Capitulo 2 – Não adianta fugir baby

Turno: Sabaku no Kankurou

Reykjavík, Islândia

Eu não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Eu finalmente tinha conseguido tudo que era dele, tudo! E em um segundo havia perdido o controle. Eu sabia exatamente que aquilo tudo não era obra do meu detestável irmão mais novo, aquilo vinha de alguém muito mais poderoso que havia de certa forma encontrado uma válvula de escape para todo ódio e rancor que sentia pela sua perda. Suspirei pela centésima vez segurando a peça do jogo de xadrez. Girava o peão entre os dedos pensando em como contaria que tinha simplesmente perdido a loira de vista. Foi quando notei a sequencia de quatro números gravados no fundo da peça. 4669. Vasculhei os bolsos rapidamente a procura do celular. Coloquei na discagem rápida vendo o número da minha amável irmã no visor.

Turno : Autora

Granada, Espanha

Temari mantinha as mãos tremulas e os olhos arregalados enquanto desligava o telefone. Saltou da cama e foi em busca do Nara aos tropeços pela casa. Encontrou-o sentado no sofá com os olhos pregados na TV que passava um programa qualquer.

— Temos que voltar para Tokyo. – A loira ordenou em voz firme.

— Não acha estranho que eles estejam agindo tão cordialmente nos últimos tempos? – Shikamaru questionou como se não tivesse ouvido uma palavra.

— Não tão cordialmente – Temari respondeu receosa mordendo os lábios.

O moreno direcionou sua atenção a loira a sua frente.

— Kankurou acabou de me ligar – deu uma breve pausa pegando fôlego – Disse que estava com a Ino no saguão de hotel em Reykjavík e ela simplesmente sumiu – completou com a voz vacilante.

Shikamaru levantou murmurando xingamentos enquanto calçava os sapatos e ligava para a companhia aérea. Temari ainda encarava o noivo esperando algum tipo de feição ou traço de pânico, mas conhecia muito bem o Nara e sabia que por mais desesperado que o moreno estivesse com o sumiço da Yamanaka, ele não demonstraria. Shikamaru é e sempre foi a peça mais centrada daquele ‘‘jogo’’, sempre sabendo como agir e lidar com qualquer tipo de situação o moreno havia se tornado uma espécie de copia barata nos últimos meses, andava distraído e falava sozinho.

— E não é só isso – a loira continuou depois de um longo tempo em silencio.

Shikamaru parou ainda virado de costas.

— Eles deixaram uma mensagem – A loira se aproximou.

— Algum tipo de bilhete de resgate ridiculo? – O Nara questionou irônico arqueando uma das sobrancelhas.

— Não - Temari o encarou preocupada – Dessa vez o aviso foi um pouco mais claro. Deixaram um peão do jogo de xadrez, com um numero gravado.

O moreno passou a mão pelos cabelos castanhos enquanto pensava em alguma solução rápida.

— Avise ao Sasuke e Sakura pra preparar tudo para chegada de todos. Quero todos em Tokyo em 2 dias, precisamos ficar juntos agora, não quero mais ninguém desaparecendo nas próximas horas – acrescentou o final um pouco mais baixo.

Aproximou-se da Sabaku loira colando suas testas e depositando um beijo rápido nos lábios.

— Nós vamos ficar bem de novo, eu prometo- disse em voz baixa – Assim que eu encontrar aquela outra loira abusada vou dar uma bela lição nos seus irmãos – acrescentou com um sorriso divertido.

— Como se fosse a coisa mais fácil do mundo ficar de olho na Ino – rebateu com um sorriso de canto indo arrumar os pertences para embarcarem.

— Eu cuido de você querida, quer tarefa mais difícil do que essa? – respondeu cínico enquanto desviava de uma almofada qualquer que a loira tinha encontrado no caminho. – E a propósito – escorou-se no batente da porta deixando apenas a cabeça visível – Você tem uma mira péssima – acrescentou trancando a porta do banheiro em seguida.

 Tokyo, Japão

O quarto extremamente decorado com cores pesadas e adereços extremamente bregas estava impregnado com o cheiro do cigarro. Uma cabeleira ruiva podia ser vista escorada no parapeito da alta janela do motel barato por quem passasse pela avenida. Tokyo tinha essa vantagem, estavam todos tão ocupados com suas próprias vidas e ambições que não conseguiam enxergar nada mesmo que acontecesse em baixo de seus narizes. Dando mais uma tragada no cigarro que estava preso entre os dedos, o Sabaku continuava de costas para a figura feminina que o observava coberta pelo lençol de cor púrpura.

— Porque não volta pra cama para continuarmos o que começamos ruivo – uma voz feminina manhosa e extremamente carregada de desejo preencheu o quarto.

