O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 20
A usurpação




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/521498/chapter/20

Fora desesperante ver aquela cena. Matheus gritava “não” a todo o momento. Eu estava com o coração gelado e angustiado. Todos na casa vinham e Kauvirno perguntava o que tinha acontecido. Nathan falou rapidamente.

– Vocês são idiotas, burros... como puderam trazer essa menina até aqui? – dizia ele.

– Não tivemos culpa tio. O Matheus insistiu...

– E como ela chegou? Voando? – indagou Kauvirno;

– Não sei, não sei explicar... – dizia Nathan perplexo. Adrian estava em um canto.

– Eu nunca vi algo assim... eu nunca vi algo assim... – dizia ele.

A minha tia abraçava-o tentando consolá-lo, mais parecia não surtir nenhum efeito. Minha mãe e meu pai estava do meu lado, abraçados comigo. Tereza e Camila estavam do lado de Matheus, que ainda segurava o corpo inerte de Aline.

– Porque isso esta acontecendo? – perguntava ele – Porque matar pessoas inocentes. Porque?

Eu sentia vazio. Medo. Estava em pânico.

– Ela foi tocada pela vampira? – perguntou Kauvirno.

– Sim! – disse Nathan.

– Devemos matá-la! – disse ele friamente.

– Matá-la? – perguntou Matheus – Ela não está morta? – em sua voz havia satisfação.

– Ainda não, mais temos que ser rápidos. Nathan corra até meu quarto, em minha bolsa tem uma adaga, traga-a para mim. Agora!

Nathan correu, subiu as escadas.

– Ela não esta morta. Ela não esta morta! – dizia Matheus abraçando-a e acariciando seu rosto pálido.

– Matheus? – chamou Kauvirno – Ela ainda não está, mais devemos fazer o que tem que ser feito.

Eu estava confuso. Via Matheus ali, segurando aquele corpo sem vida, desesperado. Uma ponta de ódio tomou meu coração. E meu egoísmo só fazia com que eu pensasse que talvez ele ainda sentisse algo por ela. Ele chorava, gritava que aquilo era culpa dele.

– Não é sua culpa, querido! – dizia Camila, tentando acalmá-lo.

– Adrian, onde estão os outros? Adrian eu estou falando com você, responda!

– Na floresta, estão na floresta!

– Pois bem...

Nathan chegou com uma adaga prateada e entregou a Kauvirno, ele assim que a pegou, foi até Aline e fez uma menção de acertá-la no peito. Matheus entrou na frente e disse que ele não faria isso.

– Mas é preciso, antes que ocorra a transformação.

– Ela está viva, isso é assassinato...

– Chega moleque, não vou discutir com você sobre que tipo atitude eu devo tomar...

– Você não irá matá-la!

– É preciso, querido... – dizia Camila.

– Afastem-no dela...

– Não. Kayo faça alguma coisa. Faça alguma coisa!

Algo me dizia que aquilo era o sensato a se fazer. Matheus agora lutava contra Nathan que tentava lhe tirar em cima de Aline. Tereza ajudava e Camila ajeitou o corpo da garota.

– Não faça isso Kauvirno. Seu assassino... assassino...

– Chega! – Kauvirno fez um movimento com a mão e um pedaço de pano voou da cozinha e amordaçou Matheus.

Em seus gritos contínuos e abafados eu ouvia ele pedindo para que eu fizesse alguma coisa. Mais eu ainda estava sem ação.

Kauvirno então se aproximou de Aline e ergueu o braço, fez outra menção de fincar a adaga no peito da garota. Matheus conseguira se soltar e partiu para cima de Kauvirno. Meu pai, Nathan e Adrian correram e seguraram ele. Minha mãe ainda me abraçava.

Foi então que ouvimos um chiado, ou grunhido, como de uma hiena. O som vinha de Aline. O corpo dela começou a se debater, jogando Camila contra parede, ela bateu a cabeça e desmaiou. Minha mãe então correu para socorrer nossa prima.

O corpo de Aline agora foi lançado contra a parede e depois para o teto. Grudada ali ela se virou e me fitou, e com uma voz bastante familiar disse:

– Não foi dessa vez, moleque.

– Vampiros são usurpadores de corpos. Sugam a energia e se ainda tem a energia vital de sua caça e forem mortos eles podem invadir o corpo da mesma. – disse Kauvirno.

Todos ficamos olhando aquilo, atordoados. Menos Kauvirno que pareceu já estar familiarizado com aquela cena. Matheus se aproximou de mim, me abraçando de forma a me proteger. A vampira que eu havia matado há alguns minutos atrás agora habitava um novo corpo. O de Aline.

A vampira então saltou do teto, e agora de pé no chão trocou suas roupas. As de Aline sumiram e em volta surgiram sombras que se transformaram nas mesmas roupas que ela usava antes.

