A história de Drew Tanaka escrita por Vinicius Moura


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521735/chapter/1

— Drew, corra!

— Não, Dakota! Eu não posso te deixar — a garota falava com lágrimas nos olhos.

— Olhe preste bem atenção em mim: corra o mais rápido que puder. Está vendo aquela colina bem ali? — ela apontou para uma colina situada não tão longe dali, com um pinheiro em seu topo. — Vá até lá. Eu cuidarei do nosso pequeno amigo.

Drew assentiu com a cabeça. Seu coração dizia que ela deveria ficar e combater o monstro que perseguia ela e sua melhor amiga, porém seu cérebro fora persuadido pelas palavras de Dakota, que, misteriosamente, tinha o dom de convencer a todos, algo como um charme em sua voz.

— Vai! Eu prometo que te alcanço.

Virou-se e preparou-se para correr, porém, antes de virar uma curva, Drew Tanaka olhou para trás e viu sua amiga Dakota lutando contra uma besta gigante usando nada mais do que pedras que ela recolhia do chão.

Em um momento de loucura, Dakota olhou para trás para ter certeza de que sua amiga não estaria mais ali. Um ato tolo, afinal, nunca se deve abrir brechas para o ataque inimigo no meio de uma batalha.

E foi nesse momento de distração que a besta a capturou com suas garras, apertando-lhe fortemente os ossos. Ela chorava. Não importava se iria morrer naquele momento, o que mais lhe importava era que sua melhor amiga, Drew, chegasse viva ao Acampamento Meio-Sangue. Todos os anos Dakota ia para o local, que abrigava os filhos dos deuses gregos. Ela era filha de Afrodite e, após perceber que Drew possuía uma habilidade rara das filhas e filhos de Afrodite — o charme — decidiu leva-la consigo desta vez, com a desculpa de que iriam para um acampamento de moda. Era perigoso fazer a viagem sem um sátiro — seres mitológicos com metade do corpo sendo de humano e a outra metade sendo de um bode — porém não havia nenhum disponível para acompanha-las.

Mais a frente, Drew já avistava a colina e o pinheiro no topo com mais clareza. Decidiu parar por alguns instantes para descansar e esperar sua amiga. Ela lhe prometera que a alcançaria e Dakota Gloss nunca quebrava uma promessa. A menina sabia que a besta, neste momento, já estaria morta; mesmo com uma aparência de garota frágil, nunca devia se duvidar de Gloss; ela era mais forte do que aparentava.

— Dakota! — ela gritou e não obteve nenhuma resposta.

Aguardou mais alguns instantes para gritar de novo:

— Onde você ?

Silêncio.

— Eu preciso de você... Por favor, aparece — disse baixinho para si mesma, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ouviu o som de galhos se quebrando próximos ao local de onde estava, limpou as lágrimas e exibiu o mais belo sorriso que possuía. Dakota cumprira sua promessa; ela a alcançara. Ouviu o farfalhar dos arbustos próximos e levantou-se da árvore que usara de apoio para as costas.

— Você volt... — disse, enquanto corria para abraçar a amiga, porém ouviu um rugido e parou. Não era sua amiga. Era a besta. — O que fez com Dakota? — gritava, afastando-se lentamente da fera. Ato inútil, já que o monstro não falava, apenas rugia.

Uma pedra se encontrava atrás de Drew, que tropeçou nela e caiu.

Adeus, mundo, pensou a garota.

— Afaste-se. E-eu tenho uma arma — segurou a pedra na qual tropeçara com uma das mãos. — Vai embora. Chispa — ela não demonstrava confiança em seu tom de voz, que indicava medo.

A besta aproximou-se mais da garota até que seu focinho estava próximo ao rosto de Drew, que já era capaz de sentir o hálito — péssimo por sinal — do monstro.

Drew avistou um pedaço da camisa laranja de Dakota na boca do monstro e, nesse momento, sentiu que deveria vingar à amiga.

