A Maldição do Tigre escrita por Catarina


Capítulo 18
XVIII


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Ren

Antes de irmos para Hampi, faríamos uma parada novamente no hotel, para Kelsey poder descansar e comer. No caminho Kelsey contou para Kadam o que Durga nos disse no templo. Ele estava tão interessado e distraído com o relato que se esqueceu de me deixar na selva. Então ele voltou até a mata.

Quando eu desci, Kells me acompanhou pelos matos altos até algumas árvores.

— Pode ficar no meu quarto essa noite de novo, se quiser. Vou guardar um pouco do jantar para você – disse, e beijou minha cabeça.

Não pude conter a felicidade. Passaria mais uma noite ao lado de Kelsey, e isso seria mais do que eu podia imaginar de uma noite boa. Assim me deixou lá e partiu de volta ao Jeep. Estive ali o tempo todo, pensando em várias coisas: Durga, Hampi, os prêmios e claro: Kelsey. Durga era linda, mas minha deusa mesmo estava ao meu lado. Esperei a tarde passar, dormindo. Não ouvi nenhum animal por ali, com exceção de aves e pequenos roedores, então não me incomodei em ficar atento. Quando já começou a escurecer parti em direção ao hotel, correndo, com ansiedade de ter Kelsey em meus braços.

Cheguei ao hotel quando já estava bem escuro, mas tive que esperar por mais tempo, pois ainda havia gente andando por lá. Bem de noite mesmo, entrei no corredor dos fundos, subi as escadas e cheguei ao quarto dela. Bati na porta e ela logo abriu. Kelsey realmente havia separado o jantar para mim. Comi o mais depressa possível. Assim que terminei a abracei, puxando-a para meu colo. Enquanto eu conversava com ela sobre meu entusiasmo de ir para Hampi, sobre o que Durga nos disse, ela ficou deitada com a cabeça apoiada em meu peito.

Mais tarde eu comecei a assoviar baixinho no ritmo de uma canção indiana, ela se aconchegou mais em mim, e assim adormecia e acordava. Depois de um tempo, peguei-a no colo, ela protestou dizendo que podia andar, mas não se debateu. Coloquei-a na cama, ajeitei seus braços e suas pernas e cobri-a com a colcha. Depositei um beijo em sua testa e assim ela dormiu. Fiquei alguns instantes observando-a, vendo-a resmungar e se mexer.

Depois de um tempo me transformei, deitei no tapete ao lado da cama e também dormi.

Num momento durante a noite ouvi Kelsey levantar e acender a luz. Por um instante quase dei um pulo para protegê-la de qualquer coisa que a estivesse perturbando. Porém, ela me deu um tapinha nas costas e disse que estava bem, era só Fanindra que havia se deslocado durante seu sono. Assim ela deitou, enrolou-se em sua colcha e voltou a dormir.

Quando eu acordei, levantei num pulo. Já havia sol lá fora, perdi a hora. Devia ter partido há muito tempo. Levantei depressa, me transformei em homem e dei um beijo na testa de Kelsey. Assim saí e fechei a porta devagar. Desci as escadas e já na mata me transformei em tigre. Corri em disparada em direção às arvores nas qual haviam me deixado. Nem parei para descansar. Tinha que estar lá quando chegassem.

Assim que encontrei as árvores, fui até o lago e bebi um pouco de água. Quando voltei, senti que eles haviam chegado, corri em direção ao Jeep. Eu tinha me atrasado um pouco, claro. Kelsey me olhou desconfiada, ela sabia que eu havia saído tarde demais. Já no caminho para Hampi, paramos em uma barraca de vitaminas e Kelsey comprou uma para ela. Bebeu a metade e ofereceu a outra metade para mim. Lambi a vitamina do copo, lambendo sua mão várias vezes.

Kadam disse que havia vários turistas no Templo de Virupaksha nesse horário, e que eu deveria ficar no carro enquanto eles visitassem o lugar a procura de algo que possa nos ajudar. Enquanto esperava eles voltarem, aproveitei para por meus sentimentos em relação à Kelsey em ordem.

Naquele dia na cachoeira eu tentei beijá-la e ela negou. Eu me censurei por ser um idiota, claro, por que eu fui. Com a aparição de Kishan, ficou mais evidente o que eu sentia por ela: eu a amava mais do que deveria. Kelsey, depois de seu pesadelo, deixou transparecer seus sentimentos. Ela me amava. Mas como? Talvez não estivesse preparada para aquilo. Eu teria a forçado? Deveria existir um manual de instruções de como conquistar uma namorada sendo um homem de 300 anos! Nosso beijo no hotel deixou claro tudo que sentíamos. Mas não era o bastante, mesmo que ela tenha falado que me ame para Durga, era diferente. Sim, por que era uma resposta automática, talvez Kelsey me ame realmente, mas tenha... Medo? Vergonha? Estaria eu tentando algo rápido demais?