– Bela vista por dentro. – disse ela comentando sobre a casa – Me dê o colar.

– Eu não o darei... – eu disse firmemente.

– Então todos irão morrer e o colar será meu! – disse ela.

Imensas asas negras surgiram de suas costas e ela então uivou. Um uivo fino e agudo o suficiente para nos fazer enlouquecer. Todos nós caímos de joelhos e tampamos nossos ouvidos.

Logo após o seu uivo, ouvimos outros vindos do lado de fora, seguidos de explosões e trovões. Kauvirno se levantou e bateu com seu cajado no chão, uma luz acendeu na ponta. Logo depois estava Nathan, Adrian, meus pais, Tereza e Camila circulando a vampira com suas armas em punho.

– Não, não. Isso é injustiça... tantos contra um?

– Vá para algum lugar seguro Kayo. Leve Matheus com você, nós os acharemos depois. – disse meu pai.

Minhas mãos tornaram a pegar fogo. A vampira olhou com desprezo.

– Invocare Focus, sem uma arma de conjuração. – disse ela com repugna – Que tipo de aberração você é?

Eu estava prestando atenção em seus atos, não podia dar ouvidos ao que ela dizia.

– Aberração. – disse ela novamente.

Nós começamos a ouvir sons de batidas no telhado da casa.

– Vocês estão cercados. – dizia ela rindo e batendo suas asas, enquanto todos a circulavam.

Mais batidas e então alguma coisa no andar de cima desmoronou. Logo surgiram mais dois vampiros, esses homens, e terrivelmente feios.

– Preparem-se! – gritou Kauvirno.

Então meus pais começaram a lutar contra um dos vampiros. Tereza e Camila com o outro. Nathan, Adrian e Kauvirno com a vampira. O fogo nas minhas mãos apagou e eu puxei Matheus para perto da janela. Quebrei o vidro e saímos por ela.

– Vai abandoná-los? – perguntou ele.

– Jamais!

Corremos até um ponto a frente, próximo a entrada do terreno da mansão. Eu virei e vi dentro da casa flashes e muitas risadas. O fogo na minha mão tornou a acender.

– O que vai fazer?

– Nenhum deles consumiu a energia de ninguém...

Focalizei a mansão. Senti um forte calor.

– Afasta-se de mim, Matheus... – ele se afastou.

Quando eu percebi, estava em chamas. Não sentia dor, apenas um calor excessivo. Firmei ainda mais os três vampiros dentro da casa. Pude sentir o colar pesar em meu pescoço e então me lancei a frente.

Eu estava voando em direção a mansão. Eu invadi a casa com um estouro e sai por outro lado segurando um dos vampiros. No céu, o vampiro gritou e virou pedra. Deixei ele cair no chão. Tornei a voltar para dentro da casa e rapidamente busquei outro, fazendo a mesma coisa. Tornei para dentro da casa e não achei pela vampira. Tornei a sair e vi todos saírem da casa. Ali no céu pude ver um ponto distante e preto sumindo no horizonte. Voltei a terra, pousando próximo aonde eles estavam.

A mansão estava pegando fogo. Uma forte fumaça preta subia até o céu e em sua base um fogo azul a consumia.

O fogo em meu corpo então acalmou, no entanto eu estava extremamente cansado. Cheguei a cair nos braços de meu pai.

– Precisamos ir para algum lugar rapidamente. – disse Kauvirno.

– Exilados imundos... – disse Adrian.

Num ponto distante dali podia-se ver sombras escuras nos observando.

– Eles ainda não conseguem entrar aqui, mais não por muito tempo. Quando a casa sucumbir ao fogo, o feitiço dos Taurinos de proteção cessará. – disse minha mãe.

– E onde vamos então? – perguntou Matheus.

– Vamos para o minha taberna, estaremos seguros lá. – disse Camila se transformando em Alim – Os bruxos que lá freqüentam não costumam me perturbar durante o dia.

– Mais e se Étimos desconfiar? Ontem ele sentiu que fora conjurada magia, tanto que fora pessoalmente lá. – eu disse.

– Ele deve estar ocupado demais cuidando de seu pai. - disse Camila. Agora Alim.

Matheus segurou nos meus braços e foi criado um portal até a taberna de Alim.

Lá dentro, a lareira foi acendida.

– Tome um pouco disso! – disse Alim a mim.

Ele me dera aquele mesmo liquido da jarra que eu recusara.

– Te fará bem! – disse ele. Tomei as pressas.

Fiquei deitado um momento, protegido pelos braços de Matheus, da mesma maneira como ele estava com Aline. Ficamos quietos por muito tempo. Não havia o que ser dito.

Durante cinco horas, o silêncio absoluto reinou naquela taberna.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Colar do Parvo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.