— Já disse para ir embora! — dessa vez sua voz estava cheia de confiança e coragem. A garota nunca soube de onde surgiram.

Sabia que não funcionaria, tinha certeza de que aquilo só iria enfurecer ainda mais a besta, porém ela estava errada: o monstro soltou um suspiro e virou-se, correndo para a floresta, que ficava na direção oposta a da colina.

Drew chegou ao topo da colina cansada e avistou, lá embaixo, um acampamento. Não parecia em nada com um acampamento de moda.

— Fomos avisados de que um cão infernal está se aproximando — disse um garoto com pernas de bode, que vinha correndo na direção de Drew. — Não se preocupe, ele não irá atravessar nossa barreira mágica, ela não permite que humanos e monstros invadam o Acampamento Meio-Sangue.

— Aca-o-quê? E esse tal de cão infernal não está mais me perseguindo, ele já foi embora.

— Se você passou pelas barreiras, então... — o garoto com pernas de bode sussurrava consigo mesmo.

— Então o quê? Olha, eu não sei se você sabe, mas eu estou aqui e posso te ouvir muito bem.

— Vou te explicar tudo durante o nosso tour. Venha! Venha! Ah, e a propósito, eu sou Jim! — ele estendeu a mão.

— Drew.

— Só Drew?

— Drew Tanaka.

Jim guiou a garota e mostrou-lhe cada canto do Acampamento Meio-Sangue e explicou-lhe que todos os humanos lá eram, na verdade, semideuses — filhos de deuses com mortais. Os chalés chamaram a atenção de Drew, pois eles formavam um U; um em especial atraiu-a: era rosa pastel e tinha cristais pendendo das janelas.

— Este é o chalé de Afrodite, deusa do amor e da beleza — disse o garoto-bode vendo a admiração da garota. — Agora, venha! Quero lhe apresentar a Quíron.

Ela seguiu Jim até um local chamado de Casa Grande e lá encontrou um homem com a metade de baixo do corpo sendo de um... Cavalo!

— Aquele é Quíron — disse Jim, apontando para o homem. — Ele é um centauro.

— Certo isso já é coisa demais, garoto-bode.

— Na verdade, o termo politicamente correto é sátiro.

— Vejo que temos uma nova campista — disse o centauro se aproximando. — Eu sou Quíron, diretor de atividades do Acampamento Meio-Sangue. Belo trabalho trazendo-a até aqui, Jim.

— Bem... Eu não a trouxe... Eu apenas a encontrei no topo da colina — explicou Jim.

— Então qual foi o sátiro que a trouxe, jovem garota?

— Eu não vim para cá com nenhum garoto-bode, e sim com minha amiga.

— E onde está essa sua amiga? — perguntou Quíron.

— Dakota, bem... Ela morreu — disse Drew desconfortável com a situação e já com os olhos lacrimejando.

— Sinto muito. Essa sua amiga Dakota, por um acaso, o sobrenome dela é Gloss?

— Sim.

— Ah! — Quíron parecia desanimado. Dakota era realmente uma filha de Afrodite diferente: ela não tinha tantas frescuras como os seus meio-irmãos. — Jim, por favor, saia à procura do corpo dela.

— Sim, senhor.

— A última vez que a vi foi na floresta — informou Drew.

— Obrigado! Acho que a encontrarei rapidamente já que filhas de Afrodite usam um perfume forte.

— Ela era filha de Afrodite?

— Sim — Quíron explicou à garota. — Agora venha, você ficará no chalé de Hermes até que seja reclamada.

Drew foi guiada pelo centauro até o chalé do deus Hermes, onde, segundo a explicação de Quíron, era onde ficavam os semideuses ainda não reclamados por seus pais divinos. Lá ela colocou sua mochila em uma das camas e saiu para conhecer seu mais novo lar, já que era quase impossível viver naquele local superlotado.

