Eu conheço essa voz. Rapidamente pego na mão de Andrew e o puxo em direção a confusão que se forma do outro lado do jardim.

A primeira pessoa que vejo é Ash, com a sua cabeleira ruiva presa em uma traça meio desarrumada. Ela é segurada por Justin e Lírio, que tenta acalmar a amiga.

Ginna está um pouco afastada, com os olhos arregalados. E a própria abraça seu próprio corpo, com os braços apertados em volta de si, como se estivesse vestindo uma camisa de força.

Quando chego até lá, na rodinha em volta da confusão, vejo dois corpos rolando no chão, completamente cheios de lama. Ian está por cima do outro corpo, socando seu rosto com muita força. Eu coloco a mão em minha boca, surpresa.

Paraliso-me por alguns segundos ao ver que quem está apanhando é Harry. Ele não parece estar se abalando muito com os socos, pelo contrario, ele tenta se livrar de Ian dando pontapés e se debatendo, mas Ian também é forte.

– Parem com isso! – grita Ashley se debatendo nos braços dos meninos que a seguram. Ela olha para mim, desesperada. – Os faça parar, Jane!

– Andrew, me ajude aqui. – surgindo praticamente do além, meu pai aponta para a briga. Ele e Andrew rumam em direção a Ian e o tiram de cima de Harry com certa dificuldade.

– Seu merdinha! – grita Harry tentando voltar para cima de Ian, mas sem sucesso. Andrew o pega, pelo colarinho de sua camiseta, e o prensa na parede, segurando seus dois braços com força. – Dá pra me soltar, Andrew?!

– Cala a boca! – devolve Andrew, com o cenho franzido. Ele vira-se rapidamente para olhar em volta, vendo se o perigo de confusão acabou. – Agora você vai sair daqui, está entendendo?

– Se você não percebeu eu estava apanhando! Cheguei aqui com a maior tranquilidade do mundo, apenas querendo curtir a festa e ver minha namorada. – quando ele acaba de pronunciar essas palavras, aponta com a cabeça para Ginna.

– Ela não é sua namorada! – Ian é quem grita isso, tentando se soltar dos braços do meu pai. Caminho até Ginna, não me importando com a briga que está a continuar.

– Como você está? Ele te machucou? – eu a envolvo com os braços, passando a mão por suas costas a fim de acalma-la. – Hey, hey... Se acalme, ok? Eu estou aqui.

– E-Eu não sei o-o que fazer, Jane. – ela soluça enquanto fala, fazendo suas palavras saírem um tanto quanto confusas. – Ele ameaçou meu bebe, ele disse que vai tira-lo de mim se eu não for com ele e...

– Gin... – acabo o abraço e a olho bem nos olhos, colocando minhas mãos em seus ombros. – Ele não vai fazer isso. Ele não pode fazer isso agora. E, quando esse bebe nascer, qualquer Juiz, eu disse qualquer Juiz, vai te dar a guarda desse bebe. Ninguém vai ser louco de deixar um cara que não tem onde cair morto cuidar de um filho!

– Eu disse pra você sair daqui! – Andrew grita, fazendo a nossa conversa parar repentinamente. Eu me viro para olhar o que está havendo, e me surpreendo com o que vejo.

Harry está com um canivete na mão esquerda, apontando ele em direção a Andy, que se mantém afastado dele. Seus olhos fervem de prazer, como se sentir-se superior de todos, ameaçar a todos, fosse a melhor coisa do mundo.

– Ohh... – Harry coloca a outra mão na boca, encenando uma expressão de surpresa. – Quer dizer que eu tenho que sair daqui? Meu Deus, eu esperava mais de vocês, meus amigos. Quando eu era o menino mais popular da escola todos vocês me tratavam bem. E agora, olhem isso!

– Você fez por merecer. – Ashley tem uma voz fria, e o olha com os olhos encolhidos, com sua expressão ameaçadora.

Sinto Ginna tremer ao meu lado e noto que preciso fazer alguma coisa. Preciso tira-la daqui.

– Ian. – chamo o moreno com um sussurro, para ninguém a minha volta perceber. Meu pai permanece ao seu lado, a fim de impedir qualquer tentativa dele voltar para cima de Harry. Ele se vira para mim rapidamente.

Sua aparência me surpreende. Há um hematoma gigante perto do seu olho direto, me fazendo perceber que ele apanhou sim. Sua boca está com um pequeno corte, sem contar seu terno cheio de terra.

– Gin, você está bem? – ele praticamente me ignora, chegando perto de Ginna para verificar seu estado.

