O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 56
A revolta de Carla


Notas iniciais do capítulo

Bora seguir com mais alguns capitulos. Espero que gostem...



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Todos me olharam de uma forma estranha, mas eu creio que entenderam o que eu estava querendo dizer.

Não tardou até que Marcelo chegasse junto dos outros, e Tereza abrisse um portal, do outro lado, em uma forma enevoada dava para ver uma rua escura; ali era a cidade de Assis.

– Não se esqueçam de que nada poderá ser dito sobre onde vocês estavam. E qualquer coisa nós entramos em contato com vocês. – disse Marcelo.

Todos balançaram suas cabeças como um sinal de tudo bem, nos despedimos de todos e um por um eles foram passando pelo portal. Sara deu um fogoso beijo em Adrian e chorava quase que compulsivamente enquanto largava da mão dele para ir até onde seus pais estavam, já do outro lado do portal eu consegui ver eles a chamando com a mão.

Depois foi a vez de Mario que apenas com um terno abraço se despediu de Nathan, virou e passou pelo portal tão rápido quanto uma flecha. E logo depois seria a vez de Eduardo.

– Bem, eu espero ver você logo! – disse ele piscando pra mim, e logo em seguida atravessando o portal, que fechou de repente.

Com um movimento brusco da varinha Tereza abriu outro portal, agora dava-se para ver uma pequena praia, com um casebre feita de bambu... logo aquilo foi me recordando algo.

– Essa casa é a mesma que eu e Matheus viemos quando casamos! – eu disse.

– Sim, a última casa que sobrou. – disse Marcelo.

– Mas eles estão aqui? – eu perguntei.

– Sim, Tereza sempre os muda de lugar, para evitar ser reconhecidos, o ultimo lugar era esse, a casa da praia.

– Toda semana eu os visito para saber se estão bem, e levo comida até eles... – dizia Tereza quando eu a interrompi.

– Eu não sabia disso... Matheus você sabia disso?

– Claro, são meus pais.

– E porque ninguém me disse nada? Eu não sabia que ainda estávamos cuidando deles.

– Na realidade apenas eu cuido deles, - concluiu Tereza – Eles precisam mesmo de ajuda e ninguém comentou nada com você, justamente por esse seu pequeno problema com eles.

– Desde quando eles saíram daquela casa, quantas vezes eles já se mudaram?

– Foram oito vezes, e agora estão na casa de praia. São apenas os dois... – disse Matheus com um pesar na voz.

– Vamos, caminhando, rápido. – disse Marcelo.

Meus pais passaram primeiro pelo portal, logo depois foi Camila e Tereza, seguidos por Nathan e Adrian.

– Poderia ter me dito que as coisas estavam assim.

– Na realidade as coisas estão bem piores do que você possa imaginar. Vamos!

Passamos pelo portal de mãos dadas, e Marcelo foi o ultimo, estava parado na frente do portal olhando algo que nós não podíamos ver. Ao longe podíamos ouvir uma voz sedutora ecoando pelo campo, com certa dificuldade atravessando o portal.

– Mas estão indo embora?

– Sim, senhora Hayanna, precisamos cuidar de algumas coisas, uma guerra se inicia.

– Oh, sim! Eu entendo. Sintam-se a vontade para voltar sempre que quiserem, principalmente garoto Kayo Taurino.

– Passarei o recado, minha senhora, mas até que nós voltemos um até breve seria muito apropriado ao momento.

– Sim, até breve, Marcelo!

E então ele passou pelo portal olhando atentamente todos os lados da pequena prainha. Era noite, e a luz da lua brilhava por todo o mar a nossa frente, que estava calmo, como um espelho.

– Filho? Matheus? É você? – disse uma voz bem conhecida a nossas costas. Era Carla, a mãe de Matheus.

Ela veio caminhando na areia com certa dificuldade, pelo areia fofa da praia, diretamente a Matheus e os dois se abraçaram muito, como se fizesse anos que não se viam.

– Como está? Meu deus, como você está magro... não come? E essas olheiras? Estão enormes...

Como ele poderia saber se ele tinha olheiras, se estava de noite e mal tinha iluminação ali. Como eu odeio essa mulher.

– Eu esta bem mãe, e você? Como está? E a saúde? E o pai?

– Estamos bem, abalados com tanta mudança e sempre preocupados com você, é claro.

