Acordei com meu Sidequik tremendo. Demorei exatamente 1 ano e dois meses para convencer minha mãe de que eu precisava de um celular. Bastou eu sumir com um bonitão da reserva que recebi meu Sidequik um dia depois.

Me mexi silenciosamente na cama, esgueirando pela borda,colocando meus pés frios no chão. Dei passos rápidos e delicados até a porta,sendo parada por uma mão fria no meu ombro. Arfei.

“Meu Deus, Edward! Você não dorme?” perguntei nervosa, enquanto tirava um fio de cabelo grudado pelo suor do rosto.

Ele pareceu hesitar, mas respondeu.

“Como dormir com você tagarelando daquele jeito?” ele murmurou, claramente irritado.

O tagarelar descontrolado durante a noite é uma herança da minha mãe. Como a clara tendência a enrubescer.

“Tanto faz, Edward! Agora, deixa eu ir!” sussurrei, tentando a pesada mão do meu ombro. Ele se aproximou mais.

“Não.”

Balancei meu corpo, enraivecida.

“Me larga, Edward!”

Ele apenas, foi chegando seu corpo mais perto do meu, suas mãos apertando meus ombros.

“Você já está fugindo da sua casa?” ele perguntou atônito. Seus olhos me varrendo.

“Eu não estou fugindo de casa! Eu estou indo ver meus amigos!” sussurrei, nervosa. Seu corpo colado no meu não ajudava em nada. Tentei afastá-lo, mas ele continuou apertando meus ombros,os olhos confusos.

“Edward...” murmurei, esperando que uma chantagem emocional  funcionasse. Mal tinha começado e ele me largou que nem batata quente.

Não perguntei mais nada. Só desci silenciosamente as escadas, abrindo uma porta estranhamente destrancada e me dirigindo à escuridão da noite. Abri dois botões da blusa, respirando com dificuldade. Normalmente La Push e Forks estavam sobe uma chuva fria e intensa, mas dessa vez as nuvens cobriam tudo e o ar abafado e quente estava me incomodando.

Eu sei que devia tomar banho... Mas eu não tinha tempo. Tinha que ver meus amigos. Resolvia a questão do cheiro em La Push.

Dei partida na mesma moto que tentei usar na minha fuga de manhã, o cascalho fazendo barulho sobre as rodas que partiam. Vi uma figura para da ao lado da garagem, freando a moto bruscamente.

 “O que você quer agora?” perguntei seca para o garoto de cabelos cobre.

“Qualquer coisa,é só avisar. E eu vou te buscar as 6 da manhã,ok?” ele murmurou baixinho.

Olhei o relógio do sidequik que estava no bolso da blusa. Uma da manhã.

“Obrigada.” Agradeci,partindo com a moto, em alta velocidade.

O vento batia em meus cabelos e feria meus olhos. Droga, esqueci o capacete! Continuei em frente. Depois se eu voltasse, talvez Edward me seqüestrasse e nunca mais me deixasse sair de casa.

Uhmmmm. Não é uma má idéia...

Chega, Amanda!O que sua...sua mãe pensaria de você?

O peso desse pensamento bateu forte no fundo do meu peito. A dor que estava lá alojada eu não tinha notado. Talvez só agora o efeito da vodka tenha passado. Mas eu senti que precisava urgentemente mais de álcool. E de preferência vodka.

Aslágrimas saíram doloridas enquanto eu parei na frente da casa de Seth. Esperei um pouco, esperando ele aparecer. O ronronar da bela moto podia ser notado por Seth até no meio do sono, devido aqueles atributos de lobo. Mas ele não apareceu.

Peguei meu celular e disquei seu número. Esperei cansada até oúltimo toque, quando escutei a voz de Seth.

“Amanda? O que você está fazendo acordada uma hora dessas?”

Ri.

“Vim te ver. Estou em La Push em frente a sua casa. Você está fazendo a ronda?”

Ele pareceu se animar instantaneamente, gritando no celular.

“Calma aí que eu estou chegando rapidinho!”

E ele estava certo. Bastou poucos minutos e senti seu corpo pesado contra o meu, apertada em um abraço.

“E...e...ei Seth !” arfei,buscando ar.

“Você está aqui!” ele gritou no meu ouvido. “ Meu Deus! Que saudade!”

Ri no ombro dele, me deleitando no abraço.

“Eu também, Seth... Eu também.”

Ele me abraçou mais forte por um momento, voltando ao ser feliz que ele era.

