Até o fim escrita por Isabella Cullen


Capítulo 2
Ares de mudança.




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O aeroporto estava muito cheio por causa das férias escolares. O salão de desembarque também estava lotado de pessoas esperando por seus entes queridos. Sue não precisaria de uma placa como alguns ali, mas pensou se ainda a reconheceria depois de tantos anos distantes. Reneé falava dela tanto quanto possível, mas elas não estavam morando juntas há uns anos então ela poderia ter mudado a cor dos cabelos ou feito uma tatuagem imensa no braço. Quando as pessoas começaram a desembarcar ela não viu ninguém parecido com Isabella, até que viu uma jovem procurando algo na bolsa. Parecia uma modelo, alta e cabelos lisos, branca e porte fino. Sue pensou se poderia ser ela mesma e esperou. A jovem encontrou o celular e começou a discar uns números, ainda andando sem muita orientação ela parou os olhos em Sue.

– Sue! – gritou e acenou.

–Oi!

Era Isabella, ainda mais bonita do que da última vez que a vira em Nova York. Mais alta talvez ou mais elegante. Tinha agora seus vinte anos e uma beleza inigualável. As duas se abraçaram por uns minutos e veio à lembrança. A dor que marcou tanto os últimos dias.

– Como você está? Fiquei tão preocupada.

– Bem, agora o pior já passou.

– Não gostei de não me querer lá.

– Não é isso. Só queria evitar transtornos para você. Foi simples.

– Ela...

– Não sofreu nada. Quando chegamos já estava morta. Os médicos falaram de infarto fulminante. – a voz era calma. Uma frase memorizada.

– Meu Deus! – as lágrimas desceram dos olhos de Sue. Isabella a abraçou prontamente.

– Calma... está tudo bem. Ela está melhor que nós.

– Como...- Sue tenta se recompor. – Como foi tudo?

– Não foram muitas pessoas, a maioria era conhecida de uns poucos anos. Ela não ficava muito em um lugar nos últimos anos depois que me mudei para Nova York. Charlie estava lá.

– Eu sei, ele me ligou e conversamos sobre ela... ela estava sempre inventado viagens.... ela se afastou de tudo e todos...

– Acho que foi para me dar mais espaço. Não queria me impedir de viver.

– Ela sempre foi muito protetora, isso é verdade. Vamos, temos muito a fazer hoje.

Sue tentava se recompor por Isabella. Enxugou as lágrimas.

– Antes... qual é a história?

– Você é filha de uma prima distante. Já espalhei a notícia, vai ser fácil, até que você se parece com ela mais nova. Os cabelos sabe.

– Sempre achei que éramos parecidas, engraçado não ter nascido dela.

– Você nasceu no seu coração, ela te amou assim que ouviu falar em você. Isso é muito mais forte.

As duas foram pegar as malas e depois foram para o carro que estava esperando. Sue foi atualizando Isabella sobre alguma providencias que deveriam ser tomadas com urgência e outras que ela mesma já tinha resolvido. A mudança havia chegado uma semana antes, a velha casa no condomínio de luxo em Los Angeles estava pronta. Sue tinha arrumado conforme seu gosto, não sabia bem o que Isabella iria querer as duas não tinham muito contato. Conforme o carro foi se aproximando Isabella precisou respirar mais fundo e segurar as lágrimas. Reneé adorava aquela casa e passava pouco tempo nela depois que a adotou, se sentia culpada por ter privado ela desse pequeno prazer. Sentia-se culpada por muitas outras coisas, como não estar com ela nos últimos anos ou não telefonar com a frequência que ela queria. Eram pensamentos ainda não processados por conta dos preparativos do enterro e depois a mudança. Os advogados estavam impacientes sem saber qual direção tomar em relação a tanto dinheiro repartido e contas intermináveis, não queria pensar nisso naquele momento. O carro estacionou na velha garagem, lembrando a Sue o dia que trouxe o bebê dormindo nos braços. As lágrimas foram inevitáveis, mas bem controladas.

– Tudo foi feito com carinho, não sabia como queria que organizasse as coisas então fui fazendo do meu jeito.

– Deve estar tudo perfeito.

Elas foram entrando pela casa e Isabella foi reparando em cada detalhe. O silencio deixava Sue sem saber o que pensar, Isabella estava mais calada do que o normal, mais séria e mais serena também. Sue concluiu que estava evitando ataques de choros. A casa estava mais iluminada, havia flores em cada vaso e as janelas estavam abertas. Tudo limpo e brilhando. A organização estava diferente das fotos.