— Porque tenho mais o que fazer do que perder meu tempo aqui – respondeu simplesmente com o tom de voz seco.

A garota levantou com a expressão levemente ofendida enquanto vestia suas roupas antes espalhadas pelo chão.

— Não seja tão ridículo ruivo – a morena de cabelos curtos repicados ronronou agarrando-o pela cintura – No fundo, eu sei que você gosta de mim – finalizou com um sorriso satisfeito nos lábios manchados de vermelho do batom que antes coloria lhe a boca.

Gaara segurou-a pelo braço com força mantendo a cabeça da morena em seu campo de visão.

—Escute Matsuri, não quero que me chame por apelidos novamente – disse enquanto mantinha o rosto cuidadosamente sem expressão soltando lhe o braço em seguida – Agora vá, antes que eu me arrependa de ter chamado você aqui.

A morena se afastou em seguida com um semblante irritado terminando de se vestir, mas antes que pudesse passar pela porta, Gaara a chamou novamente.

— E antes que vá, avise a Shizune que mande uma loira da próxima vez – alertou com um sorriso cínico nos lábios – Elas sempre fizeram mais o meu tipo.

Em seguida a porta foi batida com extrema violência deixando Gaara novamente sozinho submerso em seus pensamentos com um sorriso nos lábios quando seu celular que antes repousava na mesa, vibrou em som estridente alertando a chegada de uma nova mensagem. Andou lentamente até o canto do quarto e assim que olhou para a tela do celular soube que algo estava errado. Ao ler a mensagem confirmou as suspeitas. Havia uma mensagem da Sabaku mais velha.

Mudança de planos temos más noticias. Eu e o Shikamaru estaremos de volta a Tokyo em algumas horas.Tome cuidado, estão de olho em nós. T.S

Suspirou pesadamente enquanto passava as mãos freneticamente nos fios rubros, detestava quando era o ultimo, a saber, das coisas, porém já estava acostumado a ser deixado de lado. Deixou o celular em cima da mesa novamente e foi até o banheiro para tomar um banho antes que fosse encontrar Sakura. A rosada tinha finalmente aceitado que havia algo errado no meio do campo de guerra em que se encontravam. Há muito tempo não via seus antigos amigos e isso incluía a loira Yamanaka, esperava que ela estivesse bem, aonde quer que fosse. Sabia muito bem que seu irmão costumava cuidar bem das coisas que ele considerava ser dono e não seria diferente com Ino. Seu sangue ferveu de ódio apenas na menção de outro homem tendo-a para si. Entrou rapidamente em baixo do chuveiro esperando que Sakura não atrasasse, detestava esperar, tanto quanto odiava ser o ultimo a saber das coisas.

Turno: Autora

Principado de Mônaco, Mônaco

O cômodo em que a Mitsashi se encontrava era confortável e compacto. Um sofá não muito espaçoso de cor bege se encontrava perfeitamente alinhado em cima de um tapete com estampa floral no centro da pequena sala. A cozinha em estilo americana tinha duas portas altas de vidro que davam vista para a pequena varanda e quintal da casa, nada muito luxuoso, porém bonito e de bom gosto. Assim que tinha se firmado no principado afim de não chamar atenção, escolheu uma acomodação discreta e localizada no centro para que não precisasse usar sempre o carro. Desde que havia saído de Tokyo Tenten tratou de passar despercebida por todos os lugares que se hospedava, detestava chamar atenção, não entendia como esse parecia ser o ponto alto da vida de Hyuuga Neji.

 O moreno diferentemente da Tenten, parecia deliciar-se com toda a atenção que era voltada para si. Assim que chegou a presidência da empresa antes comandada pelo tio, seu rosto impassível estampou algumas capas de jornais que Tenten fez questão de incinerar após ler seu conteúdo que deixava sempre claro no final das contas de que Neji era um homem superficial. Ele e a amiga Yamanaka formariam um belo casal de cabeças ocas pensando bem, a morena ponderou descartando a ideia em seguida. Talvez nem mesmo Ino aguentasse o fato do Hyuuga ser tão escrotamente mal humorado, lembrou amargamente enquanto ajeitava os poucos pertences que levava consigo dentro de uma mala. Ino. O que será que teriam feito á Yamanaka? Tenten lembrava com desgosto, havia jurado a si mesma que não voltaria para aquele continente jamais. Nem que todas as suas futuras linhagens dependessem disso, porém lembrava-se ainda com muito carinho do amor que sentia pelos velhos amigos e pela Yamanaka. Há poucos minutos, a Sabaku mais velha havia ligado antes de embarcar para dizer que estava voltando para o Japão e que precisava de todo apoio que conseguissem. Suspirou pesadamente enquanto se olhava no espelho e ajeitava a jaqueta de couro, estava voltando de uma vez por todas e dessa vez, nenhum filho da puta iria fazer a Mitsashi sair correndo de novo. Ah Ino, quando encontrasse aquele projeto de Barbie ia afoga-la na água da privada por te-la deixado tão preocupada a ponto de voltar. Ela sim ia se arrepender de ter sumido. Ah se ia, pensou enquanto saia pela porta da frente se encaminhando até a garagem.

