O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 53
Em chamas




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Já na piscina, sentado na cadeira de balanço eu contei a Eduardo o que havia acontecido comigo durante a noite, logo depois de saber do ataque durante a madrugada. Ele quase sempre não entendia nada do que eu falava, mas isso de certa forma era bom. Por não entender ele não opinava, e no final sempre dizia que estaria comigo. Aquilo era bom de se ouvir, porque não apenas ele, mais assim como os outros também: Matheus, Nathan, Adrian, Sara, e Mario.

– O que acha que podemos fazer? – me perguntou ele.

– Eu não sei Eduardo... eu sei que as coisas estão ficando cada vez pior, e ficar aqui escondido não esta ajudando. Pessoas estão morrendo... e eu sei que o Colar do Parvo estará comigo... sempre.

– Bem, você estaria pensando em...

– Sim, eu pretendo falar com eles sobre isso, assim que tivermos uma oportunidade. Não podemos ficar aqui enquanto pessoas estão sendo atacadas. Os ingleses já não virão mais, eu tenho certeza disso, e até o momento a brigada portuguesa não se pronunciou como disse que assim faria. Nós precisamos achar a Espada do Soldado Derrotado, mas para isso precisamos saber que tipo de ligação ela tem com o colar e a taça.

– Kauvirno não deixa usar a Taça, não é mesmo?

– Não, ele quer tirar a Taça daqui o quanto antes, e disse que vai escondê-la em um lugar seguro. Tem alguma coisa em mente?

– Kayo, você tem acesso à biblioteca, porque não entra e toma ao menos uma gota da poção que está na Taça?

– Algo me diz para não fazer isso.

– Como assim? – perguntou ele aflito.

– Não sei, eu tenho a sensação que devo esperar, pois ainda não é o momento certo... – eu olhei para a mansão – Adrian e Sara estão vindo... vamos mudar de assunto e não comente nada até que eu pense em alguma coisa, está bem?

– Sim! – respondeu ele.

Quando Adrian e Sara chegaram nós começamos a rir feito loucos e nem sabíamos o porquê. Mas explicamos que era uma coisa nossa e que não dava para comentar.

– Seus safados! – disse Adrian rindo.

Ficamos ali por algum tempo, ate que Matheus chegasse acompanhado de Nathan e Mario, e ficamos sentados à beira da piscina.

O dia não estava ensolarado como sempre foi, Kauvirno deixava agora o tempo meio nublado em volta da mansão, segundo ele, assim ele poderia pensar melhor. Ele ficava horas sentado na biblioteca admirando a Taça dos Eruditos, provavelmente esperando que alguma ideia genial viesse a sua cabeça.

Então ele apareceu ao lado de Marcelo, que segurava uma caixa preta e grande com toda a delicadeza. Ali estava a Taça, e seria levada para algum lugar seguro, sabe-se lá onde. Após dar as ordens a Camila e ao meu pai, que estavam juntos deles, um portal foi aberto e eles sumiram.

Quase anoitecia quando Tereza nos chamou para o jantar. Ficamos do lado de fora o dia todo com o rádio ligado, esperando alguma noticia sobre o ataque ou algum pronunciamento da Corte Brasileira, e da Brigada Portuguesa. Nada!

Era angustiante ter que esperar alguma noticia. Durante o jantar, os pais de Sara mal comiam, eles diziam estar preocupados com alguns familiares que moravam no norte do país, outra comunidade bruxa. Sara os tranquilizava dizendo que noticia ruim chegava logo, e se nada viera aos seus ouvidos, nada teria acontecido. Meu pai estava impaciente e sempre batia o garfo no prato antes de usá-lo para o que realmente servia.

Matheus sentado ao meu lado, em certo momento segurou minha mão, estava gelada, mas eu não quis perguntar ali na mesa o que poderia ser. Adrian e Sara do outro lado da mesa, se davam comida um ao outro. Eduardo estava comendo apenas salada, assim como Tereza e Camila e seus pais. Minha mãe saiu logo da mesa, dizendo que precisava terminar um bolo. Nathan e Mario sentados na mesa quase coladinhos conversavam a pé de ouvido.