Sabia que seu pai não iria nem sentir sua falta, afinal o trabalho de Toshio Tanaka ocupava lhe a maior parte do tempo e o nascimento de sua filha Keiko fez com que ele ignorasse ainda mais sua filha mais velha.

Mais tarde, os campistas, Quíron, os sátiros e as ninfas reuniram-se ao redor da fogueira, onde compartilharam histórias e assaram marshmallows, enquanto ouviam as canções tocadas pelos filhos de Apolo. Drew resolvera juntar-se ao grupo para tentar esquecer o que havia acontecido com Dakota, mas vez ou outra, ela pensava na amiga.

— Sinto muito pelo que ocorreu com ela — falou uma garota sentando-se ao lado de Drew. Ela tinha cabelos pretos e lindos olhos azuis. — Bem, se precisar, pode contar comigo. Eu sou Silena Beauregard e você é... Minha meia-irmã!?

— Como é?

— Aqui — Silena agitou os dedos e magicamente um espelho surgiu em sua mão. Ela o apontou para Drew que avistou uma aura rosa brilhando em sua cabeça. Nessa aura surgiu uma pomba envolta por um coração. — E olhe só para suas roupas. Elas estão... Maravilhosamente esplêndidas!

Ela olhou para baixo e percebeu que sua blusa branca, seu short jeans e seus tênis transformaram-se em um vestido rosa com rendas que iam até a metade das coxas. A saia da roupa era rodada, pois, por baixo do tecido principal, havia camadas e mais camadas de um tecido fino. Um laço branco, combinando com os sapatos de salto alto, envolvia a cintura da garota.

Silena soltou um gritinho animado e começou a dar pulinhos de felicidade, enquanto batia palmas.

— Isso é fantástico! Mamãe só dá sua benção àquelas que possuem charme na voz. Eu não tive essa sorte. De acordo com Quíron, a única campista que recebeu essa benção, nos últimos dez anos, foi sua amiga Dakota Gloss. Bem... Até agora — disse.

Drew sentiu-se feliz por saber que ela e sua melhor amiga — na verdade meia-irmã por parte de mãe — compartilhavam algo em comum além do gosto por moda. Sentiu-se mais feliz ainda por saber que deixaria o chalé de Hermes e que iria para o chalé de Afrodite, que tanto lhe chamara a atenção em sua chegada ao Acampamento.

Os filhos de Afrodite saudaram sua mais nova meia-irmã e levaram-na para o chalé de sua mãe. Lá, definitivamente, era mais vago que o chalé de Hermes. Havia seis beliches no lado direito, enquanto isso, no lado esquerdo havia espelhos pendurados nas paredes, bancadas com maquiagens, alguns equipamentos aeróbicos e, ao fundo, havia uma porta que levava ao closet, onde ficavam as roupas e sapatos — separados, é claro, para evitar intrigas e confusões— de todos.

Silena, como a boa conselheira de chalé que era, explicou a Drew todas as tradições e costumes do Acampamento. Explicou-lhe também os horários das atividades.

— E o rito de iniciação? — perguntou um campista do chalé, aparentemente mais novo que Drew. Bem... Quase todos de lá, com exceção de Silena, pareciam mais novos que ela. Talvez fosse a maquiagem...

— Já disse que, enquanto eu for a conselheira deste chalé, este rito será abolido! — Silena parecia irritada. —Isso vai totalmente contra a ideia de amor relacionada à nossa mãe.

Ela puxou sua camiseta laranja para baixo e soltou um suspiro.

— Acho melhor irmos dormir — falou a conselheira, ainda demonstrando raiva. — Amanhã devemos acordar bem cedo para nos arrumarmos.

E assim foi o primeiro dia de Drew Tanaka no Acampamento Meio-Sangue. Os dias que se seguiram foram razoavelmente tranquilos — o mais tranquilo que a vida de um meio-sangue poderia ser. As atividades do local até que eram divertidas. A garota ainda estranhava certos costumes do local, mas sabia que, com o tempo, iria se acostumar a tudo.

