Amelia Del Crucci

Eu acordei na sexta-feira com um péssimo pressentimento.

Felizmente eu sabia que eu estava no time do Damien, então eu não iria ficar sozinha. Ryden não estava aparentando, mas eu sabia que no fundo ele tinha ficado chateado de não ter ficado no mesmo time que eu ou Damien.

Hoje eles iam colocar os horários nos murais e também entregar as camisas para as pessoas.

Tive vontade de grunhir. Eu nunca me importei de fazer atividades físicas, mas o problema residia no fato de que as pessoas não sabem jogar, a única coisa que elas sabem é pensar nos prêmios e de uma hora pra outra virar uns animais.

Eu ainda lembro quando os veteranos estavam escolhendo o que cada um tinha que fazer.

Eu estava ao lado de Damien, esperando todos decidirem o que cada um ia fazer e, no final, ficar com o que sobrar. As pessoas estavam falando alto, eu não conseguia parar de balançar o pé. Damien ficou segurando minha mão sabendo que aquilo ia me acalmar um pouco.

Depois que a maioria da bagunça já tinha acabado, uns quatro veteranos que deveriam medir mais do que um metro e oitenta pararam na minha frente.

— E você é...? — um deles me perguntou.

— Eu sou Amelia — eu disse engolindo seco.

— Você é pequena — um deles disse, eu quase revirei os olhos. Dava até vontade de falar: não, sério? Nem pensei, até porque as pessoas sempre me chamaram de mulher das montanhas.

Mas tudo o que eu fiz foi assentir lentamente como se ele fosse estúpido... O que provavelmente ele era.

O terceiro veterano sorriu.

— Isso é bom. Isso significa que as pessoas não vão perceber você e você será ótima para desviar delas... Sem contar que você deve ser rápida.

— É, se você me comparar com uma lesma — eu murmurei, mas eles não ouviram. Não sabia se isso era bom ou ruim.

— Então — um deles colocou o braço gigante no meu ombro fazendo eu quase cair com o peso — nós sabemos exatamente qual atividades você irá fazer.

Eles decidiram Queimada e Captura da Bandeira. Dança eu entrei porque eu sempre jogava quando eu era pequena naqueles tapetes de dança do Playstation, então eu quis entrar na competição, e a da Corrida da Fantasia eu praticamente fui porque ninguém queria.

Isso é exploração com a minha pessoa. Achei ofensivo.

Suspirando, eu decidi me levantar. Só foi quando eu achei meu celular em cima da escrivaninha que eu vi o horário.

Eu estava atrasa.

— MAS QUE ÓTIMO! — eu gritei.

Peguei a primeira roupa que eu achei e vesti. Peguei a minha bolsa e depois de ter colocado a alça em meu ombro saí correndo.

Não encontrei ninguém da mansão, então nem me dei o trabalho de desejar bom dia pra alguém.

Ainda bem, porque aquilo definitivamente não estava sendo um bom dia.

Pedalei como se não houvesse amanhã para a faculdade. Quando eu cheguei não conseguia sentir meus pés direito.

As pessoas já estavam se encontrando com os grupos e com as camisas colocadas. Droga!

Eu fui até uma das bancadas e assinei meu nome. A mulher me olhou e começou a procurar nas caixas uma camisa amarela.

— Acho que não temos um tamanho tão pequeno... — a mulher murmurou.

Eu decidi ignorar porque se não acho que iria acabar voando no pescoço daquela mocoronga.

Ela FINALMENTE achou uma camisa do meu tamanho e eu peguei sem agradecer. Fui até um dos banheiros e troquei a minha blusa pela camisa amarela e comecei a procurar como uma louca o meu time.

O desespero não acabava. Eu via milhares de pontinhos laranjas, pretos, brancos, azuis... MAS NENHUM AMARELO. Qual é o preconceito?

Alguém tocou o meu braço e eu dei um pulo.