Foi quando ouvimos um som estranho vindo do lado de fora. Uma explosão seguidos de uivos estranhos. Meu pai e Camila correram até a sala dizendo para ficarmos ali. Logo minha apareceu, estava em choque.

– O que houve mãe? – eu perguntei.

Os pais de Sara e Eduardo saíram correndo atrás de meu pai e Camila. Tereza ficou ali conosco e minha mãe.

Outra explosão.

– O que esta havendo? – gritou Sara já aos prantos.

– Acalmem- se todos... não há de ser nada... – disse Tereza.

– Se não é nada porque estamos todos apavorados?

Outra explosão, e agora mais forte e mais próximo da mansão.

– Será que... – disse Nathan sem completar.

Naquele momento uma forte sensação de medo tomou conta de mim. Eu disse a todos para ficarem calmos e a qualquer sinal de problema que todos fugissem sem se preocupar comigo.

– Aonde vai? – perguntou Matheus.

– Vou buscar o colar, ele não esta comigo... fique com outros...

Corri até meu quarto, subindo as escadas e entrando no corredor. Chegando a porta quase escorreguei, mas consegui me segurar na maçaneta da porta que abriu sem dificuldades. Houve mais uma explosão e dessa vez seguidos de gritos de CUIDADO.

Já em meu quarto peguei o colar, que estava dentro da gaveta da escrivaninha ao lado de minha cama, e o coloquei no pescoço, fui ate à cômoda e abri outra gaveta e peguei uma replica do colar, e a coloquei no bolso. O colar estava pesado, sinal de problemas.

Desci ate a sala de jantar e não havia mais ninguém lá, foi então que corri ate o lado de fora e me deparei com todos, olhando para a floresta em frente da mansão, em choque. Uma enorme chama se erguia por detrás dela e logo à frente, víamos Lobos que farejavam euforicamente um lado e outro e depois uivando, ou latindo.

– Eles nos acharam? – perguntou Sara.

– Quase, precisamos sair daqui o mais rápido possível. – comentou meu pai.

A quinta explosão foi a mais intensa, e a chama que se ergueu foi maior do que aquela que já nos assustava, eu tive a sensação de ver dois Lobos nos olhando, e talvez não fosse apenas a minha imaginação. Ambos uivaram e centenas de outros Lobos se aproximaram deles.

– Vamos abra um portal Camila... seja rápida... – disse Tereza.

Camila tirou da cintura sua varinha e fez vários movimentos, e não conseguiu êxito em nenhum deles.

– Mas o porquê de tanta demora? – perguntou meu pai aflito, retirando sua varia e fazendo um movimento, transformando-a em um cajado. Faíscas saiam dela, mas nada alem disso acontecia.

– Anti-Mágica. – eu disse firmemente.

– Como? – indagou-me o pai de Eduardo.

– Não é hora para fazer perguntas como essa... vamos para o fundo da casa, sairemos por lá e pela floresta... rápido! – eu disse.

– Mas como... como eles... – dizia meu pai.

Entramos na casa e corremos, quando outra explosão quase nos deixou surdos. A mansão estremeceu, quadros caíram, janelas quebraram, o teto trincou caindo poeira em cima de nós.

– Andem... andem...

Levantamos todos e rapidamente, tínhamos que passar pela cozinha para chegar ao fundo da casa, o que, com aquelas explosões, seria bem difícil. A sétima explosão foi a mais forte, fazendo com que um armário quase caísse em cima de nós, esse que ficava em um corredor onde copos e talheres ficavam, se não fosse pela ação rápida de Eduardo que sacou sua varinha e barrou o armário, talvez alguns de nós tivesse se machucado feio naquele momento.

Na cozinha, passamos pela mesa e a bancada, então abrimos a porta, saímos e corremos para dentro da floresta.

– Todos eles devem estar na frente da mansão, corram o máximo que puderem. – Berrou o pai de Sara.

Corremos pelo vasto jardim do fundo da casa, que tinha algumas macieiras e mangueiras, numa delas havia uma rede. Não iria demorar até chegarmos à orla da floresta. Sara caiu no chão e Adrian a ajudou a se levantar. Matheus segurava em minha mão, que agora estava mais gelada ainda.

