P.O.V. Elizabeth

Eu sabia que estava sonhando. Nunquinha no mundo real minhas notas estariam tão boas, eu estaria morando com meu pai e tudo estaria na perfeita paz, com o Bill se agarrando no quarto comigo. No entanto, não custa nada aproveitar o sonho...

- TOOOOOM! – dei um pulo e caí da cama com o grito que veio do quarto ao lado. PQP! Quando eu estou no meio de um sonho perfeito e maravilhoso, o Bill me acorda com mais uma briguinha ridicula dele com o irmão. Ele vai ver só! Eu vou bater nele até tirar o couro!

- O QUE FOI DESSA VEZ? – perguntei ao entrar batendo a porta do quarto dos gêmeos. Como a casa do Georg em Berlim não era muito grande, os gêmeos tinham que dormir no mesmo quarto, assim como Georg e Claire, a diferença era que o quarto deles não era do lado do meu e eles não eram tão escandalosos.

Para minha surpresa ao parar para prestar atenção ao que estava acontecendo, Tom estava deitado por cima do Bill, roncando ainda por cima enquanto o gêmeo mais novo o encarava querendo lhe arrancar as partes de baixo.

- Eu não creio que realmente precise me explicar dessa vez! – disse Bill indignado apontando para o Tom ainda esparramado por cima de si.

Ergui uma sobrancelha para eles.

- Você realmente precisava gritar daquele jeito só porque o Tom errou a cama? – perguntei cruzando os braços, ainda brava por ele ter me acordado do meu sonho maravilhoso.

- Eu estava dormindo! Me assustei com um munaia desses se jogando em cima de mim! Até porque a única pessoa que costuma se jogar em cima de mim é bem mais leve! – disse ele me dando um sorrisinho malicioso.

Virei os olhos.

- Sabe, é humilhante ver você me dando essas indiretas enquanto é esmagado na cama por outro homem – eu comentei me sentando na cama do Tom.

Bill fechou a cara.

- Não tem graça nenhuma isso! Eu não tenho culpa se esse coiso está tão bêbado que nem acordar com os nossos gritos ele não acorda! – Bill disse.

- E eu não tenho culpa dele ter se jogado em cima de você, no entanto você foi, gritou e me acordou! – eu retruquei.

Por isso que titia Simone sempre nos diz que dois bicudos não se beijam! Eu e Bill bravos um com o outro tornava as coisas muito complicadas para serem resolvidas.

Um ronco absurdamente alto do Tom fez com que Bill e eu desfizessemos nossa birra e acabássemos rindo da criatura.

- Me ajuda com ele? – pediu Bill impossibilitado de se mexer muito.

- Tudo bem – eu disse puxando o braço do Tom e fazendo- o cair de cara no chão.

Detalhe: ele não acordou.

- Você podia tentar ser um pouco mais delicada – desaprovou Bill franzindo o cenho.

Dei de ombros.

- Eu quero que ele fique bem dolorido amanhã quando acordar – eu disse sem dar grande importância a esse pequeno fato.

- Tudo bem, agora me ajuda a colocá-lo na cama – disse Bill indo pegar o munaia pelos pés.

Olhei pra ele indignada.

- Você realmente espera que eu levante a parte mais pesada desse imbecil? – eu perguntei pondo as mãos em minha cintura.

Bill virou os olhos.

- Tudo bem sua fresca, pega os pés dele que eu pego o dorso – disse ele indo pegar o Tom pela parte de cima enquanto eu o pegava pelos pés. Depois de um pouquinho de esforço meu e um grande esforço tirado do dedão do pé do Bill, nós conseguimos tocar Tom em sua cama, todo quebrado e roncando ainda.

- Além de dor de cabeça, ele vai acordar com uma grande dor no corpo amanhã! – comentou Bill fazendo cara de quem comeu e não gostou, tomando as dores do irmão para si DE NOVO.

- Para de fazer essa cara de cú, guri! Ele vai sentir dor amanhã de manhã? Dane-se! O problema é dele! Ninguém manda chegar bêbado em casa e errar a cama! Agora se me dá licença eu vou pro meu quarto que já passa das cinco da manhã e se eu bem conheço o Georg ele vai sair batendo panela pra nos acordar em menos de duas horas! – eu disse indo em direção a porta, querendo me jogar na cama.

