P.O.V. Gloss

Estou acompanhando minha garota, que agora esta dormindo. Ela parece um anjo quando dorme, bem mais calma do que quando acordada. Mas das duas formas minha pequena é assustadoramente bela.

Nunca me imaginei me referindo a alguém como minha. Ela não é um objeto, mas mesmo assim é minha. Não sei explicar como Gloss, o pegador e gostosão da capital, se transformou em um cachorrinho nas mãos de uma garota de 18 anos.

Ela tem 18, é 9 anos mais nova que eu, mas me atrai como nenhuma mulher jamais conseguiu. E devo admitir que ela tem um corpo de uma mulher de uns 25 anos. Ela é uma mulher, e não uma garota. Simplesmente linda. Lembro-me de fingir não conhecê-la quando a encontrei toda irritada no térreo, com as mãos ensanguentadas, apenas para prolongar a conversa, não queria deixa-la ir, e no final acabei por roubar-lhe um beijo. Acho que valeu a penas.

Devo admitir que fiquei louco com suas tramas de ciúmes na aliança, mas os jogos são dela e ela faz oque quer neles. Só me dei conta de minha paixão maluca quando ela me beijou na sacada do distrito 2. Para ser sincero, gamei nela na colheita ainda. Linda em um vestido preto e com uma trança que descia pelas costas, sem maquiagem alguma, naturalmente linda. Fiquei mil amores por ela no desfile e acho que me apaixonei no dia em que enfaixei suas mãos. Mãos delicadas, mas calejadas de treinos. Um rosto maravilhoso, mas com um olhar sanguinário. Uma voz doce, mas determinada. Palavras bem pronunciadas, mas com o conteúdo impróprio sempre presente. Essa é minha garota.

Foco minha imagem em seu rosto e percebo que murmura algo. Coloco meus fones e presto a atenção.

Gloss. Ela esta me chamando. Meu coração pula no peito.

Gloss! Não! Droga! Ela esta tendo um pesadelo.

Não! Não! Glooooooss... Ele me envolve e pelo jeito não acabou bem.

Isso é ruim, muito ruim. Os pesadelos só a atrapalharam e tiraram seu foco. Estava torcendo para eles só aparecerem depois da arena. Mas minha pequena teve o mesmo azar que eu, ter os malditos pesadelos dentro do próprio inferno.

Me tranquilizo apenas quando vejo o ultimo resquício de medo deixar seu olhar e agora a observo, linda como sempre. Ela está observando o nascer do sol, seus cabelos castanhos mais claros pela luminosidade e seus olhos azuis mais intensos, seu lábios carnudos mais vermelhos e sua respiração mais calma. Ela como sempre está linda.

Fico observando-a até Cashmere chegar para trocarmos de lugar. Agora é minha vez de ir atrás de patrocinadores. Só de pensar no que Cashmere deve ter feito e oque eu provavelmente terei que fazer para conseguir patrocinadores, fico enjoado. A capital apesar de rica é repugnante.

P.O.V. Mavra

– Acorda gente! Vamos! Já amanheceu – chamo todos, que vão levantando aos poucos e arrumando tudo para partimos.

Já arrumei minhas coisas então começo a preparar o “café da manha”, que se baseia em frutas e biscoitos. Sunny é a primeira a se sentar comigo na mesa do apartamento, uma mesa de mogno. Desperdício de dinheiro, devo dizer, é colocar uma mesa dessas em uma arena. Mas a capital é rica e economia não existem em seus dicionários.

Comemos em silêncios, novamente relembro oque conversamos e a olho, ela já me encarava, apenas esboça um sorriso e um brilho cruel surge em seu olhar.

Realmente é uma pena não poder mais matar Henry, mas acredito que isso traria mais felicidade a ela do que a mim. Ela e Melani são o mais próximo de amigas que já tive, devo isso a ela por me acolher, acolher uma estranha e cruel concorrente, como se nos conhecêssemos há décadas.

Assim que terminamos de comer, empunhamos nossas armas e agarramos nossas mochilas. Hoje é o primeiro dia de caçada, pretendo diminuir o excessivo numero de crianças aqui dentro. Só espero que o azarado não seja muito novo. E Ramona? Onde estaria agora? Seguiu meus conselhos? Esta segura?

Afasto o pensamento assim que me toco o quão fraco isso soa para uma carreirista. Mas que MERDA! Realmente estou ficando molenga! Droga!

– Ei! Olha lá! – berra Henry e eu sigo seu olhar até um garoto que esta sentado despreocupadamente na escadaria de um prédio de tijolo a vista. É ... infelizmente o garoto é um bebe. Azarado. O garoto é Mike, ele é companheiro de distrito de Ramona, ele é do 5, se não me engano tem 14 anos, talvez seja 13...

Assim que ele nos vê, fica perplexo, mas por pouco tempo, logo começa a correr como um marido vagabundo corre de sua mulher irada, acredite isso acontece direto no 2, é hilário.

– Para de correr garoto! Nós vamos te pegar de qualquer maneira! Se parar de correr não iremos tortura-lo! Vamos mata-lo sem sofrimento! – berra Ângelo.

– Cala a boca seu estúpido e corre mais! – ralho eu e recebo uma baita carranca de Ângelo em resposta.

Sou a mais rápida no grupo e como sou a lider e blablabla, estou sempre na frente. Corro até o garoto e o prendo em uma chave de braço. Se ele se mover, eu o mato.

– Alguém se voluntaria? Ou devo eu mesma fazer o trabalho? – Ângelo esta prestes a abrir a boca, o lanço um olhar tenebroso e sua boca se fecha novamente. Ninguém responde – ok, faço eu então.

Seguro o garoto com mais força, vou quebrar seu pescoço e livra-lo de uma morte tortuosa. Viro- me de costas para todos e caminho um pouco com ele, me afastando do grupo, que apenas me observa. O garoto se debate mas não consegue se soltar, desistindo da luta depois de um tempinho

– Sinto muito, mas se não for você, sou eu – sussurro em seu ouvido e ele se encolhe – não se preocupe, não irei tortura-lo, não tem porque, mas faça um favor ao seu distrito e morra de cabeça erguida.

– Obrigado – ele diz e levanta a cabeça esperando a morte. Não o deixo esperar e quebro seu pescoço em segundos. E em poucos segundo, Mike deixou de existir.