Dias mais tarde, Jim regressou com o corpo de Dakota. O chalé de Afrodite ficou encarregado de confeccionar a mortalha da garota. Silena perguntou à Drew se ela queria ficar responsável pela mortalha e ela respondeu afirmativamente. Este seria um meio de despedir-se da sua amiga. O funeral ocorreu no dia seguinte e Dakota foi cremada enrolada em sua mortalha, que era rosa com a figura de um gloss labial bordada.

Drew sabia que sentiria saudades, mas também sabia que Dakota odiaria que ela ficasse apenas se lamentando por ela. Sabia que sua amiga iria querer que ela seguisse em frente.

Três anos se passaram e nesse tempo Drew aproximou-se mais ainda de Silena, — que a ajudou a superar a dor e saudades de Dakota — de seus companheiros de chalé e de Beckendorf, conselheiro do chalé de Hefesto. Ele era mais velho que Tanaka, para ser mais exato, da idade da conselheira do chalé de Afrodite.

Uns meses antes da batalha contra Cronos ocorrer, Drew notara que Silena sumia algumas vezes por semana. Em uma dessas sumidas, a conselheira foi seguida por Tanaka, que se arrependeu disso: ela vira Beauregard e Beckendorf aos beijos e lágrimas começaram a escorrer por seu rosto — ela gostava do garoto, mesmo ele sendo mais velho.

— Silena, venha aqui, por favor — disse Clarisse, a conselheira do chalé de Ares certo dia. Drew estranhou, afinal não era típico dos filhos do deus da guerra pedirem “por favor”.

— Claro — ela disse e seguiu para fora do chalé para falar com sua amiga. Aquela relação era estranha já que as duas eram completamente opostas, mas, mesmo assim, eram boas companheiras.

Drew ficou curiosa para saber do que as duas estavam falando, quem sabe assim não poderia utilizar isso contra Silena para afastá-la de seu namorado — o pedido de namoro provocou náuseas em Tanaka.

Porém soube que se tratava de algo sério quando sua meia-irmã mais velha voltou aos prantos para dentro do local, acompanhada por Clarisse que a consolava.

— Não! Não! — Silena berrava. Clarisse indicou-lhe a cama e fez com que sua amiga deitasse.

— Se eu pegar algum de vocês mexendo com ela, eu juro que o perseguirei até os confins do Tártaro e depois o matarei bem lentamente — advertiu Clarisse.

Charles Beckendorf fora cremado com sua mortalha assim que seu corpo chegara ao Acampamento. Ele havia morrido em uma explosão.

— Silena, seu pai lhe mandou esta caixa de bombons — Drew fora forçada a entregar-lhe aquilo. A garota, mesmo depois de duas semanas da morte do namorado, ainda estava aos prantos. Não saia da cama, seus olhos estavam inchados de tanto chorar e seu cabelo estava bagunçado. Bem diferente de Drew. Ela estava triste, mas sabia que deveria seguir em frente. A vida a ensinara a colocar um sorriso no rosto e continuar a viver.

Ao voltar para o chalé para trocar de roupa, certa vez, Drew notara que Silena não estava mais em sua cama e, após vestir-se, decidiu ir procurá-la. Se a garota já havia saído da cama, isso significava que ela já estava começando a superar a morte do namorado, ou quem sabe, algo maior a fizera sair do seu conforto.

Depois de certos anos de convivência, Drew esperava que Silena ainda estivesse no seu lugar favorito: o estábulo dos pégasos. Mas ela estava errada. Tudo que encontrou lá foram os cavalos alados que eram lavados por alguns campistas de Deméter.

— Algum de vocês por acaso viu Silena? — perguntou.

— Se bem me lembro, ela foi para o lago de canoagem — respondeu um deles.

