Rosas de seda escrita por Charlotte


Capítulo 15
Capítulo 15




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/520523/chapter/15

Estava já de pijama deitada no que parecia um mar de cobertores todos macios e deliciosamente quentinhos, achava incrível como toda a decoração daquele quarto ornava perfeitamente. As paredes eram de um marrom escuro, com vários quadros de moldura branca espalhados, havia um guarda Roupa branco à moda antiga e dois criados mudos que faziam jogo com a cama de casal. Bem na hora que liguei a TV alguém bate na porta.

–Quem é?

–O lobo mau- Achei totalmente desnecessária a brincadeira

–Pode entrar Bê- Bisse revirando os olhos

Ele trazia uma bandeja com um bule de chá e duas xícaras. Podia ver alguns biscoitinhos também.

–Trouxe um mimo

Ele deixou a bandeja ao lado do criado mudo mais próximo a mim, e puxou uma grande poltrona bege para ficar mais perto.

–Como gosta de seu chá senhorita?

–Bem quentinho e adoçado com mel- Disse ao ver um recipiente que poderia conter a cura da dor de garganta que estava ameaçando aparecer

–Então Mel quer mel... seria isso canibalismo?

Fiz uma careta que dizia que não teve graça, ele me entregou a xícara cujo liquido perfumou o quarto inteiro de erva-cidreira

Bê fez uma xícara para ele também, fiquei impressionada como ele tomava chá, era um lorde ali bem na minha frente. Ele estava tão concentrado e calado enquanto bebia que nem me percebeu o encarando. Quando deu o ultimo gole saiu do transe, eu disfarcei tomando todo o resto do meu chá de uma só vez.

–Não, obrigada- disse quando ele perguntou se eu queria mais

–Espero que seu dia não tenha sido tão entediante quanto o meu- Disse ele tirando os sapatos e só ficando com a calça de moletom preto que vestia e uma blusa fina de manga comprida azul marinha. Ele se jogou na cama não se importando comigo ali

–Ei!!

Ajeitou-se entrando embaixo das cobertas, lancei-lhe um olhar desconfiado

–Está frio então nem tente me expulsar, está quase 9 graus lá fora

Ele colocou o travesseiro no meu colo e deitou, fiquei fazendo carinho em seu cabelo enquanto escolhia um filme. Acabei deixando em um que eu já havia assistido antes, pois não achei nenhum melhor

–Tudo bem este para você?- Perguntei ao Bê que respondeu afirmando com a cabeça

Depois de uns 15 minutos de filme percebi-o quieto demais, vi então que ele estava dormindo. Debaixo das cobertas estava quentinho, fiquei com dó de mandar ele para o outro quarto, além do que ele parecia muito cansado.

Esfreguei levemente o lóbulo da orelha dele e suavemente o chamei:

–Bê, tudo bem em você dormir aqui, mas se ajeite melhor ou vai acordar dolorido

Ele pareceu levar um tempo para processar o que eu disse, achei fofa sua expressão enquanto processava.

–Obrigado- Disse me dando um selinho e se ajeitou melhor, pareceu levar apenas 5 minutos para voltar ao estado de pedra.

Resolvi desligar a TV e ir dormir também. Ajeitei-me e demorei uns 20 minutos para dormir.

Acordei no meio da noite com o que parecia ser uma roda de Samba na cama, Bê se mexia muito enquanto dormia, mais um pouco e acharia que ele estaria tendo um ataque epilético. O observei um pouco e achei melhor acordá-lo.

–Bê...- Disse tocando minha mão em seu braço, percebi uma forte tensão nos músculos.- Bê...

Ele acordou sobressaltado e logo sentou na cama esfregando os olhos, respirou lentamente para se acalmar o que ajudou, um pouco aparentemente.

–Mel, eu te acordei?

–Você estava muito agitado, fiquei preocupada

–Desculpe-me, meu sono não costuma ser muito bom, acho que estava tendo um pesadelo, não me lembro direito

–Bom, agora já passou- Disse deslizando meus dedos por seu rosto- Volte a dormir

Ele olhou um pouco para porta como se estivesse cogitando ir para seu quarto, mas eu o ajeitei na cama, me aninhei nele colocando minha mão em seu peito. Percebi que ele estranhou eu me aproximar assim, já que na maioria das vezes ele era quem se aproximava de mim. Percebi que sua musculatura relaxou bastante com a troca de calor entre nossos corpos. Não pude dormir até ter certeza que ele não voltaria àquele pesadelo.