Depois de quase uma hora eles retornaram ao Jeep. Kelsey havia trazido comida para mim, que comi enquanto ouvia-a falar sobre as construções que haviam investigado. Kadam disse que teríamos que entrar nas ruínas por outro meio, já que o principal ficava cercado de guardas durante a noite. Então nos levou por uma estrada de terra para trás do local. Disse que devíamos seguir a pé a partir dali, e que iria montar um mini acampamento caso nós precisássemos de algo. Ele instruiu que eu deveria me manter como tigre o máximo que puder, para caso eu precisasse proteger Kells como homem.

Partirmos por dentro da selva. Eu na frente e Kelsey me seguindo. Estava muito escuro, para mim era tranquilo, mas sabia que para Kells não era nada bom. Depois de um tempo, uma luz verde começou a iluminar nosso caminho, vimos que era os olhos da Fanindra. Agora fazia sentido o que Durga tinha dito. Que ela iria nos guiar pelo caminho da escuridão. Agradeci mentalmente.

Após quase uma hora de caminhada parei e farejei o ar, não senti nenhum segurança por perto, então prosseguimos, um pouco mais rápido que antes. Atravessamos as ruínas, indo em direção a estátua de Ugra Narasimha, o qual estava sentado em cima de uma serpente com sete cabeças. Quando nos aproximamos da estátua, começamos a investigar. Eu procurei fissuras ocultas, mas não achei nada.

Passada uma hora de procura improdutiva, achei melhor que voltássemos para o Jeep e tentássemos novamente amanhã.

Foi então que Kelsey teve uma ideia.

— Um sino... - murmurou. - Será que...

Ela se levantou e foi até uma parede um pouco distante e bateu três vezes na mesma, um som saiu dela. Correu de volta onde eu estava, ao lado da estátua, e vimos que os olhos da serpente de sete cabeças estavam emitindo uma luz vermelha. Uma pequena estátua de Durga havia aparecido ao lado.

— É isso! O sinal de Durga! - Murmurou. - O que fazer agora? Uma oferenda? Não temos nada para ofertar! - lembrou.

Nesse instante, a boca da estátua se abriu e uma névoa fina e cinzenta começou a jorrar dela. A fumaça começou a descer e envolver a estátua até o chão. Kelsey manteve uma mão apertando firme meu pescoço, que eu percebi ser para se tranquilizar.

Ela resolveu e começou a escalar a estátua procurando algo. Fiquei preocupado de Kelsey escorregar. A estátua era bem alta. Grunhi, mas ela me ignorou. Fiquei atento aos seus esforços. Ao pular de volta ao chão, como eu previa, ela não calculou bem a descida e tropeçou. Logo estava ao seu lado, mas felizmente nada aconteceu, somente uma unha quebrada. Enquanto olhava sua unha, pareceu ter outra ideia.

— Ren, talvez se repetirmos as ações de Ugra Narasimha, a estátua nos conduza ao próximo passo. Vamos tentar reencenar a famosa tarefa de Ugra.

Rocei a cabeça em sua mão. Alguma coisa me diz que não será fácil. Ela explicou que precisávamos de um ser metade homem metade animal, portanto, este seria eu. Depois precisaríamos ficar em lugar que não era nem dentro e nem fora. Encontramos um pequeno altar ao lado da estátua e subimos ambos nela. A terceira era nem dia, nem noite. Portanto ela usou a lanterna para clarear e formar um crepúsculo. A quarta era a parte das garras e sangue, ela disse que eu deveria arrancar um pouco de sangue dela. Eu neguei na hora. Não faria tal coisa.

— Está tudo bem, só um arranhãozinho. Nada demais - afirmou.

Eu não vou tirar sangue da mulher que quero proteger acima da minha vida, não suporto o pensamento de machucá-la. Como precisamos de sangue, pensei em conseguir de outra forma, sem machucar Kelsey. Coloquei minhas garras para fora e arranhei minha própria pata. Senti a dor, porém ignorei. Kelsey ouviu o som e veio me olhar. Ela viu o sangue gotejando no chão e ficou zangada.

— Sei que você pode sarar rápido, mas tinha que se cortar tão fundo, Ren? Sabe que de qualquer modo pode não funcionar se eu não sangrar. Reconheço o seu sacrifício, mas ainda quero que você me arranhe. Sou eu que estou representando o rei demônio, então me arranhe... De preferência não tão fundo assim.

Ela estava zangada. Mas eu não iria arranhá-la. Mesmo que fosse corte superficial. Não faria sentido para mim. Não ergui a pata. Ela pegou minha pata e a colocou em seu braço.

— Ren, por favor, coopere. Isso já é difícil demais - implorou.

Pus as garras de fora e tentei arranhar seu braço, passando de leve as unhas pela pele. Porém não aconteceu nada, o braço ainda estava intacto, somente vermelho. Irônico ou não eu não conseguia tirar sangue dela. — Ren, faça logo. Agora – pediu.

Tive vontade de gritar com ela. Que teimosa. Fechei os olhos e pressionei as garras no braço dela novamente, dessa vez com força o suficiente para sangrar.

— Obrigada – agradeceu, vendo que saia sangue do arranhão.