– CORRAM! – gritou meu pai.

Logo estávamos entrando na floresta, que era densa, e isso não seria um bom sinal. Poderíamos nos perder um dos outros, e ali, não existia nenhum tipo de feitiço de proteção. Alias, o feitiço fora descoberto, a mansão estava em ruínas em nossas costas.

Em um rápido lance, olhei para trás e vi toda a mansão em chamas.

– Não parem de correr... – disse Tereza – E me sigam...

Tereza então sacou sua varinha e de repente se transformou em uma águia, ainda enquanto corria. Eu nunca tinha visto nada tão belo.

Olhávamos com dificuldade sobre as árvores para não nos perdemos de Tereza, que hora ou outra descia com rasantes para indicar o melhor caminho.

Ainda estávamos correndo como loucos pela floresta adentro, sem se preocupar com o perigo. Tínhamos que achar um lugar onde a Anti-Mágica não tivesse sido conjurada, justamente por esse motivo, os mais velhos iam tentando conjurar algum portal que pudesse nos levar a algum lugar seguro.

Eu então conjurei meu soldado de terra, ele corria ao meu lado.

– Certifique-se de que não estamos sendo seguidos, e se formos faça qualquer coisa para atrasá-los. – eu disse a ele, que logo deu um salto e entrou para dentro da terra, causando um leve tremor.

Tereza surgiu em um rasante e se transformou em sua forma humana.

– A floresta é muito grande, não conseguiremos ir a lugar... – disse ela ofegante.

Formamos um círculo e ficamos atentos a qualquer movimento estranho. Sentimos outro forte tremor, e depois mais outro. Cada um deles mais perto de nós.

– Eu não estou enxergando nada. – disse Matheus.

Eu conjurei então meu Soldado de Fogo, e pedi que ele nos protegesse. Ele fez sinal afirmativo com a cabeça e ficou do lado atento.

A minha intenção era conjurar um portal, mas uma Anti-Mágica é difícil de ser quebrada no local aonde foi plantada. Logo eu não saberia se iria funcionar, mesmo eu, usando o Colar do Parvo. Entre gastar força com isso e não conseguir e pedir ajudar, eu optei pela ajuda.

O tremor ficou mais intenso agora e ouvimos outra explosão, uivos, latidos e depois o silêncio.

– O que houve? – perguntou Matheus olhando para mim – Você ficou estranho.

– O meu soldado de Terra sumiu... simplesmente sumiu...

Era uma sensação de perda estranha e que incomodava. O silencio imperava ali naquela floresta densa, cheia de arvores e arbustos. Ambiente ideal para os Lobos atacarem.

– Estão sendo guiados por alguém... mas quem? Átimos? – perguntou o pai de Eduardo.

– Talvez... não se esqueçam que Melissa estava comandando eles, quando estávamos em Assis. – disse Sara.

– Silêncio, todos... – ordenou Camila.

Meu soldado de fogo olhava fixamente para um ponto perdido na floresta, quando ouvimos um rosnado e depois a mãe de Sara gritou: CUIDADO.

Cerca de vinte Lobos nos cercaram, e ouvimos passos apressados na folhagem seca da floresta, indicando que mais estavam chegando.

– Mate-os! – eu disse ao meu soldado. Ele pareceu duplicar seu tamanho, mas antes que pudesse agir seu brilho se apagou e ele simplesmente sumiu. Uma imensa poça de água se formou onde ele estava, e depois a mesma nos encharcou, fazendo com que nós caíssemos no chão, que agora estava enlameado.

– Jovens tolos. – disse uma voz grunhida e seca em torno de nós.

– Quem está aí? – perguntou Camila.

– Eu não pago para ver... – e aos gritos eu disse - GAYON, EU PRECISO DE SUA AJUDA!

Os Lobos pareceram ficar exaltados e saíram dali correndo, uma figura humanóide surgiu diante de nossos olhos, com mais quatro atrás dele. Esse era Gayon, a versão masculina de Gaia, a deusa das Florestas, imponente em meio às matas onde uma fina luz da lua a iluminava.


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