Meu despertador tocou, acordei quase na mesma posição em que havia pegado no sono. Fiquei tranqüila de ele não ter acordado novamente durante a noite.

Eu costumava levantar antes de Bê, pois eu demorava mais para me arrumar. Contudo hoje eu estava cogitando acordar o mesmo horário que ele, parecia que minhas forças haviam sido sugadas, minha preguiça de sair da cama era fora do normal, mas me obriguei mesmo assim quase me jogando no chão.

Fui para o banheiro no quarto e ajeitei-me o mais rápido possível. Quando terminei Bê estava começando a acordar, aproveitei para dormir enquanto ele não ficava pronto. Minha dor de garganta havia piorado, eu sentia uma lixa em minha boca.

As coisas dele estavam no outro quarto, ele se arrumou lá e bateu na minha porta quando ficou pronto.

Praticamente me arrastei até a porta do quarto. Tentei me recompor o máximo possível para o Café. Quando chegamos à copa, a mesa estava lotada de comida. Peguei apenas uma caneca de café com leite, achei um desperdício não comer nada daqueles bolos e frutas que estavam à minha frente. Entretanto estava totalmente sem fome.

–Tem certeza que não vai comer nada?

Só balancei a cabeça em afirmação para a moça que pegou a caneca que usei. Bê apenas observou enquanto terminava a fatia de queijo minas em seu prato.

Despedimos-nos dos empregados, já havíamos nos despedido da família de Bê ontem, e nos dirigimos ao carro.

Por um longo tempo da viagem ninguém falou nada, eu estava encolhida no banco do passageiro quase dormindo.

–Mel, você está com frio?

–Um pouco

Ele conduziu o carro para fora da estrada e assim que colocou a mão na minha testa seu semblante ficou sério.

–Não é por menos que você esta tão quieta, está ardendo em febre, sente mais alguma coisa?

–Dor de garganta, dor de cabeça e cansaço

Ele saiu do carro e se dirigiu ao porta malas, fiquei sem entender o que ele fazia até voltar com uma pequena necessaire azul marinha.

–É alérgica a algum medicamento?

Fiz que não com a cabeça e ele me deu um comprimido e a garrafa de água que estava no porta copos.

–Obrigada

–Abaixe o banco, tente descansar até chegarmos.

Fiz o que ele disse, apesar de não conseguir dormir no caminho. Fiquei apenas de olhos fechados. Quando o carro parou não estávamos no cursinho, mas no estacionamento do apartamento.

–Bê, o cursinho!

–Você não vai para lá nesse estado, vamos subir, ver se sua temperatura abaixou e vou fazer algo para você comer já que não comeu nada no café.

Subi tirando energia de não sei onde, e que se dissipou totalmente quando vi o sofá. Deitei nele com a ânsia de um naufrago que chega à praia. Parecia longa e desnecessária a trajetória para meu quarto. Bê trouxe meu travesseiro e coberta, além do termômetro.

–Quanto deu?

–38 graus, já era para o antitérmico ter dado efeito... não acha melhor tomar um banho frio?

–Pode ser depois que eu dormir um pouco?

Era melhor eu tomar o banho frio agora, mas ele percebeu que eu estava destruída.

–Vou pegar um lençol então, nada de coberta, acho melhor ligar o ar também. Durma um pouco- Disse ele dando um beijo em minha testa

–Obrigada

Adormeci antes mesmo de ele voltar com o lençol. Dormi tão pesado que quando acordei demorei um tempo para raciocinar a minha posição no tempo e espaço

Senti um cheiro vindo da cozinha, era maravilhoso apesar dos meus sentidos não estarem no seu melhor estado. Levantei-me um pouco para ver o que Bê estava preparando, mas ele estava sentado na mesa da copa mexendo no computador, parecia contrariado. Sempre que algo o incomodava ele apertava os lábios como uma criança mimada.

