O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 47
A vingança




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– Que história? – eu perguntei intrigado.

– João e Adalberto não eram filhos de Assis, e sim de Adamastor.

Talvez aquilo explicasse o motivo pelo qual os filhos, que até então eu não sabia, eram gêmeos, tinham sidos mandados para orfanatos, não ficando com a fortuna de Assis.

– Foi quando eu descobri quem seria o tal Parvo que carregava o nome do colar, através de meu pai, que naquela época comandava os Soberanus. Lutávamos para que a Lei não fosse cumprida, mas tivemos problemas. Foi quando alguém da Corte atacou e nós revidamos. Por isso somos considerados tão infiéis e chamados de exilados. Foi Assis quem nos chamou dessa maneira.

Eu fui para Assis, para tentar descobrir aonde o colar poderia estar.

Fiquei sabendo então que Ana Bela se encontrava, ás escondidas com Adamastor, e eles tiveram uma terrível discussão, pois ela tentava lhe contar a verdade, e ele por fim, não aceitava, não precisou muito para que eu desconfiasse que os filhos dela, eram de Adamastor e não de Assis. A morte repentina do aclamado senhor fundador da cidade bruxa, não teria sido por acaso.

“Eu soube que na época. Ana Bela não aguentava mais tanta dor, e então tentou uma ultima ação. Depois de noites angustiantes a pobre mulher voltou para a floresta, para pedir perdão ao seu então amado, e foi então que descobriu que ele também havia se matado. Foi quando ela achou o colar, jogado entre as folhagens seca de outono.

Ela acabou resgatando o colar e voltou para casa, entregando-o a sua amiga, uma mulher chamada Antonieta Taurino. Ana Bela pediu a ela que guardasse em segurança, e contou a verdadeira historia. Obviamente que Antonieta assim o fez e então Ana Bela se matou.

A sua tataravó foi a primeira guardiã do colar e eu não podia deixar escapar uma informação como essa. A morte já havia encontrado a família há anos atrás e então eu entendi o que Edvan queria me dizer em seu leito de morte. Ele queria-me falar sobre onde estava o Colar do Parvo.

Mas era inútil, eu estava sem Edvan. Estava sem pistas. Eu estava sem meu pai que havia sido morto brutalmente por querer ser o que realmente era. Eu estava sozinho. E então caminhando eu os encontrei, os tais sábios. Os tais Eruditos. Quando eu tive a oportunidade simplesmente roubei a taça, e hoje ela está aqui, em total segurança.

Foi quando a lenda da Taça do Erudito veio á tona.

Muito então se passou, e eu sempre em busca do colar, mas nunca encontrava nada. Encontrei uma bela mulher, ao qual se juntou a causa, e tivemos lindos filhos. Buscamos por mais exilados e fizemos dos Soberanus o auge da época.

Uma vez eu tomei do liquido da Taça e veja só, ela me deu a poção da Eterna Vida. Uma vida longa, a menos que seja interrompida. O grupo Os Vigilantes então se formou, e fiquei sabendo que defendiam o Colar do Parvo. No entanto, numas das batalhas eu acabei morrendo, e fui mantido naquele tumulo no alto da montanha. Até que meu filho, me encontrou. O único sobrevivente depois da matança que esse grupo, o Os Vigilantes fez em minha família.

Deve ser perguntar, não? Como ele me traz a vida, e eu não sou um escravo.

O sangue, a única maneira de trazer a alma é com o sangue, e ele assim o fez ao provar sua legitimidade perante a mim. Estava previsto o tempo, e o local, muito tempo antes de eu morrer. A Taça é dotada de poderes premonitórios. O saber de mais é a compreensão de tudo, logo eu sempre soube o meu fim, e meu filho sempre soube o que deveria fazer.

Hoje eu estou aqui, Kayo, porque eu sempre soube que esse dia chegaria. Que chegaria o dia em que eu estaria face a face com aquele que se igualaria a mim.”

Ele parecia um louco falando. No entanto um louco lúcido, pois tudo se encaixa. Eu estava de pé, olhando a Taça do Erudito. Percebi que o salão estava mais dourado do que antes, e uma fina luz emanava da taça.

Então a Taça tinha esse dom. O colar o poder, a taça a sabedoria e a espada a sorte. Eu me lembrei disso quando meu pai contou a mim quem eu realmente era. O colar não dava o poder, na verdade era como se eu absorve o poder dele, e assim o duplicasse. A taça continha a sabedoria, e com ela você poderia até mesmo prever o futuro. E Átimos viu o que aconteceu, e a prova disso era eu estar ali com ele.

– Então tudo não passou de um truque? – eu perguntei.