– O escritório ainda está muito empoeirado, evite entrar lá até os empregados arrumarem. Contratei três empregadas, uma cozinheira, um jardineiro e um motorista. Los Angeles é perigosa, não vá ficar andando sem rumo por aí.

– Não gosto de motorista e você sabe disso.

– Só até saber para onde precisa ir. Faça isso para minha tranquilidade, por favor.

Não tinha como negar isso a Sue, ela estava tão dedicada a agradar. E era verdade, as ruas de Londres eram bem mais tranquilas e em Nova York ela usava sempre o metrô, seria diferente andar em Los Angeles. Ela se lembrou de algumas notícias em jornais e ficou com medo. Mas a ideia dela ser conduzida não a deixava confortável.

– Charlie ligou ontem.

Ela fez uma cara de desaprovação.

– Bom, isso é algo a se discutir Isabella. Ele fez pedidos bem razoáveis.

– Nada do que ele diz é muito razoável.

– Ele se preocupa com o fato de você estar aqui, não achamos seguro.

– Já discutimos isso muitas vezes.

– Isabella poderíamos ir para Londres.

– Não vou ficar muito tempo, alguns meses, não quero ficar longe de você e é inviável você e sua família se mudarem por minha causa. Não vamos falar disso, por favor, só preciso de... – Isabella perde as palavras e sua mente vagueia.

– Eu sei que você tem tentado ser forte, mas não precisa mais. Estamos aqui. E eu não me importaria de mudar minha vida por você. É minha filha mais velha, sempre foi.

Isabella abraça Sue subitamente, a primeira reação de dor que ela vira e isso a deixou mais calma. O choro era silencioso, mas sentia no ombro as lágrimas molharem seu ombro. Demorou alguns minutos para que Isabella voltasse ao seu estado calmo.

– Desculpa, acho que a casa, as lembranças... – ela se afasta e enxuga o rosto.

– Comigo você pode se abrir, não precisa mais ser forte.

– Meu quarto... Preciso descansar.

Elas vão subindo as escadas e Sue fica mais nervosa por conta da decoração de escolheu. Elas param em frente à porta.

– Espero que você goste.

Quando Sue abre a porta deixa Isabella ir à frente, a cor da parede era em um tom de salmão, os móveis marrom escuro e alguns detalhes num tom mais escuro de salmão. Tinha escrivaninha com um computador portátil e outras coisas indeterminadas do lado. Estava tudo organizado e muito bonito, as cortinas eram conhecidas. Isabella tentava se lembrar da onde.

– Sue...

– O que?

– Eu amei, muito obrigada.

– As cortinas são de seu quarto quando menor. Elas foram achadas em uma caixa no fundo da garagem, mandei limpar e dar uma melhorada.

– São lindas, as fotos... – a lembrança de Reneé. Havia uma foto dela segurando um bebe perto da janela. Ela estava sorridente na foto, um sorriso lindo.

– Você não se lembra daqui, quando saímos você tinha uns dois anos.

– Verdade, eu só vi muitas fotos daqui.

Sue olha para o relógio preocupada.

– Preciso ir pegar as crianças na escola, já estou atrasada.

– Mande um beijo para os meus anjos. Trouxe presentes, mas quero entregar pessoalmente.

– Anjos? Eles estão mais desobedientes a cada dia.

– É a idade...

– Vou lá se precisar liga, estarei aqui pela tarde. Se quiser ir lá em casa...

– Acho que vou dormir.

Sue saiu apressada e Isabella foi ver o quarto procurando por mais detalhes, havia fotos dela e de algumas amigas, de Reneé e também dela fazendo caretas em um quadro metálico perto da escrivaninha. O computador era da mesma marca do de Nova York e havia roupas no closet, resolveu tomar banho e esquecer a viagem. Tinha reuniões pela manhã e precisava descansar.

Dormiu com o iPod no ouvido, acordou com a cabeça doendo e um desconforto no pescoço. Dormiu de mal jeito no avião, o corpo agora dava sinal de uma viagem longa. Levantou-se e olhou o relógio do lado da cama, já estava atrasada para seu encontro com os advogados. O café deveria ser rápido, e se arrumou com muita agilidade. Desceu as escadas prendendo o cabelo. Uma senhora sorridente foi ao seu encontro no final da escada.

– Bom dia, o café está na mesa.

– Bom dia.

– O motorista foi informado que você deveria sair as dez. Ele já está na garagem.

– Muito obrigada... seu nome por favor.

– Carmem.

– Carmem meu nome é Isabella. Não me chame de senhorita ou nada assim. Isabella para todo mundo por favor.

– Como quiser.