— Relaxa, firegirl, sou eu — um Ryden com uma camisa preta brotou do meu lado — não sabe onde está seu time?

— Pois é... Você sabe?

Ele apenas deu uma risadinha e começou a me puxar para um dos lados do campus.

— Já nem começou os jogos e você já perdeu?

Nossa. Senhora. Ryden. Acho. Que. Vou. Morrer. De. Rir. Com. Esse. Seu. Trocadinho. De. Merda.

Só que não.

Eu devo ter falado isso em voz alta porque ele soltou uma gargalhada do meu lado.

— Hm... Vamos ver, quer brincar de “ache seu time”? Ao invés de ser “ache o gato”?

Eu o ignorei.

— Alguém está de mau-humor? — ele perguntou com divertimento.

— Ryden, seu lindo — eu disse com uma voz doce — cuidado ao provocar ruivas.

E com isso fui em direção aos amarelinhos.

***

Quando eu estava perto de Damien eu saí em disparada para ficar ao seu lado.

— Eita, pra quê a pressa?

— Pra ir embora dormir — foi tudo o que eu disse.

Algumas pessoas do nosso time se encarregaram de pegar todos os horários. Graças a Deus eu não era uma delas.

Eu estava de pé ao lado de Damien esperando alguém me dar os horários. Uma menina que se chamava... Tá, eu não lembro o nome dela. Mas uma menina acabou me entregando uma folha.

Olhando com desinteresse para os horários, eu coloquei a folha de qualquer jeito na minha mochila e peguei o braço de Damien.

— Vamos pra cafeteria?

Ele acenou concordando e rapidamente mandou uma mensagem para Ryden convidando-o também.

— E então, você vai na festa?

Eu suspirei.

— Festas não são muito minha praia, sabe, Damy?

— Bem... Eu pude perceber e... Damy?

— Me deixa com meus apelidos.

Ele apenas deu de ombros e continuou caminhando.

Enquanto caminhávamos, eu avistei Drake com uma camisa vermelha. Ele estava sendo atormentado por uma garota... Pelo menos parecia ser o caso. A garota estava praticamente se jogando em cima dele e tudo que ele fazia era fumar um cigarro e olhar para ela com tédio.

Também achei Sam isolado, mexendo em seu celular.

Bem, parece que eu não sou a única que não estou muito afim de participar desses jogos.

***

No sábado de manhã, Cass veio me encher o saco.

— Vamos lá, Amy, você não tem nada para vestir para a festa.

— Eu não quero ir — eu disse com a cara no travesseiro.

— Você vai.

— Quem disse?

— Eu.

Grunhi ainda com a cara no travesseiro. Cass puxou minhas cobertas e começou a me empurrar pro banheiro.

— Vai, cenourinha...

— Me chame assim novamente e eu vou enfiar uma cenoura no meio do seu...

— Okay, okay — ela levantou os braços em sinal de rendição — eu não vou mais fazer isso. Agora, tome um banho que vamos fazer compras.

Eu fiquei encarando ela.

— AMELIA DEL CRUCCI, se a senhorita não entrar AGORA naquele banheiro eu vou tingir seu cabelo de loiro!

Eu entrei no banheiro.

Depois de tomar uma rápida ducha, Cass não calou a boca sobre quais lojas eram ou não eram boas. Eu apenas fiquei balançando a cabeça como aqueles bonequinhos e fiquei olhando as vitrines.

— Ah — disse Cassidy — desisto. Nada você quer comprar.

— Quando você achar um vestido bonito, do meu tamanho e barato eu comprarei.

A garota soltou um muxoxo e continuou andando ao meu lado na calçada. Eu senti alguém cutucar meu ombro e chamar pelo meu nome.

Virei-me percebendo que eu achava aquela voz extremamente familiar.

Quando vi quem era, congelei. Percebi Cass chamando meu nome, mas eu não conseguia fazer nada a não ser encarar a pessoa a minha frente e lembrar de meu doloroso passado.