Acompanhar Lizzie e Chris para os seus passeios de horário livre era quase uma tortura. Ambos são corvinos, e Lizzie ainda é Monitora-Chefe. O lugar óbvio de se passar todo o momento que tinham livre era a biblioteca, claro. Blé, nerds.

Enquanto eles se focavam em livros acadêmicos, deveres e pesquisas extracurriculares, eu folheava um exemplar da edição nova e melhorada de Quadribol Através dos Séculos, com gravuras de páginas inteiras e poucas palavras. Meu tipo favorito de livros.

– Não sei como vocês aguentam. – Bufei.

Era tipo a terceira semana que eu passava ali dentro, folheando algum livro que me interesse e jogando jogo da velha com uma pena enfeitiçada. Fechei o livro ali mesmo, me levantando.

– Já volto. – Sorri para eles.

– Okay, Lynx. Mas não esquece que eu tô corrigindo sua redação de História da Magia, e quando você voltar ela já vai estar com os pontos certos pra você concertar. Não se anime demais.

Lizzie era uma nerd certinha, e até demais. Ela sabia a hora de descontrair, mas estava nessa paranoia de me fazer “uma menina melhor”. Claro, a corvina não era maluca de tentar me fazer ser igual a ela, mas tentava me ensinar algo. Ela é boa nisso. Manter um equilíbrio, ela diz.

Eu não ligo. Ela e seu irmão, por mais quietinho e centrado que seja, me fazem companhia. Eles são umas das melhores pessoas que já conheci, depois dos Weasley, que eu normalmente via e cumprimentava no Salão Comunal.

Andei pelas prateleiras da Biblioteca, flutuando livros de volta para seus lugares. Por estar sempre pela biblioteca, via com frequência Alvo estudando em uma mesa bem no canto de lá, mas sempre que eu olhava o entorno, uma lufana ficava à espreita, sem saber o que fazer, revezando seu olhar entre os livros e o menino. Ao passar pelo mesmo cenário que via sempre, soltei uma risadinha. Quem nasceu para ser lerdo nunca vai ser Hot Wheels. Pera, o que?

Chacoalhei a cabeça, seguindo pela biblioteca. Aquilo era praticamente um labirinto, o que era realmente bom. Eu podia escapar para explorar sempre e nunca iria cair na rotina. É perfeito! Como meus ouvidos estavam abertos para qualquer tipo de acontecimento (a solidão me fez fofoqueira), assim que eu ouvi uma risada estanquei no lugar.

Antes de virar de prateleira (aquilo parece mesmo um labirinto!) (N/A: Maze Runner? Kaya, dreamcast da Lynx, é a Teresa. Mais alguém? Não? Okay. FUI!), tentei me esgueirar entre os livros dali, pra ver se enxergava alguma coisa, não queria entrar no meio de uma coisa proibida pra menores.

Vi lampejos de um longo cabelo cor de chocolate, que pertencia à menina dona das risadinhas. Os cachos balançavam de lá pra cá, com a menina abraçada que nem eu abraçava meu hipogrifo de pelúcia para dormir. Em meio aos balanços, risadinhas e barulhos de beijo (BLÉ), reconheci a Louise Chopra, do meu dormitório.

Fiz uma careta e já estava me afastando, quando o casalzinho embolado pendeu para o outro lado da prateleira que eu estava apoiada pra observar. Dei um passo para trás, ao mesmo tempo em que um livro caiu da prateleira.

– Merda! – Ouvi uma voz xingar, e logo me abaixei. – Cuidado, Fred! – A Louise disse, entre risinhos. Pera... Fred?

Como nenhum dos dois parecia querer pegar o livro do chão, eu o peguei e me virei pro casal que estava ali. Agora, a fisionomia de Fred estava clara, mesmo agarrada à menina e com a cara enfiada no decote de seu uniforme.

“Famílias Nobres do Século XVII – SANGUE PURO” Dizia na capa do livro. Dei de ombros para ele e o apertei contra mim.

– Valeu Louise, era desse que eu precisava. – Falei e dei um joinha pros dois, que pararam a agarração pra me encarar. – E pode deixar que o que acontece em Vegas fica em Vegas. – Acrescentei, com uma amargura crescente mim. AHÁ, mas nem fodendo que iria demonstrar que aquilo de uma forma me afetava.

– É, não esperava menos, Black. - Fred responde, de uma maneira fria.

Sai dali, com o livro em mãos, para a mesa dos Woodley, deixando um Weasley atônito para trás, que continuaria com sua sessão de risadinhas. Ah, mas agora tudo fazia sentido. Marchei até a mesa dos Woodley, dando uma desculpinha qualquer e indo direto pro dormitório depois disso.

– I don’t give a dawn ‘bout my reputation... – Cantarolei enquanto trocava o uniforme por um pijama de flanela e um moletom maior que eu, mas extremamente quentinho. – you’re living in the past this new generation!

Joguei o uniforme no malão e enfiei a mão no fundo, para pegar um embrulho que eu havia pedido para a festa, mas que acabei nem abrindo. Subi em cima da cama, fechando as cortinhas, me aninhando naquele monte de milhões de cobertores.