Ela, modestamente olhou para meus pais.

– Como estão, Julia e Marcos... espero que bem!

– Estamos bem sim, Carla.

– Tereza, minha querida, só tenho a agradecer o que tem feito. Se não fosse por você, talvez eu jamais admitiria esse lance de magia.

– Não precisa agradecer Carla, estamos aqui para ajudar, sempre.

– Sim, esse é o propósito dos mágicos. Somos antigos e vocês não, tem muito o que aprender ainda. – disse Marcelo, educadamente.

– Se me disse isso antes, Marcelo, eu lhe daria um tapa, pois pensaria que estava me rebaixando, mas eu entendo muitas coisas. Outra já são difíceis de engolir. – ela disse me olhando com extrema repulsa.

– Eu mereço. – eu disse, saindo de perto de todos. Tirei a camisa e fui dar um mergulho na praia, deixando todos ali.

Fiquei um tempo boiando naquelas águas calmas, que estavam até quentes, enquanto eu via todos indo para a singela casinha, e se amontoaram lá dentro.

– Parece que ninguém entende o que ela faz comigo. Alias o que eles fazem.

– Talvez devesse parar e enxergar a situação! – disse Junior do meu lado, sentado em cima da água, como se a mesma fosse de concreto. Eu não me assustei e nem ao menos fiquei impressionado com aquilo.

– E você acha que eu já não fiz? Sua mãe me culpa por sua morte, me culpa por achar que eu fiz algum feitiço pra fazer seu irmão se apaixonar por mim, me culpa por ter afastado Matheus dela e de seu pai. Ela trata todo mundo bem, menos eu. Ela aceita todos, menos eu. Como acha que eu me sinto vendo isso?

– Pessimamente mal, eu sei. Eu consigo sentir isso em você, no entanto minha mãe não faz por mal, eu sinto que no fundo ela gosta de você.

– Gostar de mim? Sua mãe? Me poupe Júnior, não fale besteiras.

– Eu falo o que eu vejo meu amigo, não o que você vê.

– Eu não sei, tudo ainda esta muito confuso em minha cabeça. Se não me bastasse Kauvirno agora sumiu. Os outros estão em Assis, e eu temo por isso. Nós aqui, sem saber o que fazer e aonde ir. E eu aqui, com o artefato mais poderoso da Terra, preso em meu pescoço e eu estou completamente perdido.

– Kayo, quando você vai entender que o verdadeiro poder não está no colar, e sim em você.

– Júnior eu vou entrar... esta começando a esfriar.

Quando eu me dei conta Junior já tinha desaparecido. Sai do mar e caminhei pela areia, relembrando os momento que eu passei com Matheus, na nossa singela lua de mel . Os abraços, os beijos... as juras de amor. Nós nos completávamos, e isso era o bonito em nosso amor, o que eu não entendia era o porque que os pais de Matheus não percebiam isso.

Eu já tinha me encontrado com Carla, faltava Roberto, o pai dele. E provavelmente mais uma jogada indireta, do tipo, agradecemos por vocês nos ajudarem, mais eu repudio ele, por ser o que ele é.

– Alguém pode me arrumar uma toalha? Preciso tomar um banho, está gelado aqui fora.

Todos estavam sentados no chão, devido a falta de espaço. Matheus logo se levantou e correu até o quarto onde me trouxe uma toalha. De esguelha, eu vi o pai dele me encarando.

– Seu pai já começou a me encarar. – eu disse para Matheus quando ele chegou na porta.

– Não dê atenção, faça a sua parte! – ele disse sutilmente – Eu te amo!

– Então me beije agora na frente deles.

– Eu não preciso provar que eu te amo Kayo. Se enxugue e coloque uma roupa mais quente.

Matheus se virou e sentou do lado de sua mãe, no sofá de bambu. Se ela soubesse que ali eu e Matheus tivemos alguns momentos bastante íntimos... talvez ela botasse fogo no sofá. Passei por eles indo até o banheiro rindo, e pareceu em certo momento que todos me olharam sem entender o motivo. Joguei rapidamente uma água quente no corpo, me enxuguei e fui até o quarto. Tudo era muito pequeno, mas não apertado, dava-se para se movimentar na casa sossegadamente. Peguei uma blusa de moletom preta e a vesti, junto com uma calça jeans escura também, e aproveitei para colocar meu All Star. Abre a janela sutilmente para analisar se iria esfriar mais, pois eu bem sabia onde eu iria dormir. Do lado de fora da casa.