Drew não sabia muito bem o porquê de estar indo atrás de Silena depois de ela ter namorado o garoto que ela gostava. Talvez, no fundo, soubesse que Silena era sua única amiga verdadeira, que a ajudara nos momentos mais difíceis, como, por exemplo, a superar a morte de Dakota.

— Silena? — gritou.

— Eu estou aqui — ela respondeu. Estava sentada no chão, na beira do lago, com o rosto molhado e alguns dracmas na mão.

— O que faz aqui?

E-eu precisava falar com meu pai — ela gaguejou. Se Drew não conhecesse bem a garota, diria que ela estava mentindo, porém Silena Beauregard era daquele tipo de menina que jamais contava mentiras. Sabia que o pai era uma fonte de conforto para a filha, assim como Silena fora para Drew anos atrás.

— Vem, vamos. No caminho para cá fui avisada de que haverá uma reunião do conselho onde decidirão os planos para a guerra contra Cronos.

Drew guiou a amiga até a Casa Grande, onde ocorreria a reunião entre os conselheiros de chalés e voltou para o seu. À noite, pouco antes do jantar, Silena voltou e explicou aos seus companheiros um dos temas debatidos durante o tempo em que ela ficara fora: a participação dos filhos de Afrodite na guerra.

— Disseram que nós temos a chance de escolher entre participar ou não da batalha — informou-lhes Silena.

— Eu acho que não devemos — disse um dos únicos garotos do chalé. — Quer dizer, nós somos filhos de Afrodite, não sabemos nem manejar uma espada direito. O que vamos fazer na guerra? Se formos, só haverá mortes dos nossos. Qual é, nós somos filhos da deusa do amor, não de Ares, o deus da guerra!

— Discordo de você, Tom — falaram Drew e Silena em uníssono.

— Nós somos moradores do Acampamento e devemos protegê-lo com nossas vidas — falou Silena.

— E, além do mais, não é só no campo de batalha que necessitarão de nós. Quem vai cuidar dos feridos? Tenho certeza de que os filhos de Apolo não darão conta de todos — completou Drew. — Eu, por exemplo, posso ajudar com o meu charme na luta contra os monstros.

— Ah, claro! E o que você vai dizer? “Por favor, senhor monstro, enfie sua espada em sua própria barriga várias vezes de modo a causar-lhe dor e consequentemente sua morte” — disse Tom.

— Tom, já chega! — Silena disse de forma autoritária. — Nós podemos jogar espelhos neles...

— Ele está certo, Silena — disse Drew, pensativa. — Somos inúteis no campo de batalha.

— Drew, não acredito que você foi facilmente convencida. Não por alguém sem charme.

— Existem coisas chamadas argumentos, Silena. E eles, às vezes, podem ser melhores que o charme — disse Tom.

— Vocês podem até não querer ir, mas eu... Eu defenderei este acampamento até a morte.

Nas semanas seguintes, que antecederam a guerra, ninguém conseguiu tirar este pensamento da mente de Silena. Ela dizia que era isso que seu namorado iria querer e que ela devia cumprir sua vontade.

No dia em que a batalha contra Cronos ocorria, tentaram ao máximo contê-la, mas ela foi firme e disse que iria. Alguns dos seus companheiros de chalé — que eram leais aos ideais de Silena — já estavam no campo de batalha protegendo seu lar. Um dos sátiros do Acampamento estava escondido do lado de fora do chalé de Afrodite e, a mando de sua conselheira, tocou uma música que fez com que todos no local dormissem.

— Drew, Drew! Psiu! — ela sussurrava no ouvido da meia-irmã enquanto cutucava-a. — Vamos, acorda! Vai!

Lentamente ela abriu os olhos.

— Silena?! O que aconteceu aqui?

— Olha, eu preciso da sua ajuda.

— Já disse que não vou participar da batalha. Tom tem razão.