– Truques? Eu não fiz nada, apenas movimentei algumas peças para que determinadas coisas acontecessem.

– Porque deixou então que te matassem, saberia então que sua família seria morta.

– Eu deixei porque, mesmo com a poção da Eterna Vida, eu estaria fraco, e eu precisaria estar em total plenitude de meus poderes. Quanto a minha família, o que mais eu poderia fazer. Étimos seria o único que faria a coisa direito. Ás vezes é preciso deixar algo acontecer para que possamos nos tornar forte.

– Você é louco... sabia que sua família morreria e mesmo assim deixou para ser forte? Que tipo de homem você é?

– Do tipo que faz coisas para conseguir a vitoria. Eu não tenho mais sentimento, menino. Minha alma esta aqui nesse corpo, quase jovem, mas é tão velha quanto a própria existência do colar.

O que eu iria fazer? Como eu iria agir? Átimos estava ali porque sabia que esse dia chegaria, ele era forte, e eu fraco. Bem, eu sabia que eu tinha poder e poderia contar com o colar, mas naquele momento eu me perguntei: será que eu aguentaria? Eu não podia desistir naquele momento, eu teria que fazer algo, e foi quando Átimos me olhou com um leve sorriso no rosto e disse.

– Então que comece!

Eu estava em chamas azuis, e ele em chamas negras, tanto eu quanto ele, conjuramos dois soldados, que estavam um do lado do outro. Edvan deitou e se arrastou para longe, Étimos ainda quieto, mas com um sorriso estampado, parecia grudar na parede, temendo que algo acontecesse a ele.

– Uma luta justa, e sem trapaças. O mais rápido será o vencedor. – eu disse.

– Certeza de que consegue ser mais rápido do que eu? – disse ele rindo.

Nossos soldados então alçaram voo e começaram a brigar, lançando rajadas e mais rajadas de fogo para todos os lados. Enquanto eu e Átimos voamos na direção um do outro e nos chocamos. Não senti dor, pois percebi que meu corpo não existia mais. No entanto era a minha concentração que estaria em jogo.

Átimos lançava rajadas de fogo em volta do circulo aonde a taça reinava imponente, flutuando acima da poça de sangue, vários soldados negros foram criados ali. Então eu também criei e ordenei que fosse lutar contra eles.

– Desista garoto e me entregue o colar... você não tem força o suficiente para aguentar seu poder. – disse ele no momento em que, com uma rajada, me jogou no chão.

Eu pulei e levantei voou novamente, sempre circulando o salão que brilhava cada vez mais por conta do fogo que imperava ali. Eu não muito tempo e seria agora que eu teria que liberar o máximo de poder possível. No entanto eu fui surpreendido quando Átimos criou soldados de água para lutarem contra meus soldados.

– Eu disse uma luta justa! – eu gritei.

Eu precisava lembrar do sentimento. Eu precisava lembrar dele. Júnior me veio a mente e aquela cena no bosque surgiu. Logo eu, mesmo em chamas, jorrava jatos de água no chão, que iam se formando em soldados que seguravam os soldados de água de Átimos.

– Esperto! – disse ele.

Eu tinha uma idéia e precisava ser agora. Eu precisava conjurar a terra. Mas eu havia me esquecido em que pensar. E então um forte desespero tomou conta de mim, o desespero do medo de perder. De perder Matheus. Ainda em chamas eu conjurei soldados de terra que se uniram aos de água e formaram algo solido que lutava contra o fogo tentando baixar suas chamas.

Uma vez, Kauvirno me disse que era inevitável duelar com um bruxo, e a morte não vir a tona. Eis que a idéia então surgiu. Talvez, Átimos não havia previsto isso.

Uma sensação tão doce quanto o primeiro beijo meu e de Matheus. E um soldado de ar se criou a minha frente, desviando o fogo que Átimos me mandava. Ordenei então que aquele soldado fizesse algo, que talvez eu me arrependesse.

O soldado de ar, então, em sua silhueta voou rapidamente até Étimos e o atacou, entrando dentro dele, através do nariz e da boca. Não tardou ate que o rapaz caísse no chão. Morto. Átimos olhou para o filho caído, as chamas em seu corpo cessou, assim como os soldados.

– Você tirou muito de mim, e hoje eu tiro de você! – eu disse.

Átimos estava no chão, próximo ao filho inerte. De seu lado o corpo de Edvan de cabeça baixa e ajoelhado sem expressar qualquer tipo de reação.

Eu voei até a Taça e a peguei, criando aquele circulo de fogo em volta de mim, eu simplesmente desapareci, vendo ao fundo a cena de Átimos lamentando a morte do filho.


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