porta.

XxX

Depois de algum tempo pensando, cheguei a uma decisão bastante difícil.

— Vamos, Judy. Já está na hora de você dormir, tá bom? — disse enquanto a pegava no colo — Eu prometo que nada de mal vai acontecer com você. Nunca.

Eu estava decidida, nada iria mudar o que eu estava prestes a fazer. Fui até o quarto onde o zumbi estava e finquei minha adaga em sua cabeça. Arrastei o corpo pra fora de casa e deixei lá fora. Quando Peter chegou, pude ver de longe uma garrafa de bebida totalmente vazia e uma raposa morta. Morta. Ele abriu a boca pra pedir que eu abrisse o portão, mas parou quando viu o corpo de Samantha jogado do lado de fora da casa. Ele se ajoelhou ao seu lado e começou a chorar, ao mesmo tempo gritava comigo dizendo que eu era uma assassina. Peter estava muito longe ainda, então tive que chegar mais perto para acabar com isso logo. Essa sim era a verdadeira solução.

Às vezes fazemos coisas que são erradas, às vezes fazemos coisas que ninguém entenderia o porquê de ter feito aquilo, às vezes fazemos coisas boas e às vezes fazemos coisas más. Geralmente as escolhas que fazemos tem sempre um motivo, esse motivo pode ser ridículo ou até sem nenhuma importância aos olhos dos outros, mas para nós significa muito. Você teria coragem de matar alguém que você ama? Você teria coragem de matar pra salvar a vida de outras pessoas? Você teria coragem de se sacrificar pra proteger as pessoas que você ama? Se a resposta for não, você nunca estará pronto para um apocalipse zumbi. Antigamente minha resposta também era ‘’não’’, mas agora, minha resposta mudou. Mudou porque eu percebi que quando você está tentando sobreviver, você faz muitas coisas, coisas que nunca pensou em fazer, coisas que os outros nunca pensavam que você fosse capaz de fazer. Mudou porque quando você encontra alguém pela qual sua vida valha a pena, você começa a se importar com essa pessoa, você faz de tudo para que ela fique bem, fique viva. Mudou porque eu aprendi que quando você começa a se importar muito com alguém, se machucar vem no pacote. Mudou porque eu encontrei alguém por quem faria qualquer coisa, alguém porque valha a pena viver.

E pensando nisso, atirei.