As Últimas Lembranças de Dominique Weasley escrita por MahDants


Capítulo 2
Vermelho, prata e um pedido de desculpas


Notas iniciais do capítulo

Eu ia esperar mais gente aparecer, mas o capítulo já tava pronto e eu tava doida pra postar, então aí está!
Não esqueçam de dizer o que estão achando, okay?
Espero que gostem :3



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Albus tomou fôlego e mergulhou a cabeça nas memórias de Dominique Weasley. As manchas pretas tomaram formas e cores, e logo ele se viu n’A Toca. Sorriu involuntariamente.

Ele apertou o triângulo do aparelhinho trouxa.

Faltava uma semana para o Natal...

Ouvir a voz dela, doce e fina, era perturbador. Os olhos de Albus se encheram de lágrimas e o coração se apertou de saudades.

...e essa é a lembrança mais antiga que eu tinha de você. Busquei tudo que tinha em minha cabeça, e foi isso que encontrei com detalhes. Eu tinha algumas coisas borradas, mas algo sólido? Era só isso. Acho que foi nossa primeira briga.

Como você pode ver, nós estávamos n’A Toca.

Sim, ele podia ver. Os móveis velhos e gastos estavam ali, e a neve caía teimosamente do lado de fora da casa. A lareira estava acesa e o chão parecia ter sido limpo mais cedo.

Ele não se lembrava daquele dia, mas parecia ter sete anos de idade. Seus cabelos negros como os de Harry, mas com certeza mais finos e calmos, estavam molhados, e ele vestia uma camisa das Harpias de Holyhead, time que sua mãe costumava jogar. Manipulação! Mal sabia aquele Albus que anos mais tarde viraria um torcedor doente das Vespas de Wimbourne.

Seu rosto não tinha nenhum cravo, espinha, ou sinal de tristeza. Os olhos verdes brilhavam de alegria, enquanto esperava, sentado no grande sofá ao lado de uma Dominique impaciente e arrogante, por alguém.

Dominique era uma criança interessante. Mesmo não se lembrando daquela tarde, lembrava-se com clareza que a infância de Dominique foi resumida em se comportar com prepotência e astúcia, consequência dos milhares mimos que recebia de sua mãe. Além, é claro, do desprezo que ela dava a qualquer nascido do Reino Unido.

A garota era vaidosa, qualquer um podia perceber isso observando seus cabelos sedosos e lisos, extensos até metade da barriga, e a coroa que brilhava no topo de sua cabeça. Ou então pelas roupas que vestia, sempre com um acessório a mais que o necessário. Sua boca era marcada com batom rosa, e as unhas estavam pintadas da mesma cor.

Estávamos esperando Victoire, Teddy e James voltarem com as caixas de decoração da árvore de Natal. Embora vovó Weasley pudesse decorar tudo aquilo com um simples aceno de varinha, nós quisemos ajudar à moda trouxa.

Eu estava emburrada. Eu queria sair dali, e começar logo o trabalho na presença da minha irmã e do Teddy, as únicas pessoas que eu não considerava desprezíveis ali. Como você deve lembrar, eu não era o exemplo de simpatia e humildade.

Não era muito unida à minha família por parte de pai, na verdade. Passava os verões na França e minha tia favorita era Tia Gabrielle, irmã da minha mãe. Duvido que tenhamos brincado juntos na infância, já que eu escolhia a dedo as minhas companhias.

Eu era uma criança insuportável, pode falar.

Ali, naquela tarde, é claro que eu tinha plena noção de quem era você, e qual era a sua relação comigo, mas isso não quer dizer que eu conhecesse você. Digo, soubesse o que você costumava fazer, sua personalidade, nem mesmo o som da sua voz eu conseguia recordar.

E aí eu decidi ser simpática, simplesmente porque achei a cor dos seus olhos bonita.

“Prazer, eu sou Dominique Weasley” a Dominique de sete anos disse com uma voz fininha e irritante, extremamente infantil.

“Sei quem você é” retrucou o garoto. O Albus de dezessete anos sentiu suas bochechas corarem... Sua voz era tão esganiçada e fina! “Você é minha prima. Filha da tia Fleur e do tio Bill”.

“Podemos ser amigos?” a garotinha sorriu para ele, abrindo os dentes em um sorriso banguela. O Albus garotinho riu.

“Você está com um dente faltando!”

Dominique ficou vermelha e o silêncio se instalou no ambiente.