- Hey, espera! – disse Bill me puxando de volta pelo braço.

- O que foi agora? – perguntei já revistando o quarto discretamente por algum objeto que eu pudesse tocar nele para me deixar ir dormir.

- Eu só queria um beijo antes de você voltar para a cama e roncar como o Tom – disse ele dando um sorrisinho malandro, tentando imitar o irmão. Totalmente sem sucesso, por sinal.

Sorri de volta e encostei meus lábios aos seus, deixando ele continuar o serviço, o que ele fez de bom grado pedindo passagem para minha boca com sua língua.

No entanto, não pensem vocês que eu deixei barato o insulto sobre o ronco.

- Puta que o pariu! – sussurrou Bill vogorosamente enquanto se afastava de mim como se eu tivesse lhe queimado, com o lábio inferior sangrando.

- Eu não ronco, amor! – eu disse me aproximando dele, tirando suas mãos do lábio inferior e o chupando, limpando o sangue que tinha estado ali por causa da minha mordida propositalmente forte. Em seguida lhe dei um selinho e saí do seu quarto, indo para o meu dormir o pouco tempo que ainda me restava.

P.O.V. TOM

- VAAAAMO ACORDAR, CAMBADA! TEMOS UM DIA INTEIRO PELA FRENTE E O JOST JÁ ME ANUNCIOU SUA VINDA! – gritou Georg invadindo nosso quarto com uma panela e uma colher de pau nas mãos.

- Vai se ferrar, Georg! Você e o merda do Jost que nos abandonou nos últimos quase cinco meses! – eu disse pondo o travesseiro em cima da cabeça. Minhas costas e minhas costelas doíam como o inferno!

- Eu não tenho culpa se o Jost desaparece e nem se você sai de noite, toma todas e depois fica de ressaca! Levanta logo que eu não tenho tempo para ficar gastando com vagabundagem! Ainda tenho que acordar a Samara que é a pior! O Jost estará aqui em meia hora e mandou avisar que se vocês dois não estiverem prontos ele vai invadir o quarto e tocar todas as maquiagens do Bill e suas calças e bonés no fogo! – avisou Georg.

Ao final do discurso do meu caro amigo chapado eu só ouvi o som de um corpo se chocando com o chão, levantando, correndo e uma porta batendo.

- Está na hora de fazer o Bill virar homem! Se ele completar o nosso vigésimo aniversário com essa viadagem toda eu me atiro da ponte! – eu disse me virando para levantar. Delicadamente, já que parecia que alguém tinha passado com um trator por cima de mim.

- Deixa ele, Tom! Se o Bill deixar de ser viado nossa popularidade vai pro brejo! – disse Georg se dirigindo para a porta.

- Não vai, não! As fãs me amam muito mais do que amam o Bill, óbvio! – eu disse enquanto me sentava na cama e espreguiçava.

Ao invés de responder, Georg só deu uma risadinha muito gay enquanto fechava a porta e me deixava lá sozinho com a luz ligada para que eu não caísse na tentação de voltar a me jogar na cama.

Levantei cuidadosamente e fui até minha malinha pegar uma roupa para vestir enquanto esperava Bill voltar do banheiro. Enquanto terminava de por os meus tênis e ia pegar o boné pra esconder a raíz podre dos meus dreads, ouvi um grito do quarto ao lado:

- GEOOORG SEU FILHO DA VADIA DE UMA PUT*!!! SOOOOOOOOME DAQUI SEU VAGABUNDO! VAI ARRANJAR OUTRA COISA PRA FAZER QUE NÃO SEJA ME ACORDAR, SEU ANIMAL! SAAAAAAAAAAI! – gritou a Samara.

Saí do quarto para ver o barraco bem na hora que o Georg saia do quarto da Samara correndo com a visão dos infernos caminhando (mentira, ela tava quase se jogando em cima dele) logo atrás. A estranha parou na porta e eu descobri que era macho de verdade exatamente naquela hora, olhando para a garota.