— Eu sei que, no fundo, você quer lutar ao lado de todos. Mas preciso que me ajude com outra coisa.

Ela explicou-lhe seu plano.

— Você só pode estar maluca!

— Vamos, Drew! Por favor! Eu preciso honrar Charlie — ao ouvir o nome do antigo namorado da amiga, Drew demonstrou um pouco de tristeza. — Eu sei que você gostava dele e ele me disse que você era uma ótima amiga.

— Sério? — Drew esboçou um pequeno sorriso ao ouvir isso.

Silena balançou afirmativamente a cabeça.

— Então vamos — ela começou a caminhar, sendo seguida por Beauregard. — Silena?

— Sim, Drew?

— Me prometa uma coisa.

— O quê?

— Me prometa que vai voltar.

— Eu prometo — ela esticou seu dedo mindinho, sendo seguida por Drew. Depois, elas os entrelaçaram, selando sua promessa. — Pelo Rio Estige — isso tornava a promessa ainda mais forte. — Certo, agora vá — Silena disse e tomou sua posição.

Drew correu para o chalé de Ares. De acordo com o plano de Silena, ela deveria convencer os campistas que lá estavam a ir para a guerra. Impressionantemente, os filhos do deus da guerra não queriam ir para o campo de batalha devido a uma pequena briga entre eles e os filhos de Apolo. Clarisse não se encontrava lá, pois estava patrulhando com Chris Rodriguez, seu namorado filho de Hermes.

— Pessoal! — todos olharam para ela instantaneamente. — Não me digam que vão ficar emburradinhos só por causa de uma briguinha com o chalé de Apolo. Por uma biga! — um dos filhos de Ares tentou abrir a boca fara protestar, porém Drew o cortou imediatamente. — Aposto que o pai de vocês estaria envergonhado com esse comportamento — a garota tentava ao máximo utilizar seu charme na voz. Viera o treinando ultimamente.

Vo-você tem razão — disse um dos garotos do chalé. — Vamos atrás de Clarisse.

— Ela está no arsenal terminando de vestir sua armadura e pediu que vocês levassem a lança elétrica dela.

Os campistas então seguiram para o arsenal de armas onde uma garota vestindo armadura os esperava, mas não era Clarisse e sim Silena.

— Achei que não fossem à luta, bando de covardes — Silena tentava ao máximo imitar a amiga. — Vamos! O pessoal nos espera! Somos filhos de Ares e podemos ajudar bastante nesta guerra!

Os filhos de Ares então soltaram vários gritos e ergueram suas armas — espadas, em sua maioria. Em seguida seguiram para os estábulos dos pégasos.

— Certo irmãos! Montem em seus cavalos alados! — pronunciou-se um dos filhos de Ares.

— Esperem! — interrompeu Silena. — Marcos, por favor, poderia trocar o seu pégaso por um dos meus? — a biga, que provocara tanta briga entre os chalés de Apolo e Ares fora cedida, por Michael Yew, ao chalé do deus da guerra. Nela, eram-se necessário dois pégasos.

— Claro Clarisse — o pégaso de Marcos era Blush. Silena adorava aquele bicho, ele era dócil e gentil.

— Silena o adora e quero ter alguma lembrança dela no campo de batalha — explicou-lhe, mesmo não sendo questionada sobre o motivo da troca. — Avante, meus companheiros! Vamos dominar aquela guerra!

Drew ainda estava parada a porta do chalé de Ares. Viu o momento em que os pégasos decolavam — um momento mágico, por sinal.

Decidiu voltar e dormir. Precisaria de uma boa noite de sono para receber Silena no dia seguinte. Tinha certeza de que, com os filhos de Ares em cena, aquela guerra não duraria mais que um dia. Caso durasse, havia as mensagens de Íris que permitiriam a comunicação entre os semideuses.

Mas, durante o caminho de volta ao seu chalé, se deparou com Clarisse e seu namorado.