Só para constar, fiquei vermelha de ódio. Ninguém caçoa de Dominique Weasley! Eu tenho sangue veela, meu amor. Quem você pensava que era, em?

James, com cabelos compridos e desarrumados, desceu as escadas com as tais caixas com conteúdo decorativo. Fazia uma grande expressão de sofrimento e esforço, e Albus imaginou que aquelas caixas deviam estar pesadas para os bracinhos infantis do irmão. Teddy e Victoire vinham logo atrás; ele bons centímetros mais alto que ela, que era idêntica a Dominique. Talvez tivesse apenas o rosto um pouco mais fino e olhos mais redondos...

“Al e Nikki, venham aqui” chamou Teddy, o mais velho dali. Seus cabelos estavam azuis. “Ficamos encarregados de decorar essa casa! Eu e James vamos decorar o interior da casa em todos os cômodos”.

“Eu posso decorar o exterior” pronunciou-se Victoire.

“E o que nós vamos fazer?” questionou Dominique, emburrada e cruzando os braços.

“Você pode vir comigo” anunciou Victoire docilmente.

“E eu?” questionou o Albus garotinho. Dominique riu com maldade.

“Monte a árvore de Natal!” sugeriu Teddy, sentindo-se o chefe, embora tivesse apenas dez ou onze anos.

“Não vou fazer isso sozinho!”

“A Nikki faz com você” decidiu Victoire. “Vamos começar”.

Eu me sentia a pessoa mais azarada de todo o mundo. De todas as tarefas, eu havia ficado com a mais chata. E de todas as companhias, eu havia ficado com a mais insensível possível. Humph. Como se não bastasse a feiura dos meus dentes... Precisava ter comentando, Severus Potter? Não, não precisava!

O Albus de dezessete anos assistiu o seu eu dez anos mais novo sorrir amarelo para a prima, que mal lhe olhou no rosto. Ele deu de ombros e foi até uma caixa, de onde tirou pedaços de uma árvore de Natal montável e um papel com coisas escritas.

“Você sabe ler?” questionou Dominique de mau gosto.

“Sei” ele respondeu, parecendo orgulhoso de tal fato. “Você não?”

Dominique revirou os olhos.

Eu não tenho muitos comentários a fazer sobre aquela tarde, Severus. Até porque não lembro muito bem, mas sei que foi dali que nossa implicância surgiu.

Você era um garotinho irritante e insensível. Em minha opinião, gostava de se sentir superior e mostrar que era filho de Harry Potter. Você precisava se mostrar o maioral, Albus. Melhor que James ou Lily. Ou essa era minha percepção fria e invejosa na época.

Com cuidado, os primos começaram a montar a árvore, que logo estava perfeitamente instalada no canto da sala daquela casa. Ambos franziram o cenho, pensando em que tipo de decoração usariam ali, e logo eles entraram em uma discussão onde os dois tinham uma enorme divergência de opinião.

Albus gostaria de decorar a árvore de verde, e Dominique de rosa.

“A árvore já é verde!” retrucou a loura. “Que tipo de decoração é essa que não se vê?”

Eu tinha razão. E nem ouse pensar que seus argumentos eram melhores que os meus.

“Rosa é cor de menina!” disse o menininho, parecendo ter se esforçado bastante para chegar àquela conclusão. “Nem todos na nossa família são meninas, Dominique!”

“Pois ou fazemos isso rosa, ou não fazemos”.

“Então não vamos fazer nada” ele decidiu. “Só faço se for verde”.

Ele se sentou no chão e cruzou os braços. Não muito tempo depois, a garota imitou o ato, mas de costas para o primo. Ambos tinham um bico no rosto.

Você vai esperar um pouquinho, Albus. Tipo, uns quinze minutos. Erámos crianças birrentas, o que podíamos fazer? Você foi criado por Harry Potter. Era o filho do meio, aquele que mais lembrava o seu pai... Eu era filha do meio de Fleur Delacour. Preciso explicar alguma coisa?

Meu orgulho era mais alto. Eu não daria o braço a torcer por um primo insolente, embora duvide que com aquela idade eu sequer soubesse o que significava a palavra insolente.

“Eu gosto de vermelho” contou Albus, cutucando a prima.

Ela virou de costas, erguendo uma sobrancelha.

“Vermelho?” Dominique perguntou hesitante. Albus assentiu alegre. “Eu gosto de vermelho também. E prata”.

