Tento me manter acordada enquanto a professora explica o trabalho que faremos hoje. São duas aulas de inglês, mas em horários diferentes. A última aula do dia é a segunda aula de inglês, que é quando o trabalho será feito.

Olho em volta. As salas são todas iguais. Paredes brancas, janelas enormes que deixam o ambiente bem iluminado, as carteiras duplas, a qual eu divido com Izzy, um quadro negro maior do que os comuns.

O sinal soa e eu dou graças a Deus mentalmente. Mais cinco minutos e eu acabaria dormindo. Coloco a mochila no ombro e eu e Izzy saímos em direção aos armários.

–Sabe o que deveríamos fazer? Ir tomar um café um dia desses- digo abrindo meu armário. O dela fica apenas dois armários de distancia.

–É, seria bem legal. Ou até mesmo passar o dia andando e comprando algumas coisas, conversando... Seria divertido.

Enquanto pego o material, percebo uma coisa sobre Isabelle: o normal dela não deve ser como ela é aqui. Esse lugar meio que a apaga, não sei.

–Poderíamos andar de bicicleta. Isso seria bom, por que nem mesmo sei quando andei pela ultima vez.

–É- diz ela com um sorriso- Seria ótimo.

Pegamos o costume de entrelaçar os braços para andar pela escola. Muitas garotas nos cumprimentam ao passar, e andam da mesma maneira que nós, de braços entrelaçados.

O dia vai prosseguindo razoavelmente bem, mas então chega a adorável ultima aula, a qual meu corpo não aguenta mais nem mesmo mudar de posição na cadeira pela falta de energia.

A professora divide a sala em grupos. Um dos grupos é: eu, Izzy e mais seis meninas. Não sei o nome de nenhuma delas e como sou um poço de educação, não pergunto também. E depois de organizar os grupos, a professora diz o que precisaríamos fazer: encontrar no mínimo dez livros clássicos e escrever o enredo deles em uma cartolina.

Conversamos entre nós e decidimos fazer o trabalho ainda naquela tarde- pelo menos iniciá-lo. Então quando o sinal do fim das aulas toca, nós vamos para a biblioteca.

Uma das coisas boas nessa escola é a biblioteca. O teto é bem alto, as inúmeras prateleiras cheias de livros de diversos temas, tamanhos e de épocas diferentes. Os lustres são encantadores. Várias mesas redondas de madeira escura e algumas cadeiras ficam espalhadas por todo o lugar. Uma clarabóia torna o ambiente bem mais claro com a luz do dia, assim como umas janelas de cortinas pesadas. As garotas começam a se acomodar enquanto eu ainda admiro o lugar.

Começamos a fazer o trabalho. Pelo menos o grupo de garotas que eu estou fazendo o trabalho são bem legais. Perguntamos para a bibliotecária, onde está a parte de literatura clássica. Ela diz que na parte sul da biblioteca, e aponta a direção. Eu e as garotas andamos até a ala sul, um emaranhado de prateleiras altas, com plaquinhas sobre o gênero dos livros.

Separamos-nos e cada uma procura em uma prateleira. Fico entediada após quinze minutos. Conforme encontramos algum livro clássico, levamos para a mesa. Encontro Hamlet e começo a caminhar em direção a mesa, então percebo que está mais escuro, as cortinas estão fechadas e está tudo silencioso, a não ser pelo som distante de algumas conversas em tom quase inaudível. Franzo o cenho e olho em volta mais uma vez, então ando apressada até onde as meninas estão.

–Ahn... Vocês sabem que horas são?- Uma das garotas olha em seu relógio e arregala seus olhos.

–Daqui a dois minutos o horário de se recolher toca.

Lembro-me de uma coisa: no momento que o toque de recolher soa, todas as luzes, exceto do banheiro, são apagadas. Todas as garotas olham para mim com olhos arregalados, exatamente a mesma expressão que a minha.

–Ok, talvez com muito barulho a diretora ouça- sugiro.

– Mas sabemos que isso é falho, porque a biblioteca fica longe da diretoria. A sala mais perto é a sala de química, que fica a uns quinze metros da porta daqui – diz Izzy encostando-se a uma prateleira e abrindo um livro casualmente. –Seremos punidas se causarmos bagunça.

–Já checou a porta?

–Não- respondo.

–Não estão abertas- diz Isabelle para a garota que ainda não sei o nome. –As luzes já vão se apagar, claro que a porta está trancada, e faz tempo.

–Não quero dormir aqui dentro!- choraminga uma garota, batendo o pé no chão- Vai embaraçar meu cabelo. E nem tem onde dormir. Além de tudo, não tirei a maquiagem, acordarei como uma criatura...

As luzes se apagam e todas acabam dando um pulo com a ação súbita. Pego no braço de Isabelle até meus olhos se acostumarem com o escuro, então a solto.

–Vamos para a mesa, não é melhor?- sugere uma das garotas.

Todas nós saímos do meio das prateleiras altas. E enquanto caminho, vejo o lugar com atenção, analisando cada canto cheio de sombras. Uma biblioteca tão bonita pode ser um lugar dos seus pesadelos na completa escuridão.

Sentamos à mesa. Coloco minhas mãos sobre a madeira e olho nos olhos brilhantes das garotas à minha frente.

–Alguém aqui tem algum celular?

Todas discordam. A regra do celular. Reviro os olhos e coloco a mão na testa, pois justo hoje eu deixei o meu celular sem bateria.

–O meu celular está sem bateria, então só vamos usar em emergência. E nada de barulho.

–Então como vamos sair?

–Não tem como sair- diz Izzy- Podemos esperar a bibliotecária chegar amanhã de manhã e saímos daqui.

–Nada de pular a janela?- pergunto.

–Não temos como abri-las.

Então ficamos em silêncio por um longo tempo, apenas encarando o breu ao nosso redor. Nenhuma brincadeira, conversa, musica para cantar, pois eu sei que elas não fariam algo desse tipo e mal nos conhecemos.

Então uma das meninas dá um pulo na cadeira, quase virando para trás. Ela coloca a mão no peito e começa a respirar fundo. Viro-me na cadeira, pois ela está bem ao meu lado.

–O que foi?

–Eu vi... - ela começa a sussurrar- E-eu vi uma s-sombra passar.

–Deve ser uma garota perdida como nós- diz Isabelle com um sorriso que acalma um pouco a garota, enquanto eu procuro a garrafa de água na minha mochila. Entrego a garrafa para a garota, que bebe metade rapidamente. –Não foi nada.

Todas nós ignoramos as palavras dela, então voltamos ao silencio, que começa a me dar sono aos poucos.

–Bem, eu posso ser bem indelicada, mas como é o nome de vocês mesmo?

–Catarina- diz a garota ao lado de Izzy, com cabelos louros bem claros.

–Sou Lily- diz a garota que se assustou. Tem olhos puxados e cabelos lisos.

–Gretel- diz a outra, com um sorriso amarelo.

–Ok. Fui a única a ouvir isso?- pergunta Izzy com as sobrancelhas unidas.

Todas em silencio, e depois de um tempo, ouvimos algumas risadas e passos no corredor. As cadeiras vão para trás conforme as garotas se inclinam, assustadas. Izzy as manda ficaram quietas e aponta para a porta.

Dessa vez, todas conseguem ver nitidamente a sombra passando apressadamente atrás da porta de vidro temperado. Cubro a boca para evitar o grito de susto.

Bom, após disso não preciso dizer mais nada além de: foi a pior noite de sono de toda minha existência.