–Bê?

–Mel, como se sente?- Disse ele se dirigindo a mim

–A dor de cabeça passou, e não estou com tanto frio

Ele colocou a mão em minha testa e depois por garantia, me deu o termômetro de novo.

–37 graus, pelo menos a temperatura abaixou

–Ela acordou?- ouvi uma voz familiar na cozinha

Bê levantou uma sobrancelha, provavelmente aquela presença é que estava o irritando.

A dona da voz apareceu, era Cristina que apareceu na porta da cozinha

–Cristina?

–Oi minha querida! Que bom que melhorou! Mandei uma mensagem perguntando se chegaram bem e qual não foi minha preocupação quando Bernardo me falou que você não tinha acordado bem. Então vim lhe dar meus cuidados de mãe

–Que graça! Obrigada!

–Estou fazendo uma deliciosa canja para você, espere mais alguns minutos e logo estará pronta

Bê sentou comigo no sofá e ligou a TV, ele me puxou e aninhei-me nele. Perto do meu ouvido cochichou do jeito que sempre me fazia sentir uma corrente elétrica em minha coluna:

–Não é justo ela aparecer aqui, era para eu cuidar de você! Frágil nesse estado precisa de um médico para examiná-la, e acho que os meus conhecimentos de primeiros socorros já me dão o cargo desse trabalho

–Que mau, querer se aproveitar da vulnerabilidade de uma dama! Onde já se viu!

Ele me deu um beijo na bochecha. Fiquei imaginando como ele não estava doente, já que ontem compartilhamos todos os vírus que estavam em minha boca.

Quando a canja ficou pronta me sentei à mesa. Bê me acompanhou tomando um prato também. Realmente ela estava ótima, e meu apetite estava melhor, ainda não 100%, mas suficiente para me nutrir.

Bê se encarregou da louça enquanto eu e Cristina jogávamos conversa fora

– Então mel, como vão os estudos?

–Cansativos, estou com alguns módulos atrasados- “Alguns” se referia a só 5% do total ainda por fazer

–Deve ser difícil, e você tem certeza do que quer?

–Não de uma forma absoluta, claro que sempre há umas dúvidas, mas eu gosto dessa área de saúde

–E a sua inclinação pelas artes? Está esquecida já?

–Tive em minha vida inteira aulas de piano, pintura, teatro, então agora que não faço nada para abstrair sinto falta, mas é só um hobby.

–E você nunca pensou nisso como profissão?

–Claro que já, adoraria ser roteirista, mas é muito investimento para um curso bom e o retorno não é garantido

–Eu penso que você deveria repensar, deve fazer o curso de roteirista, e no exterior, Nova York ou Los Angeles

–Seria maravilhoso, mas meus pais me matariam se eu desistisse de Med

–Casando com o Bê você não precisa ficar preocupada em se sustentar, tanto eu como Vanessa não temos salário fixo. Na verdade, não sei se você lembra que fui bailarina. Houve apresentações minhas com faturamento mais alto que o salário do vice-diretor da nossa empresa. Tendo vocação você voa alto nesse ramo. Porém claro que se você se sentir melhor com medicina, deve fazer isso, apesar de eu acreditar que deve investir em seu potencial

Estranhei um pouco a conversa, estava acostumada a ouvir “você deve fazer o que quiser, desde que esteja em um dos cursos renomados e com grande mercado de trabalho”. Ela levantou uma questão que eu não pensava desde o colegial, seguir minha vocação para as artes. Desde pequena sempre fui elogiada nesse quesito, tanto em desenhos, como aprendendo a tocar uma música, meus trabalhos de artes sempre tinham nota máxima, contudo sempre vi isso como um hobby, eu deveria focar em uma carreira mais estável, e conforme fui aprendendo mais sobre arte vi que o que eu sabia era apenas um grão de areia na praia, então procurava saber mais e mais. Com os vestibulares, tive que deixar esse interesse de lado, que acabou ficando esquecido, ignorado em um canto.

Cristina foi embora cedo, me deixando aquele discurso dela para refletir. Entretanto será que há algo para se discutir sobre o assunto?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rosas de seda" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.