“Vermelho e prata são cores bonitas”.

“Muito bonitas” concordou Dominique.

Os dois primos correram pela casa e buscaram arduamente, dentro da caixa, por coisas vermelhas e prateadas, para decorar aquela árvore de Natal. Sorriram um para o outro quando se ajudaram e fizeram um ótimo trabalho, colocando serpentinas prateadas e bolinhas vermelhas.

Jogaram-se no sofá, exaustos.

“Meninos!” exclamou a vovó Molly, mais nova do que o Albus de dezessete anos se lembrava. “Que árvore bela! Vocês quem decoraram?”

Ambos assentiram debilmente.

“Merecem biscoitos” ela falou. “Vocês querem?”

“De banana” exigiu Albus.

“Com gotas de chocolate!” completou Dominique, sorrindo.

Esse virou o cheiro da minha Amortentia, anos depois. Biscoitos de vovó Molly... Embora ela fizesse muitos biscoitos, os biscoitos de banana com gotas de chocolate eram os únicos que eu aceitava comer. E aquilo havia sido invenção nossa.

Albus e Dominique conversaram animadamente por algum tempo, até James, Teddy e Victoire se juntarem aos dois.

E, antes que pudessem evitar, eles já estavam discutindo de novo.

Essa com certeza foi a briga mais épica. Discutir pelo último biscoito da travessa... Albus, como éramos infantis!

A imagem vai mudar quando você começar a chorar porque arranquei o biscoito de suas mãos. Nunca arrume briga com uma Weasley, esse é um conselho que espero que você leve para vida.

Obviamente, e sei que você se lembra disso, nossas brigas continuaram até o Primeiro Ano em Hogwarts, quando decidi que seria uma boa pessoa...

As manchas pretas dissolveram a imagem e Albus entrou em mais uma memória de Dominique.

Eu não sei se você se lembra disso, mas provavelmente sim. Você estava na frente da entrada para o Salão Comunal da Sonserina, sua casa, e eu estava saindo da minha aula de Poções com a Corvinal.

Preciso falar sobre Hogwarts. Aquele lugar foi um lar. Eu sempre me imaginei em Beauxbatons, sabe... Sendo educada com todo aquele lance de ser uma dama chique, como mamãe havia ensinado. Hogwarts foi um choque de realidade.

Na Grifinória, em poucos dias eu estava mais amiga de Rose, Roxy, Fred e James. Toda aquela convivência Weasley (exceção de James, que era Potter), realmente me fez ser mais pé no chão. Eles me ensinaram humildade, simpatia e bom humor, mesmo que eu ainda mantivesse minha essência francesa de ser vaidosa e patricinha; agora eu tinha algumas virtudes que somente a vida podia nos ensinar.

Dominique caminhava pelos corredores das masmorras, que todos sabiam que podiam ser congelantes dependendo do dia, quando parou subitamente. Ela estava sozinha, desacompanhada de Rose ou Roxy, que costumavam ser suas companhias no Primeiro Ano.

E lá estava Albus, cercado por garotos mais velhos.

Eu me enchi de fúria com aqueles sonserinos nojentos. Qual é, Albus, você era meu primo, não podia deixar que qualquer um te ameaçasse... Com exceção de mim, é claro. Eu podia fazer isso e tinha moral, eles não.

Dominique se pôs na frente de Albus.

“Quem vocês pensam que são?” desafiou.

Os três garotos eram altos e corpulentos, com certeza não eram nada delicados como Dominique Weasley. Ela piscou os olhinhos azuis e inclinou a cabeça, deixando a franja se desprender da orelha.

Eles riram.

“Dominique, deixe comigo” falou Albus, tateando as vestes procurando a varinha.

“Mon cher” ela ignorou Albus. Era engraçado ver aquela figura baixinha e magrinha, com a voz fina, juntar as mãos pequenininhas na frente do peito, colando os dedos, e olhando-os com uma expressão mortífera. Ela realmente achava que era gente! “Vocês vão deixar meu primo em paz agora, porque juro que não vão querer se meter com a família Potter, muito menos Weasley, e, pior ainda, a parte da família Weasley que também é Delacour, ou vão?”

Por fim, ergueu as sobrancelhas desafiadoramente e eles riram com desdém.

“Você deveria estar em Hogwarts? Parece ter nove anos!”

Num ato rápido, ela agarrou o braço do garoto e o apertou com força, cravando suas longas, e pontudas, unhas pintadas de rosa ali. Ele gritou de dor.

