O Colar do Parvo escrita por Marko Koell
Subimos, calmamente, talvez por quase uma hora e meia, até que pudéssemos entrar naquelas nuvens que havíamos avistado anteriormente. Nada de tão pavoroso, tirando o frio, e a falta de ar.
– Devíamos ter trazidos roupas quentes. –disse Adrian.
– E como iríamos saber aonde iríamos cair? – perguntou Matheus.
– É sempre bom prevenir! – disse Nathan, secamente.
– O que eu não entendo, o porquê faz tanto frio. Estamos no verão! – disse Matheus.
– Melissa comentou algo no dia que ela e o irmão dela nos atacaram. Ela disse que era bom saber dominar o tempo, que assim eles podiam ir e vir sem se preocupar em ser vistos. – eu falei.
– Sim, mais existem outros fatores também. O ódio causa o frio. A tristeza também o causa. O desejo de vingança também. – comentou Nathan.
Mais a frente pudemos ver a entrada de uma caverna. Tínhamos certa dificuldade por conta da neblina densa, mais sabíamos que a entrada seria ali.
– Eu disse que era aqui. – eu comentei.
– Kau ás vezes é ranzinza... – comentou Adrian.
Continuamos até que chegamos mais perto. Nathan sacudiu a mão lentamente, e a neblina se tornou menos densa.
– Sim a entrada é nessa caverna mesmo. – disse ele.
Havia no meio das rochas uma grande fenda aberta, que havia sido perfeitamente criada por algo que não a natureza. Era uma rachadura como se algo tivesse explodido no pé da montanha, e ali tivesse formado, uma fenda.
– A Fenda Nebulosa. – Adrian comentou.
Então entramos pela fenda, e o lugar se mostrou escuro e úmido. Totalmente disforme, cheio de pedras grandes e outras imensas espalhadas por toda a parte. Adrian tirou uma bolinha do bolso e jogou-a longe. Ao cair no chão ela não fez barulho e muito menos quando irradiou uma forte luz, azulada clara.
A caverna se mostrou mais perigosa do que realmente parecia.
– Como alguém consegue vir até aqui? – perguntou Matheus.
Havia pedras pontiagudas para todos os lados, saindo das paredes, do chão, no teto da caverna. As pedras estavam mais úmidas e o ar ali cheirava a podre.
– Vamos seguir até aquele centro. – eu disse, apontando o centro da caverna.
A mesma parecia ser realmente no pico do cume. Era um grande salão ao qual no teto fazia-se uma ponta, como uma pirâmide. Desviando aqui e ali de pedras pontudas e outras escorregadia fomos até o centro.
– E agora? – perguntou Matheus.
– Eu não sei, estou apenas esperando...
– Esperando o que Kayo? – perguntou Nathan.
– O momento certo...
– Que momento? – perguntou Adrian.
– Eu não sei....
– Como não sabe? – perguntou Matheus.
Ouvimos um forte ronco. Como se fosse um bocejo, mais de tão alto que se fez ali na caverna, parecia um forte ronco. Depois uma respiração profunda e sentimos o lugar ganhar vida.
– Esse é o momento? – disse Adrian – Momento de correr?
– Fiquem parados, eu sei o que eu estou fazendo. – eu disse.
– É meio difícil com esse som!
– Calma Adrian.
A respiração foi ficando mais tensa.
– Dragão não pode ser, foram extintos há tempos. – comentou Nathan.
Um forte ronco.
– Impossível ser realmente um dragão – indagou-se Adrian.
Matheus segurou em minha mão.
– Não é um dragão! É Edvan!
– Como?
– Sim Adrian. É Edvan. Ele esta cuidando da entrada da Fenda Nebulosa. Ele só esta nos assustando, não demonstrem medo, senão ele ira perceber que somos intrusos.
– Como não demonstrar medo?
– Matheus, os seguidores dos Soberanus, sabem da existência de Edvan na entrada. Se demonstrarmos medo ele nos matara.
– Como sabe disso?
– Eu apenas sei...
Uma forte luz vermelha se fez num ponto distante a nós sugada para uma forma humanóide que se criou do nada. A caverna se fez agora iluminada, como se o sol tivesse nascido dentro dela.
– Quatro são os que eu vejo, mais um ainda sente medo. Este quem é? – disse Edvan.
Não se podia ver ele com perfeição, apenas um homem, ao longe. Parecia ter dificuldade de ficar de pé e apoiava-se num cajado.
– Um prisioneiro! – eu disse.
– O senhor Étimos não comentou sobre prisioneiros.
– Uma ordem de última hora. – eu disse.
