Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 36
Boa demais?


Notas iniciais do capítulo

NÃO ME MATEM, PELO AMOR DE DEUS!
Não quero ficar aqui pedindo desculpas pela demora, mas saibam que há motivos, e eu os considero válidos. Espero que possam me perdoar.
NOSSA, ESTOU COM TANTAS SAUDADES! ♥



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 O beijo dura apenas alguns segundos antes que Perseu o interrompa, afastando-me com mãos cuidadosas, porém firmes. Encaro-o sem entender, tentando ignorar o sentimento de rejeição que começa a me dominar.

— Isso é errado — ele murmura pesaroso, ainda segurando-me pelos ombros. Abro a boca para responder, porém ele impede. — Não posso fazer isso com você, Emma. Você é boa demais para mim.

— O quê?! — exclamo incrédula, a raiva novamente dando as caras. Afasto-me do seu toque, erguendo as mãos em sinal claro de incompreensão. — Eu quero isso, seu idiota! Como pode dizer que sente tudo aquilo para depois falar que é errado?

— Sinto muito — desculpa-se, parecendo realmente muito culpado, o que não melhora em nada a situação.

Encaro-o atônita, sentindo meus olhos começarem a arder contra a minha vontade. Eu definitivamente não vou chorar na frente do garoto que acabou de me dispensar. E com esse pensamento dou as costas para ele, correndo até a saída da loja e fugindo igual uma garotinha.

Caminho à passos rápidos em direção ao muro, feliz por ele não ter me seguido, apesar de ter ouvido ele chamar meu nome algumas vezes. Tenho a leve consciência que sair assim, desprotegida e descontrolada, não é a melhor coisa a se fazer, mas apenas continuo correndo. Encontro a passagem e passo por ela o mais rápido que consigo, fechando-a atrás de mim, sem ver qualquer sinal de Perseu.

Não permito-me desabar até estar longe o suficiente, mais especificamente em frente à um prédio antigo. Sento-me na calçada, cobrindo o rosto com minhas mãos quando o choro torna-se incontrolável. Isso claramente é bem pior que com Jake, o garoto da escola que eu gostava na infância; agora dói, e muito, algo que parece cientificamente improvável. É como se eu conseguisse sentir meu coração ferido dentro do peito, bombeando esse horrível sentimento pelas minhas veias.

O que há de tão errado comigo? Pergunto-me inúmeras vezes, encontrando mais respostas do que gostaria. Não sou bonita, não sou inteligente, sequer sei me defender direito... E agora parece que definitivamente me tornei uma das protagonistas dos malditos filmes adolescentes.

Ouço passos atrás de mim, interrompendo meu momento drama adolescente, e que fazem com que eu levante-me rapidamente em posição defensiva.

— Ei, calma! — O garoto magro e de óculos me olha assustado, com as mãos viradas para cima, apesar de eu sequer estar com uma arma. Relaxo, constrangida, secando o rosto o máximo que posso. — Você é filha do Sr. Walsh, não é? Tá tudo bem? Parece que você estava chorando...

— Eu estou bem — minto, interrompendo-o antes que ele continue a divagar sobre mim. Arrependo-me da grosseria imediatamente, sabendo que o garoto não tem culpa das minhas desgraças, e tento consertar. — Desculpe, não estou em um bom dia. E sim, sou filha dele.

— Legal! Meu nome é Patrick, aliás — diz, sorrindo. Retribuo o sorriso bem porcamente, também me apresentando.

— Você não deveria estar na escola? — pergunto, sabendo que é isso que os jovens como ele e eu fazem nesse horário. Ou deveriam fazer.

— Tecnicamente eu estou, na verdade — ele diz, olhando para o prédio trás de si. Ergo as sobrancelhas em reconhecimento, achando-me levemente tola por vir chorar na frente da escola. — Mas dei uma desculpa para sair. E você, por que não está na aula?

— Não estava muito afim — dou de ombros. Parece realmente uma ideia absurda estudar em um apocalipse, onde faculdade e trabalho não farão mais parte de nossas vidas.

A imagem de Perseu novamente invade minha mente, fazendo com que eu faça uma careta de dor involuntária. Isso atrai a atenção do meu novo “amigo”, que me olha preocupado.