Sai calmamente do quarto e fui até a sala, conversavam sobre o que estava conversando. Matheus estava abraçado a mãe, Roberto, pai de Matheus de pé, encostado na parede e com os braços cruzados. Marcelo num banco de bambu em sua pose de chefe, meus pais ao lado dele, sentados no chão, do outro Nathan e Adrian, e mais perto da porta, para onde eu fui, estava Tereza e minha prima Camila.

– É algo que esta se perdendo o controle, e se não tomarmos uma rápida decisão iremos nos dar mal. – disse meu pai.

– Marcos, sem Kauvirno ficara difícil tomar qualquer atitude. – disse Camila.

– Sim minha prima, mas o que acontece é que não podemos esperar mais. Estamos sem noticias da Corte há dois dias, desde o acontecimento da ultima morte. Nem ao menos sabemos se alguém mais sofreu qualquer tipo de ataque. Seja mágico ou não.

– Acalmem-se todos, por favor. Eu já disse o que vamos fazer. Vamos esperar por Kau, ele, certamente virá com noticias e terá alguma idéia. – disse Marcelo – Eu não sou astuto como ele, apenas consigo conjurar meus elementais ao mesmo tempo e isso nem ao menos pode ser levado em consideração.

– Mas é uma grande ajuda! – disse Tereza.

– Ninguém tem alguma idéia, realmente genial? – perguntou Roberto.

– Talvez o tal Guardião do Colar tenha. – ironizou Carla.

– Talvez eu tenha, dona Carla, e talvez você não esteja incluída nesse plano. – eu disse secamente.

– Moleque, como ousa falar assim com minha esposa? – disse Roberto com a voz altiva, se afastando lentamente da parede.

– O que vai fazer Roberto? Me bater novamente, como fez da outra vez? Você teria que ser muito homem para erguer a mão pra alguém que você sabe que não pode mais medir forças.

– Kayo! O que é isso... você está ameaçando meu pai? – disse Matheus levantando e olhando para mim, com repulsa da minha atitude.

– Seu pai que começou! – eu disse mais seco do que antes. Eu queria mesmo era trazer meu Elemental do fogo e acabar com aquilo. Já que não me respeitava por bem, quem sabe por medo, o faria.

– Eu não acredito nisso! – disse Matheus saindo da sala, passando por mim com raiva, indo em direção a praia.

– Carla, Roberto, já é passado o momento de vocês deixarem de ter essa raiva de meu filho. – disse minha mãe.

– Sim, e eu realmente acho que ter essa raiva não vai ajudar muito em sua saúde, minha amiga. – disse Tereza.

Eu fiquei espantando ao ouvir aqui.

– Amiga? – eu disse incrédulo. Agora ela é sua amiga?

– Kayo, eu estou sempre vindo aqui... Carla é uma ótima pessoa, o que não justifica o modo como te trata, e muito menos você a ela.

– Esperem todos, é impressão minha, e eu espero que realmente seja... desde quando todos se tornaram amiguinhos desses dois? Eles me tratam da forma como me tratam e nem meus pais falam nada. Este mundo esta perdido.

– Tente entender a situação deles. – disse Camila.

– Eu já estou cansado de todo me dizerem sempre a mesma coisa... pra sempre entenderem a situação deles. Não é possível que eu esteja tão errado assim... até o Júnior me fala isso... como pode... como pode.

– O que você disse? – disse Carla.

Eu estava ferrado. Não segurei a língua e esse nome saiu da minha boca como uma bala de um revolver. Foi indescritível a reação, não apenas de todos, mas a de Carla e Roberto, que pareçam ficar em choque. Logo lagrimas começaram a surgir no rosto de Carla, que se levantou e veio em minha direção.

Eu dei dois passos para trás e olhava para todos, sem conseguir focar meus olhos em Carla, que estava mais perto agora. Ela estava com a mão na boca, incrédula por eu dizer que até mesmo Júnior me dizia aquilo.

– Júnior está morto...

– Sim, ele está, mas eu sempre falo com ele. – mas uma vez eu deveria ter ficado quieto. Por outro lado, eu já não agüentava mais guardar aquilo.

– Júnior está morto! – disse ela decidida.

– Sim, ele está...