Tokyo, Japão

Por onde passassem podiam se ouvir os saltos Jimmy Cho e os sapatos sociais estalando no chão de mármore. Os moveis de couro branco e os mais novos objetos eletrônicos faziam parte do projeto luxuoso e audacioso que fora utilizado na construção da mais nova sede das empresas Hyuuga . O escritório de uma das empresas mais bem sucedidas de todo Japão encontrava-se em colapso nervoso porque o presidente estava para chegar à sede, era sempre assim, sempre que Hyuuga Neji pisava naquele prédio, o pânico estava plantado. Todos ajeitavam os mínimos detalhes porque falhas não eram permitidas pelo mesmo. Muitos se perguntavam que tipo de trauma o moreno deve ter sofrido na infância ao ponto das diferenças tão notáveis de personalidade entre ele e a prima mais nova Hinata Hyuuga. Apesar das milhares de semelhanças físicas e pelo fato dos dois serem eventualmente confundidos como gêmeos, Hinata dispunha de uma personalidade doce e educada sendo ainda sim portadora do gênio forte. Os belos olhos perolados foram herdados pelos dois apesar dos da garota Hyuuga transmitirem paz e delicadeza e os do primo mais velho, dureza e seriedade. Hinata fora surpreendida por dois estagiários que passavam correndo com os braços amarrotados de pastas e documentos enquanto saia da sua sala, com um sorriso nos lábios fora até uma porta alta envernizada de madeira não muito distante da sua e abriu fazendo a imagem de um loiro um tanto nervoso surgir a sua frente.

— Ele está chegando – disse em tom de voz calmo enquanto adentrava a sala.

O Uzumaki voltou sua atenção para a morena a sua frente que mantinha um sorriso doce nos lábios.

— Como sabe dessas coisas? – questionou ainda meio incrédulo pelo fato da noiva sempre saber ao certo quando se encaminhar ao escritório do moreno.

Hinata segurava o riso e prendia o cabelo em um coque simples novamente.

— Quando começar a ouvir gritos e gente se jogando pelas janelas, é sinal de que ele está próximo – disse enquanto se aproximava mais para depositar um beijo nos lábios do loiro.

O loiro riu enquanto ajeitava a gravata

— Eu sempre vou odiar vestir essas coisas – confidenciou em voz um pouco mais baixa em quanto segurava as mão de Hinata para saírem da sala – As vezes penso que podíamos fazer como os outros – deu uma pausa dramática para acrescentar dramaticamente depois em voz alta enquanto puxava a morena pelos corredores – E fugir para qualquer outro lugar desse planeta.

Depois que terminaram a faculdade e resolveram acertar as vidas longe dos jogos sujos, Naruto e Hinata decidiram fundir os negócios da família e assessorar Neji na presidência. Hinata sabia que o loiro sentia falta das antigas ‘’especialidades’’ mas assumia que aquela antiga historia era perigosa demais para qualquer um deles. Se talvez tivessem interrompido o ciclo um pouco antes, talvez não estivessem na péssima situação que estavam. Ameaçados, seguidos e com uma amiga desaparecida que provavelmente iria virar alvo de barganha. Detestou a maneira como foi avisada do desaparecimento de Ino e se preocupava com a amiga loira, porém a Hyuuga sabia, os Sabakus não deixariam a ‘’brincadeira’’ barata.  A situação em sua cabeça não poderia ficar pior se não tivesse lembrado que Mitsashi Tenten e o primo ficariam sobre o mesmo território continental e isso por si só já era um problema de segurança nacional.

Naruto a tirou de seus pensamentos dispersando a morena de olhos perolado do seu transe.

— Ele chegou - anunciou enquanto os dóis se posicionavam na entrada do escritório do Hyuuga mais velho esperando que as ortas do elevador se abrissem.

Em poucos minutos, um barulho foi ouvido e as portas do elevador se abriram revelando um Hyuuga visivelmente irritado. A camisa extremamente branca de linho feita sobre medida e dobrada até os cotovelos só deixava o mais velho ainda mais irresistível, se não fosse tão carrancudo pensava Hinata, ele seria quase a visão de um deus na terra.