“E aí, o que a gente vai fazer?” ele disse pulando, me guiando para a praia.

“Uhmmm,ir para a praia?”

“Boa resposta!” ele disse contente, correndo comigo.

Parece que eu não sou rápida o suficiente. Assim, ele me jogou nos braços,voando até o mar.

“Seth!” arfei quando ele passou raspando por uma arvore. Podia ver a praia já perto, as ondas cinzas batendo na areia. A poucos passos uma coruja passou rasteira, me deixando assustada e me permitindo um belo chute no rosto de Seth.

Rolamos pela areia,nossas cabeças se chocando uma com a outra, nossos braços e pernas confusos em um nó.

“Seth!” gritei mais uma vez,mas agora preocupada. “ Você está bem?”

Ele parecia confuso,mas sorriu e rapidamente juntou nossos lábios.

“Agora estou.”

Olhei abismada para ele, que por acaso tinha acabado de me roubar um beijo. Ele tirou a blusa teatralmente, jogando-a no chão. Ele se virou para mim, ainda meio jogada na areia.

“Você não vem?” ele perguntou, balançando a cabeça em direção às ondas.

Não pude responder. Ele já tinha se atirado ao mar,as ondas tampando minha visão. Então veio o pânico.

Eu não podia nadar! Não agora, só vestida com uma blusa e calcinha com sutiã. Isso era insano. E vergonhoso, devo admitir. Eu sei que posso parecer fogosa...  Mas eu fujo do fogo desesperadamente na hora H. E mais uma vez,lá estava a Amanda amarelando. Parabéns, Amanda,você tem uma coragem arrebatadora. Mas faz sentido. Se eu nadasse com ele,ele não ia ter aquela curiosidade... Sorri,pensando que o joguinho estava andando.

Vi ele dando braçadas até a areia. Ele saiu me olhando meio torto.

“Você não vem?” ele perguntou,seus olhinhos pretos me analisando.

“Uhmmm... Seth, eu só tenho essa roupa....” respondi,agradecida por ter me lembrado desse fato.

“Tira a blusa!” ele exclamou como se fosse a coisa mais ridícula do mundo. Fiz uma careta para ele. “E nem adianta fazer cara feia porque se você não se lembra, eu te vi nascer. E além disso, já te vi pelada trilhares de vezespelada.”

Fiz um muxoxo.

“Mas eu era pe...”ele me interrompeu.

“Nem vem. Lembra do filme de terror?”

Ah se eu lembrava. Aquilo ficou marcado na minha mente eternamente. Lembro do meu pescoço tenso demais para dormir,culpado filme de terror financiado por Seth e companhia ilimitada. Eles estavam dormindo na sala,podia escutar os roncos deles. Mas eu não consegui dormir.

Decidi tomar um banho quente para relaxar. Entrei na água fria e quase foi instantânea a melhora. Mas tinha esquecido a toalha. Se passava das duas da manhã e ninguém estava acordado.

Deslizei para fora do banheiro, fazendo o mínimode barulho. O que eu não esperava era um Seth que estava indo ao banheiro duas horas da madrugada, me pegando desprevenida e pelada.

Suspirei, claramente sem desculpa. Ele me levantou pelos ombros, as sobrancelhas unidas.

“Deixa disso.” Ele falou,seus olhos encarando os meus.

Suspirei novamente, meus dedos abrindo os botões da blusa. Mal tinha acabado e ele me pegou nos braços e se jogou na água fria.

Fria pra caramba, devo acrescentar.

Ele me juntou em um abraço, suas mãos quentes na minha cintura. Minha respiração estava totalmente irregular devido a todo aquele contato corporal. Bastante contato corporal. Nossos corpos estavam juntos de tal maneira que tudo que eu sentia era ele. Aquele calor fluindo pela minha pele fina,me deixou quase louca.

“Amanda eu...”

Não o deixei falar.A dor no peito na verdade não deixou falar. Eu precisava esquecer. Esquecer. De tudo. Não tinha a garrafa, mas eu tinha ele. E,sei que eu estava usando,mas nós dois ganhávamos com isso. Fazia bem para nós. E isso que importava.

Juntei seus lábios com os meus,esquecendo a dor, esquecendo de meus parentes, esquecendo da minha família nova, esquecendo de onde eu era,esquecendo do meu nome, esquecendo da minha vida. Eu estava feliz. Quase radiante. Se não fosse um problema.

Eu não esqueci de Edward.