A mesa estava cheia para uma pessoa, percebeu que precisaria dar ordens para as refeições não serem tão exageradas da próxima vez. Comeu rapidamente e Carmem aparecia para verificar alguma necessidade, mas estava tudo muito gostoso e agradável.

– Não vou almoçar em casa. Também não se preocupem com janta, acho que vou fazer algo para mim quando chegar.

Carmem assentiu com a cabeça.

Quando chegou a garagem verificando se tinha esquecido algo dentro da bolsa, avistou um homem com um pouco mais trinta, forte e sério na porta do banco de trás.

– Bom dia. – a voz era grossa.

– Bom dia. Vamos Avenue Stanford, Valencia.

– Já fui informado senhora.

– Ah... Isabella por favor. Qual seu nome?

– Alec.

– Hum... só Isabella por favor.

– Como quiser.

Ela entrou e foi se ajeitando enquanto ela ia para o volante.

– Preciso que a senhora sente do lado esquerdo e ponha o sinto de segurança.

Pensou rapidamente que aquilo era coisa de Charlie, aquele francês tinha conseguido o que Reneé nunca conseguiu. Ela obedeceu e pensou que teria que ligar para Sue e perguntar que pessoa ela tinha contrato. Quando eles estavam já na porta de entrada do condomínio um susto. O carro deu um solavanco e Isabella foi arremessada para frente sendo refreada rapidamente pelo sinto. O motorista olhou para o retrovisor e Isabella olhou rapidamente para trás.

– Isabella você está bem?

– Acho que sim, uma boa ideia o sinto.

– Vou precisar falar com o rapaz.

– O que aconteceu?

– Parece que fomos atingidos por um motorista embriagado, não pensei que ele estivesse nessas condições.

– Tudo bem.

Quando Isabella olhou com mais cuidado percebeu um rapaz saindo sem nenhuma condição, ele estava com os olhos vermelhos e uma aparência deplorável até para um bêbado. Não conseguia ficar em pé direito e agora estava vomitando. Os seguranças da portaria se aproximaram perguntando para o motorista se havia algum ferido e depois foram ajudar o bêbado sem controle. Falavam no rádio palavras incompreensíveis demais para quem estava dentro do carro ouvir. O rapaz estava querendo arrumar briga com os seguranças e o motorista saiu do carro. Como se nada estivesse acontecendo ao seu redor analisou o carro e voltou para o carro.

– Foi uma batida feia. Estragou a parte de trás. Precisaremos usar outro carro.

– Já estou atrasada.

– Melhor não arriscar, vamos voltar e eu vou pegar outro carro.

– Temos outro carro? Pensei que...

– Temos um de reserva.

– Charlie te contratou não foi, isso é coisa dele!

– É para sua segurança.

– Isso é ridículo, vou de táxi.

– De jeito nenhum Isabella.

Discutir iria demorar ainda mais e ela não queria aquilo.

– Vai então, vou esperar aqui.

Ela saiu do carro com pressa e o motorista removeu o carro sem olhar para o bêbado ainda sendo segurado pelos seguranças. Parada ali reparou melhor no rapaz, era alto e forte. Parecia lutar alguma arte marcial, mesmo naquele estado dominava tranquilamente os seguranças. Logo uma senhora apareceu.

– O que foi dessa vez Edward?!

– Ele bateu no carro daquela senhora. – um segurança a informou e ela olhou nos olhos de Isabella, parecia constrangida e curiosa. Foi se aproximando com cautela.

– Bom dia, desculpa meu filho. Vamos pagar o conserto. Você se machucou?

– Não foi nada. Só acho que ele não deveria dirigir assim. – elas olham para trás e o rapaz ainda está fazendo cena, estava no chão vomitando.

– Olha, moramos bem pertinho da sua casa. Qualquer coisa me diga. Não vamos deixar que isso abale nossa cordialidade por favor.

O motorista veio com o outro carro e Isabella se despediu rapidamente da senhora que agora reparava melhor, ela estava ainda com uma roupa simples. Os cabelos longos e louros acentuavam a idade. Devia ter no mínimo uns quarenta, maquiada deveria parecer mais nova, só alguns míseros anos pensou Isabella agora longe da confusão.

Foi tudo mais tranquilo do que imaginou, pensou que o transito iria ser pior do que o de costume. As reuniões e videoconferências pareceram intermináveis, o suposto motorista não saiu de seu lado o que fez confirmar a teoria de que ele era um segurança. Todos eram muito eficientes e mostravam resultados produtivos em relatórios longos, os negócios eram muito variados e precisariam mais tarde de uma supervisão mais cuidadosa, de primeira estava tudo em ordem. Voltou de tarde como previu e a casa estava silenciosa e vazia, ela foi direto para seu quarto verificar seus e-mails, mas a paz foi cortada pela empregada na porta.