Naquele momento algo aconteceu, algo que se eu não tivesse controlado a minha raiva, algo de muito ruim teria acontecido. Carla, ligeiramente, ergueu sua mão, e antes que eu pudesse se quer saber o que ela faria, levou sua mão com extrema violência até meu rosto. Rápido, eu coloquei a mão no rosto onde eu havia recebido aquele tapa, e olhei para seus olhos.

– Como ousa dizer isso? – disse ela, mordendo os lábios de ódio.

– Dizer que eu converso com ele? Por quê? Você não consegue? Talvez seja porque você não mereça.

Percebendo que ninguém esboçava nenhuma reação mediante aquilo, nem mesmo meus pais, eu me virei e rapidamente cheguei até o centro da praia, Matheus se virou, estava próximo a margem do mar, me olhou e correu atrás de mim.

Meu corpo em chamas alçou voou e eu fechei os olhos deixando a praia, meus pais, Matheus e os outros para trás.

Acabei pousando num pequeno campo de gramas curtas. Tinha algumas vacas pastando na relva iluminada pela luz da luz. Eu sentei no chão e comecei a chorar.

Porque tanta violência? Porque tanto ódio? Porque meus pais estavam tão inertes no momento que Carla me bateu? Eu estava com ódio deles, até mesmo de Matheus. Eu não queria ver ninguém... eu não queria ajudar mais ninguém. Eu estava com ódio do mundo.

Lembro apenas que adormeci ali no chão, depois de algumas horas chorando. Acordei com dor no corpo e um cachorro do meu lado.

– Olá amiguinho. – eu disse ao cão, que era mediano de pêlos negros.

O cachorro ficou balançando a cabeça de um lado a outro e depois deu um latido, virou e saiu correndo. Do outro lado, para onde o cachorro ia, vinha um homem de cavalo. Ainda com dificuldades de enxergar, por conta do sol forte que batia em meus olhos, eu olhei para os lados.

– Me ferrei!

Sim, eu pensei que poderia ter pousado nas terras de algum fazendeiro sedento por sangue. O home se aproximou de mim em um belo cavalo dourado. Esfreguei meus olhos para enxergar melhor e então seu corpo ficou contra o sol, a minha frente.

– Você está bem? – disse ele, educadamente. Tinha uma voz sedutora.

– Sim, estou!

O homem então ergueu um dos braços e pareceu pegar algo nas costas. Eu recuei.

– Acalma-se, nada farei contra você. Estou apenas com uma pequena coceira nas costas. Ontem apostei uma corrida e perdi, o castigo foi um banho de urtiga. Logo passará.

– Urtiga?

– Sim. Você esta bem?

– Estou.

– Pela roupa chamuscada receio que a bola de fogo que eu vi ontem a noite, tenha sido você.

– Esta brincando comigo não é? O que pensa que eu sou um alienígena? – eu disse sarcasticamente, eu não sabia quem era aquele homem, e dizer que seria eu o homem bola de fogo, poderia ser estranho de mais.

– Não precisa mentir, - o rapaz deu leves batidas no dorso do cavalo e seu rosto se fez presente – sou mágico, como você.

Não preciso dizer que eu tinha sorte. Sempre encontrava com as mais belas criaturas. Ate mesmo Gayon por ser feito de arvore me despertava certo interesse pela sua beleza. Mas esse rapaz tinha algo a mais. Seu cabelo era loiro e liso, a franja cobria o olho, quase chegando na boca, e atrás chegava a altura dos ombros, sua pele era branca como a seda, suas bochechas eram rosadas e seus lábios eram perfeitos. Ele desceu do cavalo, era alto, e apesar de magro, logo imaginei que teria um corpo definido. Ele exalava um cheiro forte, e delicado ao mesmo tempo. Parecia que estava anestesiando meu corpo a medida que se aproximava de mim.

– Meu nome é Halmer, e o seu?

– Kayo. – eu parecia estar em outro mundo. Mais próximo de mim agora eu pude ver seus olhos, azuis como o céu e marcantes, como se através dos olhos, ele pudesse contar sua historia.

– Prazer, Kayo. – disse ele me reverenciando.

– Porque isso?

– A reverencia? Não se espante... somos assim.

– Quem é assim?

– Nós. A Minha raça.

– Qual raça?

– Eu sou um elfo!


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Notas finais do capítulo

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