— O que está fazendo aqui fora a essa hora? — indagou-lhe Chris, o namorado.

— Ahn... Nada! Nada!

— Você está mentindo — disse Clarisse. — Agora a pouco eu vi pégasos voando. Quem estava neles?

Drew ficou em silêncio.

— Responda! Quem estava neles? — tornou a perguntar Clarisse, enfurecida.

— Os filhos de Ares — Drew disse e fez uma longa pausa. — E Silena.

— O que aquela tola foi fazer na guerra? E, além do mais, meus irmãos decidiram por não participar desse acontecimento.

— Eu usei meu charme para convencê-los de que eles deveriam lutar e, caso não acreditassem, Silena vestiu sua armadura e se passou por você, o que, creio eu, fez com que todos acreditassem de vez — Drew explicou o plano da meia-irmã.

— Silena! — gritou Clarisse para o vazio. — Volte já para o seu chalé. Chris venha comigo. Temos uma guerra para vencer.

Drew fez o que Clarisse lhe ordenara. Ao chegar a seu chalé, percebeu que seus irmãos por parte de mãe ainda se encontravam dormindo devido à canção do sátiro. Deitou-se em sua cama e dormiu. Teve alguns sonhos, ou melhor, pesadelos, onde via Silena morrendo devido ao veneno de um monstro que parecia um dragão e que possuía corpo de serpente. Acordou suando frio.

Nos dias seguintes, os semideuses foram chegando aos poucos. Mas quem Drew mais queria que aparecesse, não apareceu. Ela esperou, esperou e esperou mais ainda, porém nada de Silena voltar.

— Clarisse, onde ela está? — perguntou Drew assim que a conselheira do chalé de Ares chegou ao Acampamento. Ela tinha os olhos inchados e isso era estranho, já que era difícil que um filho do deus da guerra chorasse.

Clarisse apenas balançava a cabeça de um lado para o outro. Lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

— Ela foi idiota! Não deveria ter tomado o meu lugar! Aquela... Idiota! — Clarisse berrava.

— Drew, deixe-a sozinha — pediu Jim. — Venha comigo — disse o sátiro.

Jim guiou Drew até o refeitório e lá lhe explicou o que havia ocorrido com os semideuses durante a guerra. Michael Yew, Ethan Nakamura, Luke Castellan e quem a filha de Afrodite mais temia: Silena Beauregard.

— Ela... Ela prometeu que voltaria! — Drew estava em choque, com lágrimas nos olhos. — Ela mentiu! — seus joelhos estavam próximos ao corpo e ela enterrou sua cabeça neles, enquanto balançava-se de um lado a outro.

— Drew, Drew! Acalme-se! Tudo vai ficar bem — Jim tentava contê-la.

— Não, não vai, garoto-bode! Ela morreu! Descumpriu a promessa que fizemos! É uma traidora!

Jim fez uma cara de espanto.

— Você soube?

— Soube o quê?

— Nada não — o sátiro tentou desviar o assunto, percebendo que a garota realmente não sabia nada sobre a traição.

— Conte-me! — Drew tentou, ao máximo, utilizar seu charme e obteve êxito.

— Encontraram uma pulseira de prata com um desenho de uma foice na mão de Silena no momento em que ela foi morta e ela mesma confessou ser a espiã de Cronos.

— Mentira! Silena não faria isso! Ela amava o Acampamento!

— Ela amava, sim. E foi por isso que foi para o campo de batalha. Ela tinha certeza de que, lutando ao lado do Acampamento, sua traição seria perdoada.

— Não! Não! Ela prometeu! — berrava Drew.

— Drew, entenda: ela não sabia que iria morrer! Ela morreu como uma heroína.

— Ela era uma traidora! Morrer lutando ao nosso lado não muda este fato!

— Você está sendo dura demais, minha cara — disse Quíron, que entrara trotando no refeitório. — Silena foi, sim, uma traidora. Mas, no final, escolheu o lado do bem.