– Sim.

– Um rapaz está lá embaixo.

– Quem?

– Edward é o nome dele.

O bêbado agora deveria estar sóbrio. Ela não queria ver ninguém, mandou a empregada dizer que não poderia atender para ele voltasse outra hora. Isabella pensou que aquilo deveria afastá-lo. Naquela hora sentiu falta do apartamento pequeno em Nova York, das colegas entrando e saindo e até da agitação da rua de noite. A vida dela estava mudando rápido demais e aquilo causava um frio na barriga incontrolável, respondeu os e-mails e preparou uma comida na cozinha, nada elaborado, cansada demais até para pensar foi dormir com o ipod no ouvido de novo.

Deveria ser um dia sem muita programação, ela queria correr na praia e Alec insistiu em ir junto, aquele motorista/segurança estava começando a irritá-la mais do que poderia controlar, mas ele tinha ordens de parecer invisível e isso serviu quando ela estava caminhando pela orla. Apesar de ser uma terça a praia estava lotada, caminhou e depois correu uns metros, era agradável o vento nos cabelos e o calor. Alec a acompanhava de longe e parecia até um banhista comum correndo. O calor a fez lembrar de comprar roupas mais confortáveis, nunca esteve num lugar que exigisse tão poucas roupas. Esgotada pelo calor foi tranquilamente andando de volta, o caminho não era tão difícil e tinha uma boa memória. Se aproximando viu Edward na porta de casa, ele não tinha entendido o recado de ontem. Ele estava saindo e ela entrando, um encontro inevitável.

– Oi, meu nome é Edward. – ele estava sóbrio, era óbvio, e muito envergonhado. As mãos no bolso e suava.

– Isabella.

– É sobre ontem, sabe...

– Não foi nada. – Isabella queria acabar com aquela conversa sem sentido. – Melhor pegar um táxi da próxima vez.

– O carro você quer que eu pague? – Isabella não sabia se era o sol ou a vergonha, Edward tinha ficado mais vermelho ainda.

– Já foi para a oficina, não precisa. Olha, esquece isso tudo bem?

–Minha mãe está no meu pé. Posso pagar pelo menos?

– Claro, mas isso não vai fazer você mudar vai? Acho que isso só vai acontecer quando quebrar algo valioso. Sua cabeça por exemplo.

– Eu já sofri uns acidentes se é a isso que está falando.

– Então você não tem recuperação, vai beber e dirigir até matar ou morrer. – Edward arregalou os olhos com a frieza como ela disse isso. – Preciso tomar um banho.

– Então... bom...

– O carro sai da oficina no final da semana, mando a conta por alguém. – Ela virou as costas e foi embora.

Edward olhou mais uma vez admirado para Isabella, ele se perdeu no balanço dos cabelos pretos e quando se virou Isabella olhou rapidamente. Quando chegou ao quarto ligou para Claire e a atualizou dos últimos dias, elas moraram juntas em Nova York e tinham estudado durante anos juntas.

– Não entendo por que estamos a tanto tempo falando desse bêbado, Isabella. Sei lá, parece que algo nele chamou sua atenção.

– A falta de respeito pela vida, isso chamou muita a minha atenção. – A voz estava nervosa e descontrolada, mal conseguia pensar direito. A raiva deixa sua pela vermelha.

– Deixa isso para lá, ele vai ter que quebrar o pescoço para entender a dar valor a vida ou matar alguém.

– Falei isso para ele e ele respondeu que já tinha sofrido alguns acidentes. Alguns acidentes Claire. Acredita nisso?

– Víamos isso o tempo todo em Nova York não sei por que a surpresa, alguns seres humanos tendem a serem desleixados com a vida alheia e com a própria. Mais comum ainda na nossa idade. Acho que ele só está sendo mais um rapaz sem direção.

– Isso me irrita de qualquer forma.

– Isso te irrita ou ele te irrita?

A pergunta vagou na cabeça de Isabella, mas não queria dar margem para a casamenteira da Claire e mudou de assunto, falou da casa e depois do tempo. Combinaram uma visita rápida uns meses mais tarde. Isabella se sentia em casa falando com Claire, ela era divertida e as duas tinham vividos experiências maravilhosas seja na escola ou o pequeno apartamento. Mas nada na vida dura para sempre ela ainda tinha que se conformar com a vida que agora a esperava, uma nova vida.


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Notas finais do capítulo

Então meninas o que será que vai acontecer?



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