O Colar do Parvo escrita por Marko Koell
Fora desesperante ver aquela cena. Matheus gritava “não” a todo o momento. Eu estava com o coração gelado e angustiado. Todos na casa vinham e Kauvirno perguntava o que tinha acontecido. Nathan falou rapidamente.
– Vocês são idiotas, burros... como puderam trazer essa menina até aqui? – dizia ele.
– Não tivemos culpa tio. O Matheus insistiu...
– E como ela chegou? Voando? – indagou Kauvirno;
– Não sei, não sei explicar... – dizia Nathan perplexo. Adrian estava em um canto.
– Eu nunca vi algo assim... eu nunca vi algo assim... – dizia ele.
A minha tia abraçava-o tentando consolá-lo, mais parecia não surtir nenhum efeito. Minha mãe e meu pai estava do meu lado, abraçados comigo. Tereza e Camila estavam do lado de Matheus, que ainda segurava o corpo inerte de Aline.
– Porque isso esta acontecendo? – perguntava ele – Porque matar pessoas inocentes. Porque?
Eu sentia vazio. Medo. Estava em pânico.
– Ela foi tocada pela vampira? – perguntou Kauvirno.
– Sim! – disse Nathan.
– Devemos matá-la! – disse ele friamente.
– Matá-la? – perguntou Matheus – Ela não está morta? – em sua voz havia satisfação.
– Ainda não, mais temos que ser rápidos. Nathan corra até meu quarto, em minha bolsa tem uma adaga, traga-a para mim. Agora!
Nathan correu, subiu as escadas.
– Ela não esta morta. Ela não esta morta! – dizia Matheus abraçando-a e acariciando seu rosto pálido.
– Matheus? – chamou Kauvirno – Ela ainda não está, mais devemos fazer o que tem que ser feito.
Eu estava confuso. Via Matheus ali, segurando aquele corpo sem vida, desesperado. Uma ponta de ódio tomou meu coração. E meu egoísmo só fazia com que eu pensasse que talvez ele ainda sentisse algo por ela. Ele chorava, gritava que aquilo era culpa dele.
– Não é sua culpa, querido! – dizia Camila, tentando acalmá-lo.
– Adrian, onde estão os outros? Adrian eu estou falando com você, responda!
– Na floresta, estão na floresta!
– Pois bem...
Nathan chegou com uma adaga prateada e entregou a Kauvirno, ele assim que a pegou, foi até Aline e fez uma menção de acertá-la no peito. Matheus entrou na frente e disse que ele não faria isso.
– Mas é preciso, antes que ocorra a transformação.
– Ela está viva, isso é assassinato...
– Chega moleque, não vou discutir com você sobre que tipo atitude eu devo tomar...
– Você não irá matá-la!
– É preciso, querido... – dizia Camila.
– Afastem-no dela...
– Não. Kayo faça alguma coisa. Faça alguma coisa!
Algo me dizia que aquilo era o sensato a se fazer. Matheus agora lutava contra Nathan que tentava lhe tirar em cima de Aline. Tereza ajudava e Camila ajeitou o corpo da garota.
– Não faça isso Kauvirno. Seu assassino... assassino...
– Chega! – Kauvirno fez um movimento com a mão e um pedaço de pano voou da cozinha e amordaçou Matheus.
Em seus gritos contínuos e abafados eu ouvia ele pedindo para que eu fizesse alguma coisa. Mais eu ainda estava sem ação.
Kauvirno então se aproximou de Aline e ergueu o braço, fez outra menção de fincar a adaga no peito da garota. Matheus conseguira se soltar e partiu para cima de Kauvirno. Meu pai, Nathan e Adrian correram e seguraram ele. Minha mãe ainda me abraçava.
Foi então que ouvimos um chiado, ou grunhido, como de uma hiena. O som vinha de Aline. O corpo dela começou a se debater, jogando Camila contra parede, ela bateu a cabeça e desmaiou. Minha mãe então correu para socorrer nossa prima.
O corpo de Aline agora foi lançado contra a parede e depois para o teto. Grudada ali ela se virou e me fitou, e com uma voz bastante familiar disse:
– Não foi dessa vez, moleque.
– Vampiros são usurpadores de corpos. Sugam a energia e se ainda tem a energia vital de sua caça e forem mortos eles podem invadir o corpo da mesma. – disse Kauvirno.
Todos ficamos olhando aquilo, atordoados. Menos Kauvirno que pareceu já estar familiarizado com aquela cena. Matheus se aproximou de mim, me abraçando de forma a me proteger. A vampira que eu havia matado há alguns minutos atrás agora habitava um novo corpo. O de Aline.
A vampira então saltou do teto, e agora de pé no chão trocou suas roupas. As de Aline sumiram e em volta surgiram sombras que se transformaram nas mesmas roupas que ela usava antes.