Esfreguei rapidamente as patas no chão de pedra. Queria tirar o sangue de Kelsey de meus pelos. Olhei o ferimento e depois para Kelsey, inconformado pelo fato dela ter agradecido por isso.

O ultimo requisito era que o rei demônio não pode estar nem no céu, nem na terra. Então ela teria que se sentar em minhas costas. Ela parecia constrangida. Tudo bem, pode vir, sorri. Depois de passar por esse sofrimento eu merecia tal ato. Ela sentou bem devagar em minhas costas, de lado. Quando ia se ajeitar, para aproveitar melhor o momento, assumi a forma humana. Ela se debateu em meus braços, e eu lhe lancei um olhar: nem adianta discutir. Ela já tinha me feito arranhá-la, então não teria como discutir comigo.

— O que vem em seguida? - questionei.

— Não sei. Isso foi tudo que o Sr. Kadam me contou.

Segurei-a mais firme e fui inspecionar a estátua de perto. Não havia nenhuma fenda, nenhuma marca de mão como antes. Nenhum sinal de luz, nenhum... Parei de procurar, pois percebi que Kelsey estava observado atentamente meu rosto.

— Kells? Estamos aqui quebrando uma maldição, lembra? – provoquei, sorrindo.

Ela deu um sorriso bobo de volta.

— Em que você estava pensando? - perguntei.

O que estava pensando me olhado desse jeito? Estou curioso. Estaria nesse momento pensando em mim? Sorri com esse pensamento.

— Nada importante - respondeu baixinho.

Ah, tem alguma coisa sim. Ela vai me contar.

— Então saiba que você está numa posição perfeita para que eu lhe faça cócegas e que não tem como fugir. Vamos fale - pedi sorrindo.

Ela riu nervosa.

— Se me fizer cócegas, vou me debater com violência, o que fará você me derrubar e estragar o que estamos tentando fazer – tentou contornar a situação.

Isso é um desafio? Por que se for, ela vai perder.

— Parece um desafio interessante, rajkumari. Poderemos experimentá-lo mais tarde. E, só para registrar, Kelsey, eu não a deixaria cair - concluí.

Ela baixou os olhos, e então acendeu a luz e indicou em direção à estátua.

— Nada está acontecendo. Talvez devêssemos esperar até o amanhecer – propôs.

Estava sim, acontecendo algo. Com esta proximidade não pude aguentar. Se isto fosse um jogo e eu tivesse que aguentar a enorme tentação que Kelsey é, eu já estaria morto. Baixei o rosto e rocei o nariz em sua orelha.

— Eu diria que alguma coisa está acontecendo, mas não do tipo que vá abrir o portal - afirmei.

Segui com beijos suaves da sua orelha até seu pescoço. Adorava seu cheiro. Ela suspirou e inclinou a cabeça, para me dar mais acesso. Ela gosta disso. Eu também. Eu gemi e me afastei. Queria ficar ali pelo resto da vida beijando-a, mas havia esse maldito tempo.

— O que significa 'rajkumari'? – perguntou, parecendo desapontada.

Ela já me fez essa pergunta uma vez, e eu não respondi. Ri baixinho, e disse enquanto colocava-a no chão com cuidado:

— Significa 'princesa'. Vamos procurar um lugar para dormir algumas horas. Vou correr e avisar ao Kadam que estamos planejando esperar até o amanhecer para tentar de novo - expliquei.

Peguei sua mão e a levei a um gramado escondido. Quando ela se acomodou, parti em direção ao Jeep. Corri o mais depressa até ao Sr. Kadam e lhe expliquei rapidamente sobre tentarmos amanhã. Ele concordou e assim voltei rapidamente para minha deusa. Quando cheguei, ela ainda estava acordada, disse que não conseguia dormir, pois estava acostumada a dormir comigo. Então deitou com a cabeça em minhas costas e assim adormeceu.

Na manhã seguinte, antes do sol nascer, resolvi partir de volta à estatua, antes de aparecer algum turista por lá. Kelsey estava dormindo ainda. E eu não queria acordá-la. Então assumi a forma humana e a carreguei no colo até lá. Dormindo Kelsey parecia um anjo. Quando ela acordou estávamos quase chegando. Ela protestou, dizendo que podia andar e eu expliquei que ela estava muito cansada. Ao pararmos ao lado da estátua, Fanindra se deslocou do braço de Kells e seguiu até ela. A cobra serpenteou em torno das sete cabeças da estátua, e à medida que ia fazendo isso, a estátua ia ganhando vida e se movendo.

Quando Fanindra desceu e se tornou um bracelete novamente, abaixei e peguei-a. Coloquei-a no braço de Kelsey e nesse momento vi o arranhão que eu mesmo fiz em seu braço, um arranhão à toa, porque não serviu para nada. Beijei sua testa e assumi a forma de tigre. Ao nos aproximarmos da estátua, vimos uma abertura logo abaixo dela. Era um caminho escuro, então começamos a descer os degraus de pedra devagar.

Finalmente havíamos encontrado a entrada para Kishkindha.

 


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Notas finais do capítulo

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Até a próxima!



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