Surviving to Hell escrita por Alexyana


Capítulo 21
Dolência


Notas iniciais do capítulo

Olá! Voltei cedo, não é? Bem maneiro, bem legal.
Creio que poderia revisar mais uma vez, porém tenho que fazer tarefa e queria muito postar o capítulo hoje. Então, quando eu tiver um tempo eu o releio.
Espero que gostem do capítulo, foi bem triste escrevê-lo...

Boa leitura!



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– Três anos atrás.

Encaro minhas mãos em meu colo, enquanto ouço vozes baixas e distantes. A emergência do Grady Memorial Hospital está vazia hoje, mesmo com as festas de fim de ano. Estou aqui junto com minha família há muito tempo, talvez horas, não tenho certeza.

Não entendo muito bem o que está acontecendo, apenas sei que as dores no coração que vovó insistia em dizer que não eram nada com certeza são alguma coisa. Tio Grayson trouxe Alicia às pressas para a emergência após ela passar mal na véspera do Natal, deixando a enorme mesa cheia de comida esfriando.

Tia Melinda está sentada no sofá verde claro localizado no outro lado da sala de espera, sendo a única pessoa que está me fazendo companhia no momento. Ela está chorando, isto está claro pelos seus olhos vermelhos e pela frequência em que seu nariz escorre. Acho que isso não é um bom sinal. Cassie e Seth estão com tio Grayson em algum lugar do hospital, provavelmente na lanchonete comendo alguma coisa. Minha prima está particularmente chata hoje, então fico feliz por ela estar longe.

– Tia, você está bem? – arrisco perguntar após ouvir mais um soluço. Ela levanta os olhos claros lacrimejados em minha direção, e encaro-a curiosa e preocupada.

– Sim querida, desculpe. – Ela assoa o nariz mais uma vez, dessa vez em um lencinho novo. Mamãe entra na sala, retornando do corredor. Ela está com seu celular em mãos, e o segura em minha direção.

– Seu pai quer falar com você – diz, e pego o aparelho rapidamente.

– Oi papai – cumprimento menos animada que de costume. Levanto-me da poltrona e vou em direção ao canto da sala. Sempre faço isso quando estou falando com papai no celular, provavelmente na tentativa de adquirir maior privacidade e intimidade.

– Filha, você está bem? – ouço-o falar do outro lado da linha. Incrivelmente sua voz não se modifica nada de como é pessoalmente, ao contrário da minha, que consegue ficar ainda mais feia.

– Sim, eu acho – respondo incerta. Demoro alguns segundos para proferir a frase seguinte. – Pai, o que está acontecendo? Vovó vai ficar bem, não vai?

Todas as vezes que arrisquei perguntar isso à mamãe ou qualquer parente, recebi respostas vagas que me deixaram ainda mais preocupada.

– Emma, é complicado... – Ele suspira, como sempre faz quando assunto é sério. Sinto meu coração se apertar de repende. – Você sabe que Alicia não está bem há muito tempo.

Ele tem razão, vovó não está completamente bem desde o falecimento de vovô, há dois anos. O câncer levou não só ele de nós, como também parte do coração de cada um, principalmente de vovó.

– Você vai vir nos ver? – pergunto mudando de assunto, e só então noto que minha voz está embargada. No fundo eu quero que ele venha por minha causa, que venha me ver. Faz quase dois meses que papai não vem para Atlanta, e estou com saudades.

– Provavelmente não poderei sair agora por causa do trabalho; mesmo com a cidade pequena não é bom baixar a guarda. Mas tentarei ir. – diz, e tento me apegar no “talvez”. Ouço vozes do outro lado da linha, mas não identifico nenhuma. – Tenho que desligar agora. Tchau Emma.

– Tchau papai – despeço-me, triste por ter que dizer adeus. Ouço o barulho indicando que a chamada foi encerrada, e trato de voltar para junto de mamãe e tia Melinda.

– Você já ligou para Quentin? – ouço titia perguntar a minha mãe. Quentin é meu primo de segundo grau que mora em Nova York junto com minha tia-avó e sua família.

– Ele não conseguiu agendar o voo mais próximo, então talvez só chegue amanhã ou depois – mamãe responde. Não gosto de saber disso, porque geralmente Quentin e tia Rachel só nos visitam uma vez por ano. E eles já nos visitaram esse ano.

– Estou com fome – queixo-me. Mamãe interrompe os cochichos que estava tendo com minha tia, e volta o olhar em minha direção.

– Vamos até a lanchonete então – ela diz, e pega sua bolsa em cima do sofá. Antes de sair ela volta-se para a irmã, fitando-a preocupada. – Você vai ficar bem?

– Sim, pode ir – responde, e ela realmente parece melhor. Mamãe é a irmã mais forte e corajosa, e eu adoro este fato. Já tia Melinda é sensível e delicada. Um verdadeiro contraste.

Avanço pelo corredor iluminado ao lado de mamãe, o cheiro de remédios disfarçado pelo aroma do desinfetante cheiroso. Ela caminha segura ao meu lado, como sempre. Encaro-a fixamente, tentando encontrar alguma rachadura em sua armadura. Acabo encontrando algo suspeito nos olhos baixos, que logo tratam de desviarem do chão e focarem em mim.

– O que seu pai disse?

– Talvez ele venha me ver – respondo, e a esperança está clara em minha voz. Mamãe permanece quieta, como sempre faz quando falo coisas do gênero.