— Espero que esteja de bom humor hoje Neji – Naruto abria a porta enquanto dava passagem para que a noiva entrasse na sala sendo seguida do primo.

— E por quais motivos eu estaria de bom humor especificamente hoje Uzumaki? – questionou com a voz fria habitual.

— Vamos lá Neji, temos um contrato para assinar hoje e eu não gostaria de ter que faze-lo ao seu lado se você continuar com essa cara péssima – Hinata assumiu um sorriso doce nos lábios enquanto estendia uma pilha de papeis para o primo.

— É a única face que tenho se acostume. – sorriu cínico enquanto se sentava em sua cadeira. – E a propósito, recebi uma mensagem da Temari enquanto viajava – disse contraindo levemente na cadeira.

— Todos nós recebemos mocinha, não foi mérito seu acredite – Naruto provocou enquanto se sentava em uma das poltronas na espaçosa sala antigamente ocupada por seu sogro.

— Se me chamar assim novamente eu juro que conto pra todo mundo sobre seus pentelhos tingidos seu idiota – Neji sorriu de canto mantendo os olhos nos papeis em suas mãos.

Naruto adotou uma careta indignada e levantou-se enquanto pegava Hinata pela mão.

— Espero que a sua descida até inferno seja confortável Neji – falou em tom irônico mantendo o sorriso no rosto enquanto segurou a mão de Hinata a fim de chamar sua atenção para si. - Preciso marcar uma reunião com os últimos acionistas sobre a nova reforma. Você vem? - direcionou seu olhar a Hyuuga mais nova. 

— Eu ainda tenho alguns assuntos para falar com meu primo, já vou indo.

Hinata soltou a mão do loiro e o encaminhou até a saída da sala encostando a porta em seguida.

— Pela sua cara, acho que já sabe o que está acontecendo – a morena ponderou enquanto apoiava-se na mesa de mármore que ocupava o centro da sala.

— Eu soube no momento em que invadiram meu apartamento que aquilo não tinha sido um simples ‘'assalto’’- Neji assumiu enquanto refazia o rabo de cavalo baixo nos cabelos castanhos.

Hinata congelou por um momento

— Encontrou com eles? - sua voz não soou firme como pretendia

— Eu acabei chegando mais tarde que o normal em casa e suponho que essa não era a verdadeira intenção de nenhum deles - Neji ergueu o tronco para começar firme – Quero que me escute com atenção Hinata – o moreno começou enquanto encarava de volta os orbes perolados da prima – Não quero mais que ande sozinha por ai e falo serio. Escolheram a Ino por um motivo, e eles sabem que aquela cabeça oca do Naruto faria qualquer coisa para ter você de volta. Então faça um favor para todos nós mantendo-se segura, por favor – terminou sua fala ficando em pé para melhor encarar Hinata.

— O que sabe sobre o desaparecimento da Ino? – a morena questionou apreensiva.

— Não muito mais do que vocês, apenas sei, que tudo que eles fazem tem um motivo. Eles sabem da importância dela e estão a usando da melhor forma. Minha apreensão é em que estado irão devolvê-la se o fizerem. – terminou suspirando pesadamente.

— Eles sabem que vamos atrás dela – concluiu sozinha.

Neji deu de ombros

 - É o que eles esperam que façamos não é? – o moreno Hyuuga sorriu de canto – E exatamente o que não vamos fazer se quisermos ela viva.

— Porque eu sinto que não está me contando tudo que sabe? - bufou irritada - Nós nem ao menos sabemos quem está brincando de gato e rato com a gente e você parece saber o que fazer mais do que qualquer um.

— Eu chamaria apenas de premonição - Neji mantinha o sorriso presunçoso no canto dos lábios.  

Hinata suspirou passando a mão nos cabelos azulados enquanto se encaminhava a porta novamente.

— Ah! E não esqueça, Temari e Shikamaru chegam amanhã. Vamos decidir o que fazer. Juntos – ela manteve o olhar e voz firme enquanto noticiava o primo. – Não se atrase. – decretou em tom de ordem.

— Está falando com um Hyuuga – murmurou voltando sua atenção aos contratos que teria de assinar ainda hoje.

Neji mantinha uma relação próxima com a loira Yamanaka pelo fato das diversas características em comum, entretanto, o moreno não tinha tanta certeza se estava pronto para abandonar tudo novamente por coisas que ele não tinha mais certeza, já havia feito isso antes e pessoalmente achava que tinha se fodido da pior maneira possível. Assim que encontrassem a loira, ele pularia fora. Tinha aprendido com o pai que a única coisa capaz de destruir um homem era também a única coisa capaz de transforma-lo em um. Uma mulher.