– Não vejo correntes em seu prisioneiro.
– Não a necessidade, é um não-mágico. Filho dos mortais que estão aqui.
Edvan parou um momento.
– O filho dos não-mágicos. Amigo do guardião do colar.
– Sim, ele mesmo. – Matheus apertou mais minha mão.
– Entrem pelo portão, sigam em frente. Caminhe entre as sombras até que a luz enfim surja. Passe pelos soldados vendados e então entre pela porta da lamentação. Sigam no corredor até o trono do majestoso e entreguem o prisioneiro. – disse Edvan. Sua voz ecoava pela caverna e era fria e sem graça, mais ao mesmo tempo decidida. Doía-me saber que aquele homem, era meu tataravô.
No chão, em minha frente, foi surgindo um risco que brilhava. Nela se criou uma passagem. Uma porta que se abriu e pudemos ver uma escada. Eu fitei novamente Edvan e então caminhei, ainda segurando a mão de Matheus. Ao descer a escada, a porta se fechou.
– O que foi aquilo? – disse Matheus respirando fundo.
– Edvan virou um morto-vivo. Agora ele serve a Étimos, que provavelmente foi o que lhe trouxe a vida. Nem mesmo do colar ele se lembra.
– Isso é triste! – disse Adrian.
– Esse mundo de vocês, é tenebroso. – comentou Matheus.
– Nem nos diga! – disse Nathan.
Havia realmente um corredor escuro ali.
– Eu fui trazido para esse local. Vamos caminhar e logo veremos umas tochas. Não estamos longe.
Fomos caminhando, tateando as paredes. Mais a frente, nós vimos uma luz, era uma tocha, pregada na parede. Ali eu tive realmente uma espécie de déjà vu, quando peguei na tocha e a tirei da parede. Eu fiquei todo arrepiado.
– Temos algum plano A ou plano B? – perguntou Matheus.
– Entramos, lutamos, pegamos seus pais e o Kayo nos leva para a taberna. – disse Adrian.
– Para isso devemos ser rápidos e estar sempre do lado de Kayo. – disse Nathan.
– Deve haver muitos exilados lá dentro. – disse Matheus.
– Não haverá ninguém. Nem mesmo Átimos estará aqui. É arriscado demais ele estar defeso da maneira como está. Sem o colar e com tantos bruxos por aí querendo-o. Não pense que apenas esse grupo quer o colar. Outros também sabem da existência dele, e já estão o procurando. Achando Átimos, eles acham o colar. Esses não são burros como esses do Soberanus.
– Como você sabe de tudo isso? – perguntou Nathan, confuso.
– Simplesmente sei. É difícil de explicar. Vamos. – eu dizia incrédulo, as informações pareciam fluir dentro de mim.
Seguimos pelo corredor, até chegar naquele salão da visão do dia anterior. As estátuas vendadas segurando as lanças. Ali a porta, que Edvan chamou de Porta da Lamentação. Antes eu não tinha visto os desenhos nela, já que quando eu havia chegado a mesma já estava aberta. Tinha entalhes de bronze de cabeças, com expressões tristes.
– Comentava-se sobre essa porta, quando éramos pequenos. Quando Átimos foi morto e a porta lacrou seu sepulcro, os rostos daqueles ao qual Átimos matou, surgiram na mesma. – comentou Adrian.
– E como faremos para entrar? – perguntou Matheus.
Eu me aproximei da porta. Tirei o colar.
– Dando a ele o que ele realmente quer. – eu disse.
Quando o colar saiu do meu pescoço, as estátuas vendadas se viraram para mim e baixaram suas cabeças. Nathan e Adrian tiraram a varinha que jazia em seus bolsos e apontaram para elas. Mas elas ficaram imóveis. Eu as fitei e disse para uma delas.
– Abra essa porta! – eu disse.
A estátua então fez um sinal positivo com a cabeça e a porta começou a se abrir. Lentamente, com aquele ranger de ferro arrastando pela parede, havia o som de correntes também.
– Vamos e agora mais cuidado do que nunca. – eu disse. Coloquei novamente o colar e pus para dentro da camisa.
A frente, o salão era o mesmo, só que sem as tais estátuas, que para Edvan, era soldados. Este estava mais iluminado e parecia mais limpo do que na visão. Seguimos até o trono e percebemos que até então não havia ninguém. Não havia portas que se pudesse passar ali. Era apenas uma sala fechada.
– Então, o que faremos agora? – perguntou Adrian.
– Engraçado como é fácil manipular os humanos. – disse uma voz ao fundo, fria e aterrorizante.
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