– Oh, can you dance like the hipogriff? – Mudei de música, enquanto desembrulhava a garrafa de vodka e tomava um gole. Fiz a garrafa de microfone e cantei apontando pro Prudêncio, meu hipogrifo de pelúcia desde meus cinco anos. – MAMAMAMAMAMAMA!

Aght. Adoro sextas. Eu vou poder dormir até tarde, amanhã! Mas isso vai mesmo vir à calhar, já que vou estar de ressaca. Novidade, viu? Tomei mais um gole, fechei a vodka e a coloquei embaixo do meu travesseiro. Olhei para a beirada da cama, onde o livro que eu havia trago comigo estava. Dei de ombros e o peguei. Primeira página.

Famílias de sangue puro são, notoriamente, as que não possuem trouxas em sua linhagem. Para que uma árvore genealógica permaneça imaculada, sangue puros tendem a casar apenas com sangue puros. Na atualidade, é raro e praticamente impossível encontrar uma família puramente bruxa, mas até o século XVII, era algo tradicional. Aqui, listamos e contamos um pouco da estória de cada linhagem, com atualizações até os dias atuais.

Jouk Beletsky, autor e editor.

Isso seria útil para um trabalho de História da Magia ou sei lá, mas não fazia meu tipo. Fui folheando os capítulos, lendo só o nome das famílias pela qual eu passava, mas só por que não tinha nada para fazer mesmo. Abbott, Avery, Burke, Black, Bulstrode... Pera, Black?

A família Black foi uma das maiores, mais antigas e mais ricas puro-sangue do mundo, estando entre as de mais status da Grã-Bretanha. Muitas famílias são distantemente relacionadas com a linhagem Black, como as famílias Malfoy e Lestrange. A árvore genealógica (na qual não temos os direitos, para imprimir aqui) é exibida na sala da famosa cada da família no Grimmauld Place, em Londres, Inglaterra. Seu começo tem na Idade Média e mostra a linha dominante da família até os dias atuais, sendo atualizada magicamente.

No final do século XX, a linha por parte masculina se tornara extinta, com a morte de Sirius e Regulos Black, dos quais nunca tiveram filhos, que se saiba. A linha feminina continuou através da família Malfoy e por parte de Teddy Lupin, apesar deste descender de uma Black traidora-de-sangue. Não é confirmado que a linhagem se ligue aos Potter através de Dorea Black, mas no entanto, eles se relacionam por parte de Ginevra Weasley Potter, que casara com Harry Potter e tivera três filhos (até o momento).

UAU! Aquela era a parte histórica da linhagem, apenas, mas me aguçara a curiosidade. Se por acaso só haviam Blacks com outros sobrenomes e dentre os Malfoys e o Teddy, por que meu sobrenome é Black? Continuei a folhear o livro. Soltei uma risada assim que meus olhos bateram numa das frases do fim da folha.

Aparências: Os Black são comumente descritos como de extrema boa aparência. São consideradas pessoas bonitas, altas, magras e de características atraentes. Um traço marcante é o cabelo negro, presente em quase todos os membros.

Instintivamente toquei meu cabelo, enrolando-o no meu dedo.

A maioria dos membros da família Black tem o nome de estrelas ou constelações. Por exemplo, a estrela Sirius está na constelação do Cão Maior (o cão). Outro exemplo é Bellatrix, a estrela terceira mais brilhante da constelação de Orion, que é também o nome do pai de Sirius e tio de Bellatrix. Cygnus, Andrômeda e Cassiopeia também são constelações, e Regulus, Alphard e Arcturus são estrelas. É uma tradição que passou desde o primeiro Black e até o último.

Espera... Existiu mesmo um cara com o mesmo nome hiper-mega-estranho que meu pai? Ok, eu já sabia que o nome dele e o meu era assim, de constelações e estrelas, por causa de uma tradição sem sentido de família, mas se meu pai não sabia nem quem eram seus pais, como saberia disso? Ele havia pesquisado também? Ou ele simplesmente... Sabia?

Pisquei forte e joguei o livro pro lado, pensando se era uma idiotice motivada que estava me fazendo pensar nessas coisas ou a bebida. Puxei um pergaminho de algum lugar e comecei à escrever uma carta pro meu pai, Orion, pedindo todas as informações que ele tinha de onde ele vinha, família, ancestrais e etc. Para não ficar estranho, pedi informações da minha mãe também, justificando que aquilo tudo era para um trabalho de História da Magia. Ele iria acreditar, nunca que eu iria pesquisar tanto pra nada.

Coloquei a carta debaixo do travesseiro e puxei a vodka, dando outro gole. Se ao amanhecer eu continuasse a me questionar essas coisas, enviaria a carta. Mas eu suspeitava que isso tudo era culpa da bebida misturado à uma crise de identidade característica da adolescência.

Mesmo sem saber do que se tratava, me abracei à garrafa e o Prudêncio, sabendo que sábados sempre são melhores que sextas. Ao menos eu espero.