Todos sabem que nós chamamos a Lizzie de Samara porque ela é muito parecida com a menina do Chamado. Porém, naquela hora, parada na batente da porta segurando a maçaneta com uma camisola de manga longa branca, os cabelos na frente dos olhos, a cabeça meio torta e olhando com aqueles olhos aterrorizantes,a visão dos meus piores pesadelos quase se tornou realidade. A única coisa que me fazia não sair correndo e chamando pela minha mãe eram os cabelos loiros e a idade avançada da Samara que estava na minha frente.

- VOLTA AQUI SEU PUTO! VEM ME ENCARAR SE TU É HOMEM! – gritou a cover batendo o pé no chão num tique nervoso.

Todos (eu, Gustav e Claire, que também tinham vindo ver o escândalo) apenas ficamos encarando a Samara na nossa frente, sem movimentar um músculo.

- O que está acontecendo aqui? – perguntou Bill saindo do banheiro com o cabelo todo bagunçado, sem maquiagem e apenas com a calça do pijama.

Sem consegui falar, apenas apontei para a doida.

Bill olhou para ela como se fosse absolutamente normal a Samara aparecer na nossa casa. Suspirando, ele foi em direção a ela, parou na sua frente e começou a falar baixinho, apenas para Elizabeth ouvir. Então, como mágica ela acenou, entrou no quarto e fechou a porta, acabando com a cena de filme de terror.

- Satisfeitos? Claire, avisa o Georg que a Lizzie não quer mais matar ele e que daqui a pouco ela fica pronta. Gust, aproveita que você já está pronto e, por favor, para na porta, espera o Jost chegar e não deixa ele entrar no meu quarto! Eu juro que logo vou estar pronto! – disse Bill entrando novamente no banheiro e se trancando lá.

Olhei para Gustav e Claire que também estavam absolutamente assustados e sem saber o que tinha acontecido exatamente.

Sinceramente, a cada dia que se passa as pessoas que convivem comigo, com o Bill e com a Samara ficam mais doidos, incluindo nós mesmos.

P.O.V. BILL

- E aí Lizzie, está melhor? – perguntou Tom olhando para as escadas atrás de mim.

Virei para Lizzie e sorri, sabendo que ela ainda estava mal-humorada.

- Vai se fuder, Tom – ela respondeu  vindo se sentar entre Tom e eu.

- Tom, eu já te disse para não trazer as suas “garotas”, se é que você me entende, pra casa dos outros! – disse Jost olhando desaprovadoramente do Tom pra Lizzie.

- Agora fudeu! – sussurrou Gustav para mim enquanto todos nós, exceto o Jost, encarávamos Elizabeth.

- Hã... Jost, essa não é uma das minhas “garotas”. Ela é a filha de Victor Sandford, Elizabeth Sandford – disse Tom apresentando de um modo não muito esperado Lizzie à Jost.

Lizzie deu um sorrisinho maléfico.

- Então você é David Jost. Sabe Jost, eu te imaginava um cara mais velho, sem ofensas. É bom que não tenhamos que nos apresentar de um modo tão tradicional, de algum jeito isso afeta de uma forma negativa a relação das pessoas, aparentemente. Eu sinceramente espero que passado esse pequeno momento constrangedor você possa ter uma boa impressão minha, pois pretendo passar muito tempo por aqui com os meninos e, dessa forma, com você também. Eu vou ser como um chiclete no seu sapato, não desgrudo tão cedo – disse ela recostada no sofá com um sorriso de orelha a orelha, o que dava MUITO medo.

Jost ficou encarando Lizzie com olhos esbugalhados por longos minutos de um silencio pesado, até que Georg o rompeu:

- Jost...

- Sim? – respondeu Jost desviando os olhos para Georg.

- Você está absolutamente ferrado – disse Gustav se levantando para ir pegar chocolate, sem dar tempo ao Jost de processar e lhe inquerir o que ele queria dizer com isso, fazendo com que ele perguntasse para mim e para o Tom.

Ao mesmo tempo, sem combinar, eu e Tom apenas demos de ombros e, ao ver que fizemos o movimento sincronizadamente desatamos a rir, fazendo com que os outros apenas nos ignorassem enquanto desfrutavamos de um momento único de gêmeos.

Sim, Jost definitivamente estava ferrado.