— Tem certeza que você tá bem? — Concordo com a cabeça, engolindo em seco. Permanecer aqui, na companhia de Patrick parece algo extremamente sufocante. Minha vontade de ficar sozinha, de me afastar, é cada vez maior, e começo a me perguntar o que o mundo lá fora fez comigo.

— Ei, hum, eu vou indo — despeço-me, apontando desajeitadamente para a direção da cerca onde papai está agora. — Foi legal te conhecer, Patrick.

— Ok, a gente se vê — ele parece triste, e sinto-me levemente culpada. — Até mais, Emma.

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Reflito se é mesmo uma boa ideia ir até papai nessas condições enquanto caminho em direção aos portões de Woodbury. Apesar de já ter chorado o suficiente por uma semana enquanto estava sentada no telhado do nosso apartamento, preocupá-lo com algo tão tolo seria egoísmo.

 Porém, considerando que papai não tem uma vasta experiência sobre garotinhas com corações quebrados, acredito que ele não irá notar.

— Emma! — Papai me avista de cima da cerca, e abre um grande sorriso, que infelizmente morre tão rápido quanto surgiu. — Você está bem?

Droga, praguejo, acho que ele percebeu!

— Estou, pai — Sorrio o mais abertamente que posso, e fico aliviada quando ele acredita. Olho para a arma que ele segura, semelhante à de todos os outros que também estão vigiando. — Como está sendo ai?

Shane fala algo rapidamente com outro cara ao seu lado, que apenas concorda com a cabeça. Então, ele desce do local onde está e vem até mim, abraçando-me desajeitadamente.

— É bem melhor do que ficar no sofá coçando o saco o dia todo — diz, parecendo não se importar em falar essas coisas para a própria filha. Shane parece feliz pela primeira vez em meses, talvez desde antes do apocalipse, e isso melhora consideravelmente meu humor. — Outras pessoas chegaram, três mulheres — diz, surpreendendo-me. — Governador as colocou na prefeitura.

— Você já as viu? — pergunto, curiosa. Ainda não me acostumei com a ideia de haver tantos humanos sobreviventes. Tento não dar ouvidos ao pequeno fio de esperança em meu interior, que cogita alegremente a possibilidade de mamãe ser uma dessas mulheres.

— Não, mas pelo o que ouvi, são duronas — informa, ajeitando a arma em suas costas. — Diferentemente de alguns aqui, elas sabem como sobreviver lá fora.

— Falando nisso, você conversou com o Governador à respeito das aulas de tiro? — pergunto, interrompendo brevemente o assunto moradoras-novas. Depois de ver como as pessoas de Woodbury sequer sabem segurar uma arma, sugeri à papai que talvez pudéssemos dar aulas a eles. Ele prometeu que falaria com o misterioso Governador.

— Falei, e ele pareceu gostar da ideia — Shane sorri ao ver minha animação. — Talvez amanhã ou depois já comecemos a reunir os moradores.

— Legal! — comemoro, feliz por conseguir esquecer-me por um momento da minha decepção amorosa.

Vejo papai retesando-se ao meu lado de repente, e só então noto que estamos em frente à prefeitura da cidade, justamente onde as mulheres estão. Olho para a porta da construção, e sinto meus olhos arregalarem. Ao lado de Governador, as três novas moradoras estão sendo apresentadas à cidade.

E para minha surpresa, reconheço duas delas.

 

You bear the scars
You've done your time
Listen to me
You've been lonely, too long


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Você carrega as cicatrizes
Você cumpriu sua pena
Me escute
Você tem estado só, por tempo demais
(Dust To Dust — The Civil Wars)

Será que ainda resta alguma alma viva que leia STH? Diga olá, serumano, por favor! Me sinto sozinha aqui.

Pergunta de hoje: Vocês têm ou já tiveram alguma problema psicológico?

Minha resposta: Como disse lá nas notas iniciais, tive motivos para não escrever mais. E um deles foi que eu comecei a sofrer com a terrível ansiedade. Sério, nunca imaginei que poderia haver algo tão horrivelmente ruim. Não desejo a ninguém.

Nossa, estou mesmo com saudades.
Beijosss