“Estamos entendidos?” ela questionou. Ele bufou, mas assentiu. “Merveilleux!”

E os garotos foram embora.

Eu esperava, no mínimo, um obrigado. E, no máximo, uma linda declaração de amor para mim, mas você foi rude, Potter. Muito rude.

“Eu não precisava de ajuda!” gritou Albus.

“Claro que não precisava” ironizou a loira, dando tapinhas em seu braço. “Você é tão corajoso. É por isso que está na Grifinória, certo? Não, pera... Você foi para a Sonserina”.

“É uma ótima casa, se quer saber” ele se soltou das garras da prima. “Pelo menos lá não tem nenhum ridículo que põe palavras em francês no meio das frases!”

Dominique pisou no seu pé e saiu marchando dali, com fúria na expressão e lágrimas nos olhos.

Menino ingrato! Insolente! Irritante! Perdão, Albus, mas você tem que concordar comigo que não foi uma das melhores pessoas do mundo em minha presença. A próxima lembrança você não participa, mas explica o fato de a tia Gina ter descoberto sua hostilidade perto de mim.

“Ei, Nikki” se o Albus de dezessete anos não tivesse visto os olhos castanhos do seu irmão por trás de um par de óculos, ele jamais reconheceria aquela voz infantil chamando por Dominique. “Você viu sua irmã?”

“Deve estar com o Teddy” murmurou uma Dominique chateada.

“Você andou chorando?”

Antes que eu pudesse me dar conta, James se sentou ao meu lado nas escadarias do dormitório da Grifinória, e passou, desajeitadamente, os braços ao redor dos meus ombros, tentando me acalmar.

“O seu irmão é um chato”.

“Sempre disse ao meu pai isso. Acha que ele escuta?” James fez piada. Ela acabou soltando uma risadinha. “Sempre tentei falar que aquela criança era adotada, mas olhe! Ele nasceu com os olhos do papai, foi difícil convencer os dois depois de constatar esse fato”.

“Preferia que ele fosse adotado” resmungou Dominique, com a expressão ácida. “E fosse pra bem longe de mim”.

“O que ele fez?”

“Ele nasceu!”

“Vamos, conte-me o que foi agora” tentou James, sorrindo de canto. “Posso entregá-lo a mamãe”.

Eu contei tudo a ele, e ele virou meu amigo a partir daquele dia. Mesmo que eu e você tenhamos construído uma amizade bem forte, depois do seu pedido de desculpas, você vivia com o Malfoy de um canto ao outro do castelo, então eu tinha que ter um melhor amigo. Nesse caso, era o James.

Ah, sim, seu pedido de desculpas. A próxima lembrança. Essa lembrança me faz sorrir. Estou sorrindo agora. Você consegue imaginar meu sorriso? Ah, não precisa... Logo a cena vai mudar.

Tudo ficou manchado novamente, e logo Grifinória e Sonserina estavam em sua aula de voo. Dominique, Roxy, Rose, Albus e Scorpius faziam um grupo enquanto a professora não chegava. Dominique não parecia notar, mas Albus lhe lançava olhares nervosos.

“Dominique?” chamou o primo de uma vez.

“Sim?” ela ergueu a cabeça.

“Venha aqui” os dois caminharam até um canto mais afastado.

Lembro-me de ter ficado feliz com aquilo. Eu queria ser sua amiga, havia chegado a essa conclusão quando passei a tarde chorando pelo modo como você havia me tratado.

“O que foi, Albus?” questionou a loira, mudando o peso de um pé ao outro.

“Obrigado” ele agradeceu, coçando a cabeça e parecendo nervoso. “Sabe... Por ter me defendido. E me desculpe se fui rude”.

“Tia Gina mandou você vim falar isso?”

“Mandou” ele foi sincero na resposta. Dominique sorriu.

“Mas você realmente se arrepende?”

“Bem... Um pouco, sim. Sim”.

“Então eu desculpo” gritou Dominique, apertando-o em um abraço.

Hogwarts estava me mudando. Eu não era mais tão mimada assim, muito menos orgulhosa. Estava feliz com aquele pedido de desculpas. Só não sabia o que aquilo causaria... Todas as crianças do Primeiro Ano cantando musiquinhas como “Albus e Nikki foram feitos um para o outro”. Eu deveria saber que abraços em público não eram muito bem vistos... Não naquela época, pelo menos.


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