– Bela vista por dentro. – disse ela comentando sobre a casa – Me dê o colar.
– Eu não o darei... – eu disse firmemente.
– Então todos irão morrer e o colar será meu! – disse ela.
Imensas asas negras surgiram de suas costas e ela então uivou. Um uivo fino e agudo o suficiente para nos fazer enlouquecer. Todos nós caímos de joelhos e tampamos nossos ouvidos.
Logo após o seu uivo, ouvimos outros vindos do lado de fora, seguidos de explosões e trovões. Kauvirno se levantou e bateu com seu cajado no chão, uma luz acendeu na ponta. Logo depois estava Nathan, Adrian, meus pais, Tereza e Camila circulando a vampira com suas armas em punho.
– Não, não. Isso é injustiça... tantos contra um?
– Vá para algum lugar seguro Kayo. Leve Matheus com você, nós os acharemos depois. – disse meu pai.
Minhas mãos tornaram a pegar fogo. A vampira olhou com desprezo.
– Invocare Focus, sem uma arma de conjuração. – disse ela com repugna – Que tipo de aberração você é?
Eu estava prestando atenção em seus atos, não podia dar ouvidos ao que ela dizia.
– Aberração. – disse ela novamente.
Nós começamos a ouvir sons de batidas no telhado da casa.
– Vocês estão cercados. – dizia ela rindo e batendo suas asas, enquanto todos a circulavam.
Mais batidas e então alguma coisa no andar de cima desmoronou. Logo surgiram mais dois vampiros, esses homens, e terrivelmente feios.
– Preparem-se! – gritou Kauvirno.
Então meus pais começaram a lutar contra um dos vampiros. Tereza e Camila com o outro. Nathan, Adrian e Kauvirno com a vampira. O fogo nas minhas mãos apagou e eu puxei Matheus para perto da janela. Quebrei o vidro e saímos por ela.
– Vai abandoná-los? – perguntou ele.
– Jamais!
Corremos até um ponto a frente, próximo a entrada do terreno da mansão. Eu virei e vi dentro da casa flashes e muitas risadas. O fogo na minha mão tornou a acender.
– O que vai fazer?
– Nenhum deles consumiu a energia de ninguém...
Focalizei a mansão. Senti um forte calor.
– Afasta-se de mim, Matheus... – ele se afastou.
Quando eu percebi, estava em chamas. Não sentia dor, apenas um calor excessivo. Firmei ainda mais os três vampiros dentro da casa. Pude sentir o colar pesar em meu pescoço e então me lancei a frente.
Eu estava voando em direção a mansão. Eu invadi a casa com um estouro e sai por outro lado segurando um dos vampiros. No céu, o vampiro gritou e virou pedra. Deixei ele cair no chão. Tornei a voltar para dentro da casa e rapidamente busquei outro, fazendo a mesma coisa. Tornei para dentro da casa e não achei pela vampira. Tornei a sair e vi todos saírem da casa. Ali no céu pude ver um ponto distante e preto sumindo no horizonte. Voltei a terra, pousando próximo aonde eles estavam.
A mansão estava pegando fogo. Uma forte fumaça preta subia até o céu e em sua base um fogo azul a consumia.
O fogo em meu corpo então acalmou, no entanto eu estava extremamente cansado. Cheguei a cair nos braços de meu pai.
– Precisamos ir para algum lugar rapidamente. – disse Kauvirno.
– Exilados imundos... – disse Adrian.
Num ponto distante dali podia-se ver sombras escuras nos observando.
– Eles ainda não conseguem entrar aqui, mais não por muito tempo. Quando a casa sucumbir ao fogo, o feitiço dos Taurinos de proteção cessará. – disse minha mãe.
– E onde vamos então? – perguntou Matheus.
– Vamos para o minha taberna, estaremos seguros lá. – disse Camila se transformando em Alim – Os bruxos que lá freqüentam não costumam me perturbar durante o dia.
– Mais e se Étimos desconfiar? Ontem ele sentiu que fora conjurada magia, tanto que fora pessoalmente lá. – eu disse.
– Ele deve estar ocupado demais cuidando de seu pai. - disse Camila. Agora Alim.
Matheus segurou nos meus braços e foi criado um portal até a taberna de Alim.
Lá dentro, a lareira foi acendida.
– Tome um pouco disso! – disse Alim a mim.
Ele me dera aquele mesmo liquido da jarra que eu recusara.
– Te fará bem! – disse ele. Tomei as pressas.
Fiquei deitado um momento, protegido pelos braços de Matheus, da mesma maneira como ele estava com Aline. Ficamos quietos por muito tempo. Não havia o que ser dito.
Durante cinco horas, o silêncio absoluto reinou naquela taberna.
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