– Emmuxa! – A voz de tio Grayson toma conta do corredor quando ele grita meu apelido ridículo. Reviro os olhos quando o vejo avançando em minha direção, com Seth e Cassie ao seu lado. – Maddidy!

– Por favor, Grayson, pare com isso! – mamãe ordena em voz baixa, na tentativa de não chamar atenção de mais pessoas.

– Que isso, Maddidy! Desde quando tem vergonha do seu cunhado? – pergunta, mesmo sabendo que a resposta é “desde sempre”. Ele é o único que permanece mais alegre, e isso alimenta minha esperança de que nada grave aconteceu. – Então, como vocês estão?

Sua voz adquire um tom mais sério, e quando noto ele e mamãe estão em uma conversa adulta. Foco o olhar em meus primos, que estão em minha frente. Seth é o mais alto de nós, enquanto Cassie é a mais baixa. Fico feliz por ser mais alta que ela, mesmo que só por alguns míseros centímetros, já que isso é uma das únicas qualidades físicas em que sou melhor que Cassie.

– Quero ir embora – ela queixa-se, fazendo bico.

– Você só reclama – censuro, enojada.

– E você só implica.

– Parem com isso! Que coisa chata! – Seth interrompe bravo. Obedecemos, e noto que ele está particularmente revoltado. Talvez seja a adolescência.

Logo mamãe e eu retomamos nosso caminho para a lanchonete, enquanto tio e primos seguem a direção contrária. Adentramos no espaço cheio de mesas de quatro cadeiras espalhadas, praticamente vazio fora um casal de meia-idade em um dos cantos. Mamãe faz o pedido para a moça atrás do balcão, e logo estou abocanhando meu pão de queijo.

Dona Maddison está sentada em minha frente, e como quieta enquanto ela apenas observa. Termino e iniciamos novamente nosso percurso até a sala de espera, mamãe não tendo comido nada. Não gosto do silêncio quase mortífero que reina entre nós, já que não é algo normal.

– Mãe, o que vovó tem? – pergunto, dessa vez sendo direta. Ela hesita por um momento antes de responder, mas opta por sanar minha dúvida.

– Ela teve um ataque cardíaco.

– Ela vai melhorar, não vai? – Minha voz é incerta, e quase imploro.

– Não tenho certeza – mamãe responde com a voz vacilante, e meu coração se despedaça ao ouvir isso.

Sinto lágrimas pinicarem em meus olhos, e esforço-me ao máximo para não deixá-las cair. Entramos novamente na sala de espera, que não tem ninguém além dos meus familiares.

Sento-me na ponta do sofá verde claro, o qual já estou repugnando. Todos estão abatidos e tristonhos. Até mesmo tio Grayson não está mais animado quando faz uma piadinha sobre a cor dos hospitais serem sempre a mesma.

Fico extremamente entediada, principalmente por não ter nada para olhar além da parede branca doentia ou os rostos dos meus parentes. Apesar disso, estou feliz por estarmos todos juntos agora. Queria que papai estivesse aqui também, porque ele é uma presença reconfortante. E eu preciso de conforto agora.

Finalmente, após muito tempo, o médico surge pela porta. Ele está com seu típico jaleco branco, e há um daqueles aparelhos em torno de seu pescoço. Sua expressão está séria, e consigo ler o sobrenome “Fider” em seu crachá.

Todos ficam apreensivos esperando suas palavras seguintes, que revelarão a notícia que estamos esperando há horas. Tantas horas que até acho que já é Natal. Quando ele nega com a cabeça, abaixando o olhar, vejo o mundo de todos a minha volta ruir.

– Eu sinto muito – a voz do médico é grave quando diz isso, e eu sei que nunca esquecerei estas palavras. Tia Melinda começa a chorar, apoiando-se em tio Grayson. Minha prima faz o mesmo, e até Seth tem o típico líquido salgado escorrendo pelo rosto.

Abraço mamãe, enquanto sinto minhas lágrimas escorrerem e molharem a blusa favorita dela. Seu corpo vibra abaixo de mim devido aos soluços, e vê-la assim só contribui para tornar o momento ainda mais torturante.

Quando era menor, talvez com uns seis anos de idade, quebrei o braço andando de bicicleta. Lembro-me de perguntar a papai se era possível sentir uma dor maior que aquela, e ele disse que sim. Achei que era mentira, até porque era uma dor realmente insuportável, porém agora sei que é verdade. Desconfio que estou a sentindo agora, a dor mais insuportável do mundo. A dor de perder alguém que amamos.

There is not a single word in the whole world
That could describe the hurt
The dullest knife just sawing back and forth
And ripping through the softest skin there ever was


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Notas finais do capítulo

Tradução:
Não há uma única palavra em todo o meu mundo
Que pudesse descrever a dor
A faca maçante apenas serra para frente e para trás
E rasga a pele mais suave que já existiu
(Hate To See Your Heart Break – Paramore)

Então, o que acharam? Foi um flashback da morte de Alicia e acabou sendo o especial de Natal :( HEUEH MEIO TRISTE SABE. O próximo já será em tempo real, risus.

Pergunta de hoje: Qual é seu feriado favorito?
Minha resposta: Eu adoro o Natal! Toda a família reunida, o clima de alegria e de finalização... Fora a comida, que é realmente boa.

PS: Obrigada a todos que estão acompanhando e que comentaram o capítulo anterior, eu fiquei tão feliz!!!



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