— Isso é o que você quer que pensem! Uma vez traidora sempre traidora! — Drew não sabia de onde tirara tanta raiva. Realmente entendia que Silena não tivera culpa de morrer. Pensando melhor, naquele dia em que a encontrara no lago de canoagem, ela poderia muito bem estar passando informações ao lado inimigo em vez de estar falando com o pai. Traidora e mentirosa. — Se me permitem, vou para o meu chalé.

— Espere — disse Quíron. — Vim aqui lhe dizer que, como membra mais velha do chalé de Afrodite, você será a nova conselheira de lá. Peço, com toda a gentileza, que iniciem a confecção da mortalha o mais rápido possível.

— Somente nos seus sonhos que farei uma mortalha para esta traidora.

— Peça aos seus irmãos e irmãs se não quiser — falou o centauro.

Drew então seguiu para o seu chalé e comunicou aos companheiros de chalé o que havia acontecido com Silena.

— Eu disse que irmos para o campo de batalha só nos traria morte — disse Tom.

— Confeccionem a mortalha dela se quiserem — disse a nova conselheira.

— Como assim “se quiserem”? É claro que nós iremos fazer isso! Silena foi uma ótima amiga e irmã! Ela nos aconselhava e sempre buscava o melhor para nós — declarou uma das filhas de Afrodite.

Drew começou a rir histericamente.

— Tolos — disse, enxugando as lágrimas que surgiram de tanto rir.

— Há alguma coisa que você não está nos contando, Drew? — perguntou Tom.

— Lembram-se daquela história de que havia um espião de Cronos infiltrado aqui no Acampamento? — os filhos de Afrodite presentes no chalé assentiram com a cabeça, alguns estavam incrédulos; pareciam já ter entendido onde Drew queria chegar.

— Não me diga que...

— Sim, meus queridos, Silena era a espiã.

Todos ficaram em silêncio. Não conseguiam acreditar naquilo.

— Vamos! Temos que confeccionar a mortalha de nossa meia-irmã — pronunciou-se Tom.

— Não acredito que você ainda vai querer fazer a mortalha dessa traidora.

— Não só ele — outro filho de Afrodite caminhou em direção a Tom e ficou ao seu lado.

— Vocês... Como podem ficar do lado de uma traidora?

— Silena pode até ter sido uma espiã de Cronos, mas ela foi para o campo de batalha e lutou até a morte. Ela foi uma heroína — os filhos de Afrodite iam, aos poucos, para o lado de Tom. — E fique sabendo, Drew, que você jamais será uma conselheira tão boa quanto ela.

Nada, nem ninguém, iriam mudar o pensamento de Drew. Silena era, sim, uma traidora. Aqueles meros campistas não iriam entender. Não foram a eles que fizeram promessas em vão.

A cremação dos mortos na guerra contra Cronos ocorreu em um dia de sábado. Michael Yew não fora encontrado, somente seu arco e Silena fora cremada com uma mortalha rosa choque com uma lança elétrica bordada. Drew não participara de tal evento — não aguentaria ouvir todos chamando a antiga conselheira do chalé de Afrodite de heroína. Ela era uma espiã e todos sabiam disso.

Depois da morte de Silena e da mudança de personalidade de Drew, passaram a vê-la não como aquela garota que chegara ao Acampamento Meio-Sangue sozinha e sim como a única que não achava Beauregard uma heroína. A viam como a pior conselheira de todas.

Mas todos estavam errados. Ela não mudara sua personalidade por Silena e sim por si mesma; não seria mais enganada; ninguém a faria sofrer novamente. De agora em diante, ela seria a Drew Tanaka que se importava mais consigo mesmo do que com os outros. O amor não interessava.

De agora em diante, ela seria uma garota solitária.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estava pensando em criar um conjunto de ones contando o passado de alguns personagens secundários... Deixem suas opiniões!