– Oh, meu Deus. – exclama ela deixando uma lagrima cair pela sua bochecha direita. – Você está todo machucado, é tudo minha culpa!

– Hey, hey! – falo colocando a mão em seu ombro. – Você precisa ficar calma. – Ela assente e eu me viro para Ian. – Preciso que tire ela daqui. Pode fazer...

– Claro, Jane. – ele olha para a confusão que se forma, com Harry ameaçando Andrew e entende porque eu preciso ficar. – Não deixe ele se machucar, tudo bem?

Eu assinto.

Eles saem sem que ninguém além de mim e do meu pai perceba. O que é bom, de certa forma.

Minha atenção se volta novamente para a briga. Andrew tem as mãos para cima e a expressão mais assustada que já vi em sua face.

– E então, Andy. – ironiza Harry. Ele anda calmamente, dando voltas pela pequena rodinha que se formou em volta da briga. – Você é bem corajoso, sabe? Sempre me enfrentou, lembra disso?

– Deixe de besteira, Harry. – Andrew tem a voz dura. Ele parece estar assustado, mas sinto uma certa confiança em sua voz. Agora tem as mãos fechadas ao lado do corpo e acompanha todos os movimentos de Harry com o olhar. – Saia daqui. Você não é bem vindo.

– Ah! Qual é, Andrew! Eu esperava mais de você! – ele afirma, brincando com o canivete em sua mão. Harry o jogava para cima e o passava entre os dedos, mostrando habilidade. Fiquei ainda mais assustada com isso. – Pensei que iria tentar alguma coisa. Porque não bate em mim, hein? Sempre foi melhor em luta.

– Andrew, não caia na provocação dele. – minha voz sai automaticamente. Eu estava com medo de Andy se machucar, tanto medo que nem pude prever o que iria sair da minha boca.

– Oh! – Harry exclama virando seus olhos para mim. Eles brilhavam, como se uma criança estivesse acabado de ver neve. – A Princesa está aqui, claro! Como eu pude me esquecer de você, Jane?

– Você sabe que está ferrado, não sabe? – indago, levantando minha sobrancelha. – Acha que a policia já não foi chamada? Pode até tentar, mas não vai sair daqui sem ser preso.

– Jane, Jane... – ele ri sem humor, dando alguns passos em minha direção. Vejo que Andrew faz o mesmo, com medo no olhar. Meu pai vira pedra ao meu lado e, quando percebe que Harry vai tentar fazer alguma coisa comigo, puxa meu braço.

Mas não é suficiente. Harry tem mais força e é mais ágil. Ele agarra meu outro braço e passa seu braço esquerdo em volta do meu pescoço, deixando a lamina do canivete perto da minha pele em baixo da mandíbula.

– Solte ela. – Andrew está com os olhos fervendo de raiva e as mãos fechadas forçadamente. – Solte ela Harry! Deixe de brincadeira!

– Sabe, Jane, - diz ele calmamente, ignorando totalmente o que Andrew fala. – você sempre foi mais interessante do que a Ginna. Mais inteligente, mais bonita... Tá ai! Por isso que o Andrew grudou em você feito chiclete.

– Largue a minha filha! – meu pai avança para tentar fazer algo, mas algumas pessoas o seguram. – Você não pode chegar aqui e estragar meu casamento assim!

– Agora, comecei a pensar, que tal a gente fazer uma troca? Eu deixo a sua querida irmãzinha em paz se você vier comigo. – ele fala isso com um sorriso torto no rosto. Harry gruda sua boca no meu ouvido e eu fecho os olhos, com nojo. – Eu posso te fazer bem mais feliz do que esse idiota, gata. A gente vai...

Foi rápido demais. Eu estava no chão no segundo seguinte e varias pessoas começaram a gritar. Meu pai veio ao meu encontro e me abraçou apertado.

– Você está bem, calma. – mesmo assim, a única coisa que eu conseguia fazer era sentir tontura. Alguém me levantou, não faço a mínima ideia de quem.

– Ela tem algum machucado na cabeça? – quem pergunta isso é Sara, vejo seu vestido branco e seu rosto borrado passar rapidamente em frente a minha visão.

– Precisamos leva-la para o hospital! – conclui Lírio mais afastada.

Eu estava completamente tonta. Via tudo embaçado, ouvia tudo com eco e sentia como se o chão pudesse desmoronar a qualquer momento. Mas eu consegui ver uma coisa antes de desmaiar.

Consegui ver Andrew por cima de Harry. E sangue. Muito sangue.